quinta-feira, 2 de julho de 2009

O golo que tirou a vida a Escobar



Marcar um auto-golo é sempre motivo de tristeza e raiva para quem o faz. É uma infelicidade, no fundo. Porém, o fanatismo dos adeptos pode levar a que esse azar ganhe proporções ainda maiores. Capazes de sair do futebol, até. O golo mais trágico de sempre foi marcado a 22 de Junho de 1994, no Mundial dos Estados Unidos. O autor foi Andrés Escobar, defesa colombiano. O golo colocou um ponto final nas aspirações da selecção da Colômbia em chegar ao cume da glória. Pior do que isso, colocou um ponto final na vida de Escobar.

A Colômbia chegou aos States com a ambição em alta e era até apontada como possível campeã mundial. As prestações na fase de qualificação, em especial a vitória de cinco-a-zero sobre a Argentina sustentavam essa tese e elevavam a fasquia. No entanto, nada correu como esperado. O futebol é como Quentin Tarantino: reserva-nos sempre surpresas e as previsões de nada servem. Em futebol, a teoria não serve quase para nada. Havia o excêntrico Valderrama, Freddy Rincón ou o supersónico Valencia mas os colombianos caíram logo na fase de grupos. Com duas derrotas seguidas.

Uma frente à Roménia de George Hagi e a outra ante os Estados Unidos, país anfitrião. Foi nessa segunda partida, em Los Angeles, que Escobar escreveu a sua sentença de morte. Literalmente. O jogo estava empatado. O minuto 35 tudo mudou. Ao tentar interceptar um cruzamento norte-americano da esquerda, Andrés Escobar acabou por colocar a bola dentro da sua própria baliza. O lance nem parecia levar grande perigo mas o defesa foi infeliz e traiu o movimento do guarda-redes Oscar Cordoba. Percebeu o que tinha feito, colocou as mãos na cabeça de imediato. A Colômbia dizia adiós ao Mundial. Mas isso era o menos.

Seguiu-se uma vitória sobre a Suíça mas já nada havia a fazer. Sem glória, os colombianos regressaram a casa. O infeliz defesa era um vilão para os adeptos, o alvo maior da fúria. Passou uma semana da eliminação da Colômbia do Mundial. Em Medellín, à saída de um restaurante, Escobar foi confrontado por dois adeptos. Um deles, Humberto Muñoz Castro, premiu o gatilho por doze vezes contra o internacional colombiano. Uma situação bizarro e cruel. Um golo, um simples golo, acabou com a vida de um Andrés Escobar. Faz hoje precisamente quinze anos que isso aconteceu.

Caso fosse vivo, Andrés teria 42 anos. Decerto já não jogaria futebol mas ainda seria relativamente jovem. Mas a fúria dos adeptos colombianos era tanta que não conseguiram separar o jogo do quotidiano. Sim, por vezes o futebol mexe com os adeptos de forma intensa e leva a que se cometam loucuras. Custa a crer o que foi feito a Escobar apenas por um lance infeliz que resultou numa eliminação. Passados quinze anos, Humberto Castro está em liberdade. Saiu há quatro por bom comportamento. A história é real mas tem contornos de Pulp Fiction. De Tarantino.

VISTO DA BANCADA é um espaço semanal de opinião

1 comentário:

Anónimo disse...

Lembro me bastante bem desse episodio tragico.

Ate porque o mundial de 94 nos Estados Unidos foi o primeiro que acompanhei.

Aquele golo roubou lhe a vida !!!

De facto foi uma grande surpesa a prestacao da Colombia no torneio.

Passaram rapidamente de favoritos, a decepcao do grupo A. terminaram na ultima posicao.

Contavam com o meu jogador favorito de sempre daquela seleccao, Asprilla.

Andre