quarta-feira, 7 de julho de 2010

97º Tour de France: Início de alta tensão

Quedas. No ciclismo os ciclistas estão sujeitos a elas. Seja por algum problema mecânico, pela interferência de um elemento estranho ou, até, devido ao mau estado das vias. É um perigo sempre presente, espreitando todas as oportunidades, quase uma inevitabiliade contra a qual, por mais que queiram, os ciclistas não têm antídoto. Na nonagésima sétima edição do Tour de France têm sido presença assídua. Manuel Cardoso, ciclista português da Footon-Servetto, pela primeira vez numa prova desta envergadura, caiu durante o prólogo, no dia um do Tour, ficou mal tratado e logo teve que regressar a casa. A primeira etapa em linha, ganha surpreendentemente por Alessandro Petacchi (Lampre), foi também fértil em quedas, tendo a vitória do italiano sido, porventura, alicerçada pela ausência dos mais fortes sprinters. O pavé, ao quarto dia, fez mossa. O início do Tour tem sido marcado por tensão, ansiedade e medo de ficar já afastado.

Numa corrida por etapas, dividida em três semanas, é perto do final da prova que os candidatos à vitória na geral individual se mostram. A edição do Tour de France do ano passado, por exemplo, apenas despertou verdadeiramente na passagem pelos Alpes. A primeira semana, com um traçado mais plano e de adaptação, costuma estar destinada aos sprinters, favorecendo chegadas em pelotão compacto, sem que exista, com isso, qualquer tipo de diferenças susbtanciais entre os principais candidatos ao triunfo em Paris. Nesta edição, contudo, a primeira semana, não sendo decisiva, apresentava, à partida, alguns problemas aos ciclistas. Não iria decidir nada, claro que não, mas poderia ajudar a clarificar as contas da geral final e, inclusivamente, limitar as ambições de alguns dos mais fortes candidatos à melhor classificação geral. Sobretudo devido ao pavé, um empedrado capaz de fazer mossa.

O prólogo inicial foi vencido, como era expectável, por Fabian Cancellara. O suíço da Saxo Bank, fortíssimo neste tipo de prova, pulverizou os tempos da concorrência. Alessandro Petacchi (Lampre) ganhou, sendo mais forte no sprint, a primeira e a quarta etapas em linha. Estas foram, até ao momento, as duas únicas chegadas em pelotão compacto, uma vez que na segunda etapa, quando o terreno assim o propiciava, foi realizado uma espécie de protesto, devido às inúmeras quedas envolvendo sprinters no dia anterior, que beneficiou a fuga de Sylvain Chavanel. O ciclista francês da Quick-Step, para além da vitória na etapa, conseguiu a camisola amarela. No entanto, não superando as exigências do pavé, perdeu-a, de novo, para Fabian Cancellara. O sprinter Thor Hushovd (Cervélo), mais forte num grupo de seis onde se incluíam os candidatos Andy Schleck e Cadel Evans, dois ciclistas bem-sucedidos, venceu a etapa.

PAVÉ: O INFERNO DO NORTE

O pavé, cerca de treze quilómetros de empedrado pelos quais os ciclistas passaram no quarto dia de prova, fez estragos no pelotão. Era esperado, de antemão, que colocasse dificuldades a alguns corredores, mesmo favoritos, havendo alguma expectativa sobre Alberto Contador ou Andy Schleck, os dois primeiros do ano passado, que, pelas suas características, estariam mais à mercê dos perigos deste pavimento. Contudo, o pavé acabou por ter um impacto maior do que o previsto. Lance Armstrong foi um dos maiores prejudicados. O ciclista norte-americano da Radioshack, equipa que apostara em conseguir superar-se a rivais directos na luta pela geral, estabelecendo já diferenças importantes, estava a fazer uma boa prova, até à frente de Contador, mas, por infortúnio, um furo na roda dianteira fê-lo perder, na geral, noventa segundos para o ciclista espanhol da Astana, seu principal rival. Lance está obrigado a atacar. Também Klöden e Leipheimer, pelas mesmas razões de Armstrong, se atrasaram.

Em sentido contrário, na terceira etapa depois do prólogo, a Saxo Bank teve um dia quase perfeito: recuperou a camisola amarela de Fabian Cancellara, um rocket que passara pelas estradas de Roterdão no primeiro dia, e viu Andy Schleck, seu líder, conseguir ganhar tempo a Contador e Armstrong, ficando, na luta entre possíveis candidatos à vitória final, apenas atrás de Cadel Evans (aquele que foi o maior vencedor do dia, fixando-se no terceiro lugar). A forte aposta da Saxo Bank, com uma preciosa ajuda de Cancellara a Andy Schleck no pavé, onde o primeiro se sente bem e o segundo poderia passar mal, deu excelentes resultados. O dia só não foi perfeito devido ao abandono de Frank Schleck, quinto nas duas últimas edições do Tour e o braço direito do irmão Andy, que fracturou a clavícula após uma queda. Christian Vande Velde (Garmin), ciclista com aspirações a ficar bem colocado, foi também forçado a abandonar.

ALESSANDRO PETACCHI A DOBRAR

Alessandro Petacchi, um veterano de trinta e seis anos, é um sprinter com provas dadas e largo historial. Actualmente, contudo, há Mark Cavendish (Team Columbia) e Thor Hushovd (Cervélo) na linha da frente para as chegadas em pelotão compacto. No segundo dia deste Tour de France, após quedas sucessivas que impediram que todos os sprinters estivessem em boas condições de poder ambicionar a vitória, Alessandro Petacchi triunfou. Disse-se que apenas o fizera por não ter consigo os adversários mais fortes. Seja como for, a verdade é que na quarta tirada do Tour, depois de um dia fustigado pela passagem pelo pavé, Petacchi, já lutando com Cavendish, Hushovd, McEwen ou Freire, repetiu a vitória. O argumento esfumou-se: desta vez, com toda a concorrência junto de si, o veterano italiano, numa etapa sem complicações que serviu para recuperar das mazelas, ganhou com todo o mérito. Contem com ele!

Os melhores momentos do 97º Tour de France terão acompanhamento no FUTEBOLÊS

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