Ponto prévio: a Holanda está na final do Mundial 2010. E fez por isso, diga-se. A selecção holandesa, comandada por Bert van Marwijk, um ilustre desconhecido antes do início da competição, joga um futebol positivo, aproveitando as potencialidades individuais que possui e tem dinâmica ofensiva. Esta Holanda chegou à África do Sul sem estar no lote de equipas com maiores probabilidades de chegar à final. Poderia ser, no máximo, um outsider. Seguindo o seu padrão, mas mantendo-se longe da espectacularidade de outrora, os holandeses começaram, com o tempo, a merecer maior destaque. Em pézinhos de lã, sem levantar ondas, sem nunca se colocarem num patamar cimeiro, a Holanda chegou, com naturalidade, aos quartos-de-final. Só com vitórias. Encontrou, talvez, o adversário mais temível: Brasil. E conseguiu seguir em frente.
Tudo mudou. Com o Brasil para trás, por obra própria, com Inglaterra eliminada nos oitavos-de-final e França e Itália logo caídos na fase de grupos, a Holanda ganhou um novo estatuto. Este Mundial da África do Sul revelara, afinal, que a teoria, mais uma vez, pouco valor possui. Se conseguira afastar os brasileiros, com muito mérito, embora também tenham existido falhas importantes no escrete, teria todas as condições para chegar à final. Encontrou, pelo caminho, outra surpresa - esta ainda mais -, vinda do Uruguai. A celeste conseguiu, quarenta anos depois, voltar às meias-finais de um Campeonato do Mundo. Apesar de ter sido bicampeão mundial em 1930 e 1950, juntando mais dois quartos lugares em 1954 e 1970, este Uruguai é, actualmente, uma selecção com pouca expressão. Nunca estaria, por exemplo, no rol de favoritos, antes do Mundial, para chegar tão longe.
A Laranja Mecânica marcou uma era. Encantadora pela forma como jogava, dominadora a toda a prova, visionária tacticamente e superior em todas as vertentes. A beleza do futebol apresentado pelos holandeses, de pé para pé e sem rigidez posicional, revolucionou e passou a ser o molde a seguir por outras equipas. Foi no Campeonato do Mundo de 1974, na Alemanha Ocidental, que a Laranja Mecânica surgiu. Com base no então todo-poderoso Ajax, a equipa guiada por Johan Cruyff, a estrela principal, subiu ao pedestal depois de vencer, nesse Mundial, o Uruguai. Nada mais, a partir de então, seria como antes. A verdade, contudo, é que apesar da elevada importância que teve, a Laranja Mecânica nunca conseguiu um título mundial - saiu derrotada, em 1974 e em 1978, da final. Foi o que faltou para atingir a perfeição.
O Uruguai é um país, em termos de participações em Campeonatos do Mundo, com melhores resultados do que a Holanda. No entanto, hoje em dia, não existe comparação: os holandeses têm nova força, mesmo não sendo uma das principais potências mundiais têm grande valor, enquanto os uruguaios, antes tão fortes, são uma sombra do que foram. Neste Mundial da África do Sul ambos superaram as expectativas. Sobretudo o Uruguai: apesar de ultrapassado por Brasil e Argentina, as principais bandeiras sul-americanas, a celeste conseguiu, ao chegar às meias-finais, ser a melhor formação da América. É uma equipa com alma, audácia e muita vontade de vencer. Chegar tão longe foi já uma vitória para os uruguaios. Estar na final, repetindo um feito com sessenta anos, seria verdadeiramente a realização de um sonho. Pela frente, a Holanda. A, agora, favorita Holanda.
Giovanni van Bronckhorst recebeu a bola. Não parou, lançou-a para a frente e ensaiou um remate a trinta e seis metros da baliza de Muslera. O jogo começara morno. Com o Uruguai, desfalcado como nunca - principalmente de Lodeiro e Luis Suárez, a que se juntaram Lugano e Fucile -, mais expectante, sem que a Holanda quisesse ser incisiva desde logo, era necessário um toque de génio. Van Bronckhorst, o capitão, longe de ser uma estrela, marcou num pontapé majestoso. Violento, colocado, fundamental. O jogo abalou. A Holanda, em vantagem, descomprimiu. Não resistiu ao pecado. O Uruguai cresceu, tentou ser mais expedito no contra-ataque, apareceu mais junto do território adversário. Diego Forlán, mais em destaque pela ausência de Suárez e capitão sem Lugano, respondeu a Van Bronckhorst antes do descanso: remate forte e golo. Empatado, de regresso à casa de partida, a pragmatismo voltou a instalar-se.
À Holanda faltava mais Robben e Sneijder, as duas melhores individualidades, para desorganizar a defesa uruguaia, fechada e consistente, que se revelou importante em toda a prova. O verdadeiro perigo holandês apareceu aos sessenta e sete minutos: Van der Vaart, lançado ao intervalo numa aposta mais ofensiva de Van Marwijk, obrigou Muslera a uma bela defesa e Robben, na recarga, atirou por cima. Foi o momento-chave. A Holanda despertou. Dois minutos depois marcou: um golo feliz, num remate enviesado e traiçoeiro de Sneijder. Faltava aparecer Robben. Demorou mais três minutos. De cabeça, como Wesley ante o Brasil, desviou um cruzamento perfeito de Dirk Kuyt. Num curto espaço, um passo tão grande rumo ao sucesso. A vitória já não fugiria. Mas ainda tremeu: Maxi Pereira marcou, já nos descontos, o Uruguai, um exemplo de querer, acreditou. Foi tarde. A Holanda ganhou o lugar na final.
Tudo mudou. Com o Brasil para trás, por obra própria, com Inglaterra eliminada nos oitavos-de-final e França e Itália logo caídos na fase de grupos, a Holanda ganhou um novo estatuto. Este Mundial da África do Sul revelara, afinal, que a teoria, mais uma vez, pouco valor possui. Se conseguira afastar os brasileiros, com muito mérito, embora também tenham existido falhas importantes no escrete, teria todas as condições para chegar à final. Encontrou, pelo caminho, outra surpresa - esta ainda mais -, vinda do Uruguai. A celeste conseguiu, quarenta anos depois, voltar às meias-finais de um Campeonato do Mundo. Apesar de ter sido bicampeão mundial em 1930 e 1950, juntando mais dois quartos lugares em 1954 e 1970, este Uruguai é, actualmente, uma selecção com pouca expressão. Nunca estaria, por exemplo, no rol de favoritos, antes do Mundial, para chegar tão longe.
A Laranja Mecânica marcou uma era. Encantadora pela forma como jogava, dominadora a toda a prova, visionária tacticamente e superior em todas as vertentes. A beleza do futebol apresentado pelos holandeses, de pé para pé e sem rigidez posicional, revolucionou e passou a ser o molde a seguir por outras equipas. Foi no Campeonato do Mundo de 1974, na Alemanha Ocidental, que a Laranja Mecânica surgiu. Com base no então todo-poderoso Ajax, a equipa guiada por Johan Cruyff, a estrela principal, subiu ao pedestal depois de vencer, nesse Mundial, o Uruguai. Nada mais, a partir de então, seria como antes. A verdade, contudo, é que apesar da elevada importância que teve, a Laranja Mecânica nunca conseguiu um título mundial - saiu derrotada, em 1974 e em 1978, da final. Foi o que faltou para atingir a perfeição.
O Uruguai é um país, em termos de participações em Campeonatos do Mundo, com melhores resultados do que a Holanda. No entanto, hoje em dia, não existe comparação: os holandeses têm nova força, mesmo não sendo uma das principais potências mundiais têm grande valor, enquanto os uruguaios, antes tão fortes, são uma sombra do que foram. Neste Mundial da África do Sul ambos superaram as expectativas. Sobretudo o Uruguai: apesar de ultrapassado por Brasil e Argentina, as principais bandeiras sul-americanas, a celeste conseguiu, ao chegar às meias-finais, ser a melhor formação da América. É uma equipa com alma, audácia e muita vontade de vencer. Chegar tão longe foi já uma vitória para os uruguaios. Estar na final, repetindo um feito com sessenta anos, seria verdadeiramente a realização de um sonho. Pela frente, a Holanda. A, agora, favorita Holanda.
Giovanni van Bronckhorst recebeu a bola. Não parou, lançou-a para a frente e ensaiou um remate a trinta e seis metros da baliza de Muslera. O jogo começara morno. Com o Uruguai, desfalcado como nunca - principalmente de Lodeiro e Luis Suárez, a que se juntaram Lugano e Fucile -, mais expectante, sem que a Holanda quisesse ser incisiva desde logo, era necessário um toque de génio. Van Bronckhorst, o capitão, longe de ser uma estrela, marcou num pontapé majestoso. Violento, colocado, fundamental. O jogo abalou. A Holanda, em vantagem, descomprimiu. Não resistiu ao pecado. O Uruguai cresceu, tentou ser mais expedito no contra-ataque, apareceu mais junto do território adversário. Diego Forlán, mais em destaque pela ausência de Suárez e capitão sem Lugano, respondeu a Van Bronckhorst antes do descanso: remate forte e golo. Empatado, de regresso à casa de partida, a pragmatismo voltou a instalar-se.
À Holanda faltava mais Robben e Sneijder, as duas melhores individualidades, para desorganizar a defesa uruguaia, fechada e consistente, que se revelou importante em toda a prova. O verdadeiro perigo holandês apareceu aos sessenta e sete minutos: Van der Vaart, lançado ao intervalo numa aposta mais ofensiva de Van Marwijk, obrigou Muslera a uma bela defesa e Robben, na recarga, atirou por cima. Foi o momento-chave. A Holanda despertou. Dois minutos depois marcou: um golo feliz, num remate enviesado e traiçoeiro de Sneijder. Faltava aparecer Robben. Demorou mais três minutos. De cabeça, como Wesley ante o Brasil, desviou um cruzamento perfeito de Dirk Kuyt. Num curto espaço, um passo tão grande rumo ao sucesso. A vitória já não fugiria. Mas ainda tremeu: Maxi Pereira marcou, já nos descontos, o Uruguai, um exemplo de querer, acreditou. Foi tarde. A Holanda ganhou o lugar na final.
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