quinta-feira, 9 de abril de 2009

Bernardino Barros e os sete ofícios - Parte II

(CONTINUAÇÃO PARADA & RESPOSTA COM BERNARDINO BARROS)

"NÃO IMPORTA SE FALAM BEM OU MAL, IMPORTA QUE FALEM"

F: Fala-se bastante das tendências clubísticas dos jornalistas desportivos. Sendo adepto do FC Porto, acha que isso lhe coloca um certo rótulo de parcialidade?

BB: Infelizmente em Portugal não se gosta de desporto, gosta-se dos clubes, e por isso, quem assume a sua inclinação por alguma cor, tem problemas. Se calhar é por isso que a maior parte dos relatadores e comentadores prefere negar o seu clubismo, dizendo que são da Académica ou de qualquer clube da sua terra ou bairro. Só que na escola escolhemos um clube e ele fica para sempre.


F: O que faz, então, para ser um comentador imparcial?

BB: A imparcialidade não existe. Não conheço ninguém que dê a sua opinião e que seja imparcial. Seja comentador desportivo, analista político, teatral, televisivo, etc. No que me diz respeito procuro sempre ser o mais objectivo possível, tendo opinião, mas não adulterando o que estou a ver, não induzindo em erro o espectador ou o ouvinte. O que vemos é para contar. A forma como analisamos um jogo e o contamos ao ouvinte tem que ser a verdade, doa ela a quem doer. É análise feita no momento, dai o tal risco da rádio que falava há pouco. Os comentadores televisivos vêem o lance repetitivamente e de vários ângulos. Os da escrita socorrem-se da opinião dos colegas da redacção que seguem o jogo pela televisão. Não me incomoda o rótulo que me é colocado, interessa-me a minha auto-análise e auto-critica, e sobretudo a que é feita pelos que comigo trabalham e em mim acreditam. Não os quero defraudar nunca. A minha máxima é, e será sempre, “não me incomoda que falem bem ou mal de mim, interessa-me é que falem”.


F: Esteve no Euro 2004 e na final da Liga dos Campeões ganha pelo FC Porto. Foram esses os melhores momentos da carreira para já?
BB:
O Euro 2004, o Mundial da Alemanha, a final da Liga dos Campeões e da Taça UEFA com o FC Porto, a final da Taça UEFA com o Sporting em Alvalade, os mundiais de Hóquei em Patins, O mundial do futebol de Juniores em Lisboa. São tantos e variados que é difícil escolher um. Felizmente que os vivi, e espero viver mais uns tantos.

F: E piores?

BB: As mortes em directo do Pavão e do Féher.


F: Diz também que o jornalismo desportivo atravessa uma espécie de crise. É verdade?

BB: Claro que sim, é só olhar á nossa volta e ver os órgãos de comunicação que fecham ou fecharam e mandaram para o desemprego tantos jornalistas. Ainda agora um dos potentados da comunicação social, resolver “despedir” centenas de jornalistas, quando na festa de Final de Ano, os patrões davam os parabéns aos trabalhadores pela subida em numero de vendas. O que mudou de Dezembro até Fevereiro?


F: Como se verifica isso?

BB: Pelo monopólio da comunicação social estar em três ou quatro grandes grupos. Como são os “patrões” de vários títulos, escrita e falada, obrigam os trabalhadores a “sinergias” ilegais. Se fui contratado para a rádio, porque carga de água sou abrigado a fazer a crónica do mesmo jogo para o jornal do grupo? Ou vice-versa? Só que quem não faz vai embora, e como infelizmente os “recibos verdes” vieram para ficar, a impunidade é total. Como diz o ditado “manda quem pode, obedece quem deve” e como o mercado de trabalho está nas mãos de uns poucos, é “comer e calar”. Culpa teve quem permitiu o e legislou a concentração dos media em tão poucos grupos. Os tubarões não deixam comer os pequenos, só que mais tarde ou mais cedo, morrem, ou por serem caçados ou por enfartamento.


F: Além de todo o trabalho, participa também com crónicas em blogues como o FUTEBOLÊS. Por que o faz e como concilia tudo isso?

BB: Da mesma forma e pelo mesmo motivo que aceito convites para moderar colóquios ou debates. Porque gosto de participar e estar envolvido no desporto, e porque ainda há quem goste de nós, por isso enquanto puder, responderei sim a esses convites, desde que tenha tempo para isso. Foi assim que aceitei o teu amável convite para colaborar neste teu espaço.


2 comentários:

Diogo Sousa disse...

Tenho um autografo do Bernardino! :D

Anónimo disse...

Está ao nível do Alves dos Santos.