Ponto final, parágrafo. Paulo Bento apresentou a sua demissão, alegando já não possuir as condições indispensáveis para um bom trabalho, e já não é o treinador do Sporting. Mais tarde ou mais cedo, era mesmo inevitável que assim fosse e, por isso, a decisão não surpreende. A contestação subira de tom, assumira o seu ponto mais forte, o treinador estava sem espaço de manobra e já nada fazia a equipa reagir. Embora falhando sempre a conquista do título, o trabalho é francamente positivo. Não é uma saída letigiosa, nada disso. A explicação é simples: o ciclo de Paulo Bento estava absolutamente esgotado. Estive quatro meses a mais no Sporting, afirmou o treinador.
O reinado de Paulo Bento no Sporting acabou como começou: com um empate. A estreia no principal campeonato português aconteceu em Outubro de 2005. Em Barcelos, frente ao Gil Vicente, num momento em que os leões viviam um período bem semelhante ao actual e que culminou nas saídas de José Peseiro e Dias da Cunha. Daí para cá, até ontem, no embate com o Ventspils a contar para a Liga Europa, passaram-se quatro anos e quinze dias. No total, foram cento e noventa e três jogos de Paulo Bento à frente do comando técnico do Sporting. A divisão faz-se em cento e dezassete vitórias, quarenta e seis empates e trinta derrotas.
Dentro das alegrias que o Sporting de Paulo Bento deu aos adeptos sportinguistas, contam-se quatro títulos. Nas épocas de 2006-07 e 2007-08, os leões conseguiram vencer a Taça de Portugal e, em seguida, juntar-lhe a respectiva Supertaça Cândido de Oliveira. Falhou, porém, o objectivo prioritário: a conquista do campeonato nacional. Seria perfeito, ouro sobre azul. No entanto, perdidas as quatro oportunidades para o FC Porto, o Sporting conseguiu ser, em todas essas épocas, segundo classificado. A entrada na Liga dos Campeões e o facto de, com um orçamento bem mais reduzido, ficar à frente do Benfica, rival de sempre, atenuam esse vazio.
Paulo Bento soube adaptar-se bem à realidade do Sporting, onde a contenção de custos imperou. Fruto disso, levou a cabo, também, um excelente trabalho ao nível da formação de jogadores. João Moutinho, Miguel Veloso, Daniel Carriço e Rui Patrício, por exemplo, foram jovens que o treinador lançou na principal equipa leonina e que, actualmente, têm a sua posição bem consolidada no futebol português. Evidentemente que, como qualquer outro, tem defeitos. A teimosia é o maior de Paulo Bento: o seu sistema preferido, 4x4x2 losango, foi explorado até ao limite e não nunca demonstrou flexibilidade táctica. O Sporting, em certo ponto, tornou-se previsível e até fácil de anular.
Deixando agora o treinador e olhando um pouco ao homem. Ao longo dos quatro anos que compuseram o seu ciclo à frente dos leões, Paulo Bento construiu uma personalidade forte. Colocando sempre o clube acima de tudo, não fugiu à responsabilidade nos momentos negativos e combateu-os com toda a frontalidade e determinação. Defendeu os interesses do clube até ao último dia de trabalho, foi o rosto mais visível do Sporting e pode até dizer-se que não lhe foi dada a devida protecção. Bento expôs-se em demasia. Não estranha, por isso, que agora também Pedro Barbosa (director-desportivo) e Miguel Ribeiro Telles (vice-presidente para o futebol) tenham abandonado o clube.
Os adeptos sportinguistas estão agradecidos a Paulo Bento, fica bem claro. No entanto, ao contrário do que dissera José Eduardo Bettencourt, nada poderá ser forever. Com o passar dos tempos, com maus resultados e más exibições, algo teria de mudar. O treinador é, naturalmente, o primeiro a ser contestado e a quem é apontado o dedo pelo pouco rendimento. Contudo, há nos sportinguistas a consciência de que o problema é mais grave, mais profundo. O futebol do Sporting necessita de uma reestruturação. Com as três demissões dos homens fortes, resta a Bettencourt fazê-lo da melhor forma. Se foi ou não bom para o clube, só o tempo poderá responder.
Foto: maisfutebol
1 comentário:
Não me parece ser a solução pois houve pouco investimento no futebol além disso os 3 reforços pouco tem mostrado e os jogadores também tem culpa.
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