A nonagésima sétima edição do Tour de France parte amanhã para a estrada. Em Roterdão, na Holanda, a maior corrida velocipédica do calendário internacional, La Grande Boucle, inicia-se com um prólogo de apenas nove quilómetros. Terá, ao longo dos vinte e um dias de prova, nove etapas com percurso plano (que surgem, sobretudo, na primeira semana e se afiguram propícias para os sprinters se mostrarem - deverão fazê-lo até à sétima tirada), quatro etapas com relevo acidentado, apenas um contra-relógio individual e, como garantia de maior espectáculo, seis etapas de montanha. A edição de 2010 do Tour, dura como nunca, promete fazer mossa no pelotão com as escaladas ao alto de Peyresourde, Aspin, Col du Tourmalet (onde, à décima sexta e décima sétima etapas, com um dia de descanso pelo meio, os principais candidatos à vitória final terão duros testes às suas capacidades) e Aubisque. É preciso fôlego!
A juventude, a pujança e o vigor de Alberto Contador. O bivencedor do Tour de France, triunfante em 2007 e 2009 e impedido de marcar presença em 2008, parte como número um para voltar a sorrir em Paris. No outro pólo, tão distante e tão diferente, há Lance Armstrong. Com a sua glória, a experiência e a ambição de quem, apesar de já ter sete vitórias na maior prova de ciclismo mundial, não se contenta em assistir pela televisão. Armstrong estará em França para ganhar. Não há como fugir a isso. O seu regresso, no ano anterior, voltou a despertar a paixão do ciclismo. É das estrelas que os adeptos precisam. O doping, sempre uma tormenta, há muito espreitara por uma oportunidade para dar o seu golpe de misericórdia. O ciclismo sentia-se carente. Renovou-se. Para Lance Armstrong, depois de três anos de pausa, a vitória não era um objectivo declarado. Até porque, na mesma equipa, estava o seu principal rival: Alberto Contador.
Estando na mesma equipa, numa Astana repleta de estrelas, Alberto Contador e Lance Armstrong sabiam, à partida, que apenas um poderia ser o líder. Pelo prestígio, sem que ninguém ousasse discordar, seria o norte-americano. Contador, porém, ganhara o seu lugar. Destacara-se da concorrência, revelara a sua força e ganhara. Assumiu-se como o número um mundial. Embora tenha existido, a princípio, um clima dúbio sobre quem seria verdadeiramente o líder da Astana, era Alberto Contador quem dava maiores garantias de poder triunfar. A aposta recaiu, com naturalidade, no corredor espanhol. E foi acertada: Contador venceu, com o seu talento e com um sensacional trabalho de equipa, enquanto Armstrong, no ano de regresso, ficou num belo terceiro lugar. Agora, em 2010, é diferente. Alberto Contador e Lance Armstrong, sem amizades forçadas, estão em equipas diferentes e são os principais rivais. Com Andy Schleck na sombra.
ASTANA E RADIOSHACK: A FRAGMENTAÇÃO DE UMA POTÊNCIA
A Astana, equipa cazaque, revelou-se, na anterior edição do Tour de France, como a principal potência do pelotão internacional. Para além de conter Alberto Contador e Lance Armstrong, a Astana contava ainda com ciclistas, como Levi Leipheimer ou Andreas Klöden, que entrariam de caras em qualquer outro grupo. A existência de vários líderes foi uma situação que criou alguma hostilidade. Após o final do Tour' 2009, a equipa sofreu uma verdadeira transfiguração. A posição de Alberto Contador, devido à perda de todos os elementos que o haviam acompanhado no triunfo, ficou algo fragilizada - era expectável, a princípio, que o ciclista espanhol rumasse a outras paragens. O próprio regresso de Alexandre Vinokourov, o cazaque fundador da equipa, após dois anos de suspensão devido a doping, poderia também criar um foco de tensão, tal como antes com Armstrong. Ou, ao invés, poderá funcionar como um precioso auxílio para Contador.
Numa equipa agora comandada por Giuseppe Martinelli, a Astana, sem o rol de estrelas que apresentou na edição anterior, terá em Alberto Contador a sua principal esperança em vencer. Para além de Vinokourov, que poderá desempenhar um papel determinante para ajudar a resguardar Contador - o líder, sem que se crie com isso qualquer tipo de constrangimento -, a Astana terá ciclistas de créditos firmados e com experiência em grandes provas internacionais como David de la Fuente, Paolo Tiralongo, Daniel Navarro e Maxim Iglinskiy (de destacar, por ser surpreendente, a ausência de Óscar Pereiro - vencedor da prova em 2006, após ter sido confirmado o controlo positivo a Floyd Landis - por opção técnica). A verdadeira debandada que se registou na equipa cazaque, demonstrando uma composição teoricamente inferior à do ano transacto, foi causada, sobretudo, por Lance Armstrong. E, lá está, pela sua ambição!...
O ciclista norte-americano, apesar da veterania dos seus trinta e nove anos, mantém bem acesa a chama de voltar a repetir uma vitória no Tour de France. Para isso construiu uma equipa forte, a Radioshack. Nos eleitos para competir em França, todos os ciclistas estavam, em 2009, na... Astana. Comandada por Johan Bruyneel, também ele vindo da equipa cazaque e líder das conquistas de Lance Armstrong na US Postal e na Discovery Channel, e com o português José Azevedo, parceiro de Lance em quatro dos seus títulos, como adjunto, a Radioshack nasceu a partir da Astana. Reforçou-se com qualidade para atacar esta nonagésima sétima edição do Tour de France em força, procurando levar Armstrong a uma vitória histórica e notável. Levi Leipheimer, Andreas Klöden, Janez Brajkovic (que venceu o Dauphiné Libéré, à frente de... Contador), Yaroslav Popovych ou o português Sérgio Paulinho são ajudas de peso para o líder.
HÁ VIDA PARA LÁ DOS PAPÕES
Para além de Alberto Contador e Lance Armstrong, os dois principais candidatos à vitória na edição de 2010 do Tour de France, há outros ciclistas que prometem intrometer-se na luta pela geral individual final. Os manos Schleck, Andy e Frank, conseguiram boas prestações na últimas duas edições da prova e partem, sobretudo o primeiro, com legítimas aspirações a superar os resultados do ano anterior - Andy foi segundo, entre Contador e Armstrong, ao passo que o irmão, Frank, terminou na quinta posição, com Bradley Wiggins à frente. A equipa Saxo Bank, onde se mantêm, é, de resto, muito semelhante à que, em 2009, se apresentou em França. Com Fabian Cancellara, Jens Voigt ou Jakob Fuglsang, a formação liderada por Torsten Schmidt acalenta esperanças de conseguir tirar partido da luta de titãs entre Contador e Armstrong para levar Andy Schleck, uma jovem promessa, à verdadeira confirmação do seu grande valor.
Outros crónicos candidatos, pelo seu estatuto e pela importância que têm, devem ser levados em conta. Cadel Evans é um deles. O ciclista australiano, agora na BMC, uma equipa recém-formada, parece sentir-se mais solto, mais ambicioso e confiante. Depois de ter estado perto do trono em edições anteriores, tendo desiludido em 2009, esta será a oportunidade para Evans, campeão australiano, conseguir, de vez, afirmar-se na Grande Boucle. Também Ivan Basso, regressado este ano à competição, tal como Vino, poderá ter uma palavra a dizer. Contudo, o ciclista italiano da Liquigas (um colectivo fortíssimo!) venceu, em Maio passado, o Giro de Itália e, apesar de se mostrar esperançado numa boa participação, não deverá ainda ter o tempo de recuperação necessário. Bradley Wiggins (Sky), Denis Menchov (Rabobank) e Carlos Sastre (Cervélo) são outros destaques, embora nenhum deles seja propriamente um candidato.
UM TRIO PORTUGUÊS
Sérgio Paulinho será a principal figura do ciclismo português presente nesta edição do Tour. À semelhança do que acontecera nas suas outras duas participações (2007 e 2009), onde ajudou Alberto Contador a chegar à vitória na prova, tem destinado o papel de trabalhador, de gregário, de quem ficará encarregue de impedir que o seu líder, neste caso Lance Armstrong, seja atacado pelos rivais - mesmo que isso não tenha reflexos na sua classificação individual, sempre modesta e em função dos interesses da equipa. Rui Costa, ciclista da Caisse d'Epargne, repetirá a presença do ano passado (onde uma queda o obrigou, na segunda semana de prova, a abandonar de forma precoce). O outro português presente neste ano é o jovem Manuel Cardoso, pela primeira vez numa prova desta envergadura, actualmente ao serviço dos espanhóis da Footon-Servetto. Também José Azevedo, agora como director-desportivo, tal como o ciclista Tiago Machado, apesar de integrarem a equipa Radioshack, não estarão no Tour.
A juventude, a pujança e o vigor de Alberto Contador. O bivencedor do Tour de France, triunfante em 2007 e 2009 e impedido de marcar presença em 2008, parte como número um para voltar a sorrir em Paris. No outro pólo, tão distante e tão diferente, há Lance Armstrong. Com a sua glória, a experiência e a ambição de quem, apesar de já ter sete vitórias na maior prova de ciclismo mundial, não se contenta em assistir pela televisão. Armstrong estará em França para ganhar. Não há como fugir a isso. O seu regresso, no ano anterior, voltou a despertar a paixão do ciclismo. É das estrelas que os adeptos precisam. O doping, sempre uma tormenta, há muito espreitara por uma oportunidade para dar o seu golpe de misericórdia. O ciclismo sentia-se carente. Renovou-se. Para Lance Armstrong, depois de três anos de pausa, a vitória não era um objectivo declarado. Até porque, na mesma equipa, estava o seu principal rival: Alberto Contador.
Estando na mesma equipa, numa Astana repleta de estrelas, Alberto Contador e Lance Armstrong sabiam, à partida, que apenas um poderia ser o líder. Pelo prestígio, sem que ninguém ousasse discordar, seria o norte-americano. Contador, porém, ganhara o seu lugar. Destacara-se da concorrência, revelara a sua força e ganhara. Assumiu-se como o número um mundial. Embora tenha existido, a princípio, um clima dúbio sobre quem seria verdadeiramente o líder da Astana, era Alberto Contador quem dava maiores garantias de poder triunfar. A aposta recaiu, com naturalidade, no corredor espanhol. E foi acertada: Contador venceu, com o seu talento e com um sensacional trabalho de equipa, enquanto Armstrong, no ano de regresso, ficou num belo terceiro lugar. Agora, em 2010, é diferente. Alberto Contador e Lance Armstrong, sem amizades forçadas, estão em equipas diferentes e são os principais rivais. Com Andy Schleck na sombra.
ASTANA E RADIOSHACK: A FRAGMENTAÇÃO DE UMA POTÊNCIA
A Astana, equipa cazaque, revelou-se, na anterior edição do Tour de France, como a principal potência do pelotão internacional. Para além de conter Alberto Contador e Lance Armstrong, a Astana contava ainda com ciclistas, como Levi Leipheimer ou Andreas Klöden, que entrariam de caras em qualquer outro grupo. A existência de vários líderes foi uma situação que criou alguma hostilidade. Após o final do Tour' 2009, a equipa sofreu uma verdadeira transfiguração. A posição de Alberto Contador, devido à perda de todos os elementos que o haviam acompanhado no triunfo, ficou algo fragilizada - era expectável, a princípio, que o ciclista espanhol rumasse a outras paragens. O próprio regresso de Alexandre Vinokourov, o cazaque fundador da equipa, após dois anos de suspensão devido a doping, poderia também criar um foco de tensão, tal como antes com Armstrong. Ou, ao invés, poderá funcionar como um precioso auxílio para Contador.
Numa equipa agora comandada por Giuseppe Martinelli, a Astana, sem o rol de estrelas que apresentou na edição anterior, terá em Alberto Contador a sua principal esperança em vencer. Para além de Vinokourov, que poderá desempenhar um papel determinante para ajudar a resguardar Contador - o líder, sem que se crie com isso qualquer tipo de constrangimento -, a Astana terá ciclistas de créditos firmados e com experiência em grandes provas internacionais como David de la Fuente, Paolo Tiralongo, Daniel Navarro e Maxim Iglinskiy (de destacar, por ser surpreendente, a ausência de Óscar Pereiro - vencedor da prova em 2006, após ter sido confirmado o controlo positivo a Floyd Landis - por opção técnica). A verdadeira debandada que se registou na equipa cazaque, demonstrando uma composição teoricamente inferior à do ano transacto, foi causada, sobretudo, por Lance Armstrong. E, lá está, pela sua ambição!...
O ciclista norte-americano, apesar da veterania dos seus trinta e nove anos, mantém bem acesa a chama de voltar a repetir uma vitória no Tour de France. Para isso construiu uma equipa forte, a Radioshack. Nos eleitos para competir em França, todos os ciclistas estavam, em 2009, na... Astana. Comandada por Johan Bruyneel, também ele vindo da equipa cazaque e líder das conquistas de Lance Armstrong na US Postal e na Discovery Channel, e com o português José Azevedo, parceiro de Lance em quatro dos seus títulos, como adjunto, a Radioshack nasceu a partir da Astana. Reforçou-se com qualidade para atacar esta nonagésima sétima edição do Tour de France em força, procurando levar Armstrong a uma vitória histórica e notável. Levi Leipheimer, Andreas Klöden, Janez Brajkovic (que venceu o Dauphiné Libéré, à frente de... Contador), Yaroslav Popovych ou o português Sérgio Paulinho são ajudas de peso para o líder.
HÁ VIDA PARA LÁ DOS PAPÕES
Para além de Alberto Contador e Lance Armstrong, os dois principais candidatos à vitória na edição de 2010 do Tour de France, há outros ciclistas que prometem intrometer-se na luta pela geral individual final. Os manos Schleck, Andy e Frank, conseguiram boas prestações na últimas duas edições da prova e partem, sobretudo o primeiro, com legítimas aspirações a superar os resultados do ano anterior - Andy foi segundo, entre Contador e Armstrong, ao passo que o irmão, Frank, terminou na quinta posição, com Bradley Wiggins à frente. A equipa Saxo Bank, onde se mantêm, é, de resto, muito semelhante à que, em 2009, se apresentou em França. Com Fabian Cancellara, Jens Voigt ou Jakob Fuglsang, a formação liderada por Torsten Schmidt acalenta esperanças de conseguir tirar partido da luta de titãs entre Contador e Armstrong para levar Andy Schleck, uma jovem promessa, à verdadeira confirmação do seu grande valor.
Outros crónicos candidatos, pelo seu estatuto e pela importância que têm, devem ser levados em conta. Cadel Evans é um deles. O ciclista australiano, agora na BMC, uma equipa recém-formada, parece sentir-se mais solto, mais ambicioso e confiante. Depois de ter estado perto do trono em edições anteriores, tendo desiludido em 2009, esta será a oportunidade para Evans, campeão australiano, conseguir, de vez, afirmar-se na Grande Boucle. Também Ivan Basso, regressado este ano à competição, tal como Vino, poderá ter uma palavra a dizer. Contudo, o ciclista italiano da Liquigas (um colectivo fortíssimo!) venceu, em Maio passado, o Giro de Itália e, apesar de se mostrar esperançado numa boa participação, não deverá ainda ter o tempo de recuperação necessário. Bradley Wiggins (Sky), Denis Menchov (Rabobank) e Carlos Sastre (Cervélo) são outros destaques, embora nenhum deles seja propriamente um candidato.
UM TRIO PORTUGUÊS
Sérgio Paulinho será a principal figura do ciclismo português presente nesta edição do Tour. À semelhança do que acontecera nas suas outras duas participações (2007 e 2009), onde ajudou Alberto Contador a chegar à vitória na prova, tem destinado o papel de trabalhador, de gregário, de quem ficará encarregue de impedir que o seu líder, neste caso Lance Armstrong, seja atacado pelos rivais - mesmo que isso não tenha reflexos na sua classificação individual, sempre modesta e em função dos interesses da equipa. Rui Costa, ciclista da Caisse d'Epargne, repetirá a presença do ano passado (onde uma queda o obrigou, na segunda semana de prova, a abandonar de forma precoce). O outro português presente neste ano é o jovem Manuel Cardoso, pela primeira vez numa prova desta envergadura, actualmente ao serviço dos espanhóis da Footon-Servetto. Também José Azevedo, agora como director-desportivo, tal como o ciclista Tiago Machado, apesar de integrarem a equipa Radioshack, não estarão no Tour.
Os melhores momentos do 97º Tour de France terão acompanhamento no FUTEBOLÊS
1 comentário:
Artigo de classe.
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