sexta-feira, 30 de abril de 2010

O sonho nerazzurro: quarenta e cinco anos depois

Mourinho dispara do banco. Corre, atravessa o relvado, vai até junto aos seus adeptos. O Inter está na final da Liga dos Campeões. Passaram quarenta e cinco anos desde a última conquista. É um momento histórico. Victor Valdés esbarra com Lo Speciale. É afastado, Mourinho continua a sua caminhada, quer festejar com os apoiantes da equipa. Rosto fechado, sem sorrisos, altivo como nunca, indicador em riste na direcção dos adeptos nerazzurros. Cambiasso cai sobre o relvado, Lúcio e Samuel ajoelham-se, o expulso Thiago Motta junta-se aos colegas após os ter obrigado a unir esforços. São os festejos de quem não pode mais correr. Os jogadores do Inter estão exaustos, deram tudo o que tinham. Mas valeu a pena. O Inter tombou o Barcelona e seguiu para Madrid. O Barcelona atacou, insistiu, circulou a bola, sufocou e voltou a insistir. Uma, duas, três vezes. Ene.

De Milão, o Inter trouxera uma vantagem de dois golos. O golo sofrido em casa poderia ser, contudo, importante no final. Era encorajador ao Barcelona. Jogando com tudo, como se fosse a vida na roleta, acreditando ser possível deixar o Inter para trás. Guardiola dissera que ao Barcelona bastava ser igual a si próprio. Era esse o objectivo: se o Barça conseguisse o seu melhor, aquele encantamento de melhor equipa da actualidade, o futebol trabalhado que resulta quase sempre. Não bastou. José Mourinho preparou uma táctica defensiva, fechou-se sobre o ouro, o Inter fizera o seu papel no Giuseppe Meazza e havia noventa minutos para resistir. A ideia era tapar os caminhos ao Barcelona, tirar espaço, impedir a progressão dos catalães. Defender. A expulsão de Thiago Motta, à meia-hora, complicou. Foi o mote para o Inter não mais se desunir.

O Barcelona dominou, teve posse de bola avassaladora, instalou-se no meio-campo do Inter. Valdés jogou como líbero. Nada teve que fazer na baliza, adiantou-se, foi uma ajuda para empurrar os colegas. Tudo fazia parte do plano, rigoroso e frio, de Mourinho. Ninguém gosta de ver, o futebol perde, o espectáculo não agrada e o jogo torna-se num verdadeiro monólogo: vocês ataquem, precisam, nós, Inter, vamos defender. Não é, porém, qualquer equipa que resiste ao futebol incisivo, ritmado e descompensador dos blaugrana. É preciso saber fazê-lo, não cair em tentações fatais, utilizar um rigor exaustivo para secar a criatividade a Xavi, a Messi e impedir que Pedro Rodríguez ou Ibrahimovic sejam matreiros. Mourinho fá-lo como ninguém. O Inter nunca incomodou Valdés, passou o tempo no seu meio-campo. Nem precisava de mais, foi realista.

Era ao Barcelona que estava entregue o jogo. E eram os catalães quem necessitavam de marcar para seguir em frente. Afinal, o Inter já tinha cumprido a sua parte. O Barça terminou com Messi, Pedrito, Jeffren e Bojan no ataque. Ainda Piqué. Como fizera em Milão, sem que se tenha percebido muito bem a razão, Guardiola retirara Ibrahimovic. O golo surgiu. A cinco minutos do final. E foi Piqué, um central transformado em avançado, na vontade de fazer um golo a qualquer custo, quem deu esperança ao Camp Nou: recebeu a bola de Xavi, tirou Córdoba e Júlio César do caminho com uma habilidade apreciável, rematou para o fundo da baliza de nerazzurra. Estava ligeiramente adiantado mas passou. O Inter abalou. Subiu a placa com quatro minutos de descontos. Podia ser uma morte inglória. Não foi. Os italianos estão na final. Mourinho está na final.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Made In Engand: O duelo final entre reds e blues

A duas jornadas do fim tudo continua em aberto na corrida pelo título inglês, apesar de ser agora uma corrida a dois. O Chelsea é lider apenas com mais um ponto do que o Manchester United, segue-se o Arsenal em terceiro - onde seguramente irá terminar. Depois, mais emoção na luta pelo derradeiro lugar na Liga dos Campeões com quatro equipas ainda com legítimas aspirações: Tottenham, Aston Villa, Manchester City e Liverpool. No que resta da tabela, em particular na zona de descida, parece estar tudo praticamente definido. As casas de apostas é que ganham com tudo isto. Emoção não falta, tal como no resto da Europa onde ainda não há campeões antecipados nos principais campeonatos. Será por ser ano de Mundial?

De uma derrota em White Hart Lane, por 2-1, a uma tremenda vitória, por 7-0, frente ao Stoke City, o Chelsea tremeu mas logo se reafirmou como maior candidato a ganhar o campeonato. A derrota frente ao Tottenham complicou as contas de Carlo Ancelotti, que se havia destacado com quatro pontos, entretanto reduzido para um pelo jogo ante os spurs. Todavia, os sete golos marcados ao Stoke mostram que esse ponto pode ser suficiente para o título. Na próxima jornada, os blues deslocam-se a Anfield Road para uma prova de fogo, apesar de o Liverpool estar muitos furos abaixo do que é habitual. Não deixará, contudo, de ser uma partida muito difícil. Se o Chelsea passar em Anfield, o último jogo em casa frente ao Wigan não deverá causar problemas.


O Manchester United arrancou a ferros uma vitória frente ao Manchester City nos últimos segundos de jogo, com um golo solitário do veterano Paul Scholes, que poderá ser fulcral nesta fase do campeonato. No passado fim-de-semana, os red devils ganharam categoricamente frente ao Tottenham, por 3-1, com um fantástico golo de Nani - renasceu e está no seu melhor plano desde que chegou a Manchester, isto talvez porque já não esteja na sombra de Ronaldo. Mesmo sem Wayne Rooney, os homens de sir Alex Ferguson foram dominantes, marcaram e mativeram o sonho do tetra vivo.


O Arsenal continua a desiludir ao falhar a aproximação ao líder, perdendo com o Wigan (em caso de vitória, os gunners teriam ficado a três pontos) e empatando com o Manchester City. A equipa de Wenger está seguros no terceiro lugar mas arredados da luta pelo título. Depois, bem, está a confusão: quatri equipas, uma vaga na Liga dos Campeões e duas na Liga Europa (ou três de tão confusa que é a situação em Inglaterra!...). O Liverpool parte em desvantagem nessa luta pelo lugar milionário: não só tem menos pontos (62) como tem já 36 jogos disputados. Tem à sua frente, por esta ordem ascendente, o Manchester City com 63 pontos e 35 jogos, o Aston Villa com 64 e 36 jogos e, finalmente, o Tottenham com 64 pontos e 35 jogos. Confuso? Também todos nós estamos.


MADE IN ENGLAND é um espaço quinzenal, assinado por Armando Vieira, sobre o mais fascinante campeonato do panorama futebolístico

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Da Gália para Madrid: eis o Bayern de Munique

O Bayern de Munique está na final da Liga dos Campeões. Com maior conforto do que seria expectável, aliás. Os bávaros já possuíam uma vantagem de um golo, fruto de um tento de Arjen Robben na primeira mão, mas não poderia considerar-se como vencedores da eliminatória. O Lyon, jogando em casa, tinha todas as condições para mudar o rumo dos acontecimentos e, então, superiorizar-se. O resultado não estava, nem pouco mais ou menos, trancado. O Bayern conseguiu, contudo, um triunfo claro e expressivo. Venceu por três golos, um hat-trick de Ivica Olic, o autor do golo decisivo ante o Manchester United na primeira mão dos quartos-de-final, deitou por terras as aspirações gaulesas e garantiu a presença dos alemães na final. Oito anos depois da última conquista. Com pragmatismo, consistência e qualidade. Fica à espera do adversário.

O sorteio das meias-finais da Liga dos Campeões foi, pode-se dizer, curioso. Colocou frente-a-frente, tanto no Inter-Barcelona como no Bayern-Lyon, equipas completamente diferentes. Os italianos e os alemães são equipas mais pragmáticas, frias, situando a táctica acima da magia; pelo contrário, os espanhóis e os franceses são equipas mais criativas, com um futebol mais atractivo e trabalhado. O futebol deste Bayern de Munique, uma equipa em crescendo desde o início da época, começando titubeante mas conseguindo estabilizar e superar-se, é uma imagem perfeita de Louis Van Gaal, o seu treinador: disciplinado, rígido, pouco dado a espectáculos, trabalhando para alcançar vitórias. Esse é, afinal, o objectivo do futebol e não pode ser alvo de críticas. Arjen Robben, jogador dispensado pelo Real Madrid, tem sido a maior figura.

O Bayern de Munique não caiu, contudo, na tentação de jogar para o empate em França. Seria um enorme risco se o fizesse. Ao invés, os germânicos procuraram assumir o jogo, manter o Lyon longe da sua baliza, marcar um golo que aumentasse as probabilidades de regressar a casa com o bilhete para Madrid no bolso. Falhou-o logo no início: Thomas Muller desperdiçou um golo feito. Aos vinte e seis minutos, vinte e quatro depois da perdida de Muller, Ivica Olic bateu Hugo Lloris. Foi um passo fundamental para assegurar a vitória na eliminatória. O Lyon precisava de marcar três golos. Jogava sob brasas, além disso, com pouca imaginação, sem conseguir abrir brechas na defesa alemã para assustar Hans-Jorg Butt. O golo de Olic foi o corolário de um domínio que o Bayern de Munique exercera desde o apito inicial de Massimo Busacca. E acentuar-se-ia.

O futebol quando se apresenta como uma prova de contra-relógio assume um grau de dificuldade gigantesco. Tudo estava do lado do Bayern: o resultado, o domínio, o relógio. Ao Lyon, sempre manietado pelos germânicos, restava reagir, manter a crença, procurar um golo que relançasse o jogo. Mesmo sendo difícil, não seria impossível. No entanto, quando algo corre mal tudo o resto vem por acréscimo. É a chamada Lei de Murphy. Em futebol é fatal. Os franceses, à hora de jogo, viram Cris ser expulso. A tentativa de reacção do Lyon ficou por aí. O Bayern aproveitou, manteve-se senhor do jogo, partiu em busca de um segundo golo: sete minutos depois da expulsão, Altintop abriu para Olic e, de novo, golo. O Bayern de Munique ficara com caminho aberto para o Santiago Bernabéu. Ivic Olic, avançado croata, voltou a deixar a sua marca já no final. Foi o três-zero.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Liga Sagres: O clássico do título com o Belenenses condenado

ANÁLISE

Os festejos do Benfica estão oo aquecimento. Após a vitória sobre o Olhanense, os benfiquistas desejaram um desaire do Sp.Braga, frente à Naval, para poderem, então, declarar-se como novos campeões nacionais. Os bracarenses, contudo, estão empenhados em levar a luta até ao fim, são guerreiros na verdadeira acepção da palavra, não encolhem os ombros e dão-se por vencidos. Há que lutar. Sempre, até que não mais seja possível. O papel do Sp.Braga foi cumprido na íntegra. Na próxima jornada, sem depender de deslizes alheios, o Benfica pode carimbar o seu trigésimo segundo título de campeão nacional. No Dragão. O clássico será vivido com papéis invertidos relativamente a épocas anteriores. Estará a ferro e fogo. Até porque o FC Porto acendeu a revolta em Setúbal e não terá Radamel Falcao para discutir com Cardozo. Nem Jesualdo.


Pode uma equipa que luta para não descer, vive com o fantasma dos últimos lugares a apoquentar, resistir a um duplo hara-kiri se jogar perante um rival forte, com uma tremenda confiança que lhe invade a alma e contagia o universo a ela ligado e está um passo de se sagrar campeão nacional? Não, claro que não. O Olhanense não resistiu a duas asneiras brutais de Delson. Em apenas nove minutos, o médio brasileiro cometeu uma grande penalidade tonta e acertou feio em Di María. Resultado: o Benfica marcou aos dois minutos, aliou a vantagem no marcador à númerica aos nove. Os algarvios ficaram por aí. O Benfica aproveitou as benesses, ainda nem tinha tido tempo para assentar o seu jogo, ganhou desde logo a tranquilidade que procurava. Marcou por Di María, mais dois de Cardozo e fechou através de Aimar. O terceiro golo, metade feito por aquele passe de letra de Angelito, é uma obra que merece honras...

Tracção atrás na Naval, equipa construída para conceder poucos espaços ao Sp.Braga, arrastar o nulo, deixar o jogo numa intensidade baixa e procurar sair para o ataque, através da velocidade de Fábio Júnior, elemento importante na pequena surpresa com o Benfica, e Michel Simplício. Respondeu o Sp.Braga com circulação de bola, futebol ligado, incisivo, coeso em todos os sectores, equipa rematadora. Entre dois golaços de Luis Aguiar, um aos vinte e cinco e outro aos oitenta e cinco minutos, passou uma hora de jogo. Nessa hora, iniciada com um livre superiomente colocado no ângulo da baliza de Peiser e um chapéu ao guarda-redes da Naval, o Sp.Braga construiu uma vitória sólida, justa e gorda por quatro golos. Não precisou de ser intensa, foi consistente e geriu o jogo de acordo com as suas pretensões. Os figueirenses não criaram uma verdadeira oportunidade para marcar. Desistir é palavra proibida em Braga.

Se Jesualdo Ferreira tivesse uma bola de cristal à disposição, acompanhando as saídas de Fucile e Raúl Meireles, pouparia Radamel Falcao para o jogo com o Benfica. O FC Porto tinha o jogo perfeitamente controlado, ganho, o Vitória de Setúbal estava inconsequente e sem forças para anular a vantagem de três golos portistas. A vitória azul não iria fugir. O jogo fluía sereno, com poucos motivos de interesse, com golos de Guarín e Belluschi para abalar a monotonia e se juntarem a três de bola parada: Falcao e Maicon haviam marcado para o FC Porto, Henrique reduziu e deu uma fugaz esperança aos sadinos. Nada mais havia para contar. Chegou o minuto oitenta. A temperatura subiu ao extremo. Falcao foi apertado por Ricardo Silva e Bruno Ribeiro, lutou para se soltar e atingiu o adversário com a mão. Viu o amarelo. E falha o clássico com o Benfica. Novos golos de Henrique e Falcao, magoado e triste, ficaram em segundo plano.

Não há nada em jogo: o Sporting terminará em quarto lugar, nem mais nem menos, é o objectivo que os dirigentes leoninos traçaram após terem percebido que o pesadelo inicial já havia deixado a sua irreparável marca na temporada leonina. O Sporting terminará sem nada conquistado. No campeonato, sem possibilidade de ser mais ambicioso, limita-se a cumprir os seus jogos, esperando rapidamente pelo final da época, abrindo horizontes e preparando correctamente o que se avizinha para que os erros não se repitam. É natural, por isso, que os jogos dos leões tenham pouca história. Em Leiria, ante uma União ainda esperançada em chegar ao quinto lugar, Liedson marcou, adiantou o Sporting, traduziu o ascendente no marcador. Não chegou, porém, para resolver. Foi gritante a ineficácia leonina. Cássio, cada vez mais uma figura nos leirienses, empatou no início da segunda parte. O empate prolongou-se. Até ao apito final.

O Belenenses desceu de divisião. Foi a confirmação de uma morte há muito anunciada, um ciclo negro só com duas vitórias pelo meio, uma época para séria reflexão de um histórico, um dos cinco campeões, do futebol nacional. A derrota ante o Vitória de Guimarães, por 2-0, carimbou matematicamente a descida às trevas. Também o Leixões está às portas da despromoção: os leixonenses perderam, em casa, ante a Académica (1-3), mantendo os quatro pontos de atraso para o primeiro lugar de salvação - a equipa de André Villas Boas assegurou a permanência, assim como o Rio Ave, após o nulo com o Marítimo. Caso perca ante o Olhanense, num duelo de verdadeiros aflitos, o Leixões desce ao segundo escalão do futebol português. Na luta pela Europa, o empate caseiro do Nacional com o Paços de Ferreira (1-1), poderá ter entregue definitivamente o quinto lugar ao Vitória de Guimarães - tem três pontos de vantagem.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Os inatacáveis méritos do Sp.Braga

As guerras são para se levar até ao fim sem tréguas. Nunca se pode esperar uma fácil entrega. O Sp.Braga, caso tivesse cedido na Figueira da Foz perante uma Naval que mantém o estatuto de ter sido a única equipa a sair com pontos de Braga, assinaria a sua rendição. Terminaria a luta pelo primeiro lugar, definitivamente nas mãos do Benfica, passaria a ter de se preocupar em consolidar a vice-liderança, uma consolação pela época soberba, sentindo o aproximar do FC Porto. Verdadeiros guerreiros não se vergam assim facilmente. Seria, aliás, paradoxal que uma equipa que nunca esteve em situação tão, tão privilegiada de se intrometer e superar aos grandes desistisse da luta. É a História que está em jogo. Não há como baixar os braços, assumir a derrota e felicitar os vencedores. Até porque este Sp.Braga nunca sairá a perder.

A vitória do Sp.Braga frente à Naval, clara e justa, adiou os festejos benfiquistas. Na próxima jornada, no Dragão, o Benfica pode confirmar a conquista do seu trigésimo segundo campeonato nacional. Os encarnados só dependem de si próprios para o fazer. Esse adiamento é outra boa vitória do Sp.Braga: deixar as decisões para o final, impedir ao máximo a coroação dos adversários, manter-se bem firme. Os bracarenses cumpriram a sua parte de dificultar a vida ao Benfica, portanto. Para além disso, o jogo na Figueira da Foz, cimentou o segundo lugar do Sp.Braga. Cinco pontos de vantagem com dois jogos para disputar é uma margem que muito, muito dificilmente os minhotos perderão. Ficar em segundo, às portas da fase de grupos da Liga dos Campeões, será o momento mais alto do seu historial. É uma grandíssima vitória.

Luis Bernardo Aguiar Burgos é um jogador de enorme potencial. Começou por ser actor secundário nesta campanha do Sp.Braga, a lesão de Márcio Mossoró, impedido após o duelo com o Benfica de jogar até final do campeonato, fê-lo saltar novamente para a ribalta. Nos últimos jogos tem mostrado os seus atributos, o melhor do seu futebol, a qualidade que demonstrou na Amadora e em Coimbra e não foi aproveitada pelo FC Porto. Ante a Naval, extremamente fechada e contida no seu meio-campo, também pouco ágil nas incursões ofensivas, o médio uruguaio foi decisivo, brilhou intensamente, levou a equipa consigo para o vigésimo primeiro triunfo no campeonato. Abriu com um golo sensacional de livre directo, pelo meio fez duas assistências para Matheus e Paulão, até fechar com chave de ouro num chapéu espectacular.

O Benfica ganhara e ficara às portas do título; o FC Porto ganhara e fixara a distância para o segundo lugar em dois pontos. A pressão estava, agora, do lado do Sp.Braga, habituado a jogar primeiro do que os rivais, beneficiando desse factor psicológico. A equipa arsenalista não abalou. Entrou na Figueira confiante, procurando vencer para manter o sonho, cumprindo mais um capítulo da belíssima história que está a escrever nesta temporada, verdadeiramente empurrado por uma multidão bracarense que bateu o record de assistências no José Bento Pessoa. Há uma ligação forte da cidade Braga ao clube Sp.Braga. Percebe-se perfeitamente e é da mais elementar justiça e naturalidade que assim seja. A vitória da equipa de Domingos Paciência foi fácil. Ou pareceu. Jogando à grande, equipa crescida, motivada, empenhada e dominadora.

domingo, 25 de abril de 2010

A magia de Di María num Benfica com licença para matar

Um salto de cinquenta e três minutos no Benfica-Olhanense. Dois golos de vantagem dos encarnados, superioridade também nos elementos em campo, um público sedento de glória, desejando como nunca a certeza do título. O Benfica está no ataque. Di María recebe a bola de costas para a baliza, tem jogadores do Olhanense atrás de si, não são incisivos na pressão efectuada, seguem-no. Angelito tem tempo para pensar. Fá-lo em grande. E executa. Um passe sensacional, de letra, isola Cardozo para o segundo golo de Tacuara, antes em desvantagem e agora igual a Falcao. O toque do argentino é uma obra prima, uma magia imensa, um passe de morte para a finalização da praxe. Antes disso, já Di María marcara de pé direito, com um drible extraordinário, trocando as voltas aos defesas algarvios. E Cardozo iniciara a vitória.

O Benfica está perto, pertíssimo de cofirmar a conquista do título, está em alta e criou uma simbiose perfeita com os adeptos. Agora e antes. A equipa encarnada não esteve em momento algum longe dos seus, isolada, sem sentir apoio e aquele embalo especial que leva os jogadores a lutarem até ao último segundo para que possam retribuir a confiança que neles é depositada. Por vezes essa vontade de querer fazer tudo bem e depressa, garantir o título e deixar as preocupações de lado pode ser um inconveniente trazendo ansiedade indesejada. O Olhanense é uma equipa que pratica um bom futebol, vive acossada pela descida mas provou ter qualidade e jogou de peito aberto com os primeiros. É, contudo, uma equipa ingénua. Na Luz, Delson deu licence to kill ao Benfica: cometeu grande penalidade e foi expulso. Em nove minutos!

O jogo ante os encarnados dificilmente se apagará da memória do médio brasileiro do Olhanense. Terão sido os nove minutos mais infelizes da sua vida enquanto futebolista. Arruinou a sua equipa, matou-a precocemente, deu ao Benfica permissão para se superiorizar, galvanizar e dominar. Aos dois minutos, Weldon cruzou e Delson, dentro da área, tirou a bola com o braço. Lucílio Baptista assinalou a infracção, deu amarelo ao jogador ao brasileiro, Óscar Cardozo fuzilou Bruno Veríssimo. Foi o melhor que podia ter acontecido aos encarnados. Sete minutos depois, travou Di María com uma falta duríssima, o árbitro poupou-lhe o vermelho directo mas deu o amarelo. O segundo e, por isso, recebeu ordem de expulsão. Esteve nove minutos em campo e foi fatal para as aspirações da sua equipa. Não mais o triunfo benfiquista esteve em questão.

A partir da expulsão, já em desvantagem, o Olhanense percebeu que nada mais poderia fazer para contrariar o curso natural dos acontecimentos. Se ainda se mantinha alguma esperança nos algarvios, o golo de Di María, aos dezoito minutos, de novo com uma assistência saída dos pés de Aimar, foi o golpe final. O Benfica iria ganhar, ponto assente. Restava saber por que margem. Chegou ao terceiro por Cardozo, agora já empatado com Falcao nos melhores marcadores, após esse passe de Di María que merece ser emoldurado. Passaram três minutos e tudo voltou a resultar: Angelito assistiu, Tacuara marcou. É a sociedade perfeita. O Benfica chegou ao quarto golo com naturalidade, mesmo sem ser sufocante ou brilhante, Cardozo recuperou o estatuto de rei dos marcadores. Aimar concluiu a mão cheia de golos. Falta um ponto para o título.

sábado, 24 de abril de 2010

Uma goleada agridoce do FC Porto

O FC Porto chegou à sexta vitória consecutiva. É a confirmação do melhor período da temporada azul. Vale de pouco neste momento, contudo. Isso deixa um profundo vazio na equipa, como seria de esperar. Os dragões nada têm a perder, ambicionam ganhar o segundo lugar mas é uma esperança reduzida e ténue, tem somado vitórias, golos e, em certos períodos, exibições confiantes e sólidas. Terminar bem serve de consolação até para preparar as bases para readquirir o sucesso na época que se aproxima. Importa começar já, por isso. Há as quinas de campeão para defender até final. Quanto mais não seja alimenta o ego e a crença em derrubar o Sp.Braga da vice-liderança. O FC Porto goleou por 5-2 no Bonfim sem que para isso tenha precisado exibir brilhantismo. Ganhou com naturalidade. Mas perdeu Falcao. Fica a mágoa.

Radamel Falcao foi sempre o jogador mais deste FC Porto. Corre, batalha, esforça-se, deixa tudo o que tem em campo e marca golos. No campeonato português, em dois mil duzentos e trinta e um minutos, leva vinte e três golos marcados. Dois deles foram no Bonfim. Levar El Tigre ao trono de melhor marcador do campeonato, lugar que partilhava com Óscar Cardozo empatando em vinte e um tentos, é um objectivo colectivo do FC Porto para ajudar o colombiano a colocar a cereja no topo do bolo na sua primeira época em Portugal. Teve uma adaptação supersónica. Perante uma permeável defesa do Vitória, com mais cinco golos cravados pelo FC Porto na fragilidade sadina, Falcao bisou. Tinha motivos para estar satisfeito por isso. No entanto, pelo meio, perdeu a oportunidade de jogar com o Benfica. No seu duelo com Cardozo.

Falcao recebeu a bola, Ricardo Silva fez pressão por trás, cometeu falta, Bruno Ribeiro deslizou no relvado e ajudou o colega sadino na tentativa de travar a marcha do portista. O avançado colombiano do FC Porto tropeçou, não caiu, tentou afastar os adversários, utilizou os braços para o conseguir. Com isso atingiu Bruno Ribeiro na cara. Foi em frente ao árbitro assistente, Ricardo Silva logo pediu cartão amarelo. Pedro Henriques mostrou-o. Falcao ficou incrédulo, desesperou por perceber que estaria de fora do próximo jogo. Do jogo com o Benfica. Do Benfica de Cardozo. Jesualdo Ferreira saltou do banco, galgou metros, dirigiu-se ao local da infracção, interpelou o árbitro e pediu explicações aos jogadores do Vitória. Ficou fora de si, protestou, irado como nunca, perdeu a sobriedade que o marca e a calma que lhe é característica. E foi expulso.

O jogo ficou automaticamente para plano secundário após esse minuto oitenta. Já pouco dizia ao FC Porto. O pentacampeonato falhou e, por isso, a época é negativa. Os dragões venceram, reaproximaram-se do Sp.Braga, têm o segundo lugar a dois pontos de distância, esperam para ver o que os minhotos farão. Mas olhar para cima e ver mais alguém, ver o Benfica, é uma dor profunda para os azuis. Por isso ganharam, de novo por goleada, mas o sabor é agridoce. E marcado pela polémica. O resultado já estava numa vantagem de quatro-um, tudo tranquilo, os minutos finais iam chegar para confirmar mais um triunfo. Esse tal minuto oitenta, essa expulsão do goleador Falcao, ausente do clássico com o Benfica, ficou marcada nos portistas. A vitória assenta como uma luva. Há pressão no Sp.Braga, luta até final. E veio a revolta no fim.

Jorge Coroado: "Olegário Benquerença não influenciou"

O trabalho de um árbitro é ingrato. Sempre assim será, não há volta a dar. O erro é algo que não se pode dissociar. Custa, contudo, a entender. Ninguém espera que um árbitro erre, que influencie um resultado, que altere a verdade dos factos. Mas acontece, porque não é nenhum ser com poderes sobrenaturais que ali se apresenta. As derrotas, sem excepção, custam a digerir. Custam ainda mais quando são sofridas numa competição gloriosa e sem que seja esperado. A vitória do Inter ante o Barcelona, na terça-feira, foi uma surpresa. Até pelos números: três-um, uma diferença de dois golos que nunca ninguém havia imposto à formação de Guardiola. Olegário Benquerença ficou no epicentro do furacão revoltoso vindo da Catalunha. A prestação do árbitro português continua na ordem do dia. Os blaugrana consideram-se lesados. As manifestações desenvolvem-se. Nos intervenientes, nos jornais espanhóis e até nas redes sociais.

Resta perceber se com razão ou se apenas para diminuir a obra do Inter de Milão. Jorge Coroado, ex-árbitro internacional português e actualmente analista de arbitragem, é taxativo: "Olegário Benquerença cometeu erros. Quem não os comete em noventa minutos? Influenciou o resultado? Não!", dispara convicto. As queixas do Barcelona incidem particularmente sobre dois lances: o terceiro golo do Inter e uma queda de Dani Alves na área nerazzurra. Coroado explica-os: "No golo de Milito, só através da passagem frame by frame nos apercebemos de um ligeiro adiantamento", adianta. "A grande penalidade reclamada só pode ser entendida como patrocínio do sentimento de impotência que afectava os catalães. Em boa verdade, avaliando a jogada, alguém compreenderá que um jogador lançado em corrida, sofrendo uma rasteira tem tempo e engenho para elevar ambos os braços na vertical e cair qual prancha?", questiona.

Na globalidade, na opinião de Jorge Coroado, o desempenho da equipa de arbitragem portuguesa, também nomeada para o Mundial da África do Sul, foi positivo. "Apesar de algumas situações não tão bem conseguidas, gostei da prestação", afirma o ex-árbitro. O que falhou, então, na acção de Olegário Benquerença, Bertino Miranda e José Cardinal?: "Cartões amarelos exibidos a Eto'o, primeiro, e Sergio Busquets, depois: o primeiro foi um exagero e não se justificava num jogo até aí tão tranquilo; o segundo pretendeu nitidamente equilibrar o barco e acalmar as hostes italianas", explana. Coroado enuncia ainda um outro cartão que Olegário deixou no bolso após uma falta cometida por Pedro Rodríguez, jogador do Barça, junto de Bertino Miranda. Para além destes, ainda na primeira parte, José Cardinal assinalara indevidamente um fora-de-jogo a Diego Milito. Um lance rápido e semelhante ao protestado pelos culés.

Para Jorge Coroado, as ferozes críticas manifestadas pelos catalães em relação a Olegário Benquerença não têm, portanto, razão de ser. São, porém, facilmente explicáveis para o agora comentador de arbitragem: "O Barcelona e os seus apaniguados sentiram a derrota por números expressivos, a forte probabilidade de serem arredados da final da Liga dos Campeões e um tremendo murro no estômago por não poderem defender o troféu em Madrid, a cidade rival", conclui, deixando bem patente que não foi devido ao árbitro português que o Barcelona foi vergado pelo Internazionale. No entanto, em Espanha, está criado um ambiente hostil ao árbitro português, acusado pelo diário catalão Sport de ter fechado os olhos a três grandes penalidades e a ter dado um contributo fundamental ao "amigo Mourinho". Sem qualquer cabimento: as críticas não passam de uma forma de declinar responsabilidade. Essa é a tese de Coroado.

Opinião: Vai uma partidinha de xadrez, Pep?


Diego Milito marcara há cerca de um minuto. O Inter estava com três golos contra um do Barcelona. Numa meia-final da Liga dos Campeões, entre equipas de tal qualidade, é meio caminho andado. Mas há o inconveniente de ter sofrido um golo em casa e isso pode fazer toda a diferença no final. Antes do jogo recomeçar, substituição. No Barcelona. Tudo bem, natural, Guardiola queria mudar as coisas. Mais um golo marcado e, apesar da vantagem, o Inter iria tremer. Na eliminatória, sobretudo. Jogaria em Camp Nou impedido de perder. Vê-se Zlatan Ibrahimovic na imagem. Esteve apagado, seco como as areias de um deserto numa defesa que não lhe deu um palmo. Regressou a Milão, nem se reparou. É o sueco que Guardiola vai tirar. A imagem foca Abidal. Um defesa pronto para entrar. Avança Maxwell para o meio-campo.

Páro para reflectir. Tento perceber a substituição. Faz tanto sentido como um canguru na Noruega. Nem encaixa no que se pretendia, nem no que os adeptos esperariam nem na filosofia de Guardiola. Um treinador ofensivo, apreciador de espectáculo, comandante da equipa que melhor joga e é um regalo para vista, com Bojan e Henry no banco, jogando em casa do rival lança um defesa? O leitor entende? Qué pasa, Pep? Passam os minutos do jogo, o Barcelona procura um golo. Insiste, insiste, insiste. O Inter fecha-se. Sabe o que faz, é uma equipa solidária Balotelli à parte, faz das tripas coração para guardar a riqueza. A vantagem é uma fortuna. Não me sai da cabeça a substituição daquele minuto sessenta e dois. Encontro uma possível explicação: Guardiola quis procurar o segundo golo mas, acima de tudo, não arriscou sofrer o quarto.

Seja ou não disparatada é a minha teoria. O leitor poderá ter outra. Não é fácil, por certo, entender o que o treinador quis fazer. Foi um erro, creio. Todos têm direito a eles, ninguém está imune, os perigos atacam quando ninguém espera. E ninguém esperava que o Barcelona perdesse em Milão. Bem... o Barcelona perdeu ou o Inter ganhou? A pergunta é tonta, sim, mas podem ser coisas diferentes. O Barcelona não esteve mal, foi antes o Inter que esteve soberbo. O Barcelona tentou ter jogo, circulou a bola, mas esteve sempre longe da baliza de Júlio César. A progressão que sempre resulta falhou desta vez. Demérito? Não. Mérito, imenso mérito, na forma como o Internazionale encarou o jogo. O Barcelona é o espectáculo, o Inter o pragmatismo. Numa guerra cada um luta com o que tem. É aí que reside a arte de saber antever os perigos.

A táctica venceu a magia. José Mourinho é um estratega como poucos. Monta as suas equipas pensando no adversário, sabe os recursos que tem disponíveis, explora-os até ao tutano, prepara tudo com pormenor. Os métodos são mais do que conhecidos. O Inter tem pouca criatividade. Ou nenhuma para além de Wesley Sneijder. Tem que utilizar outras armas para chegar ao sucesso. Usa aquilo onde é bom: é uma equipa expedita, coesa, gosta de explorar a velocidade. Precisa de poucos toques para chegar ao ataque, desenrola a manta com uma facilidade extrema, sai do aperto para apertar o rival. A qualidade individual faz o resto, Diego Milito é o rosto mais visível. O Barcelona é o contrário. É a melhor equipa da actualidade: passa, repassa, avança, domina, ganha. Isso não muda de um momento para o outro. Daí o mérito total do Inter.

Sabe, leitor, o que aconteceu quando a defesa do Inter meteu os pés pelas mãos? Maxwell correu, correu, entrou na área e cruzou para Pedro Rodríguez. Estava tudo baralhado. A defesa caira como um baralho de cartas. Foi golo. Muitos terão sido os que pensaram que a resistência dos italianos somente tinha durado vinte minutos e que, a partir daí, o Barcelona jogaria como quisesse. Até podia resolver logo a eliminatória. Incluo-me no grupo, confesso. Só que o Inter começara bem. E iria continuar. O golo foi o resultado de um falhanço desaconselhável e viperino, mas a tempo de ser corrigido. Com outros golos e mantendo o rigoroso plano que Mourinho traçara. Veio o empate, a reviravolta, a tranquilidade. A segunda parte foi talvez o que o Inter fez de melhor até aqui. Jogou com inteligência. É um atributo crucial para o futebol.

Messi esteve no Giuseppe Meazza? Esteve, claro que esteve. Apareceu em duas ocasiões que Júlio César defendeu. E foi só. A razão é simples: teve marcação apertada, um elástico permanente que não o deixou fugir, não conseguiu espaço. Por isso passou ao lado do jogo. Javier Zanetti é o maior culpado.
Tem trinta e seis anos, joga como se tivesse dezassete. Impressiona a qualidade e a postura do polivalente (sublinhe-se bem!) argentino. Desculpa lá, ó Messi, mas aqui mando eu!... Onde andou Xavi, o pensador da equipa catalã, o relógio que não falha, o centro das operações, o comandante precioso? Perdeu qualidades? É evidente que não. Continua a ser tudo isso. Mas, como Messi, não teve metros para o mostrar e ser, como tantas outras vezes, fundamental. O Inter colocou-lhe um colete de forças. Até ao jogo de Milão, quantas equipas haviam feito tão bem o trabalho de esconder o brilho das estrelas?

O Inter ganhou ao Barcelona. São equipas com filosofias antagónicas, jogam de modo diferente, inserem-se em meios que não partilham a mesma concepção de futebol. Para uns é espectáculo que leva à glória, para outros é jogar simples para ser bem-sucedido. Ganhar é o objectivo comum. E o Inter venceu porque foi melhor e soube tapar os melhores do Barcelona. Colocou umas pedrinhas no carrossel blaugrana. Atirar todas as culpas para Olegário Benquerença é injusto e redutor. Mas é futebol. Ninguém está preparado para perder. O Barcelona com Guardiola apenas perdera dez vezes. Nunca por dois golos de diferença. Custa a digerir, por isso. E por ser numa meia-final da Liga dos Campeões, pela história recente e pelo que ambos fizeram para lá chegar. E até por ser para José Mourinho. Ele já avisara que estava preparado!...

O jogo de Camp Nou pode anular tudo isto. Quando terminar a eliminatória, o Barcelona pode estar na final do Santiago Bernabéu, Josep Guardiola próximo de ser bicampeão europeu. O Inter pode ter ficado reduzido a cinzas. Se assim for, raros serão aqueles que lembrarão do jogo da primeira mão. O que será uma crueldade. Ficará esquecida a brutal exibição de Milito, a criação de Sneijder, o assombroso jogo que Zanetti fez para impedir os estragos de Messi. Ficará esquecido que o Inter parou o Barcelona. Mourinho sabe que corre esse risco. Está no limiar de voltar a uma final europeia mas ainda pode cair. Ganhou no xadrez a primeira partida, não pode descuidar-se para a segunda. Guardiola esteve mal em Milão, errou, não soube mover as suas peças. Mas tem uma palavra a dizer. E já está convidado para o novo duelo.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

O Inter de Sneijder e o Bayern de Robben

Wesley Sneijder e Arjen Robben, para além da nacionalidade, têm outro ponto em comum: no Verão foram ambos dispensados do Real Madrid. São jogadores de qualidade, ninguém o questiona, mas os merengues investiram em Ronaldo, Kaká ou Benzema. Não podiam, portanto, ficar com todos no seu plantel. Sneijder e Robben perderam o seu espaço. Tão simples quanto isso. Foram descartados. Sneijder é um jogador fulcral no Internazionale. É o pensador da equipa, quem tem a função de colocar a bola no relvado, levantar a cabeça, jogar em frente e colocar os avançados habilitados para caminharem para o golo. É insubstituível para José Mourinho. Ante o Barcelona, na primeira mão das meias-finais, marcou o primeiro golo e assitiu Milito no terceiro. A sua sociedade com o argentino funcionou na perfeição. O caso de Robben é semelhante.

Arjen Robben tem vindo a afirmar-se no Bayern de Munique sobretudo na Europa. Marcou um golo de antologia, um remate seco e indefensável para Van der Sar, que carimbou a passagem dos bávaros às meias-finais. Ontem, ante o Olympique de Lyon, mesmo jogando com dez por expulsão de Ribéry, a equipa de Louis Van Gaal chegou à vantagem na eliminatória. Curta, sim, mas poderá ser um golo vital para as contas finais após a partida disputada em Lyon. Foi Robben, o atacante holandês que o Real Madrid não quis, o autor do tento. É curioso, então, que dois jogadores que abandonaram Madrid na pré-temporada tenham marcado golos que permitem às equipas que hoje representam estarem em vantagem na eliminatória da Liga dos Campeões. Que se jogará no Santiago Bernabéu. Sem o Real Madrid. É uma das ironias do futebol.

Não se pretende com isto dizer, contudo, que com Sneijder e Robben no seu plantel, o Real Madrid teria ido mais longe na Liga dos Campeões e conseguiria os resultados almejados. O plantel é soberbo. Provavalmente, se Manuel Pellegrini quisesse mantê-los, Sneijder e Robben seriam apenas mais dois extraordinários jogadores numa formação de luxo. O que mais curiosidade desperta é o facto de não terem servido para um clube que actualmente, apesar da imensa qualidade que tem, corre o risco de terminar a época sem nada conquistado e serem as figuras máximas de duas equipas que, não sendo espectaculares ou encantadoras no futebol apresentado, estão próximas de se encontrarem em Madrid. Neste lote, embora em condições um pouco diferentes, poderia também incluir-se Ruud Van Nistelrooy. Marca golos decisivos em Hamburgo.

PS: O Barcelona, por tudo aquilo que representa, não merece que a conquista da Liga dos Campeões da época passada fique marcada por uma arbitragem surreal de Tom Henning Ovrebo, o árbitro norueguês que esteve no jogo ante o Chelsea, na segunda mão das meias-finais, em Stamford Bridge. Os catalães beneficiaram disso, mas venceram a competição com todo o mérito. Pelo futebol, pela envolvência, pela forma espectacular como se apresentaram para a final, com o Manchester United, em que manietaram o adversário fundamentaram o trono de melhor equipa europeia. Desta vez, porém, no primeiro jogo das meias-finais de 2009-10, o Barça perdeu em Milão. O Inter tem um mérito enorme, foi superior, anulou o Barcelona e venceu com classe. Olegário Benquerença errou. No entanto, sob pena de se recordar para a arbitragem desastrada de Tom Henning Ovrebo, não deve ser o único réu encontrado pelos espanhóis...

terça-feira, 20 de abril de 2010

Um passo de Mourinho para a final

Giuseppe Meazza, palco de espectáculo, anfiteatro italiano para a primeira meia-final da Liga dos Campeões. Ou muito mais do que isso. A junção de dois mundos diferentes, com filosofias pouco semelhantes, em busca de um objectivo comum: a vitória, a glória, a coroação como melhor equipa europeia. O Barcelona é, actualmente, uma formação sem paralelo, joga um futebol de encantar, não abdica dos seus princípios, ali como ninguém os triunfos. Tem Messi, Xavi ou Pedro Rodríguez: a sobriedade, a magia, o divertimento com a bola nos pés. Ao contrário, o Internazionale pretende terminar um hiato de quarenta e cinco anos, joga para o resultado, exalta o pragmatismo, usa a classe de Sneijder e os golos de Milito para ter sucesso. É ainda um duelo entre José Mourinho e Josep Guardiola. Com Olegário Benquerença como juiz.

Pedrito é um jogador emergente no Barcelona. Tem vinte e dois anos, é um produto da cantera catalã, foi autor de golos decisivos na Supertaça europeia e no Mundial de Clubes. 2009 foi o ano de ouro da equipa de Guardiola e do aparecimento de Pedro Rodríguez. Não precisa de muito para marcar. Não é um avançado de área, um predador, um jogador para se colocar entre os centrais adversários. Usa a velocidade, a técnica, encara os adversários, surge no espaço vazio, torna-se letal. O Real Madrid, há bem pouco tempo, provara o veneno. O Inter também haveria de ficar com a marca. Com vinte minutos de jogo: Maxwell subiu pela esquerda, Maicon foi apanhado em contra-pé quando se preparava para o ataque, Lúcio não barrou a passagem e o passe foi feito para o coração da área, zona fatal, para aparecer a finalização. Lá estava Pedro.

Sofrer um golo em casa, numa meia-final, jogando contra o Barcelona, uma equipa dominadora, é o pior que pode acontecer. O único caminho é anulá-lo rapidamente. O Inter sofreu cedo, foi um golpe, mas começara bem e Diego Milito já assustara Valdés. Foi o argentino o primeiro a reagir à desvantagem. E o Inter de Milão chegou ao empate. Com Milito, sempre ele: recebeu a bola na área, arrastou a defesa do Barcelona e abriu caminho à progressão de Sneijder. Remate seco e rasteiro do holandês, golo. Em tudo parecido com o que fizera o Barça dez minutos antes. Os italianos souberam procurar o golo. E depois? O Barcelona trocou a bola, o Inter fechou-se, jogou ao primeiro toque, com rapidez, para descompensar a defesa espanhola. As equipas encaixaram, no fundo. Ninguém ousou dar um palso em falso. Chegou o intervalo.

O Inter de Milão é uma equipa expedita. O seu maior mérito, não tendo um futebol pensado, é ser simples. Joga com poucos toques, coloca a bola no ataque, explora nas costas da defesa contrária e utiliza a explosão de Milito e Eto'o. A reentrada italiana foi empolgante. Diego Milito escapou-se no limite do fora-de-jogo, insistiu, cruzou para Maicon: vindo de trás, como uma flecha, desviou a bola do alcance de Valdés. Mourinho ergueu os braços. O Inter dera a volta. A bola passara para o outro lado, a resposta tinha que ser dada pelo Barcelona. Messi e Busquets viram Júlio Cesar impedir o empate. O jogo, contudo, sobretudo na segunda parte, era do Inter. Viria um novo golo: cruzamento de Maicon, amorti de Sneijder, golo de Milito. Uma tripla perfeita, resultado eficaz, verdadeiro veneno. Foi uma machadada no jogo.

O Barcelona estava obrigado a correr atrás da bola, atrasado no resultado, tendo bola mas demasiado longe da baliza contrária. É estranho, não? Contudo, o Inter impedia a progressão, pressionante, usando as forças disponíveis para manter um resultado excelente. O Barça tentou cercar a área de Júlio César, marcar um golo que lhe permitisse entrar em Camp Nou com toda a confiança em ser possível anular a vantagem italiana, mas o melhor que conseguiu foi um remate de Messi (onde andou ele, Zanetti?) e outro de Piqué, salvo em cima da linha por Lúcio.
Pelo meio, Olegário Benquerença não assinalou uma grande penalidade sobre Dani Alves - o terceiro golo, apesar de duvidoso, parece bem validado. O Inter acabou com toda a equipa no seu meio-campo, defendendo com unhas e dentes a vantagem. Conseguiu-o. Com categoria.

Liga Sagres: O Benfica está a um passo do céu

ANÁLISE

Quatro anos de espera, quatro pontos que separam a glória. O Benfica precisa somente de uma vitória e um empate para se sagrar campeão nacional. A vitória em Coimbra, ante a Académica, deixa os encarnados a um pequeno passo de tocar o céu. A consagração, caso o Sp.Braga não vença na Figueira da Foz, poderá chegar já na próxima jornada, na partida ante o Olhanense. No entanto, os minhotos estão apostados em dar seguimento à época extraordinária - coroada com o acesso à Liga dos Campeões. Só três jornadas manifestamente inesperadas tirarão o Benfica do título e o Sp.Braga da vice-liderança. Tal como o FC Porto e o Sporting: habituados a serem superiores, terão o terceiro e o quarto posto no final da época. A última vaga europeia ainda pode mudar de dono.

A vitória do Sp.Braga sobre o Leixões colocara a bola do lado do Benfica. A distância estava em três pontos. Perigosa numa ponta final de decisões. Domingos Paciência esperava um deslize, um tónico, uma reviravolta inesperada. O Benfica reagiu bem. Quis entrar em Coimbra a mandar, mostrando-se disposto a resolver o teste rapidamente, sem que tivesse de recorrer a um esforço suplementar. Pressionou, pressionou e marcou por Weldon. Logo aos três minutos. No entanto, após a vantagem, deixou de ser incisivo e a Académica teve oportunidade para mostrar o seu bom futebol e recuperar plenamente do golpe precoce. Conseguiu empatar. Houve intensidade, vontade de ganhar de ambas as equipas, perigo junto das balizas. O Benfica voltou à vantagem. De novo por Weldon - verdadeiramente letal!. Rúben Amorim fez o golo da tranquilidade. Que só não foi absoluta porque Tiero, em cima do final, aumentou o suspense. Em vão.

O Sp.Braga cerra os dentes e vai à luta. Guerreiros que se prezem não baixam a guarda, independentemente das dificuldades, mesmo estando numa posição complicada para chegar mais além e vendo o adversário dar provas de estar fortalecido. Os minhotos, apesar de as esperanças em chegar ao título serem cada vez mais utópicas, faltando espaço para eventuais tropeções do Benfica, querem sempre fazer melhor. Esta é a melhor época de sempre do Sp.Braga. É uma oportunidade única de marcar a História. Os bracaranses cumprem a sua parte, cimentam o segundo lugar, abrem horizontes para os milhões da Liga dos Campeões. Em Braga, frente a um Leixões extremamente defensivo, mais uma vitória. Começada por Alan e concluída por Moisés, com um golo leixonense que serviu para criar alguma apreensão. Mas pouco mais. Foi o vigésimo triunfo do Sp.Braga. Inteiramente merecido para manter a bitola.

Há muito era anunciado, sim, mas faltava a confirmação matemática do adeus do FC Porto ao campeonato. O jogo de Coimbra, com a confirmação do triunfo benfiquista, antecipou esse final funesto para os portistas. Pouco há em disputa neste campeonato. Pode funcionar como uma libertação do que de bom há nos jogadores, agora sem pressão, não tendo de lutar contra uma ansiedade asfixiante. Ou, por outro lado, pode ser um caminho duro até final mas que é mesmo preciso cumprir. Pela primeira vez em cinco anos, após ter sido tetra, FC Porto não será campeão. É algo que pesa no sub-consciente dos jogadores, é uma realidade atroz. Pesa ainda mais pela ironia de receber o troféu do quarto título no dia em que se despede da corrida a outro. O jogo começou enrolado e pouco intenso. O FC Porto marcou, tranquilizou-se, acentuou o domínio. Marcou por Hulk, Guarín e Falcao. Ganhou por três golos. E ganhou bem.

No campeonato, o máximo que o Sporting pode almejar é o quarto lugar. É pouco, obviamente, mas é, acima de tudo, o resultado final de uma época de verdadeiro pesadelo e recheada de contrariedades. Não estranha, por isso, que a mente dos dirigentes esteja já centrada na temporada que se seguirá. O Vitória de Setúbal, ao invés, pretende conquistar a permanência o mais rapidamente possível e chegar com sucesso à sua meta, evitando jogos finais a tremer. E chegaram cedo à vantagem: Collin saltou sozinho, fez um golo fácil. Depois, o Vitória fechou-se, desperdiçou todos os segundinhos, procurou levar a vantagem até ao limite. Resistiu até à hora de jogo. Collin, antes herói e agora vilão, cometeu penalty, João Moutinho empatou. Passaram dez minutos no jogo e o Sporting consumou a reviravolta. Por Hélder Postiga, no primeiro toque na boa. Para ele passou quase um ano: não marcava desde 25 de Abril de 2009.

O Nacional, fruto da vitória sobre a União de Leiria (2-0) reforçou a sua luta por um lugar europeu. Actualmente, com nove pontos pela frente, os madeirenses têm somente um de atraso para o Vitória de Guimarães, equipa que ocupa a última vaga nas competições internacionais. Também o Marítimo, rival insular que bateu o Olhanense (1-2), reentrou na competição pelo quinto posto - conta, tal como os leirienses, com trinta e quatro pontos, ou seja, menos três do que o Vitória. Paços de Ferreira e Naval estão tranquilos na tabela e os figueirenses venceram por 1-3 este duelo. Na luta pela manutenção, nada se alterou em termos pontuais. Passou, contudo, mais uma jornada. E isso quer isso dizer, portanto, que a tarefa de Belenenses (nulo caseiro ante o Rio Ave) e Leixões é ainda mais difícil. Vitória de Setúbal, Olhanense e Académica, o trio que também ainda não assegurou a permanência matematicamente, foram derrotados.

Paulo Sérgio: boa opção?

É oficial: Paulo Sérgio será o novo treinador do Sporting.

Após ter sido confirmada a saída de Carlos Carvalhal e o volte-face no negócio com André Villas Boas, ambos devidamente comunicados à Comissão de Mercado de Valores Mobiliários, o primeiro pensamento foi no sentido de que José Eduardo Bettencourt e Costinha, responsáveis pelo dossier treinador, apostariam num técnico credenciado, com larga experiência e com capacidades inegáveis para levar o Sporting ao sucesso na próxima época. Depois de surgirem como principais referências vários treinadores estrangeiros, com especial destaque para o mercado francês, com Paul Le Guen ou Jean Tigana, os dirigentes leoninos voltaram-se para o mercado nacional. É precisamente onde surge o nome de Paulo Sérgio. Treinador jovem, ambicioso e com personalidade bem vincada para mudar o rumo do Sporting. Está encontrado o sucessor de Carlos Carvalhal à frente dos leões.

A carreira de Paulo Sérgio enquanto treinador começou nesta década. Na temporada 2003/04, o então jogador Paulo Sérgio encerrou esse capítulo da sua vida e assumiu, sempre no Olhanense, o comando técnico. Despontou ao conseguir a promoção dos algarvios à Liga Vitalis. Depois disso, em 2006, rumou ao Santa Clara. Foi nesse período em que comandou a equipa açoriana, lutando pela promoção ao principal escalão do futebol português, que o treinador deu nas vistas e motivou a cobiça de clubes primodivisionários, tendo rumado, entretanto, ao Beira-Mar. No final da época 2008/09, entrou no Paços de Ferreira e deu, então, o tão esperado salto para o principal campeonato nacional. Subiu a pulso, paulatinamente, queimando etapas na sua formação. A saída de Nelo Vingada, em Outubro, abriu-lhe as portas do Vitória de Guimarães. Foi mais um passo importante em termos pessoais.

O ponto alto da carreira de Paulo Sérgio terá sido a final da Taça de Portugal, alcançada ao serviço do Paços de Ferreira em 2009. No entanto, apesar de ser um técnico com méritos reconhecidos, não se pode dizer que, actualmente, Paulo Sérgio seja um treinador de topo. Tem qualidades, indiscutivelmente. Contudo, só o tempo dirá se suficientes para recompor uma equipa destroçada por época de verdadeiro pesadelo, das piores em vários anos, terminando sem nada de palpável conquistado. Não sendo consensual no universo sportinguista, tal como Carlos Carvalhal não foi no início mas aos poucos conseguiu ganhar empatia com o público de Alvalade, Paulo Sérgio terá um teste verdadeiramente exigente para provar que tem valor para recuperar o Sporting e recolocá-lo no caminho dos títulos. Com rigor, disciplina, ambição, humildade e optimismo. Tal como é enquanto treinador.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

O Benfica entrou e saiu à campeão

O teste com a Académica, em Coimbra, prometia ter dificuldade elevada para o Benfica. Os encarnados chegaram a mandar, imperiais, exibindo a altivez própria de um líder. Pressionaram, sufocaram a Académica no seu último reduto, sem dar espaço para responder, ganharam dois cantos, ameaçaram. Bastaram três minutos para a vantagem ser assegurada. Weldon é um avançado que vive na sombra mas já provou ser de extrema utilidade. Jogara ao lado de Cardozo na Figueira da Foz, marcando os dois primeiros golos do Benfica, Jorge Jesus reeditou a dupla atacante. De novo com produtividade. O brasileiro aproveitou um mau alívio, catapultou os encarnados para a frente. Ninguém, por certo, se importaria de ter uma reserva assim. Contudo, a Académica é uma boa equipa e pratica um futebol agradável - nem sempre conseguindo fazê-lo acompanhar das devidas vitórias. Tem esse pecado capital tormentoso mas prometeu luta.

A verdade é que os estudantes, embora tenham recuperado o fôlego com a entrada de André Villas Boas, desde 22 de Fevereiro que não vencem para o campeonato. Portanto, não estão tranquilos na tabela, o fantasma mantém-se, e a distância para o Leixões, primeira equipa em lugar de descida, derrotado na véspera pelo Sp.Braga, é de somente seis pontos. Após o tento de Weldon, jogando sem receios, a Académica tentou explanar o seu futebol, mostrar que a vitória benfiquista estava longe de garantida, era necessário complicar a vida ao Benfica. Conseguiram abrir o jogo, criar oportunidades para Quim intervir, aproveitar alguma passividade da defesa encarnada para ameaçar o empate. E concretizar. Apesar do início pressionante e concretizador, o Benfica baixara a guarda. Em sentido contrário, a Académica crescera, recuperando do choque inicial, insistindo nas faixas laterais do terreno para se chegar à frente.

Diogo Gomes empatou à meia-hora num remate de fora da área. Foi um sério golpe na tranquilidade encarnada que se anunciara após o golo de Weldon. O jogo estava bom, intenso e aberto. No Benfica faltava, sobretudo, um toque de génio. Apareceu Di María, Cardozo não conseguiu o desvio e Weldon, oportuno e assertivo, voltou a marcar. A três minutos do intervalo, os encarnados recolocaram-se na frente. Querem mais provas da utilidade do brasileiro? Em vantagem, com o caminho da vitória desbravado, Jorge Jesus iniciou a gestão do seu plantel. Óscar Cardozo tem sido um jogador fundamental, é o goleador da equipa (leva trinta e três golos oficiais), esteve em dúvida mas mostrou-se em condições de jogar. Foi substituído por Carlos Martins no início da segunda parte. O médio português vive um bom momento, está confiante, entrou bem e teve nos pés o golo do conforto benfiquista. A trave impediu-o.

Antes da entrada de Martins, porém, já Éder havia feito perigar seriamente a baliza de Quim e, na resposta, Di María desperdiçara o terceiro tento. Sairia, depois, o joker Weldon, decisivo de novo, para dar o lugar a Kardec e, mais tarde, Ramires substituiu Aimar. O terceiro golo logo após, a dez minutos do final. Di María, pleno de confiança, pegou na bola, levou-a no pé esquerdo, dribles sucessivos e cruzamento fatal. A fórmula do terceiro tento encarnado em tudo se aproximou à do segundo. O trabalho de Angelito voltou a ser verdadeiramente crucial. Rúben Amorim concluiu-o com um belo remate. A Académica, no entanto, ainda haveria de criar suspense em torno do resultado. William Tiero aproveitou uma desconcentração generalizada do Benfica, Quim incluído, marcou um golo que levou alguma apreensão à multidão benfiquista que tomou Coimbra. Mas a vitória não mais fugiu. O título está iminente. It's the final countdown.

domingo, 18 de abril de 2010

Internazionale: melhor na Europa e pior em Itália

O futebol do Inter de Milão não prima pela espectacularidade. Aliás, seria estranho se assim fosse. Em Itália, já se sabe, impera o pragmatismo. A táctica é colocada acima de tudo, o espectáculo é automaticamente secundário, a consistência defensiva ganha relevo junto do pendor ofensivo, os riscos que se correm são mínimos, há um enorme cinismo por detrás de tudo isso. É essa a fórmula de chegar ao sucesso. Resulta, é um facto. Não é, contudo, atractivo para os adeptos. Não satisfaz na plenitude. O resultado pode ser o desejado, sim, mas fica a faltar uma parte fundamental do futebol: o futebol positivo, de ataque, de divertimento, jogando para a equipa e para a bancada. São poucas as equipas que o fazem com total aproveitamento. Daí que ser simples seja um bom método. O Inter de Milão tem feito, porém, uma temporada titubeante.

A equipa nerazzurri está melhor do que na época passada na Liga dos Campeões. Conquistar a Europa é um objectivo que os adeptos anseiam, perseguem há quarenta e cinco anos, muitos foram os que o colocaram como meta prioritária para a contratação de José Mourinho ter sentido. Afinal, não faria sentido dispensar um treinador tricampeão, Roberto Mancini, e optar por Mou se o plano não visasse alterações. Com Mancini, o Inter dominou em Itália mas também não chegou à final da Liga dos Campeões. Mourinho, na primeira época, repetiu-o. O Inter, sob o comando do treinador português, venceu o campeonato. Sem ser espectacular, como se disse, foi um justo campeão pela sua regularidade. Mas falhou na Europa. O Inter caiu nos oitavos-de-final frente ao Manchester United, então detentor do troféu que seria travado na final pelo Barcelona.

Não houve quem hesitasse em colocar um carimbo na primeira época de Mourinho: fracasso. Afinal, não mais fizera do que o seu antecessor. Surgiram críticas de todos os lados, o treinador abriu uma guerrilha com várias frentes, apontou armas a quem lhe fizesse frente, não teve pejo em identificar os inimigos. José Mourinho sempre foi assim, sempre será. O seu feitio choca com Itália. No entanto, permaneceu no Internazionale. Ganhar a Liga dos Campeões? Não necessariamente, mas fazer melhor. A ultrapassagem dos oitavos seria o mínimo exigível. O Inter encontrou o Chelsea, Mourinho reencontrou uma equipa que levou meio século depois à glória, cumpriu o objectivo. Em Londres, os italianos fizeram um jogo vocacionado para o ataque, com grande qualidade, sem se agarrarem à vantagem. Não jogaram à italiana, portanto.

Depois do Chelsea, o Inter eliminou já o CSKA de Moscovo. Teve o brinde do sorteio. Logo após, contudo, terá a fava: o Barcelona nas meias-finais. Será um duelo, à partida, entre equipas que vivem em pólos opostos: o Barça é espectacular, joga um futebol rendilhado, passeia classe e triunfa; o Inter quer voltar à glória, é uma equipa pragmática, usa a táctica para preencher lacunas técnicas. Os espanhóis são favoritos. Em caso de derrota, a Mourinho não se poderão pedir explicações, uma vez que cai perante aquela que é, na actualidade, a melhor equipa do planeta futebolístico: nenhuma outra tem a capacidade de jogar e vencer, duas componentes essenciais mas tão difíceis de unir. Se a participação na Liga dos Campeões é, até agora, bem positiva, o campeonato está longe de ser fácil. Neste momento, o Inter tem a vida complicada.

O principal opositor da equipa milanesa na disputa pelo trono italiano é a AS Roma. A equipa romana, verdadeiramente revitalizada desde que Claudio Ranieri substituiu Luciano Spaletti no comando técnico - dois inimigos declarados de José Mourinho -, venceu o Inter e aproveitou desaires do campeão para eliminar a diferença abissal de catorze pontos que chegou a barrar-lhe o topo. Na jornada anterior, por força do empate do Inter com a Fiorentina e da vitória da Roma sobre a Atalanta, os romanos assumiram a liderança com mais um ponto de que a equipa de José Mourinho. Foi o corolário lógico de uma ascensão espectacular. Na abertura de uma nova ronda, na sexta-feira, o Inter venceu a Juventus e, ainda que a título provisório pois a Roma só hoje joga com a vizinha Lazio, voltou a passar para a frente. A bola está, de novo, no campo da Roma. Se a resposta for assertiva, fica a certeza de que a luta será renhida até final.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Análise: Aimar para mudar o curso do derby

O Benfica é mais forte que o Sporting. Tem-no demonstrado ao longo de toda a época. Os vinte e três pontos, atraso com que os leões chegaram ao duelo com os encarnados, são um dado exemplificativo disso mesmo. Enquanto o Benfica luta pelo título, estando próximo de o conquistar, tendo a pressão do Sp.Braga mas só dependendo de si, o Sporting não tem um objectivo mais realista do que o quarto luga que lhe dará acesso à Liga Europa. Um derby, contudo, tem características diferentes. É especial, são noventa minutos que por vezes destoam de tudo o resto, é um capítulo de uma rivalidade imortal que aumenta a vontade de complicar a vida ao adversário. O Sporting, sem nada a ganhar nesta época, poderia obrigar o Benfica a redobrados cuidados na ponta final do campeonato. Seria uma consolação.

Carlos Carvalhal teve onze dias para preparar a partida com o Benfica. Fê-lo com tempo, pôde experimentar alternativas e preparar uma estratégia capaz. Privilegiando a coesão defensiva, jogando com duplo pivô defensivo (Miguel Veloso e Pedro Mendes), como já fizera, por exemplo, com o Everton e com o FC Porto, o treinador leonino colocou - sem que tenha sido uma total supresa - João Pereira descaído sob o lado direito do meio-campo do Sporting. A ideia, ao juntar dois laterais de origem, Abel no seu posto e João Pereira mais avançado, passava por procurar impedir os eventuais desequilíbrios provocados por Di María. Jorge Jesus trocou as voltas: passou Angelito para a direita, em frente a Leando Grimi, Ramires ficou na esquerda. O argentino, porém, não conseguiu espaço de progressão. Mérito do Sporting.

Na primeira parte, os leões conseguiram ser superiores ao Benfica. Foram uma equipa unida, sem pressão, jogando com a convicção de que seria possível vencer na casa do maior rival. A teia de Carlos Carvalhal para manietar os benfiquistas resultou na plenitude. O Benfica não conseguiu progredir com a bola, na tentativa de abrir espaços na defesa leonina e, então, colocar a bola em Cardozo ou Éder Luís - a aposta surpresa de Jorge Jesus, ocupando a vaga de Saviola, não teve efeitos: o brasileiro passou ao lado do jogo. Os jogadores do Sporting mostraram conhecimento dos pontos fortes dos encarnados, souberam neutralizá-los e procuraram o ataque. A maior lacuna da primeira parte leonina esteve, porém, no pendor ofensivo. Foram raras as vezes em que a baliza de Quim esteve em real perigo.

A exibição do Sporting com o intuito de impedir que o Benfica ganhasse ascendente e montasse o cerco em volta da área de Rui Patrício roçou quase a perfeição. Falhou, no entanto, quando era necessário pressionar a defensiva do Benfica. Yannick Djaló, o jogador mais desequilibrador dos leões, pouco se viu, Miguel Veloso e João Moutinho não participaram de forma assertiva nas saídas para ataque e Liedson, isolado entre os defesas encarnados, não teve meios para ser decisivo. E, aos poucos, o Benfica foi-se soltando da alçada leonina. Despertou ainda antes do intervalo e terminou junto à baliza contrária. Jorge Jesus percebeu a urgência de intervir. A equipa estava carenciada de alguém capaz de desmontar o Sporting, dominando e fazer com que fosse o opositor a procurar a bola. Pablo Aimar substituiu Éder Luís. O Benfica recomeçou melhor.

Há sempre as duas diferentes faces da moeda: o Benfica conseguiu explanar o seu futebol, jogando no meio-campo adversário, trocou a bola de pé para pé como gosta para avançar no terreno; o Sporting quebrou, perdeu a união que tivera até aí, algo a que a débil condição física de Pedro Mendes (embora tenha jogado até ao final) deu um contributo fundamental. O Benfica melhorou a cada minuto, o Sporting perdeu a intensidade e a capacidade de organização que demonstrara - só por uma vez criou perigo na segunda parte: Abel rematou de longe para defesa de Quim junto ao poste. Galvanizados pelo público, com a possibilidade de ultrapassarem mais uma barreira decisiva ruma à conquista do título, o Benfica assumiu o jogo, superiorizou-se, partiu para a baliza de Rui Patrício. Chegou ao golo aos sessenta e oito minutos.

O ataque do Benfica foi mais ágil e mais veloz do que a defesa do Sporting para marcar. Cardozo concluiu uma extraordinária jogada de Rúben Amorim, lateral na ausência de Maxi Pereira, seguido de um cruzamento-remate de Fábio Coentrão. Carlos Carvalhal procurou mudar. Não se prevenira aquando da entrada de Aimar, procurou reagir. O treinador leonino tirou Abel, recuando João Pereira, para lançar Saleiro. Não teve efeitos. Foi tarde. Tem sido apanágio nesta temporada: quando está em vantagem, sobretudo jogando na Luz, raramente o Benfica vacila e se coloca à mercê do rival. Procura, isso sim, tranquilizar-se e engordar o marcador. Iria, então, chegar ao segundo golo. O jogo terminou com o tento de Pablo Aimar. As dúvidas que restavam desapareceram, o derby ficou resolvido. A conquista do campeonato também.

NOTA: Devido a problemas informáticos, a análise ao derby Benfica-Sporting, posterior à crónica do jogo, só pôde ter sido colocada durante o dia de hoje.


Made in England: Irá o Chelsea sorrir quatro anos depois?

Já cheira a dobradinha em Stamford Bridge. Com a presença na final da FA Cup assegurada, depois de vencer o Aston Villa, por 3-0, no batatal de Wembley, e depois das vitórias na Liga Inglesa, frente ao Manchester United e ao Bolton, o Chelsea está em posição privilegiada para ganhar as duas provas mais importantes do calendário inglês. Apesar de nada ainda estar ganho, a tarefa está facilitada. O adversário da final da FA Cup é o Portsmouth, que venceu surprendentemente o Tottenham na meia-final, mas que continua a ser uma equipa destroçada pelos problemas financeiros com consequências desportivas. Pela lógica, será presa fácil, no entanto, como todos sabemos, a lógica nem sempre predomina no futebol. No campeonato, o Manchester facilitou a vida a Carlo Ancelotti.

Os red devils não só perderam a partida, em casa, com o Chelsea - deixando também o primeiro lugar - como se deixaram empatar no passado fim-de-semana, um nulo ante o Bolton, o que fez aumentar a diferença pontual para quatro com apena quatro jogos por disputar. O Arsenal, que chegou a ameaçar o segundo lugar do Manchester, mais uma vez desiludiu e perdeu. Está, por isso, praticamente afastado da corrida. Tão bom futebol mas tão fracos resultados. A equipa de Arsène Wenger tem classe, elegância e trata a bola como mais nenhuma outra em Inglaterra e muito poucas por essa Europa fora, contudo os resultados não surgem e os seus adeptos continuam saudosos da equipa invencível de 2003/04. Muito pior está o Liverpool que, nas palavras do seu treinador, se encontra arredado do acesso à Liga dos Campeões. Mais um empate caseiro e um sexto lugar ameaçado deixam os reds apenas com a Liga Europa para salvar a época.

Rafa Benítez diz que fica em Liverpool mas ninguém apostará com confiança nessa hipótese. Se Fernando Torres conseguir jogar as partidas que faltam talvez ainda haja esperança, mas a verdade é que o clube corre mesmo o risco de nem sequer participar nas provaseuropeias da próxima temporada. Nessa disputa, está acesa a competição pelo quarto lugar, o último de acesso a liga milionária. O Manchester City está em alta, mais uma goleada - 5-1 ao Birminham depois dos 6-1 ao Burnley. Nos últimos três jogos, a equipa de Roberto Mancini marcou catorze golos, com destaque para Tévez - que já se diz ser o segundo melhor jogador argentino da actualidade. Aguardamos com expectativa a dupla Messi/Tévez no Mundial da África do Sul. O outro pretendente ao lugar imediatamente a seguir ao pódio é o Tottenham, que abrandou o passo ao perder com o Sunderland para a Liga e depois com o Portsmouth para a FA Cup.

No entanto, a vitória sobre os gunners na passada quarta-feira, por 2-1, voltou a aproximar o Tottenham, comandado por Harry Redknaap, do Manchester City, colocando-os apenas com menos um ponto. Esta luta torna-se ainda mais interessante, pois na próxima jornada disputar-se-á o derby de Manchester e, em White Hart Lane, os spurs vão receber o líder Chelsea. Na zona de despromoção, o Portsmouth já está condenado a descer ao Championship, restando, nada mais nada menos, do que seis equipas que tentam fugir aos dois lugares que sobram. O Burnley e o Hull City estão em pior situação mas Wolverampton, Bolton, Wigan e West Ham não podem facilitar. Ainda muita emoção e competitividade pela frente nas quatro jornadas que faltam disputar e nós, adeptos e apreciadores de futebol, estaremos preparados para vibrar com tudo isso.

MADE IN ENGLAND é um espaço quinzenal, assinado por Armando Vieira, sobre o mais fascinante campeonato do panorma futebolístico

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Taça de Portugal: A necessidade contra o sonho no Jamor

COMENTÁRIO

Bastava confirmar a presença na final da Taça de Portugal. O trabalho estava feito: só uma noite verdadeiramente fantástica do Rio Ave e um tremendo desastre do FC Porto impediria os portistas de chegarem ao Jamor. O 3-1 da primeira mão, conquistado em Vila do Conde, deixou o FC Porto com a final à mercê, um último objectivo na época azul, permitindo que Jesualdo Ferreira rodasse o plantel. Os dragões iniciaram o jogo com oito alterações: Beto na baliza, Fucile do lado direito da defesa, David Addy na esquerda, Maicon ao lado de Bruno Alves, Belluschi e Valeri no meio-campo e uma dupla com Ernesto Farías e Orlando Sá. Três golos eram a meta do Rio Ave. Tarefa atroz. Um livre superiormente executado por Belluschi, aos vinte e um minutos, terminou com as ténues esperanças. Os portistas colocaram aí o ponto final.

O FC Porto fez descansar jogadores, lançou outros menos utilizados, testou novas alternativas. Tinha uma boa margem para o fazer. Pelo contrário, o Rio Ave percebeu que as suas ambições não passavam de utopias. Os vila-condenses tiveram consciência de que nada restava fazer e baixaram os braços precocemente. Só por uma vez, num cabeceamento de Ricardo Chaves (39'), o Rio Ave criou perigo: Beto elevou-se, atento, com uma bela defesa. O jogo foi, então, de sentido único. O FC Porto, mesmo dando mostras de natural falta de entrosamento, conseguiu assentar o seu jogo, estabilizar e partir para uma goleada. Ganhou, sem surpresa, por quatro golos - e desperdiçou uma grande penalidade. Houve, contudo, no meio de um jogo de baixa intensidade e sem incerteza no resultado, momentos para guardar. Sobretudo o golo de Guarín.

O colombiano entrara há poucos instantes para o lugar de Fernando. Tocou a bola pela primeira vez com o pé esquerdo, deixou-a à disposição, olhou para a baliza de Carlos, encheu-se de fé e rematou fortíssimo. Potência e colocação juntos num golo de bandeira. A beldade de Fredy Guarín, repetindo o golo ao Rio Ave - pois já marcara na primeira mão destas meias-finais da Taça de Portugal - serviu para animar um Dragão composto somente por doze mil adeptos. Já haviam entrado Hulk e Falcao, substitutos naturais de Farías e Orlando Sá, uma dupla que não rendeu o desejado. E o jogo mudara. O ataque portista ganhou cor: Hulk arrancou e Rúben Micael finalizou com categoria; Falcao, após ter acertado no poste, marcou de cabeça. O resultado é gordo, sim, mas deixa patentes as diferenças: só o FC Porto jogou, o Rio Ave logo se rendera.

Pela terceira época consecutiva, o FC Porto de Jesualdo Ferreira estará no Jamor. Leva uma derrota, com o Sporting, em 2007-08, e uma vitória, ante o Paços de Ferreira, na temporada transacta. Esta será, de novo, uma final nortenha. O adversário é o surpreendente e sensacional Desportivo de Chaves, equipa luta pela vida na Liga Vitalis mas vergou a Naval com duas vitórias - tarde épica na Figueira: ficou em desvantagem e, com menos um jogador, teve capacidade para dar a volta em tempo de prolongamento. A Taça de Portugal tem esse encanto especial, por isso é uma prova querida dos clubes de menor dimensão e, em geral, de todos os adeptos. Representa a quebra das barreiras entre grandes e pequenos. No Jamor será David contra Golias. O FC Porto é mais do que favorito, obviamente. Mas as surpresas não marcam vez.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Liga Sagres: Um título cada vez mais certo

ANÁLISE

Era no derby entre Benfica e Sporting que o Sp.Braga colocava uma enorme dose de esperança num escorregão do líder. Uma derrota dos encarnados diminuiria a vantagem para três pontos. Com quatro jogos pela frente, jogando ainda no Dragão, a luta pelo título voltaria a ter todos os condimentos. Havia, por isso, a necessidade de vitória para o Benfica. Confirmou-se. A equipa benfiquista conseguiu superar as dificuldades que o Sporting lhe colocou, foi abnegada e teve em Aimar o mago que fez toda a diferença. Só um verdadeiro ciclo de pesadelo poderá tirar a conquista do campeonato aos encarnados. No entanto, por ainda ser possível apesar das poucas probabilidades de acontecer, o Sp.Braga mantém-se à espreita. E o FC Porto olha ao segundo lugar.

O Benfica venceu o derby. Venceu bem, acima de tudo. O Sporting começou melhor, preparado para travar a festa antecipada dos encarnados, demonstrando que ainda poderiam ter dissabores na recta final. Os leões conseguiram, pelo menos, levar alguma apreensão à Luz: jogaram com união, montaram uma boa estratégia, impediram os avanços do Benfica. O trabalho táctico foi preparado com exactidão. O intervalo obrigou Jorge Jesus a mudar. Lançou Aimar. Apagado em Liverpool, o argentino foi decisivo. Com ele, o Benfica conseguiu ligar o seu futebol, ganhou terreno, cercou a baliza de Rui Patrício. Ao mesmo tempo, o Sporting quebrou. Deixou de ter Pedro Mendes, nunca dispôs de Yannick ou Liedson. Os golos do Benfica chegaram com naturalidade. E telefonema pode ser feito: "O Benfica quer as faixas, se faz favor!..." - Crónica

O jogo do Sp.Braga, em Leiria, começou mal. Entrar a perder, quando é necessário de ganhar para manter o sonho no título, era o pior que podia acontecer ante um adversário com aspirações acima da média, tal como os minhotos, lutando por um lugar europeu. Cássio foi o desmancha-prazeres. Aos onze minutos, com uma cabeçada fortíssima, o brasileiro deu vantagem aos leirienses. O Sp.Braga tremeu, sentiu o golo e teve dificuldades para se encontrar. Percebeu que um tropeção deixaria, afinal, o Benfica com o título na mão. Contudo, conseguiu dar a volta. Em três minutos, passou para a frente: Meyong e Rentería, oportunos e matreiros, consumaram a viragem no marcador. Não tinham os bracarenses feito muito para tal? É certo que não, mas fê-lo. E houve capacidade para aguentar o triunfo. A ligação da equipa foi, de novo, vital.

O FC Porto passava por imensas dificuldades, em Vila do Conde, ante o Rio Ave. Depois de boas exibições, num sistema que privilegia a superioridade no meio-campo por forma a conseguir união entre os sectores da equipa e confere maior dinâmica colectiva, os portistas haviam regressado a um futebol pouco hábil - Hulk foi quem mais tentou. O Rio Ave, após duas goleadas por cinco golos, decidiu encarar o FC Porto de forma mais realista, procurando brechas, insistindo nas faixas laterais. E criou boas oportunidades, catapultando Helton para primeiro plano. Faltava um clique que abalasse a monotonia em que os dragões estavam mergulhados. Bateu a hora de jogo. Era preciso mudar. Jesualdo Ferreira lançou Ernesto Farías para o lugar de Tomás Costa. Cinco minutos depois, El Tecla marcou o golo da vitória. É um suplente de luxo!

O Leixões ganhou um novo fôlego na luta pela manutenção. A equipa de Fernando Castro Santos venceu, por 2-0, o Paços de Ferreira e beneficiou dos empates do dueto que segue imediatamente acima, Olhanense e Vitória de Setúbal. Ambos estiveram em desvantagem e, já nos últimos minutos, conseguiram conquistar um ponto: os algarvios fizeram-no em Guimarães, os sadinos, em casa, frente à Académica. No último lugar, apesar do empate alcançado na Madeira, ante o Marítimo, a três golos, o Belenenses tem uma tarefa cada vez mais agreste para escapar às posições de descida (mantém os nove pontos de atraso com menos uma jornada pela frente). Na luta europeia, o Nacional empatou, a zero, com a Naval, na Figueira da Foz, e não se conseguiu aproximar do Vitória de Guimarães, última equipa com acesso à Europa.

Benfica-Sporting, 2-0 (crónica)

"É PARA ENCOMENDAR AS FAIXAS, SE FAZ FAVOR!"

O Benfica venceu o derby. Venceu bem, acima de tudo. O Sporting começou melhor, preparado para travar a festa antecipada dos encarnados, demonstrando que ainda poderiam ter dissabores na recta final. Os leões conseguiram, pelo menos, levar alguma apreensão à Luz: jogaram com união, montaram uma boa estratégia, impediram os avanços do Benfica. O intervalo obrigou Jorge Jesus a mudar. Lançou Aimar. Apagado em Liverpool, o argentino foi decisivo. Com ele, o Benfica conseguiu ligar o seu futebol, ganhou terreno, cercou a baliza de Rui Patrício. Ao mesmo tempo, o Sporting quebrou. Deixou de ter Pedro Mendes, nunca dispôs de Yannick ou Liedson. O telefonema pode ser feito: "O Benfica quer encomendar as faixas, se faz favor!..."

Há cerca de dois meses dir-se-ia, quase sem hesitações, que o Benfica teria todo o favoritismo para o jogo com o Sporting. Actualmente, olhando somente aos números, a resposta pouco difere: os encarnados são líderes, possuem todas as condições para chegarem ao título nacional, alcançaram uma vantagem de vinte e três pontos para o Sporting. Um derby entre primeiro e quarto classificado. Mas um derby. O futebol, contudo, é mais do que simples análise estatística. O Sporting vive um bom período, parece ter ultrapassado o pesadelo que o envolveu durante quase toda a temporada. Quer terminar com brio. Provou, para além disso, que alterna o bom e o mau com uma facilidade inquietante. No fundo, foi esse o maior mal desta equipa. O Benfica é regular. Porém, abalou em Liverpool e caiu da Liga Europa. Poderiam os papéis ser trocados?


Num derby até é tradição dizer-se que a equipa que está em pior posição consegue vencer. Este Sporting apresentou-se na Luz sem responsabilidades acrescidas. Ao contrário do Benfica, necessitado de uma vitória para restabelecer a dose de conforto para o Sp.Braga. Carlos Carvalhal recorreu ao esquema que utilizara com tão bom proveito nos jogos em que os leões verdadeiramente foram fortes e eficazes nesta temporada: 4x2x3x1. Ante o Everton e o FC Porto deixou o papel de vítima, mostrou uma força guardada, foi uma libertação pela raiva que um ciclo infernal de sete jogos sem vitórias provocara. Na Luz, colocando Pedro Mendes e Miguel Veloso como pivôs defensivos, nas costas de um tridente com Moutinho, Yannick e João Pereira, o Sporting conseguiu pôr um travão na criatividade do Benfica. Com pressão e confiança.

UM SPORTING EXPEDITO AMARROU O BENFICA!

Juntar o útil ao agradável seria guardar o quarto lugar e estragar os planos ao rival. O primeiro sinal de perigo deu-o Daniel Carriço, na sequência de uma saída em falso de Quim, com um cabeceamento ao lado. Até à vintena de minutos, o Benfica sentiu dificuldades para se soltar das amarras que os leões haviam preparado. O Sporting estava mais expedito, sim, mas apenas tivera o lance de Carriço e uma incursão de João Pereira para assustar Quim. Foi, sobretudo, nas bolas paradas que o Benfica levou perigo à baliza de Rui Patrício: Javi García cabeceou por cima, Éder Luís - a surpresa de Jorge Jesus para jogar na vaga de Saviola - atirou para fora e Cardozo, embora em posição ilegal, acertou no poste. O Benfica despertou, viveu o seu melhor período e empurrou o Sporting para a sua área. Esteve perto de conseguir marcar.

A primeira parte terminou em polvorosa. Subiu a tensão, os nervos ficaram à flor da pele, o ambiente aqueceu. É um derby, afinal. Jorge Jesus percebeu que algo teria que fazer para que o Benfica conseguisse, enfim, baralhar o Sporting e criasse desequilíbrios. Quem melhor do que Pablo Aimar para isso? Éder Luís fora uma aposta para jogar ao lado de Cardozo mas não dera os resultados desejados. Ao Benfica, mais do que tudo, faltava que ligasse os sectores. Os encarnados chegaram mais mandões, marcando posição no terreno. Estavam em casa, queriam dar a machadada no campeonato e recuperar a vantagem no topo. Com o tempo, o Sporting foi perdendo intensidade e discernimento. Pedro Mendes apresentou limitações físicas, a equipa ressentiu-se. E faltavam os génios. Yannick e Liedson, criativo e goleador, estão por aí?

UM DOMÍNIO QUE DÁ RESULTADOS NATURAIS

Dominando, trocando a bola e ganhando metros. É-lhe familiar? Claro, é a estratégia preferida do Benfica para se superiorizar aos adversários. A entrada de Aimar fora fundamental. O Sporting não respondera. Já depois de completa uma hora de jogo, Cardozo foi tocado na área por Grimi. Seria grande penalidade. O árbitro João Ferreira, tal como fizera num lance em que a bola bate no braço de Daniel Carriço, mandou jogar - perdoaria ainda expulsões a Luisão (46') e Veloso (85'). Tacuara ficou queixoso, estendido no relvado, parecia ter chegado ao fim do derby. Jorge Jesus chamou Alan Kardec. Cardozo pediu para esperar, cerreu os dentes, mordeu a língua e aguentou. Seis minutos depois percebeu-se o porquê da insistência: Rúben Amorim demoliu a defesa do Sporting pela direita, Fábio Coentrão deu seguimento com um cruzamento-remate tenso, Tacuara desviou subtilmente para o golo.

Óscar Cardozo foi o exemplo da abnegação. Fizera a sua parte. Agora, sim, iria sair. Mas só com o dever cumprido. Carlos Carvalhal tentou reagir: retirou Abel, desceu João Pereira para lateral e colocou Saleiro na frente. Nesta fase, contudo, já o Benfica juntara a vantagem ao domínio do jogo. Continuava mais incisivo, procurando um golo que lhe desse maior conforto, o Sporting estava cada vez mais vulnerável. A equipa estivera irrepreensível na primeira parte, porém quebrara. O Benfica ficou senhor da situação. E, com naturalidade, chegou ao segundo golo. Minuto setenta e sete: Ramires colocou a bola no corredor central, um toque de calcanhar precioso, Aimar recebeu-a, correu, sentou Rui Patrício e rematou para o fundo da baliza leonina. Foi a cereja no topo do bolo de El Mago. Ponto final no jogo. E no título? Decerto!

terça-feira, 13 de abril de 2010

Benfica-Sporting (antevisão)

Há vinte e três pontos a separar os vizinhos. É uma barreira alta, bem larga e até desencorajadora. O Benfica está em primeiro, com os olhos no título, pretende dar mais um passo para recuperar o trono no final. O Sporting somente tem o quarto lugar como melhor objectivo. Um derby entre Benfica e Sporting, mesmo que vivendo em mundos diferentes, mesmo que haja tamanha distância entre ambos, nunca pode ser mais um jogo. É diferente, é uma rivalidade intensa e eterna. Há o prestígio, sobretudo para os leões, em jogo: derrotar o Benfica, na Luz, complicando-lhe as contas de um título que parece cada vez mais bem encaminhado, será um bálsamo numa época fracassada e terminada sem nada ganho. Travar a caminhada encarnada relançará a luta pelo campeonato, incentivando os bracarenses. Será agradável aos leões.

O Benfica corre pelo título. Viu, contudo, a sua vantagem reduzida para três pontos devido à vitória do Sp.Braga e está, por isso, sob a obrigatoriedade de repor os seis pontos de margem para que readquira o conforto conquistado após o duelo com os minhotos. Vencendo o derby, os encarnados darão ficarão, mais do que nunca, com as portas do título à mercê: a par do jogo no Dragão, é na partida com os leões que o Sp.Braga deposita maiores esperanças em ver o Benfica escorregar. O derby chega, no entanto, cinco dias depois da eliminação europeia, ante o Liverpool. Um jogo desta envergadura seria a última coisa desejada pelos benfiquistas. Ou pode ser o adversário ideal para o Benfica demonstrar que o desaire europeu não afectou. Que melhor opositor em termos psicológicos do que o velho rival para a retoma do trilho certo?

O suspense ficou até à última. Javier Saviola, jogador fundamental neste Benfica, ausente desde a partida com o Sp.Braga, esteve com um pé nos convocados. Não estava, porém, nas melhores condições e ficou de fora. A El Conejo junta-se Maxi Pereira, castigado, que deverá ser rendido por Rúben Amorim, tal como aconteceu, por opção, em Anfield Road. Como boa notícia, Jorge Jesus já poderá contar com Luisão: o central brasileiro, patrão da defesa encarnada, terminou o jogo de Liverpool com dificuldades físicas e esteve em dúvida para o derby. Também Weldon, decisivo na Figueira da Foz, ante a Naval na jornada anterior do campeonato, está de regresso às opções. No entanto, poderá ser Alan Kardec a ocupar a vaga deixada por Saviola. Até porque o jogo com o Liverpool serviu para provar que Aimar não é o melhor parceiro para Tacuara.

Carlos Carvalhal está no Sporting em contagem decrescente. Sabe que no final da época deixará de ser o técnico dos leões. Quererá sair de cabeça erguida, com trabalho feito. Ganhar ao Benfica, o líder e rival de sempre, será a melhor imagem que o técnico poderá deixar em Alvalade, já depois de ter derrotado o FC Porto, levando a que se coloquem mais algumas interrogações sobre se a sua saída terá sido ou não uma boa escolha. Para a Taça da Liga, em Fevereiro, os leões acabaram goleados por 1-4. Contudo, este Sporting já deu provas de ser capaz de surpreender. Sem contar com Marat Izmailov e Pongolle, Carlos Carvalhal, ao contrário de outras partidas importantes em que usou dois pivôs defensivos, deverá optar por um 4x1x3x2, colocando Carlos Saleiro ao lado de Liedson. Jogo terá crónica no FUTEBOLÊS.

EQUIPAS PROVÁVEIS

BENFICA: Quim; Rúben Amorim, Luisão, David Luiz e Fábio Coentrão; Javi García, Ramires, Carlos Martins e Di María; Alan Kardec e Cardozo

SPORTING: Rui Patrício; Abel, Tonel, Carriço e Grimi; Pedro Mendes; Miguel Veloso, João Moutinho e Yannick; Saleiro e Liedson

segunda-feira, 12 de abril de 2010

A alma que invade o Barça e falta em Madrid

O Barcelona é superior ao Real Madrid. Joga um futebol encantador, actractivo e envolvente. Os seus jogadores vivem num constante estado de graça. Messi é o rosto mais visível de uma equipa onde todos se complementam e cada um sabe precisamente as suas funções. No Real Madrid, Ronaldo é o líder de um conjunto de estrelas. Pode parecer a mesma coisa dito por palavras diferentes. Não é. Tratam-se, aliás, de concepções contrárias. Lionel Messi tem uma equipa com ele, fá-la ganhar e ganha com isso. É perfeito para ambos. Cristiano Ronaldo é quem deve guindar a equipa ao sucesso, dele se espera tudo, mas não é sobrenatural. Está desapoiado. Como não está Messi. Ou como não estava em Manchester. No Barcelona não há um jogador imprescindível como é Ronaldo em Madrid. Há vários. E a Liga está encaminhada.

Cartera. O Real Madrid, com a reentrada de Florentino Pérez no clube, após a atribulada saída de Ramón Calderón, em 2009, colocou o mercado de transferências numa verdadeira roda-viva. O novo presidente chegou pronto a reunir os melhores do planeta no Santiago Bernabéu, recuperando um projecto que dera sucesso no início, com Vicente del Bosque, mas entretanto caído em desgraça: tornar o Real Madrid num conjunto galáctico. Num tempo em que qualquer clube suspirava para sair da crise, preparado para abrir mão das suas pérolas em função das finanças, Florentino Pérez foi um bálsamo. Identificou os alvos, apresentou os cheques, contratou. Pagou noventa e quatro milhões de euros por Ronaldo, sessenta e cinco por Kaká, trinta e cinco por Benzema. Contratou ainda Xabi Alonso e Arbeloa.

Chegados a esta fase da época, o que tem o Real Madrid para ganhar? O campeonato. O primeiro rombo chegou com a eliminado da Taça do Rei pelo modestíssimo Alcorcón, equipa do terceiro escalão espanhol que ganhou por estrondosos 4-0 no jogo da primeira mão e saiu do Bernabéu derrotada por um golo somente. Seguiu-se a saída inglória da Liga dos Campeões, em casa, no palco da final, frente ao Olympique de Lyon. Duas vitórias incontestáveis dos franceses nos oitavos. Havia, contudo, o primeiro lugar na Liga. Em igualdade com o Barcelona, é verdade, mas com vantagem pela maior diferença de golos. Aproximava-se o duelo entre os líderes. Era a oportunidade para os merengues afastarem definitivamente o Barça. E mais do que isso: darem retorno ao investimento megalómano de Florentino Pérez. Falhou por completo.

O Barcelona, pelo contrário, não investiu rios de dinheiro. Tem uma cantera que lhe dá todas as garantias, os jogadores conhecem o espírito do clube e transportam-no para o relvado. Há alma na equipa. Ora, é precisamente isso que falta no Real Madrid: a qualidade abunda, mas não há identificação clara com o clube. Falta a tal mística. Essa é uma das virtudes deste Barça. Pep Guardiola é, ele próprio, um símbolo blaugrana, um capitão que deixou os relvados e passou para o banco com sucesso imediato. Actualmente é Carles Puyol a maior referência do clube. O Barcelona tem uma enorme capacidade de lançar jovens, consolidá-los e os tornar em indiscutíveis. Sergio Busquets e Pedro Rodríguez emergem a cada jogo, como Valdés, Piqué ou Xavi em tempos. O Barcelona é a melhor equipa da actualidade. Conquista-se, não se compra.

domingo, 11 de abril de 2010

O que une Rentería, Ernesto Farías e Xavi Hernández?

Em Braga ninguém pensa guardar o segundo lugar. O objectivo é atacar o primeiro. Nem poderia ser de outra forma: esta é a melhor época de sempre dos bracarenses, nada o apagará, mas a coroação somente poderá chegar com a conquista do título. É a oportunidade de uma vida. Não há, por isso, forma de a descartar. É difícil, claro que sim, mas mantém-se possível. A ambição do Sp.Braga passa por vencer os seus jogos. Ora, se o fizer, para além de manter a perseguição ao Benfica, segura o segundo lugar. Não há risco de ser traído pela gula, uma coisa leva à outra. Wason Rentería chegou ao Sp.Braga, cedido pelo FC Porto, na reabertura do mercado. Nos últimos dois jogos, ante Vitória de Guimarães e União de Leiria, foi decisivo. Com os vimaranenses, ganhou duas grandes penalidades; com os leirienses, marcou o segundo golo, o da vitória, concluindo a reviravolta minhota. E, assim, os portistas continuam atrás. É irónico.

O FC Porto fez um jogo fraco em Vila do Conde. Não teve dinâmica, perdeu capacidade de imprimir velocidade, nunca conseguiu assumir-se superior e fazer tremer a defesa contrária. Sentiu imensas dificuldades para não se deixar manientar pelo Rio Ave, escaldado pelas últimas duas goleadas. Duas derrotas por cinco golos, com Olhanense e Sporting, afectam e Carlos Brito sentiu necessidade de tomar cautelas. Montou uma teia. E, com isso, o jogo enrolado, pouco claro e excessivamente trapalhão prolongou-se. Jesualdo Ferreira chamou Ernesto Farías. Desde 16 de Janeiro, quando defrontou o Paços de Ferreira, o argentino não era utilizado. Pelo meio esteve quase no Cruzeiro, num negócio abortado que traria Kléber para Portugal, mais tarde quase rumou ao Palmeiras. Faltou o quase. Ficou no Porto. Ante o Rio Ave, El Tecla decidiu. Poucos minutos em campo, um golo de cabeça. E alimentou a esperança azul nos milhões.

Um país parado em frente à televisão, estádio cheio como um ovo, duelo de titãs na luta pelo título. Real Madrid e Barcelona, o jogo do campeonato espanhol. Duelo entre Messi e Ronaldo, também. Seria quase obrigatório assim o considerar: são os dois melhores do mundo, movem multidões, encantam quem os vê jogar. O argentino lidera um carrossel mágico e vencedor, o português é a estrela mais brilhante da constelação madrilista. O Barcelona ganhou, foi superior em toda a linha, mostrou a sua força. Messi e Pedro Rodríguez cravaram a vantagem. La Pulga ganhou a Ronaldo, portanto. Mas foi Xavi quem maior influência teve. O espanhol vive na sombra, é um operário de tremenda classe, tem uma importância brutal. O Barcelona teve quatro oportunidades de golo feito. Duas entraram, outras duas foram paradas por Casillas. Xavi fez os passes. Letais, sublimes, categóricos. Sabe o que une os três jogadores, leitor? A ironia.