domingo, 31 de outubro de 2010

Dragão resistente à intempérie

Obstáculos insuspeitos, terrenos movediças, perigos em todo o lado, campo armadilhado. Uma intempérie, cargas de água imensas, futebol condicionado, transformado num qualquer jogo aquático. Fora as técnicas, as jogadas trabalhadas, o passa e rapassa: impossível fazê-lo. Jogo vertical, directo, fácil, sem invenções. Músculos puxados ao limite, respiração ofegante, camisola colada no corpo, água e mais água, jogo para homens de barra rija, batalhado, lutado e intenso. Um dilúvio deixou o relvado (quase) impraticável, bem longe das condições merecidas por FC Porto e Académica, líder e terceiro classificado, duas equipas que sabem o que querem, que jogam bem e que, sempre que possível, aliam bons jogos aos resultados. Nada a fazer perante tal dilúvio. Só lutar, suar, dar tudo, terminar extenuados e sem mais nada para dar. O FC Porto foi mais forte e mais feliz. Marcou, também desperdiçou e foi guiado por uma estrela.

O jogo de Coimbra seria sempre perigoso para o FC Porto. Estava marcado a negrito e rodeado a vermelho nos cadernos azuis. A Académica iniciara bem o campeonato, ganhara na Luz, garantira o terceiro lugar e, apesar de não ter vencido sempre, nunca deixara de marcar nas oito jornadas anteriores. Também o Benfica ganhara, colocara pressão, encurtara para quatro a diferença pontual na semana anterior ao duelo, o duelo de titãs, no Dragão. Depois, bem, os ceús desabaram em chuvadas sucessivas, alagaram o relvado, transformaram um jogo possivelmente bem disputado numa espécie de salve-se quem puder. Ganharia quem se soubesse adaptar, fosse mais inteligente, revelasse maior consistência e jogasse pelo seguro. De futebol, na realidade, houve pouco. Nem mais se poderia exigir. São equipas com qualidade, sim, mas não para jogar naquelas condições. Fernando, lesionado, sentiu-o na pele. E o clássico no horizonte.

O FC Porto teve sempre mais bola, mais iniciativa e mais querer - o que pode não chegar para enfrentar o temporal descarregado em Coimbra. Chegou ao golo, precioso e vital, antes do intervalo: Álvaro Pereira insistiu pela esquerda, alçou o cruzamento para a área, zona do agrião, para Varela, acrobático, colocar a bola no fundo da baliza de Peiser. Golaço. No meio da intempérie, jogando aos trambolhões, verdadeiro kick and rush, fazendo pela vida com armas alternativas, o remate de Varela foi um momento de espectáculo, de futebol, de emoção. O único. Até aí tudo fora cinzento, em esforço, sem motivos para apontamento e ao sabor das condições metereológicas. A culpa está bem identificada: a chuva, essa maldita, impediu um bom jogo. Os jogadores viram-se obrigados a puxar pelo carácter. O FC Porto foi premiado, porque mais procurara ter sucesso e sorriu para os céus. Chegou, logo depois, o intervalo. Bendito intervalo.

A segunda parte começou sem o vendaval da primeira. Ainda se mantinha, sim, mas a chuva acalmara a fúria. Jorge Costa apostou em Éder. Com o relvado escorregadio, ora com a bola presa, ora com a bola deslizante, tudo seria possível. André Villas Boas, pragmático e realista, chamou Otamendi, retirou Varela e reformatou o dragão: era necessário salvaguardar a vantagem. No minuto seguinte, a dezanove do final, João Moutinho teve nos pés a oportunidade de serenar os portistas. Dispôs de uma grande penalidade, assumiu a bola e acertou no poste. O FC Porto desperdiçou o golpe de misericórdia. Como antes, Hulk e Falcao haviam feito. Querer esticar o conforto de apenas um golo seria muitíssimo arriscado. A Académica nunca deixou de acreditar. Hugo Morais acertou na trave, Sougou disparou nas nuvens e a Briosa perdeu uma oportunidade de ouro em cima dos noventa minutos. O dragão respirou. Chamam-lhe estrelinha... de campeão.

sábado, 30 de outubro de 2010

Opinião: O dia em que Maradona faz cinquenta anos



El Pibe completa cinquenta anos de vida.

México, 1986, Verão. Sol, calor, tequila e um sombrero. Campeonato do Mundo. Quartos-de-final. Estádio Azteca cheio, a abarrotar, sem espaço para uma melga: cento e quinze mil pessoas preparadas, de bandeirinha em punho, esfregando as mãos, em contagem descrente, final countdown, para o duelo entre Argentina e Inglaterra. Olhos abertos, atenção colada, televisões ligadas, rádios sintonizados. Um planeta parado. Um jovem em emergência, pujante, talentoso, cheio de ganas: Diego Armando Maradona. Liderava a albiceleste. Número dez, braçadeira de capitão, marcas de predestinado. Com Inglaterra pela frente. Equipa cavalheiresca, como Bobby Robson, com Lineker, goleador letal, na frente. Jogo agradável, entretido, disputado e ritmado. Só que sem golos. Desgraça. O futebol é sinónimo de golos. A sua essência, pelo menos, é.

Fim da primeira parte e um nulo. Duas equipas com tanta qualidade, tantas estrelas, tanto talento e sem golos? Anularam-se, as defesas superiorizaram-se, guardaram-se. Os golos surgirão, pensa-se. E espera-se. Maradona, no seu interior, percebeu que o colectivo não resultara. Nem é tarde nem é cedo, há que resolver, pega-se na bola e trata-se disso. O jogo recomeçara há seis minutos. El Pibe levou a bola colada ao pé esquerdo, tipo íman, entregou-a para Valdano e correu para o centro da área inglesa. A bola sofreu um ressalto e subiu. Diego Armando Maradona, do alto do seu metro e sessenta e cinco, elevou-se e atirou para dentro da baliza. Como foi possível ele ter chegado com a cabeça onde Peter Shilton, o guardião britânico, não chegou com as mãos? Só com ajuda. Ajuda divina, disse ele: fue la mano de Diós. Do Diós Maradona, sim.

Os ingleses levantaram-se em protesto. Fora com a mão. Mesmo que bem disfarçado. Ali Bennaceur, árbitro tunisino, apontou para o centro do terreno. Bullshit! Argentina em festejos, o golo contara, fosse como fosse, até poderia ser com o dedo mindinho: um-zero de vantagem, ponto final. Mas foi batota. A palavra, associada a Maradona, fica ainda pior do que já é. Ele achou o mesmo. Não haveria de ficar na História por aquilo. Havia tempo, espaço, inspiração para muito mais. Poderia passar de batoteiro a génio. Precisou de quatro minutos. Voltou a colar a bola ao pé. Fintou. Dois ingleses foram aos bonecos nesse instante. Correu, correu e correu. Uff! Destruiu como uma onda. A mesma que no México se fazia nas bancadas. Foi deixando os adversários pelo caminho. Impotentes, vergados, rendidos. E os argentinos extasiados.

Chegou à área inglesa em poucos segundos. Ainda há instantes estava no seu meio-campo. Viu a glória junto de si. Só Maradona e Terry Fenwick, o mais resistente dos defesas britânicos, antes de Peter Shilton. Nova finta, guarda-redes fora da jogada, golo. O melhor golo alguma vez visto. De la hostia! Que jogada, que momento, que golo, que espectáculo, que obra de arte, que monumento - complete o leitor, se quiser. Uma vénia, urros de vitória, chapéu bem levantado, respiração cortada e imortalidade garantida ali, assim, naquele minuto. Verdadeira ode ao futebol, essência do jogo, pureza da magia, génio à solta, livre e rebelde, para decidir todos os problemas. Maradona fazia-o como ninguém. Fosse com matreirice ou com brilhantismo. Ante a Inglaterra, foi as duas coisas. Mas será sempre um génio. Para muitos um Deus.

O texto original, que serve de base a este, data de Setembro de 2009. Foi revolucionado. Como fazia Maradona com a bola nos pés. A prova está aqui.

Passada de El Mago para a quinta vitória

Minuto catorze. Oportunidades para ambos os lados, bola nas duas áreas, Cássio e Roberto em acção. Também um jogo lento e sem ser muito pressionante por parte do Benfica, com o Paços de Ferreira à espreita para tentar a sua sorte na casa do campeão. Apareceu o génio, o talento espalhado pelo relvado, a facilidade de destruir no toque de bola argentino. Pablo Aimar arrancou, fintou, fintou, fintou, olhou para Cássio, apercebeu-se da posição do guarda-redes brasileiro e rematou em jeito. Por isso lhe chamam El Mago. O golo de Aimar, classe salpicada de magia, merece vénias e mostrou o verdadeiro génio de Pablito. Mesmo que tenha já passado a sua fase de maior fulgor, não jogando agora com a regularidade de outrora, o argentino continua capaz de encantar, de ser importante e de resolver. Na Luz, ante o Paços de Ferreira, adversário atrevido e audaz, a obra-prima de Aimar foi o melhor de tudo e abriu caminho à vitória do Benfica. Suada.

Três objectivos traçados à partida por Jorge Jesus. O primeiro, está fácil de ver, passava pela vitória. O Benfica conseguiu-o. Não encantou, não foi seguro na gestão que fez e não soube, nos momentos certos, matar a esperança pacense. Mas ganhou. Demorou sessenta e cinco minutos a serenar. Só aí, quando Alan Kardec converteu uma grande penalidade assinalada por derrube de Javier Cohene a Fábio Coentrão, um lance discutível, os encarnados, com o alargamento da vantagem, conseguiram ter total controlo da bola, das investidas do Paços e da vitória. O campeão fora embalado pela genialidade de Pablo Aimar, mas nem por isso perdera o nervosismo evidenciado e ficara com o adversário na mão. Continuou a dar espaço, permitiu que o Paços de Ferreira tivesse os seus momentos e se aventurasse. Roberto, agora a tranquilidade em pessoa, respondeu sempre bem, com segurança e impediu estragos. Não sofrer golos era a segunda meta.

Havia, para lá do essencial, outro propósito a ser atingido pelo Benfica: impedir ter ausências forçadas para o jogo no Dragão, na próxima jornada, que será fundamental no futuro do campeão. Carlos Martins, um dos quatro em perigo de exclusão, ficou de fora, também tendo em conta a importância do encontro com o Lyon, na terça-feira, para a continuidade na Liga dos Campeões. Luisão, David Luiz e Javi García terminaram o jogo sem cartões: o capitão cedeu o seu lugar a Sidnei nos minutos finais e o médio espanhol foi substituído por Airton. Sob esses pontos de vista, com a vitória e a gestão dos jogadores assegurada, o Benfica teve um jogo perfeito. Ganhou pela quinta vez consecutiva no campeonato, não sofreu golos e pressionou o FC Porto. Demonstrou, contudo, nervosismo, intranquilidade e incapacidade para marcar as diferenças, ganhar maior conforto e impedir qualquer ameaça do Paços de Ferreira.

Este Benfica, depois de um início intermitente, recuperou a confiança no campeonato: vence, não sofre golos, faz tudo para apertar o cerco ao FC Porto, já ganhou dois pontos ao líder e, actualmente, tem quatro de atraso. Os dragões jogam hoje, em Coimbra, frente à Académica, terceiro classificado, num teste de fogo às capacidades da equipa de André Villas Boas. Por tudo isso, o campeão tem cumprido. Mas falta-lhe ainda funcionar como uma equipa realmente forte, sem conceder veleidades aos adversários, colocando-os em sentido e não deixando que, como o Paços de Ferreira, tenham oportunidade para deixar os encarnados inquietados. Com os pacenses, Aimar desbloqueou o resultado, lançou o Benfica para a frente, começou a construir um triunfo que apenas foi seguro com o segundo golo. Nesse espaço, até aos sessenta e cinco minutos, o campeão viveu na incerteza. Tem aspectos a melhorar. Apesar das vitórias.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Liga ZON Sagres: Análise da jornada 8

LÍDER AO SABOR DO INCRÍVEL GÉNIO DE HULK

Hulk, Abel e Javi García. Têm pouco em comum. São jogadores diferentes, têm tarefas incomparáveis e jogam nos três grandes portugueses. É muito mais aquilo que os separa do que o que os une. Vivem com estados de alma completamente distintos. Mas têm em comum a importância manifestada nas suas equipas. O FC Porto destroçou o União de Leiria, recuperou a caminhada de vitórias no campeonato, marcou como nunca antes e elevou a qualidade exibicional. Teve Hulk em destaque. Benfica e Sporting venceram Portimonense e Rio Ave, por esta ordem, suando, lutando e merecendo. Sobressaíram, na ausência de pontaria dos atacantes, Abel e Javi García. Pouco prováveis para decidir. Tal como no Sp.Braga-Olhanese, onde apareceu Jardel, pé-descalço, herói e vilão.

Hulk. O brasileiro tem um potencial enorme, está numa forma brutal, corre como nunca, ganhou confiança, acredita nas suas capacidades, tem sucesso no que faz, canaliza a sua acção para a equipa e abre um sorriso de orelha a orelha. É o maior impulsionador do FC Porto, carrega o dragão e fá-lo vibrar. O União de Leiria sentiu a arrancada fulgurante, incisiva e vigorosa, da equipa portista: dez minutos, uma bola no poste, uma defesa de Gottardi e, à terceira, um golo. De Hulk. O segundo chegou cinco minutos depois. Com rasgo, dinâmica e brilho. Este FC Porto entra forte, lança-se ao pescoço do adversário e vai cimentando a sua condição até poder relaxar e gerir esforços. Os leirienses nunca incomodaram Helton, apenas chegaram ao golo numa grande penalidade cometida por Fernando, já Varela e Falcao haviam aumentado a lista azul, revelaram-se muito tenrinhos e viram El Tigre, no final, completar a mão cheia de golos.

Javi García. O médio espanhol funcionou, na temporada anterior, como um verdadeiro relógio do meio-campo benfiquista: equilibrava, sentia as pulsações da equipa, abria o ataque e fazia, com Ramires, de elo de ligação entre a equipa. Nesta temporada, como muitos outros, está menos exuberante. Em Portimão, frente a uma equipa aguerrida, bem preparada e voluntariosa, o Benfica encontrou dificuldades no início, sim, mas, a partir do momento em que se conseguiu soltar das marcações algarvias, encontrou espaço, criou perigo, sempre através de lances de bola parada, levando Ventura a agigantar-se. Rondou a baliza, teve bolas de golo e foi pressionante. Não desatou o nulo até ao intervalo. Apenas no recomeço. Por Javi García. O espanhol ganhou espaço, apareceu bem para receber o cruzamento de Carlos Martins e cabeceou certeiro. O Benfica não encantou, mas venceu com mérito. Era imperativo.

Abel. Não é um jogador de primeira linha do Sporting. Nem tem, tão pouco, sido muito utilizado. Em compensação, exaltando o profissionalismo, dá tudo o que tem. Pode ser, por exemplo, a imagem do leão: com debilidades, sem encantar, mas com solidariedade, com vontade e garra para fazer melhor. Por vezes não corre bem. A este Sporting essa diferença tem sido demasiado evidente. A equipa é capaz do bom e do mau, oscila com uma facilidade inquietante, revela-se demasiado intermitente para quem sustenta ambições de chegar alto. A certa altura, também, parece que está amaldiçoada: Paulo Santos opôs-se bem às investidas e os ferros, por três vezes, negaram o golo. O leão abala, desespera e puxa pelos cabelos. No final, já com o fantasma de um novo desaire em casa, Abel, num pontapé cruzado, deu a vitória, fez soltar a adrenalina e mantém a perseguição do Sporting. Estava no sítio certo à hora certa e foi herói.

Jardel. Apelido conhecido, de craque, que nos remete para outros tempos. Este Jardel, sem nenhuma relação com Super Mário, joga como defesa-central e representa, nesta época, o Olhanense. Em Braga, no minuto sessenta e três, travou um lance de golo iminente, arrojou-se ao relvado e foi providencial. Só que ficou sem chuteira. Pé descalço. Os minhotos tiveram a sua chance: livre indirecto, oportunidade única para desfazer as dúvidas e ganhar conforto. Lima, na conversão, marcou. Fez o seu segundo golo, juntou-o a um de Mossoró, dezoito minutos depois do empate, para alagar a vantagem sobre o tento inaugural de Maurício. O Sp.Braga foi feliz, assentou e tranquilizou-se. Deixou para trás uma primeira parte má, sem dinâmica ou chama, onde sofrera um golo e nunca se conseguira soltar-se. Cresceu com a entrada de Vandinho, mostrou vontade de mudar, insistiu e conseguiu-o com Lima. Mesmo passando por pé descalço.

Oito jogos, catorze pontos e terceiro golo: sensação, confirmação de valor e capacidade para se superiorizar demonstrada pela Académica. Os estudantes venceram o Nacional, por 2-1, conseguindo permanecer num lugar de destaque. Num plano inverso, o Marítimo, representante europeu e assumidamente candidato a ficar nas primeiras cinco posições no final do campeonato, somou, à oitava tentativa, a sua primeira vitória - em casa, por 1-0, ante a Naval -, deixando o Rio Ave (única equipa sem triunfos) e os figueirenses nos lugares de despromoção. Nuelo de Vitórias, o de Setúbal, confirmando o arranque auspicioso, bateu o de Guimarães, no Bonfim, por 2-1, colocando-se nos doze pontos - com Olhanense e Sporting pelo meio. Logo atrás, com menos um ponto conquistado, encontram-se Paços de Ferreira (empatou, a um, frente ao Beira-Mar) e União de Leiria.

O MOMENTO DA JORNADA

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Liga ZON Sagres: Um momento de alívio sportinguista


SPORTING-RIO AVE (1-0): PONTAPÉ NO DESTINO

Dois minutos para o final e cada vez mais a confirmação de uma teoria: há um Sporting que se apresenta na Liga Europa e outro que joga em Portugal. O primeiro é dinâmico, agil e eficaz. Marca, ganha, lidera. O segundo está atrasado, tem o objectivo de conquistar o título mais distante, parecendo uma utopia, parece afectado e nada lhe corre bem. Em casa, frente ao último classificado, empata. Sem golos. Tem o jogo, a bola, tem mais oportunidades. A bola embate, nesse octagésimo oitavo minuto, na trave da baliza vila-condense, depois de ter sido rematada por Hélder Postiga e desviada pelos dedos de Paulo Santos, em mais um capítulo em que o Rio Ave sorriu. Foi a terceira bola nos ferros. Paulo Santos já travara algumas outras intenções. O Sporting desespera, vê o cenário agravar-se, má fortuna, nada lhe sai bem, mas insiste. Abel recebe a bola à entrada da área. Bola no peito, confiança e remate cruzado: golaço. E três pontos preciosos para o leão respirar. Vindos de um herói improvável. Foi frustrante para o Rio Ave, merecido para o Sporting.

NOTA: O Momento da Jornada é uma rubrica do FUTEBOLÊS, publicada antes da análise completa de cada ronda da Liga ZON Sagres. A imagem presente tem créditos da Liga Portuguesa de Futebol Profissional.

domingo, 24 de outubro de 2010

Um Real Madrid à Mourinho

Mourinho gosta de problemas. Casos sérios, bicos-de-obra, um cabo de trabalhos para resolver. Não se contenta com pouco. Isso estaria à altura de um bom treinador. Mourinho quer ser mais. É corajoso, tem uma ambição sem limites, eleva o ego, abre o peito e aceita arriscar sem pestanejar. Dá tudo o que tem e quer ser imortal. Ultrapassar as barreiras, chegar mais alto do que nunca, deixar a sua marca, tornar-se um ídolo e transformar a realidade por onde passa. Foi campeão no FC Porto, devolveu a glória europeia, recuperou a força do dragão. Subiu para o Chelsea: campeão cinquenta anos depois, outro título no ano seguinte e estatuto reforçado para os blues. Já é muito, pouco para ele. Por isso foi campeão europeu num Internazionale há quarenta e cinco anos sem conquistas na Europa. Nunca está satisfeito. Poderia parar, relaxar, sair durante alguns anos, entrar numa espécie de sabática, para gozar do que ganhara. Mourinho não é assim.

Mourinho gosta de problemas. Ou problemas nem seja a palavra mais acertada. Também gosta, é verdade, mas neste caso aplica-se melhor grandes desafios. O maior, neste momento, é o Real Madrid: melhores jogadores mundiais juntos, constelação de estrelas, exigência maior do que nunca e época sem nada conquistado. Mourinho cumpriu a sua parte no Inter. Tinha Madrid à espera. Encaixam na perfeição. Tem que gerir emoções, sobrepor-se, ter pulso firme, combater a indisciplina e juntar o génio de todos, pegando aqui e ali, para formar uma equipa temível, capaz e pujante. O Real Madrid começou aos solavancos: empates, exibições sofríveis, assobios das bancadas, vitórias tiradas com esforço. Agora está bem, recomenda-se, vive feliz, ganha motivação. Marca, ganha e encanta. O público gosta, os jogadores sorriem, os críticos dão o braço a torcer, os adversários derrapam. Mourinho puxa pela ironia e alimenta o ego.

Pleno de vitórias na Liga dos Campeões, nove pontos, exibição de gala frente ao AC Milan e candidatura lançada. Na Liga espanhola, ao mesmo tempo, o Real Madrid aparece no primeiro lugar. Tem todas as condições para triunfar interna e externamente: jogadores, treinador e, agora, estabilidade. Necessita, para isso, de manter o ritmo, não diminuir a intensidade e querer sempre mais. Ser como Mourinho sempre foi. Impõe-se, mostra que tem o controlo da situação, junta as suas ideias e molda o pensamento de quem está sob o seu comando. O Real Madrid está a crescer como equipa. Com ela cresce, por exemplo, Cristiano Ronaldo. Tem liberdade, pode espalhar ao seu talento, ninguém lhe exige que resolva tudo ou que carregue a equipa. É o melhor marcador do campeonato espanhol. Nesta jornada, frente ao Racing, marcou quatro na goleada, por seis-um, aplicada pelos merengues. O Real está a despertar.

Diz-se que a construção é o que mais custa e, por isso, o pior. O Real Madrid está, ainda, nessa fase. Ainda é cedo para avaliar realmente a capacidade e a valia da equipa, sim, mas até agora, por tudo o que já ficou para trás, está a ser cumprida com qualidade e, até, brilhantismo. Está a solidificar-se como verdadeira equipa. E aí tem o dedo de Mourinho. O treinador português, por onde passa, tenha ou não jogadores de classe mundial, consegue construir verdadeiras equipas, fortíssimas a defender e matreiras no ataque, dando largas à criatividade. O Real Madrid é mais um exemplo. Tem condições, agora, para dar passos seguros, tranquilos, sempre em crescendo. Precisava de estabilidade, sobretudo emocional, não só na equipa, mas também na exigência dos adeptos. Mourinho consegue fazer-se ouvir, chega onde quer, alastra a mensagem a todos e faz aumentar a confiança numa temporada rica. Quer ganhar o maior desafio de sempre.

sábado, 23 de outubro de 2010

Liga Europa: Vitórias e passaportes (quase) carimbados

BESIKTAS-FC PORTO (1-3): UM INFERNO GELADO COM PALMAS

A psicologia defende que um indivíduo é o resultado da interacção entre a genética e o meio. Nunca está realmente completo e apenas consegue responder às dificuldades que lhe aparecem pela frente se conseguir aplicar as características que herdou com o ambiente em que está inserido. O Besiktas não tem nos genes a função de ser uma grande equipa. Apesar de contar com individualidades como Ricardo Quaresma ou Guti é uma equipa com diversos pontos fracos, sobretudo na defesa, estando longe de fazer tremer o adversário. Só que quando joga em casa, empurrado pelo seu público, galvaniza-se, ganha ímpeto, faz tudo para se transcender e transportar o ambiente infernal para o relvado. Mais do que temer a valia da equipa turca, estava aí o principal receio do FC Porto. O dragão não temeu, arrancou uma exibição de gala, marcou nos momentos-chave e soube ultrapassar todas as barreiras. Terminou justamente ovacionado.

Entrada forte do Besiktas, quinze minutos pressionantes, com perigo e ameaças. O FC Porto sentiu a aceleração turca, mas soube aguentar as investidas, teve em Helton um pilar fundamental, equilibrou o jogo depois, encontrou brechas, colocou Hulk e Falcao em acção e, aos poucos, ganhou a bola e o controlo. O colombiano marcou antes da meia-hora. Elevação, oportunidade e golpe de cabeça como receita de sucesso. O Besiktas, sobretudo levado por Nobre, respondeu bem, voltou ao ritmo inicial e esbarrou, de novo, na mesma muralha: Helton, tranquilidade e confiança em pessoa, esteve à altura, fechou a baliza, lançou o FC Porto para a frente. Falcao, entretanto, voltou a colocar a bola no fundo da baliza, mas o árbitro, sem qualquer razão, anulou a jogada - arbitragem muito fraquinha. Em cima do intervalo, contrariedade: expulsão de Maicon. Voltamos à psicologia. Diz-se que o ser humano torna-se mais forte, mais audaz e mais incisivo quando está numa situação de alguma fragilidade.

O FC Porto tinha o resultado consigo, é certo, mas o Besiktas poderia aproveitar o facto de jogar em casa e de ter metade do jogo para anular a vantagem azul. André Villas Boas, com a necessidade de recompor a defesa, lançou Otamendi e deixou... Falcao de fora. Alguém haveria de sair, sim, mas Rodríguez parecia ser o mais indicado. Ficou Hulk, sozinho e corajoso, na frente. Teve licença para matar. Chegou, Radamel não fez falta. Minuto cinquenta e nove: passe longo de Álvaro Pereira, falha descomunal de
Zapotocny, bola no Incrível e golo. Simples, eficaz e inteligente. O FC Porto ganhou maior vantagem, fez recuar as investidas do Besiktas e ganhou segurança. O dragão uniu esforços, manteve-se alerta, foi sublime na forma como matou o adversário. Hulk, no final, bisou. Os adeptos turcos renderam-se em aplausos. O golo de Bobô, um apêndice na história, surgiu como prémio pela tenacidade do Besiktas.

SPORTING-GENT (5-1): O LEÃO É MESMO BIPOLAR!

Nove pontos, doze golos marcados e portas da fase seguinte escancaradas. Equipa confiante, com soluções, mostrando consistência, fio de jogo e capacidade de finalização. Bom, bom, bom. É a prova de como o Sporting tem duas faces. É inegável, incontornável e impossível de não referir. A equipa que irradia luz na Europa, assumindo e cimentando a cada passo a sua posição no grupo, mostrando a superioridade teórica e afastando deixar-se à mercê de tremuras, é a mesma que ocupa o décimo lugar no campeonato, tem um atraso de dez pontos para a liderança e vê o título, objectivo crónico de um grande, cada vez mais comprometido. Está envolta numa onda negativa, com exibições sofríveis, pecados capitais na hora de rematar à baliza, demasiadas brechas para quem sonha alto e resultados inadequados. Na Europa tudo muda. O Sporting recebeu o Gent: ritmo alto, diferenças vincadas, mão cheia de golos. Outra vez.

Ponto assente: o Gent é uma equipa frágil, sem tradição na Europa, sem vitórias há dez anos em competições europeias. No entanto, o perigo pode surgir de onde menos se espera. Para o Sporting, por exemplo, surgiu nos empates caseiros com o Olhanense e o Nacional. Mas esse é, sem dúvida, outro leão. O que aparece apático, incapaz de lutar contra o destino e sem força para rugir. Na Europa, transfigura-se, queima os obstáculos, evita que o adversário crie calafrios, joga com alma, com intensidade, com vivacidade. Ganha, convence e dá um ar da sua graça. Ante o Gent marcou aos seis, aumentou aos treze, pareceu tremer com um erro atroz de Hildebrand que originou o golo de Wils, chegou o bis de Liedson, Levezinho de volta, Maniche marcou com felicidade e o Sporting, antes do intervalo, construiu, com qualidade e comodidade, uma goleada. Sentiu que as coisas lhe corriam bem. E sorriu. É incrível a forma como muda do dia para a noite.

O Sporting resolvera o jogo. Mesmo assim, como quem busca provar ter qualidade e saber cumprir o seu trabalho, prolongando ao máximo o momento de felicidade, manteve-se activo, não adormeceu sobre a vantagem, quis mais e não permitiu, salvo um ou outro remate com relativo perigo, que o Gent, dentro das suas limitações, se aventurasse no ataque. Marcou ainda mais um, à hora de jogo, por Hélder Postiga, um jogador renascido que se reencontrou com os golos, até na selecção, depois de uma jogada com Diogo Salomão - autor do primeiro golo, num cruzamento de... Postiga. Uma mão cheia de golos, um desejo leonino para o jogo não terminar, motivos de alegria nos adeptos. Poderia ainda ter obtido uma vantagem maior se tivesse, na segunda parte, atingido os níveis de eficácia que lhe valeram quatro golos em trinta e sete minutos. Tudo correu bem. Repete-se a ideia: este Sporting é bipolar. Ou, pelo menos, parece.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Lyon-Benfica (2-0): O caminho que falta ao Benfica

COMENTÁRIO

O Benfica fora campeão. Ganhara com mérito e destroçara a concorrência. Jorge Jesus projecta o futuro, recusa-se a estagnar, abre horizontes, pensa mais alto do que nunca, puxa pela ousadia e pela coragem para colocar os encarnados bem cotados na Europa. Eleva a fasquia. Como um Dom Sebastião, brioso e tenaz, que se lança à conquista de África, mesmo sabendo não ter o melhor exército do planeta consigo, exaltando a coragem e a loucura para superar as fragilidades e a pouca experiência dos soldados. Não chega. O caso do Benfica assemelha-se. É recorrente: o campeão está diferente, mudado para pior, incomparável com a temporada anterior. Jorge Jesus correu um risco ao declarar e tornar público o sonho. Serve para motivar o grupo, sim, mas também o responsabiliza e atira para uma exigência que não tinha. A entrada do Benfica na Liga dos Campeões mostra que os encarnados precisam de crescer. Para se manterem vivos.

Há uma proporcionalidade inversa entre a exigência e a margem de erro. Sempre que sobe a primeira, a segunda cai a pique. O Benfica, depois de ter começado com o pé direito frente ao Hapoel Tel Aviv, errou frente ao Schalke 04. Não conseguiu matar o jogo, aliando o resultado ao domínio, deixou-se envolver, capitulou e terminou com uma derrota. Repetiu-o em Lyon: desconcentrado, abrindo espaços como não pode numa prova de tamanha importância, acusando nervosismo, sentindo dificuldades para se impor e vendo a equipa francesa, serena e confiante, criar perigo, aproveitar as falhas, marcar e assumir total controlo. O Lyon dominou, rematou mais, chegou aos golos por Briand e Lisandro López, um aos vinte e o outro aos cinquenta e dois minutos, levou Roberto a sobressair, obrigando o guarda-redes espanhol a aplicar-se e mereceu, por inteiro, a vitória. Foi uma verdadeira equipa. O Benfica não.

Errar é proibido. O Benfica errou. No primeiro grande erro, o Lyon colocou-se em vantagem: Michel Bastos assustou com um remate ao poste, Carlos Martins, até então talvez o melhor da equipa benfiquista, perdeu a bola, originou a recuperação francesa e Jimmy Briand marcou. O Benfica abalou. Não mostrou capacidade de reacção, nunca se aproximou verdadeiramente com perigo da baliza de Hugo Lloris e somou equívocos em catadupa. O segundo grande erro chegou em cima do intervalo: Nico Gaitán travou um adversário, já vira amarelo pelo mesmo motivo, foi imprudente e recebeu ordem de expulsão. Em inferioridade, sem se soltar das amarras do adversário e com menos um jogador, o Benfica sofreu, digamos assim, um golpe decisivo. Perdeu as condições de discutir o jogo, de se manter activo e de ainda colocar em causa o triunfo do Lyon. O início de segunda parte confirmou-o: os franceses tiveram ocasiões, uma bola no poste e um novo golo.

O tento de Lisandro López, um velho conhecido dos portugueses, sempre adversário temível para a defesa benfiquista, colocou, logo no reinício, um ponto final no jogo. O Benfica deu espaço, ficou entregue à sua sorte, teve apenas Roberto como muralha para impedir que o Lyon, jogando sempre com confiança e tranquilidade, aumentasse os números do resultado. Claude Puel trocou as peças, poupou jogadores importantes como Michel Bastos, Gourcouff ou Lisandro, os franceses diminuíram a intensidade, geriram o tempo e a vantagem, sem que o Benfica, destroçado e incapaz de lutar contra as adversidades, colocasse perigo a Lloris. O Lyon ganhou bem: foi mais pressionante, mais consistente, mais rematador e procurou a sua sorte. Ao Benfica ainda falta muito caminho. Na próxima jornada, há que vencer. As contas complicaram-se.

Made in England: O pesadelo do Liverpool

Oito jogos, uma vitória, três empates, quatro derrotas e seis pontos, último classificado em conjunto com mais duas equipas. Sabe de quem se fala? Do Liverpool, ninguém imaginaria, mas é verdade. Uma equipa que aspira ser campeã está neste momento na luta pela manutenção e não se está a dar bem. Todos os problemas financeiros em que o clube está envolvido também não ajudam. Muito mau para a equipa inglesa mais bem sucedida de sempre. No passado fim-de-semana, no clássico da cidade dos Beatles, Everton e Liverpool defrontaram-se em Goodison Park. Os da casa dominaram, marcaram dois golos sem resposta e ganharam bem. Não há muito mais a dizer: a equipa de Raúl Meireles anda perdida e há muito a fazer para recuperar. Talvez agora com a venda do clube as coisas mudem. Os novos donos assistiram ao vivo a mais uma derrota e devem estar a pensar na gigante tarefa que agora enfrentam.

Outra equipa que não anda bem é o Manchester United. Mais um empate caseiro, cortesia de Patrice Evra e Edwin Van der Sar, parece demonstrar que a tranquilidade não mora em Old Trafford. Com o caso de Wayne Rooney a levar sir Alex Ferguson a deixá-lo no banco - o seu descontentamento é de tal ordem que leva a rumores quanto a sua possível saida. Interessados não faltam, mas os adeptos não o querem ver partir. Levanta-se também de novo a polémica contra os donos do clube, os americanos Glazer. Quanto ao jogo, Nani e Chicharito materializaram a superioridade do Manchester na primeira parte. E para provar que no futebol nem sempre ganha quem merece, os dois golos oferecidos pelo defesa esquerdo e guarda-redes do Manchester, trouxeram uma total injustiça ao resultado. Apesar do West Brom ter esboçado uma reacção, não seria, em condições normais, suficiente para o que aconteceu. Manchester United começa a ver o título ficar fora do alcance.

Outra surpresa da última jornada foi no jogo em Villa Park, onde o Aston Villa defrontou o Chelsea. A surpresa não foi só porque emparam, mas mais ainda porque não se marcou nenhum golo. Um jogo dividido e bem disputado, com oportunidades de parte a parte, onde o resultado poderia ter caído para qualquer dos lados. Tal não se verificou: Aston Villa e Chelsea dividiram os pontos. Última nota de destaque: o regresso de Bosingwa à competição, só por quinze minutos a substituir Paulo Ferreira, mas ele está de volta.

Meia surpresa em Blackpool. A equipa da, em tempos famosa, estação balnear inglesa continua a surpreender. São pequenos, pobres e acabados de subir ao escalão principal. Nas apostas para a despromoção estavam bem cotados mas estão a dar boa conta de si. Para já, confortavelmente instalados no meio da tabela e a jogar como ninguém esperava. Jogaram com o Manchester City e só perderam por falta de sorte e com uma ajudinha do árbitro. Os homens de Mancini tiveram que suar muito para conquistar os três pontos. Os adeptos da casa ficaram com a sensação de injustiça mas satisfeitos pela forma como a sua equipa se bateu.

O Arsenal reavivou a luta pelo título ao vencer, com dificuldade (2-1), o Birmingham. A equipa de Alex McLeish está numa má posição, mas mostrou que não reflecte aquilo que são capazes de fazer. Estiveram perto de bater o pé aos gunners, no Estádio dos Emirates, quase arrecadando um ponto. O Tottenham também arrancou os três pontos a ferros em casa do Fulham. Viu-se a perder primeiro mas com custo deram a volta. O resultado foi o mesmo do Arsenal. Com isto, o topo da tabela tem os suspeitos habituais menos o Liverpool. O Manchester City está a confirmar as previsões e expectativas ao encontrar-se isolado no segundo posto, a dois pontos do Chelsea e com mais três do que Arsenal, Manchester United e Tottenham.

MADE IN ENGLAND é um espaço quinzenal, assinado por Armando Vieira, que incide sobre o mais apaixonante campeonato do planeta

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Sp.Braga-Partizan (2-0): Uma vitória para acreditar

COMENTÁRIO

Existe uma teoria que defende que, quando uma equipa necessita de pontos como de ar para respirar, interessa o resultado e tudo o resto é relativo. Ninguém gosta de jogar mal e ninguém gosta de ver o jogo caminhar, lento e pesadão, cumprindo todos os minutos com dificuldade. Mas se conseguir vencer, valeu a pena. Foi mau, foi aborrecido e não teve motivos que prendessem o adepto. Só que foi ganho. A vitória do Sp.Braga sobre o Partizan é, por isso, o mais importante: cumpriu-se o objectivo, a equipa sobrevive, mantém esperanças num primeiro objectivo muito delicado e olha com maior confiança para um segundo, no prosseguimento na Europa, e teve sucesso. À terceira, depois de dois desaires pesados, a equipa minhota conseguiu vencer na fase de grupos da Liga dos Campeões. Tem três pontos, encurtou a distância para o Shakthar Donetsk no segundo lugar e deixou o Partizan para trás.

A inspiração individual é, sempre que as coisas não correm bem à equipa, meio caminho andado para desatar o nó e desfazer a encruzilhada. Há quem pareça estar predestinado a resolver em momentos cruciais. Quando é preciso um golo, um abanão no mínimo, surge, está lá, deixa a sua marca e coloca a equipa numa posição favorável. Lima é assim. O brasileiro deu nas vistas no Belenenses, o Sp.Braga gostou e contratou-o. Neste início de temporada, o avançado tem sido goleador, importante e decisivo. Em Sevilha, talvez no jogo mais marcante da história do clube bracarense, marcou três golos, arruinou as esperanças dos andaluzes, fez cair um clube incomparavelmente superior e lançou os Guerreiros para a fase de grupos da Liga dos Campeões. A vitória sobre o Partizan, a primeira, tem também o seu dedo. Juntou confiança, potência, colocação e vontade de desfazer a monotonia. Deu golo num pontapé sublime.

O Sp.Braga é, por natureza, uma equipa aguerrida, batalhadora e que se esforça por fazer sempre melhor. Tudo isso se mantém da época passada. Só que agora falta aquela dinâmica, aquela surpresa, aquele rasgo. Há uma equipa mais triste, mais carrancuda e mais carente de um toque de génio. Ante o Partizan, mesmo tendo demonstrado superioridade desde o início, passou trinta e cinco minutos assim. Lima resolveu no primeiro remate à baliza de Stoijkovic. Foi esse o clique. A equipa minhota tranquilizou-se. O jogo, contudo, arrastou-se. Lento, pesado e pobre. Nem pareceu, em momentos, Liga dos Campeões. A segunda parte trouxe melhorias, sim, maior alegria, mas o Sp.Braga passou, depois de ter desperdiçado o segundo golo, por maus momentos e viu Felipe emergir. Conseguiu, depois disso, chegar a um golo fácil, por Matheus, em cima do final. Fez dois golos e somou três pontos. Isso é o mais importante.

domingo, 17 de outubro de 2010

Taça de Portugal: Lei do mais forte a triplicar

ESTORIL-SPORTING (1-2): SOFRER PARA SORRIR

Perigo, confusão, sacrifício e sofrimento. O Sporting entrou mal, desconexo e pouco afoito, o Estoril aproveitou, deixou os receios de lado, tentou ser feliz e fez pela vida. A equipa estorilista, expedita para saber impor-se perante a falta de ligação, de alma e de capacidade ofensiva leonina, fechou-se bem e, sobretudo levada por um trio composto por Alex Afonso, Paulo Sérgio e Tiago Costa, conseguiu criar bons envolvimentos e levar perigo à baliza de Timo Hildebrand. Foi deixando avisos, mostrou ter qualidade, apesar de ser de um escalão inferior, e não se atemorizou pela maior valia do Sporting. Conseguiu marcar, aos trinta e cinco minutos, num cabeceamento de Alex Afonso. Surpresa? Teórica, sim, grande, mas na prática nem por isso. Afinal, havia sido o Estoril a equipa mais empreendedora, mais consistente e mais ofensiva. Olés da bancada, leão atado, sorriso de orelha a orelha nos estorilistas.

O intervalo marcou a fronteira. O Sporting não podia continuar na mesma toada. Teria de mudar, reagir, mostrar a sua maior capacidade e aniquilar a vantagem conseguida pelo Estoril. Mantendo a teoria de que este leão é bipolar, revelando uma identidade na Europa e outra em Portugal, desta vez o Sporting mudou dentro do próprio jogo. Paulo Sérgio lançou Diogo Salomão e Liedson, retirou Zapater e Vukcevic, dois elementos cinzentões, a equipa deu uma volta completa, adoptou outra postura, foi incisiva e assumiu o controlo do jogo. Abriu espaços, descompensou a defesa estorilista - também acusando o desgaste -, criou oportunidades. O empate chegou aos sessenta e três minutos: cruzamento de Salomão, cabeçada colocada de Liedson, efeito letal dos principais desequilibradores. O leão conseguiu colocar-se em pé de igualdade e manteve a insistência forte em busca da vitória. Conseguiu-o: Postiga fuzilou e o Sporting riu por último.

FC PORTO-LIMIANOS (4-1): BIGORNA PARA RESOLVER

Rotatividade, domínio, conforto e um diabo a quem chamam Bigorna. Walter chegou ao FC Porto neste Verão. Com talento a rodos, alguns problemas comportamentais pelo meio, um crescimento complicado e alguns quilos a mais. Uma espécie de diamante em bruto, pronto a ser lapidado, com muito para dar e render. André Villas Boas aproveitou o jogo com o Limianos, um representante da III Divisão, transfigurou a equipa, apenas deixou Hulk e Varela no onze inicial, lançando Sereno, Emídio Rafael e, lá está, Walter. O avançado brasileiro, jogando no lugar há muito marcado por Radamel Falcao, estreou-se a marcar pelo FC Porto, quebrou, aos nove minutos, a esperança do Limianos em prolongar o nulo, mostrou veia goleadora e chegou ao final com um hat-trick na folha de registo. O dragão ganhou com comodidade, não teve dificuldade em mostrar a superioridade, provou ter mais escolhas internas. O Limianos teve a sua glória.

O desnível entre FC Porto e Limianos é abissal. Não existe qualquer ponto de comparação. Mesmo assim, qualquer relaxamento azul, entrando no relvado com a convicção de que, mais minuto ou menos minuto, teria a vitória na mão, poderia, até por obra do acaso, fazer aterrar a surpresa no Dragão. Walter quis mostrar serviço: surgiu aos nove minutos, ganhou um ressalto na costas da defesa do Limianos, encarou Pedro Baía e rematou certeiro. O dragão desfez a pequena esperança da equipa de Ponte de Lima. Jogou ao ritmo que quis, manteve a intensidade em baixo porque se aproxima um ciclo delicado, aumentou-a quando achou necessário, chegou ao segundo golo, marcado por Varela, despedançando o Limianos. Walter marcou mais dois, Pedro Tiba teve a ousadia de fazer um golo na casa do FC Porto, enchendo de alegria a equipa do quarto escalão nacional. Tudo normal, sem surpresas.

BENFICA-AROUCA (5-1): MÃO CHEIA

Tranquilidade, supremacia, controlo absoluto e mão cheia de golos. O Benfica marcou cinco vezes, três deles de cabeça, teve Alan Kardec em plano de evidência, oportuno na lesão de Óscar Cardozo, jogou com serenidade e afastou o Arouca. A equipa de Henrique Nunes sai vergada a uma derrota pesada, embora natural, mas conseguiu marcar um golo, o seu tento de um honra, numa espécie de prémio para um clube que, desde 2006, encetou uma subida alucinante, deixando os campeonatos distritais, até ao mundo profissional. O Benfica cumpriu o plano: geriu jogadores, deu minutos a outros como Júlio César, Sidnei, Airton, César Peixoto e Gaitán, venceu, impôs a sua maior valia, reduziu o Arouca a cinzas - até entrara com maior ímpeto - e pensou no jogo frente ao Lyon, na terça-feira, para a Liga dos Campeões. Marcou duas vezes por Kardec, outra por Saviola e chegou ao intervalo com a eliminatória decidida.

A resistência do Arouca durou vinte e quatro minutos: Nico Gaitán conduziu o ataque, abriu brechas, Kardec finalizou de cabeça. A equipa do segundo escalão do futebol português abalou e perdeu-se na imensidão daquilo que a separa do Benfica. A partir daí, concretizando a sua superioridade, os encarnados aumentaram a vantagem, jogaram com segurança e fizeram o essencial para evitar qualquer sarilho típico de Taça de Portugal. O Benfica chegou aos cinco golos, com tentos de Luisão e de Gaitán, aproveitando as fragilidades da defensiva contrária. Já em cima do final, para dar um ar da sua graça, mostrando ser uma equipa briosa e aguerrida, o Arouca, através de Diogo, conseguiu retirar alguma expressão à goleada, marcando em casa do campeão nacional, tendo o seu prémio. A equipa aurouquense fez o que pôde.

sábado, 16 de outubro de 2010

Benfica-FC Porto: Guerra Fria

Guerra Fria. Dois blocos. Cenário bélico, aliados em ambas as partes, movimentos de ataque, tentativa de domínio e controlo absoluto das operações existentes. FC Porto de um lado, Benfica do outro: críticas, guerrilhas, justificações, intimidações e confronto. Estão sempre distantes, separados, situam-se em extremos opostos. Qualquer um deles luta por ser campeão nacional. Mas não só: querem ser o principal emblema português, o maior representante do país, alargar a área de influência e tornar-se hegemónico, ganhando, não uma, muitas vezes. Falam em tréguas, em paz, tentam uma espécie de pacto de não-agressão e colocam as preocupações principais, dentro do relvado, acima de tudo. É um bom começo. Só que nunca passa da teoria. São palavras ocas. É impossível uma aproximação. O clima entre portistas e benfiquistas é cada vez mais hostil, mais violento, mais perigoso. Ultrapassou o limiar desportivo.

O próximo embate entre FC Porto e Benfica está marcado para o dia sete de Novembro. Exactamente três meses depois do arranque: em Aveiro, na Supertaça Cândido de Oliveira, o dragão ganhou, aumentou a confiança, aproveitou o abuso de altivez benfiquista, surpreendeu o campeão e iniciou a temporada com o pé direito. O objectivo máximo de ambos é sempre o campeonato. É nele que se empenham, por isso que correm, onde têm uma longa guerra recheada de barreiras e dificuldades para vencer ao rival. Querem ganhar, alimentar o ego e bater forte no adversário. O futebol português está cada vez mais minado de conflitos, de provocações, de jogadas de antecipação que pretendem preparar a batalha com segurança e certificar, ao mesmo tempo, que não há espaço para surpresas. Benfica e FC Porto tentam estar sempre um passo à frente um do outro. O mote é dado pelo dirigentes, levado pelos intervenientes directos e exacerbado pelos adeptos.

O Benfica, depois de ter visto o seu autocarro apedrejado quando se deslocava para Guimarães, por entre as medidas radicais que tomou, pretendeu reforçar as condições de segurança de toda a sua comitiva quando se deslocasse ao Norte do país. É legítimo, natural e compreensível. Infelizmente, contudo, as cenas de violência, com apedrejamentos, insultos ou outro tipo de intimidação, sobretudo nos adeptos organizados em claques mas também alastrada aos próprios jogadores, é algo que acontece com inusitada regularidade. E chega, até, a parecer algo comum. Um confronto - sim, confronto: marcar a palavra a negrito - entre Benfica e FC Porto tem, desde há vários anos, conflitos. Passa pelo rebentamento de petardos, por cânticos ofensivos, por recepções hostis, por lançamento de pedras. No Dragão ou na Luz. Em qualquer um dos lados da barricada. Porque se trata de uma guerra. O mal, leitor, está precisamente neste último ponto: a forma como é encarado o jogo.

O futebol tem diversas faces: a essência, com os passes de letra, as jogadas encantadoras e os toques de calcanhar ou, por outro lado, a forma como é visto: não há adversários, há inimigos; não há um relvado, há um campo de batalha; não há um jogo, há uma luta. E parece valer tudo. O problema é simples, é uma questão cultural, de mentalidade, onde é necessário ganhar seja por que meio for. Benfica e FC Porto agridem-se mutuamente, há muito têm relações cortadas, aproveitam todos os momentos para atacar o rival, para o pressionar e desestabilizar, de forma directa ou indirecta, numa verdadeira Guerra Fria. Pinto da Costa recupera o passado, Luís Filipe Vieira clama por paz mas critica André Villas Boas, o treinador portista responde na mesma moeda. É um ciclo vicioso, sem fim, mantido por todos, porque, no fundo, interessa viver num clima hostil. O choque aproxima-se. Alguém se lembra do que se passará no relvado?

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

E tudo o Bento mudou - Opinião de Bernardino Barros

Confesso que esperei pelos resultados da selecção para constatar o óbvio: os jogadores não estavam com Carlos Queiroz - os que saíram (Deco, Miguel, Simão, etc.) não estavam de certeza, os que ficaram não estavam também, como facilmente se aferiu das suas "bocas" (Cristiano Ronaldo e Nani) e das que surgem (Pepe e Ronaldo), agora, depois de duas boas vitórias e de exibições que já nos levam a crer que o verdadeiro espírito da selecção está de volta. Escrevi aqui, neste mesmo espaço, tudo o que pensava da "torpe e vil" maneira como correram com Carlos Queiroz, afirmando que a sua saída deveria acontecer aquando do regresso do Mundial e com a decisão a ser tomada por Madaíl.

O problema é que pedir a Madaíl para agir, é muito difícil. Pedir a Madaíll para agir acertadamente é dificílimo e a determinadas horas do dia, é mesmo tarefa impossível. Agora, reconhece, implicitamente, que a escolha de Queiroz foi um erro, ao gabar-se de ter escolhido, bem, Paulo Bento. Vamos ter que levar com ele mais quatro anos. Com o Madaíl claro, que a reeleição já foi cozinhada na viagem à Islândia. Vítor Baía afirmou-o hoje, desassombradamente, como é seu timbre e sobre este assunto, voltarei a ele em breve.

Mudo a agulha para falar da selecção de Paulo Bento e não sou capaz de fugir ao que penso há muito, o seleccionador nacional é um excelente treinador e condutor de homens, pode não ter tido sorte na sua passagem pelo Sporting, mas os atributos que sempre lhe reconheci estão lá. Fazem parte do seu ADN de treinador e para além do mais, usa com mestria a comunicação para dentro e sobretudo para fora. Não mudou muita coisa, nem teve muito tempo para grandes mudanças, mas mudou o essencial: o relacionamento com os jogadores, "novos" jogadores e sobretudo posições certas no campo para os "velhos" jogadores.

Mudanças significativas:
Lateral direito. João Pereira que defende e ataca com rigor táctico ao invés de uma "anarca táctico", Miguel. Meio campo mais ofensivo. Triângulo formado em 1x2. Um "seis", Raul Meireles, que sai a jogar, cria desequilíbrios ao subir no terreno, faz lançamentos longos e remata bem. Dois médios laterais ofensivos e com capacidade para defender também (mais João Moutinho do que Carlos Martins). Na era Queiroz, o triângulo do meio-campo actuava em 2x1. Dois médios defensivos, Manuel Fernandes e Raul Meireles e um único mais ofensivo, João Moutinho, mas que defendia também

A diferença reside na mentalidade imposta, os adversários é que se devem preocupar com o nosso poderio e não ao contrário e na maior liberdade, mas responsabilidade também, dada aos jogadores para usarem as suas capacidades técnicas para serem criativos. O resultado de tudo isto originou uma selecção "mandona", que joga com mais alegria e que sabe reagir a adversidades e contratempos normais de um jogo de futebol, querendo e conseguindo ter sempre os comandos do seu destino, impondo o ritmo ao jogo que lhe convém e fazendo o que nunca tinha feito, circular bola a preceito. Bem-vindo Paulo Bento, mais os seus ventos de mudança, pois agora acredito francamente na qualificação.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Islândia-Portugal (1-3): Missão cumprida com eficácia

COMENTÁRIO

Missão inteiramente cumprida: Portugal bateu a Islândia, evidenciou as diferenças existentes entre as duas selecções, deu seguimento ao que fizera ante a Dinamarca e terminou a dupla-jornada, frente a dinamarqueses e islandeses, com seis pontos somados. Está vivo. Ganhou nova alma, recuperou a confiança, chutou o desconforto para bem longe, esqueceu os tumultos do passado, atropelou o péssimo arranque e ganhou. Fez por jogar bem, revelou união e consistência, foi uma verdadeira equipa, como nunca fora nos últimos meses, livrando-se de azares ou colocando-se a jeito de ver o adversário, mesmo que com qualidade inferior, ser capaz de repetir os feitos históricos do Chipre ou da Noruega. Cumprira metade do seu trabalho com a Dinamarca, em teoria o adversário mais capaz, mostrando-se sempre superior, dominador e vencendo com segurança. Na Islândia, afastando fantasmas, deu seguimento. E sorri.

Portugal é superior à Islândia. Nem há, sequer, comparação entre a valia individual e colectiva. Assim como não há entre a selecção portuguesa e Chipre. Mas os cipriotas, que nunca haviam pontuado com Portugal, aproveitaram a confusão, aumentaram o caos interno, pintalgaram os jogadores portugueses de vergonha e roubaram pontos à selecção nacional, marcando quatro golos, com ousadia e sentido de oportunidade. Portugal chegou ao limiar após a derrota em Oslo: teria que mudar, já ficara numa posição delicada, não poderia manter-se o impasse e a nuvem negra em torno de Carlos Queiroz, precisava urgentemente de um abanão. Entrou Paulo Bento. A mudança trouxe efeitos positivos. O novo seleccionador foi frontal, não se escondeu ou fechou em copas, respondeu de forma aberta, mudou a convocatória, alterou a equipa e, mais importante do que tudo isso, conseguiu motivar os jogadores e uni-los em torno do objectivo. Começou a ganhar.

Coeso, unido, confiante e consciente das suas capacidades, Portugal juntou as premissas para obter sucesso, focando-se apenas em apagar o mau início e recuperar o tempo perdido. Na Islândia, depois de ter ganho um novo fôlego pela vitória ante a Dinamarca, a selecção portuguesa marcou cedo, sofreu o empate, poderia ter sido assolada por erros e vícios do passado, mas conseguiu responder bem, impondo a lei do mais forte, remetendo os islandeses à sua área e conseguindo, de novo, chegar aos três golos. Portugal não se mostrou tão sólido como contra a Dinamarca, teve algumas desconcentrações, abusou da altivez após o golo inicial de Cristiano Ronaldo, em segundo em dois jogos do capitão, baixou o ritmo, viu a Islândia, audaz e briosa, crescer e chegar ao empate. Não abalou. Nem poderia: é incomparavelmente mais forte, tem mais recursos e sabe o que quer. Esteve sempre por cima e recolocou-se na frente.

Os islandeses, limitados mas voluntariosos, apostaraa no jogo aéreo, a única forma de levar perigo, adoptando uma fórmula rudimentar e directa. O segundo golo português chegou num tiro certeiro de Raúl Meireles. Portugal voltou a saltar para a frente, serenou o ímpeto islandês e repôs a normalidade - mesmo não tendo atingido o nível do jogo do Dragão, em que soube guardar, gerir e circular a bola. A selecção portuguesa jogou pelo seguro, manteve-se cuidadosa, respeitou o adversário e, até porque não precisava, não partiu numa busca desenfreada pela baliza islandesa. Portugal, com Paulo Bento, pratica um futebol simples, seguro, com trocas de bola e imprime dinamismo. É uma equipa pragmática e que sabe do que precisa. Hélder Postiga, regressado após longa ausência, marcou no final. Tudo correu bem. Fica uma vitória confortável, justa e preciosa. Agora, há oito meses até ao próximo jogo.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Opinião: Vamos ser heróis por Portugal



Dia 19 de Setembro de 2010.

O tempo escreveu a história do Mundo. Os homens ditaram a sorte da Terra. Impérios, nações, caíram bem fundo, desde o começo até à nossa era. Já não há heróis, heróis que consigam levantar o moral dos impérios caídos. Através dos tempos, guerras e impérios acabaram com povos de vida pacífica. (...) Ainda virá o dia em que se levantará um homem muito forte que todos derrotará. Todos se voltarão contra ele mas o Mundo cairá das garras do tirano, é o ódio pela paz. Já não há heróis, heróis que consigam levantar o moral dos impérios caídos.
Vamos ser heróis, heróis nesta guerra, acabar com os loucos que destroem a Terra.

O acumular de dias monótonos, sem rasgo e traços de gala, num registo que podia ser brilhante mas se ficou pelo mínimo e foi pintalgado de momentos de polémica acesa, aniquilaram as condições de trabalho de Carlos Queiroz. O seleccionador fechou-se no seu próprio Mundo, isolou-se, desapoiado, ficou entregue à sua sorte. Não teve o escudo que precisava. Ao mesmo tempo foi imprudente: atacou, abusou da sorte, colocou-se a jeito. Fez tudo ao contrário para quem está numa posição delicada, frágil, à mercê de quem o pretende atacar. Os homens revoltaram-se, colocaram o orgulho à frente de tudo, Queiroz perdeu as condições para o futuro e foi teimoso, enquanto a Federação, num pára-arranca inquietante e repulsivo, tardou em tomar uma decisão. Deixaram a selecção entregue à sua sorte. O tempo chegou ao fim.

Dois resultados fizeram corar de vergonha. Alerta máximo, escalada a montanha de problemas, enfim uma decisão a tomar. Impérios, nações, caíram bem fundo, desde o começo até à nossa era. Carlos Queiroz abandonou a selecção. Nem poderia ser de outra forma. O treinador transformara-se num problema: para os patrões, para os jogadores, para os adeptos. Não interessa discutir o passado, as causas, aquele típico diz que disse, as teorias da conspiração. Queiroz não podia continuar à frente de Portugal e ponto final. O império português, antes passando por cima de um completo fracasso asiático para se colocar no bom caminho que iniciara na entrada no novo século, caiu com estrondo. O povo português desligou-se da selecção, tirou a bandeirinha da janela, perdeu a fé. Precisa de um herói com urgência.

Uma mudança, um novo seleccionador, novos ares e siga a tropa. Não é assim tão fácil. Portugal está em baixo. Nos resultados, na confiança e nas perspectivas para o futuro. Gilberto Madail, caminhando para o fim, anunciando eleições, vendo a porta de saída aberta, sendo que muitos a indicam como uma necessidade, tenta um último golpe de asa, procura o tal herói, o tal que seja capaz de levantar o moral e derrotar o tirano. Olha para Espanha, vê lá José Mourinho: é português, é o mais melhor, é o mais especial, por que não? Tem contrato com o Real Madrid, é pago a peso de ouro, nunca aceitará. Insiste-se. Não se perde nada, já está no vermelho. Dois jogos, senhor herói, pode ser? Mourinho nem sim nem sopas, não vira as costas mas não aceita, delega no Real Madrid. A resposta sai forte, pujante, atemorizadora: não!

A ideia de Gilberto Madail tem contornos de desespero. Deixar Portugal, entrar num avião rumo a Espanha, falar com Mourinho, colocar-lhe paninhos quentes e esperar por um entendimento. Mas é uma boa ideia. Portugal e Madail nada têm a perder. Já perderam. Mourinho é o melhor. É o que se necessita. Pode ser o herói que todos derrotará. É essa, pelo menos, a esperança, remota mas uma esperança, do presidente da Federação. A ideia não tem que enganar: José Mourinho seria contratado para dois jogos, nada interferiria com o Real Madrid, porque os campeonatos estarão em pausa... por causa das selecções, Portugal venceria a Dinamarca e a Islândia, ganharia um novo fôlego e o novo treinador, escolhido para completar a caminhada, teria melhores condições e a pressão seria menor. O efeito do herói Mourinho seria óptimo.

Já não há heróis, heróis que consigam levantar o moral dos impérios caídos. Vamos ser heróis, heróis nesta guerra, acabar com os loucos que destroem a Terra. Mourinho não é excepção, não é herói, mas tentaria ser importante. Não pode, o patrão não o deixa, é um assunto demasiado sério para ser encarado como uma equação fácil. Por isso mesmo é necessário que nasçam outros heróis, que unam esforços, que consigam uma força colectiva e forte, para vencer a guerra portuguesa, conseguindo colocar a selecção nacional no trilho certo em direcção ao Campeonato da Europa, passando por cima das dúvidas, das desconfianças e dos ambientes adversos. Limpando, construindo um novo ciclo, proclamando novos heróis, acabando com os loucos destruidores. Paulo Bento é o nome do novo seleccionador. É ele quem terá de ser o herói.

11 de Outubro de 2010.

Depois do jogo com a Dinamarca e antes da jornada decisiva na Islândia. Portugal venceu, jogou com confiança, teve belos momentos de futebol, circulou a bola, exaltou a sua qualidade. Serviu-se de Nani, teve João Moutinho como cérebro, até viu Ronaldo, para sempre vivendo com o estigma de não chegar aos níveis que alcança nos clubes, jogar bem, assistir e fixar o resultado final. Os jogadores sorriram. Soltaram-se, deixaram os abalos do passo, encararam o jogo reconhecendo toda a importância. Não se deixou abater por um percalço no final, afastou os fantasmas e foi forte. Portugal fez por merecer ganhar e conseguiu-o. Antes disso, já o público presente no Dragão enchera os pulmões, puxara pela garganta e gritara pela selecção. Os adeptos e os jogadores estão juntos. De novo. Esse é o primeiro mérito de Paulo Bento. Sem ser herói, devolveu a confiança. É necessário, agora, aproveitar e prolongar o estado.

sábado, 9 de outubro de 2010

Portugal-Dinamarca (3-1): Rendição segura e tranquila

COMENTÁRIO

Confronto de força, de postura e de realidade: Portugal pressionado, obrigado a ganhar, lutando por se manter vivo na corrida por um lugar na fase final do próximo Europeu e querendo relançar-se depois de um início confrangedor, com uma Dinamarca tranquila, certo que longe da valia da selecção portuguesa, que joga no erro do adversário, reconhece a importância de um empate na casa de um teórico concorrente directo e deixa todas as investidas nas mãos de quem o deve fazer. Só Portugal teria essa missão. Por estar numa posição delicadíssima, por querer dar um ar da sua graça e por jogar em casa. A selecção portuguesa passou meia-hora a pregar no deserto, num jogo de sentido único, sim, mas sem efeitos, até Nani aproveitar dois erros dinamarqueses. Portugal ganhou confiança, jogou como gosta, teve possibilidade de trocar a bola e manter-se sempre superior, mesmo depois de ter visto a Dinamarca reduzir, antes do golpe de misericórdia.

Dois golos de vantagem, tranquilidade no relvado e revés na estratégia dinamarquesa. Sabendo aproveitar os deslizes da selecção da Dinamarca, Portugal saltou para a frente. Foi feliz. E fez, depois, por merecer o brinde: circulou, jogou um futebol apoiado, trocou a bola entre os seus jogadores, não se acomodou e manteve-se dinâmico. Assumiu as rédeas do jogo, dominou, travou a iniciativa dinamarquesa. A selecção de Morten Olsen foi incapaz de incomodar Eduardo, apenas apareceu em lances de bola parada, fazendo valer a maior capacidade atlética dos seus jogadores, mas nunca se assumiu realmente como uma séria ameaça à vantagem portuguesa. Apenas a dez minutos do final, num dos tais lances de bola parada, a Dinamarca criou perigo. Viu a bola bater em Ricardo Carvalho, deixar a defesa portuguesa em contra-pé e sorriu quando a rede balançou. Poderia ter sido um fantasma. Ronaldo fez questão de o afastar antes disso.

Portugal entrou apressado. Quis resolver, mudar a imagem e ganhar rapidamente confiança. Demorou meia-hora até ter a primeira oportunidade. Logo após, ainda com festejos, veio a segunda. Dois golos, dois tiros de rajada, duas vitaminas numa selecção carente e desejosa de mudar o rumo em que se colocara. A partir daí juntou a segunda parte: jogou bem, fez por isso, trabalhou os lances, colou os olhos na baliza dinamarquesa, servindo-se da posição confortável, para criar mais ocasiões. Sobressairam talentos individuais, capacidades de João Moutinho ou Cristiano Ronaldo, sucederam-se os remates, o guarda-redes Lindegaard, entrado para substituir o lesionado Thomas Sorensen após o segundo golo de Nani, emergiu e impediu que Portugal ganhasse maior conforto no resultado. A selecção portuguesa jogou com segurança, apresentou-se consistente e soube empurrar o adversário. Pecou na finalização. De novo.

Um golo fortuito, em carambola, alimentou a esperança dinamarquesa. A selecção nórdica, diga-se de passagem, apenas tivera dois remates com algum perigo, sem que nenhum deles tenha obrigado Eduardo a aplicar-se a fundo, conseguindo marcar num dos inúmeros lances em que procurou fazer valer os centímetros dos seus jogadores. Portugal recordou o passado. Mas não abalou. Manteve a toada, jogou simples, aproveitou e voltou à fórmula inicial: jogada entre Nani e Ronaldo, agora com papéis invertidos, para o golo do capitão, também ele bem regressado, já depois de ter acertado na barra, que colocou um ponto final no jogo. Portugal somou três pontos e ganhou novo alento para a luta. Teve momentos de bom futebol, foi uma equipa solidária, deixou o talento espalhar-se, lançou João Pereira no onze titular e Paulo Bento, na sua estreia, conseguiu passar uma mensagem positiva. Importa, antes de mais, ganhar. Portugal ganhou. E bem.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Jorge Baptista: "O FC Porto vai ser o próximo campeão"

Sete jornadas cumpridas. Uma pausa de duas semanas: selecção, com uma dupla-jornada de extrema importância frente a Dinamarca e Islândia, logo se seguindo a participação na Taça de Portugal. Vinte e um pontos em disputa. O FC Porto é líder: começou forte, intenso e vivo, colocou o pé no acelerador, fez por passar uma borracha sobre a época passada, recuperando a alegria e a confiança em chegar a um título. Fixou-se no topo. Apenas cedeu, na passada ronda, dois pontos: o Vitória de Guimarães, num jogo quente e que ditou a primeira expulsão de André Villas Boas, um treinador jovem e aguerrido, foi a primeira equipa a consegui-lo. O dragão está na rota certa para reconquistar. Jorge Baptista, em entrevista ao FUTEBOLÊS, é bem claro: "Creio que o FC Porto vai ser o próximo campeão nacional. Tem sido a equipa mais decidida, voluntariosa, determinada e agressiva, o que não significa que esteja a rubricar grandes exibições", afirma.

Campeão. Com perdas importantes, mas reforçado, estável e não ficando descaracterizado. Partindo na pole-position, sim, contudo com um começo em falso: três derrotas, pior arranque de sempre apenas conseguindo três pontos em doze possíveis, paulatina recuperação e melhoria de resultados. O Benfica tem-se revelado, porém, demasiado intermitente, titubeante, indeciso. Poderá ter sido o mau arranque crucial para a decisão do título, travando a reacção benfiquista e deixando o actual campeão, desde logo, com dificuldades acrescidas? "Parece-me evidente que o mau início do Benfica neste campeonato, as péssimas decisões arbitrais e o arranque fulgurante do FC Porto vão ser determinantes para a conquista do título. O mais curioso, para mim, é que todos estes componentes estão interligados. Aliás,ou estou muito enganado ou o campeonato já está decidido desde a quarta jornada", responde, sem meios-termos, Jorge Baptista.

Um ponto fulcral: arbitragens. O Benfica queixou-se, deu um murro na mesa após a derrota em Guimarães, tomou uma posição forte e fez correr imensa tinta. Jorge Baptista, assessor de imprensa da FIFA e comentador televisivo, entende que, sendo redutor apontar apenas o dedo aos árbitros como justificação do arranque errante do Benfica, há razões para os benfiquistas levantarem a voz em tom de protesto - "Não serão apenas as arbitragens a explicar tudo o que tem acontecido até ao momento mas que têm ajudado lá nisso não me restam muitas dúvidas. Como sempre, o tempo o confirmará. O problema é que daqui por quatro ou cinco meses já ninguém se recordará do sucedido nas primeiras jornadas", dispara. De acordo com Jorge Baptista, o campeonato será um duelo entre Benfica e FC Porto. Águias e dragões têm, ao longo dos anos, proporcionado uma constante guerrilha. Nesta época mais do que nunca.

O Sporting não entra, à primeira vista, nesta luta. Para Jorge Baptista, o leão procura a sua identidade. E defende a teoria da bipolaridade: há um em Portugal e outro na Europa. Devido ao menor conhecimento existente entre equipas, quando joga no estrangeiro, "o Sporting tem actuado de forma mais desinibida". Contudo, quando é conhecida "a bagunça que tem sido a vida do Sporting nos últimos tempos, os adversários nacionais, naturalmente, sabem a melhor forma de tirar partido dessa situação", afirma. Existem outros erros, sobretudo de cariz técnico, que impedem a afirmação do Sporting - cumprindo a tradição - como um candidato ao título. "Creio que a pouco e pouco, o técnico Paulo Sérgio está a descobrir o melhor caminho. Por exemplo, com o afastamento temporário de Liedson, a integração do jovem Salomão, a titularidade de Postiga e a alternância de Vukcevic. Quer isto dizer que, na minha opinião, Paulo Sérgio começa a conhecer melhor o perfil psicológico dos seus jogadores", remata.

O Sp.Braga surge, por outro lado, como um outsider. No campeonato, onde concentra verdadeiramente as esperanças de voltar a ser bem-sucedido, tendo como inspiração o segundo lugar conquistado na época anterior, a equipa bracarense tem já um atraso de nove pontos para a liderança do FC Porto. A entrada na Liga dos Campeões, catapultando o clube para uma dimensão gigantesca e que nunca havia experimentado, baralhou o Sp.Braga, fê-lo perder alguma motivação, teve repercussões e colocou o sonho minhoto em xeque. Esperava-se mais, apesar de já se tratar de um feito extraordinário, ou são sintomas naturais de quem está em pleno período de crescimento? "Sempre disse que esta época a exigência seria muito maior devido à participação na Liga dos Campeões e o maior grau de exigência na Liga portuguesa. Os resultados começam a dar-me razão", assegura Jorge Baptista.

Ainda em relação ao Sp.Braga, que por ser próprio mérito elevou a fasquia e teve de se adaptar a uma nova responsabilidade, Jorge Baptista termina com uma constatação curiosa: "Penso mesmo que o Sp. Braga está desejoso por ser ver
afastado da Liga dos Campeões para que a sua concentração regresse na totalidade ao campeonato nacional. Dá-me ideia é que já não vai a tempo. O Sp. Braga mereceu inteiramente a sua qualificação para a Liga dos Campeões mas não creio que estivesse suficientemente amadurecido para enfrentar este desafio. Os custos pagam-no, obviamente, o futebol português em geral", finaliza. Assim, de acordo com Jorge Baptista, FC Porto e Benfica, com vantagem para o dragão, discutirão o título, enquanto Sporting e Sp.Braga, também com esperanças a sorrir, deverão, antes de mais, reencontrar-se consigo próprios.

Made in Enlgand: Azul intenso no topo

Após o final da sétima jornada da Premier League, o Chelsea, campeão em título lidera a tabela, e o Manchester City segue em segundo. Os restantes pretendentes à glória no final da época desiludem. O Manchester United, por exemplo, concedeu mais um decepcionante empate frente ao Sunderland. A equipa de Steve Bruce tem vindo a ganhar confiança, contra todas as previsões, depois de já ter derrotado o City e empatado com Arsenal e Liverpool. Desta vez calhou à equipa de sir Alex Ferguson, que enfrenta uma crise de resultados, sofrer frente ao Sunderland. E poderia ter sido pior: por várias vezes os da casa ameaçaram a baliza de Van Der Sar, que esteve em bom plano, assim como também ajudou um pouco de sorte. Nani e companhia ainda esboçaram uma reacção, mas foi insuficiente. Destaque também para a estreia de Bebé - jogou os primeiros dez minutos oficiais pelos red devils.

Muito mal está o Liverpool. A época passada correu e terminou mal, mas esta época está a começar de uma forma horrível. Com apenas seis pontos, os reds de Liverpool estão nos lugares de despromoção e a última derrota, em casa, frente ao recém-promovido Blackpool, veio afundar e intensificar a insatisfação em Anfield Road. A perda de Fernando Torres por lesão não ajudou, mas os visitantes, que perderam 6-0 com o Arsenal e 4-0 com o Chelsea, deveriam ter sido presa fácil para a nova equipa de Raúl Meireles. Com uma defesa muito permissiva e um ataque ineficaz, os de Liverpool nem sequer dominaram na posse de bola. Como resultado, e dado a interrupção no campeonato, vão passar duas semanas np antepenúltimo lugar. Para quem apostou na vitória do Blackpool - 1/11 - fica um fim-de-semana de um bom encaixe financeiro.

No jogo grande da última jornada, o Chelsea bateu em casa o Arsenal, por 2-0, com golos de Drogba e Alex. Num jogo intenso entre candidatos ao título, o Chelsea foi mais feliz e eficaz, levando os três pontos e colocando-se, assim, com mais quatro do que o segundo classificado. De notar que os gunners versão 2010/11 não são toscos, no entanto voltam a enfrentar o fantasma de jogarem muito bem, criarem muitas oportunidades e não marcarem. Com tudo isto e após a vitória sobre o Chelsea, na semana passada, e nova vitória sobre o Newcastle nesta última ronda, o Manchester City sobe ao segundo posto e começa a justificar o investimento milionário que fez no Verão. Os citizens venceram, em casa, o Newcastle. Boa vitória num jogo marcado pela lesão grave do avançado francês Ben Arfa.

O Newcastle, que voltou ao escalão principal nesta época, está a dar boa conta de si e foi a Manchester com uma ideia clara: ganhar. Contudo, tiveram um revés logo no inicio da partida, depois de uma entrada muito feia de De Jong sobre Ben Arfa, que levou este último a sair lesionado - repare-se que o médio holandês, riscado da convocatória de Bert van Marwjik devido a este episódio, nem sequer viu o cartão amarelo das mãos de Martin Atkinson. No final do jogo, a avaliação da lesão de Ben Arfa mostrou uma dupla fractura na sua perna esquerda: tíbia e perónio. Os blues de Manchester, com Carlitos Tévez endiabrado, acabaram por ganhar num bom espectáculo de futebol. Nas restantes partidas destaque para a vitória do Tottenham frente ao Aston Villa, por 2-1, e ao empate do West Bromwich Albion, a um golo, frente ao Bolton, colocando os spurs e o WBA com os mesmos pontos que o Arsena. Todos em quarto lugar.

MADE IN ENGLAND é um espaço quinzenal, assinado por Armando Vieira, que incide sobre o mais apaixonante campeonato do planeta

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Um castelo à prova de dragão

Abdelghani Faouzi. Deixou Marrocos aos vinte e cinco anos para experimentar um novo futebol, agradou a Manuel Machado e o Vitória de Guimarães abriu-lhe as portas. Tem sido pouco utilizado. Saltou para a ribalta no jogo com o FC Porto. Vantagem azul, aparente controlo, décima segunda vitória consecutiva bem encaminhada, passo triunfal no campeonato do dragão que cedo se fixou na liderança. Faouzi é chamado. Entra para o lugar de Marcelo Toscano - o brasileiro perdera, no início, uma oportunidade de ouro para colocar o Vitória na frente e nunca mais conseguiu realmente recuperar a confiança. À hora de jogo, com o marroquino em campo, o jogo abanou. O controlo exercido pelo FC Porto não era, afinal, assim tão convicente: o Vitória mantinha-se vivo, ainda dispunha de tempo para tentar a sua sorte, a vantagem tangencial nada garantia, mantinha-se o perigo e, a qualquer momento, os vimaranses poderiam empatar.

Faouzi entrou à revolucionário. Tudo mudou depois de estar em campo. Bastaram-lhe três minutos. Recebeu um passe longo de Ricardo, aproveitou a altivez de Fucile, superiorizou-se ao lateral uruguaio, isolou-se, encarou Helton e marcou. Eficaz, letal e oportuno, o marroquino picou o dragão, travou-lhe a marcha vitoriosa, anulou a vantagem do líder e voltou a chamar o FC Porto, que relaxara e levantara o pé do acelerador julgando ter os três pontos amealhados, para o jogo. A equipa portista lançou-se para cima do rival, correu atrás do tempo perdido, percebeu que se acomodora demasiado cedo. Exaltou a capacidade individual, Hulk e Rodríguez tentaram resolver sozinhos, deixou que o passar dos minutos o prejudicasse, o levasse a jogar mais com o coração, tornou-se emocional e não ultrapassou a belíssima muralha defensiva do Vitória. Faouzi, a dez minutos do final, foi pisado por Fucile. Cartão vermelho para o uruguaio. Novo golpe.

Resumindo: Faouzi entrou aos sessenta e um minutos, marcou aos sessenta e quatro e levou à expulsão de Fucile, a quem ganhara no lance do golo, aos setenta e nove. Deixou o uruguaio com a cabeça em água, atordido e intimimamente ligado ao jogo. Com tudo feito, ajudando a sua equipa a renascer e a colocar-se em igualdade com o FC Porto, o marroquino, não recuperando da lesão e já sem poder ver Manuel Machado lançar alguém para o seu lugar, deixou o relvado a seis minutos dos noventa. Num jogo intenso, eléctrico e vivo na primeira parte, progressivamente baixando de qualidade com o tal arrefecimento do dragão, com o aumento de picardias e de virilidade colocada em cada lance, Faouzi foi decisivo. É sobretudo com ele, por ter sido o autor do golo, que ficam as responsabilidades do primeiro desaire, embora com um ponto conquistado, do FC Porto desta época. O dragão só ganhara. Em Guimarães, empatou. Sabe a derrota.

Um grande está obrigado a vencer sempre. Mesmo que pela frente encontre uma equipa aguerrida, voluntariosa e guerreira que gosta de surpreender, sabe o que procura e está bem orientada. O FC Porto até fez o mais difícil: marcou cedo, à meia-hora, conseguindo tranquilizar-se e evitar o desassossego de ter de partir para uma busca desenfreada pelo golo. O dragão entra forte, acelera, ganha a bola, tem uma alta percentagem de posse de bola e subjuga o adversário. Só que, abusando da sobranceria e do convencimento de quem é líder destacado e cultiva um hábito de vitória desde Agosto, no dia em que bateu o Benfica na Supertaça Cândido de Oliveira, diminuiu os níveis de concentração, não demonstrou a mesma capacidade para criar lances de golo iminente e deixou fragilidades a nu. Como acontecera, por exemplo, em Sófia, ante o CSKA, no último jogo oficial. Fora um prenúncio. Confirmado pelo Vitória de Guimarães.

André Villas Boas exaltou-se, protestou, foi expulso e manteve-se crítico. Foi desconcertante com a exibição de Carlos Xistra. Na realidade, o árbitro, em prejuízo dos dragões, tem um erro grave: a dois minutos dos noventa, num lance em que Falcao se isolara, o árbitro assistente, sem motivo para fora-de-jogo, interrompeu a jogada que colocaria o uruguaio perante Nilson. Para o treinador portista, há ainda uma grande penalidade, minutos antes da certíssima expulsão de Fucile, por mão de Alex. As repetições tardaram, Carlos Xistra ficou com o benefício da dúvida e, pelo que agora foi mostrado, não existe razão para grande penalidade. Seria, fosse como fosse, sempre exagerada a reacção de André Villas Boas. Mas percebe-se: é jovem, poderia atingir um patamar de excelência, abrilhantando ainda mais o início de época do FC Porto, viu a sua equipa colocar-se à mercê da revolta vimaranse e foi impotente. Mesmo assim, o dragão está isolado.

Liga ZON Sagres: Análise da jornada 7

O TROPEÇÃO DO SENHOR LÍDER

À sétima jornada, já com um total de onze jogos oficiais para trás, o FC Porto travou o seu ciclo de vitórias. Não perdeu, sim, mas o empate frente ao Vitória de Guimarães, pelas circunstâncias em que foi sofrido, tem um sabor amargo, quase como se de uma derrota se tratasse, já que viu travada a sua cavalgada plena de triunfos. Mantém a liderança destacada, tem uma situação privilegiada, só que perdeu dois pontos e, por isso, tem sete de vantagem... sobre o Benfica. O campeão, com três vitórias consecutivas, recuperou do início em falso, ascendeu ao segundo lugar e conseguiu retirar alguma expressão ao atraso para o FC Porto. Perspectiva-se, cada vez mais, um duelo. Sporting e Sp.Braga estão já a dez e nove pontos da liderança. É um fosso considerável.

Arma em riste, escudo elevado, vontade de combater e coragem para tomar o castelo rival. Ascendente conseguido, um tiro disparado pelo canhão de Hulk para premiar o melhor período azul, já depois de o Vitória ter desperdiçado uma oportunidade soberana para deixar o dragão em tremuras. O castelo abriu uma brecha mas não ruiu. Já dera provas de consistência, valor e força para reagir. Manuel Machado mudou a estratégia, enviou os sinais necessários, alertou a tropa para a necessidade de corrigir aspectos e melhorar o rendimento. Pelo facto de estar por cima, o FC Porto, com o passar do tempo, foi baixando a guarda: limpou as armas, contou as munições, diminuiu a intensidade com que se fizera à luta e confortou-se com o que conseguira. Saltou o joker para a frente de batalha: Faouzi. Disparou um tiro certeiro no porta-aviões azul. Acentuação do cenário bélico, picardias em catadupa, polémicas arbitrais. O FC Porto tropeçou.

Passe de Saviola, domínio precioso de Carlos Martins, troca de pés e potência no remate. Bola pára no fundo da baliza de Felipe. Marca o Benfica e carimba a vitória: esteve por cima, foi mais equipa, mais incisivo, estava mais pressionado para vencer e criou mais oportunidades. Ganha com justiça devido a tudo isso. O Sp.Braga teve os seus momentos, levou Roberto a emergir, cresceu no final da primeira parte, surgiu do descanso mais ousado e mais solto, deixando a indefinição inicial, conseguindo jogar mais tempo no território adversário. Os rivais anularam-se, respeitaram-se e tiveram cautelas múltiplas. O jogo decidiu-se no pontapé de Carlos Martins. É um diabo irreverente, inconformado, morde a língua, deixa que a raiva se liberte e foi quem mais lutou pelo golo. O Benfica mereceu-o, porque foi, no duelo entre campeão e vice, diferentes e menos consistentes em relação ao ano passado, quem mais tentou ser feliz. Está a melhorar.

Confirmado: o leão é bipolar. Tem duas caras, duas formas diferentes de jogar, varia consoante e exigência e a realidade em que está inserido. Sorri na Europa: exibição sólida, alegria a transbordar, cinco golos marcados ao Levski de Sófia. Poderia ser um embalo, um tónico, um empurrão para recuperar caminho no campeonato e diminuir o atraso de dez pontos para o topo. Só que, lá está, aparece o reverso da medalha: foi surpreendido pelo Beira-Mar, viu-se em desvantagem num erro colossal de Rui Patrício, teve que correr em busca do resultado, empatou por João Pereira, revelou-se pouco eficaz, esbarrou numa exibição portentosa do guarda-redes Rui Rego e cedeu dois pontos. O leão, grande e candidato, está, à sétima jornada, no décimo lugar, a uma dezena de pontos do FC Porto, ultrapassado por Benfica e Sp.Braga, contando apenas com três vitórias e partilhando a posição com o Vitória de Setúbal. É muito mau.

Vitória de Guimarães e Olhanense são dois dos principais destaques das sete primeiras jornadas do campeonato. Estão, por obra própria, no segundo lugar, à frente do Benfica, com doze pontos somados: os vimaranses, já se disse, travaram a marcha vitoriosa do FC Porto e os algarvios, em casa, bateram o pé ao Vitória de Setúbal (3-1). Destaque ainda para o quinto lugar da União de Leiria, que venceu, por 2-1, a Académica - as duas equipas, assim como o Sp.Braga, fixam-se nos onze pontos. Paços de Ferreira e Nacional regressaram às vitórias, chegando aos dez pontos, depois de vencerem, respectivamente, Naval (1-2) e Portimonense (3-1). No duelo entre últimos, equipas sem alegria, sem escassos golos marcados e sem vitórias, Rio Ave e Marítimo anularam-se, em Vila do Conde, num jogo que só poderia, por tudo aquilo que as envolve, terminar empatado: sem golos, com algumas oportunidades, em ritmo baixo.

O MOMENTO DA JORNADA 7


Liga ZON Sagres: Um momento de fim do ciclo triunfal


V.GUIMARÃES-FC PORTO (1-1): MACHADADA NO CICLO DE OURO

Seis vitórias no campeonato. O FC Porto arrancou fulgurante, mais rápido do que a concorrência, logo se colou ao topo e chegou aos dezoito pontos. Teve, em Guimarães, um sério teste à sua capacidade de se manter invicto: o Vitória é uma das principais equipas deste arranque de temporada, travou o Benfica e mostra valor, com o dedo de Manuel Machado, para se colocar nos cinco primeiros classificados, recuperando um lugar que lhe fugiu na época anterior. O dragão começou melhor. Pressionante, ágil e capaz. Chegou ao golo à meia-hora, com naturalidade, por Hulk. O suspeito do costume, no fundo: o Incrível é o jogador em maior destaque, vive uma bela fase, está super-confiante e sabe o que quer. Aos poucos, relaxando sobre a vantagem, o FC Porto diminui a intensidade, o Vitória cresceu, o jogo ganhou maior equilíbrio. Manuel Machado agiu, não esperou para ver e foi feliz. Faouzi, saído do banco, empatou para o Vitória. E, aos sessenta e três minutos, colocou um ponto final no ciclo de vitórias do líder. O FC Porto perde, pela primeira vez, pontos na Liga.

NOTA: O Momento da Jornada é uma rubrica do FUTEBOLÊS, publicada antes da análise completa de cada ronda da Liga ZON Sagres. A imagem presente tem créditos da Liga Portuguesa de Futebol Profissional.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Benfica-Sp.Braga, 1-0 (crónica): Assertividade no triunfo

O ASSALTO DO CAMPEÃO AO SEGUNDO LUGAR

Passe de Saviola, domínio precioso de Carlos Martins, troca de pés e potência no remate. Bola termina no fundo da baliza de Felipe. Marca o Benfica e carimba a vitória: esteve por cima, foi mais equipa, mais incisivo, estava mais pressionado para vencer e criou mais oportunidades. Ganha com justiça devido a tudo isso. O Sp.Braga teve os seus momentos, levou Roberto a emergir, cresceu no final da primeira parte, surgiu do descanso mais ousado e mais solto, deixando a indefinição inicial, conseguindo jogar mais tempo no território adversário. Anularam-se, respeitaram-se e tiveram cautelas múltiplas. O jogo decidiu-se no pontapé de Carlos Martins. É um diabo irreverente, inconformado e lutou pelo golo. O Benfica mereceu-o. E chega ao segundo lugar.


Cautela, receio, fuga ao erro. Objectivo identificado, marcado a negrito, para tentar apertar o cerco ao FC Porto, esperando um passo errado do dragão, mantendo vivas as esperanças de lutar pelo título. O início pintalgado com derrotas do Benfica obriga o campeão a esforços redobrados: correr mais, lutar a dobrar, discutir cada jogo com o risco de ver o céu desabar-lhe em cima da cabeça. A margem de erro perdeu-se. Joga em casa, é campeão, tem o Mundo nas costas e precisa de vencer para recuperar a confiança e continuar a olhar para o bicampeonato como uma meta possível. No final se farão as contas. Mas é necessário que o Benfica, para isso, vença. Tem que assumir o jogo, travar o ímpeto do adversário, forçar para encontrar caminhos rumo à baliza contrária e ser dominador. É como o Sp.Braga se sente bem: à espreita da sua vez.

Diz-se que as comparações são sempre injustas. O principal argumento, talvez o que melhor aplicação tem neste caso concreto, é que não há anos iguais. Os rendimentos das equipas, por tudo o que as envolve, tem que ser sempre diferente. Nas situações de Benfica e Sp.Braga, campeão e vice-campeão por obra própria, deixando os rivais em sarilhos, mudaram para pior. Não têm a mesma força, a mesma dinâmica, o mesmo envolvimento. Não têm a mesma consistência que os fazia triunfar. É em grande parte por isso que chegam à sétima jornada como se jogassem uma verdadeira roleta. O Benfica, principalmente, sim, mas também o Sp.Braga, para recuperar a alegria perdida após a praxe europeia na Liga dos Campeões e continuar a acreditar que pode dar mais uns passinhos rumo à ilha dourada onde estão os grandes.

INDEFINIÇÃO ABALADA

O jogo começou entretido. Teve disputa, lutou-se no centro, as equipas anularam-se. Faltou ousadia: nenhuma quis dar um passo maior do que a perna, nem Benfica nem Sp.Braga se quis colocar a jeito das armas do rival, quiseram ter contenção e segurança na forma como jogaram. O campeão teve ascendente. Nem outra coisa seria de esperar. Essa é a forma natural das coisas: em casa, jogando mais pressionado, tendo maior responsabilidade, o Benfica teria de ser mais incisivo e dominador perante uma equipa matreira, pragmática e que gosta de explorar o adversário. O Sp.Braga, com Hugo Viana e Lima na equipa titular, indefinido e incapaz de se superiorizar, sentiu dificuldades para jogar. A primeira parte ganhou emoção a dez minutos do final. O Benfica imprimiu velocidade, Aimar deu para Saviola e Felipe travou o golo. Apenas aí houve realmente motivos de interesse.

Para trás haviam ficado trinta e cinco minutos de indefinição. O Benfica mais perigoso, belas defesas de Felipe frente a Carlos Martins e Alan Kardec, um calafrio de Roberto, um abuso de altivez de David Luiz, duelos individuais com temperatura elevada e alguns fogachos de Saviola. Jogo intermitente, pouco claro, longe de ser um regalo para vista. Foi, antes de mais, disputado no limite. O Sp.Braga, com dificuldades em se ligar e apenas vivendo das iniciativas de Alan, sem conseguir Luis Aguiar ter bola no pé e fazer a equipa progredir, apareceu nos minutos finais. Respondeu às três oportunidades do Benfica com duas de rajada: Roberto agigantou-se para impedir o golo de Elderson e Lima, logo após, atirou ao lado. Avisos, sinais de inconformismo, de querer fazer melhor. Os guarda-redes, ambos descansados, sobressaíram nos momentos-chave.

O GÉNIO DE MARTINS PARA DESCOMPLICAR

Carlos Martins é um inconformado por natureza. Irreverente, irascível, forte. Nem sempre as coisas lhe saem bem. Há, até, quem diga que é a falta de maturidade que por vezes evidencia, extrapolando facilmente as emoções, o principal impeditivo de se tornar num verdadeiro jogador de topo. Martins insiste, tenta, batalha. O jogo, depois do intervalo, regressou com um Sp.Braga melhor. Mas, no geral, com um futebol pouco pensado, exaltando o pragmatismo, salpicado de algumas oportunidades. Salino não emendou um cruzamento de Lima e Domingos encolheu os ombros, Saviola perdeu de forma incrível e Jorge Jesus desesperou. A forma como El Conejo desperdiça é um dado preocupante para os encarnados, de facto. Manteve-se a tal disputa, sim, mas o nível deixou a desejar. Regressamos a Carlos Martins. E saltamos para o minuto setenta e três.

Minuto setenta e três. Contagem decrescente para o final. Domingos Paciência já trocara Vandinho por Andrés Madrid, devido a lesão, logo se seguindo a entrada de Paulo César, carregando velocidade, para ocupar a vaga há muito deixada por Hugo Viana. O Benfica crescera com as alterações do rival. Faltavam, então, os tais dezassete minutos até aos noventa. Javier Saviola leva a bola, cruza-a, Carlos Martins recebe com o pé direito, deixa-a no esquerdo, remata com potência e colocação para o fundo da baliza de Felipe. Explode: libertação de raiva, golo num momento certo, inépcia atacante quebrada. O Benfica saltou para a frente. Foi quem mais fez por o merecer. Esteve por cima no jogo, foi mais pressionante, mais rematador e contou com mais oportunidades junto da baliza contrária. Venceu bem, portanto.