SIM OU NÃO?
Vamos fazer um exercício de memória e regressar a 2004. Ao clássico Benfica-FC Porto, em Outubro. No minuto 78 desse jogo, um minuto que ficou para a História: remate de Petit, defesa de Vítor Baía que deixa a bola escapar em direcção à linha de golo, conseguindo ainda afastá-la para longe com uma palmada de recurso. Dentro ou fora da baliza foi a questão colocada por todos aqueles que assistiam ao jogo. Olegário Benquerença, o árbitro, entendeu que estava fora e o jogo prosseguiu. Mas estaria mesmo? Ninguém sabe ao certo. Pronto, podemos voltar ao presente. Cinco anos depois, um lance que ainda continua a gerar polémica.
Esta situação foi apenas um bom exemplo de como as novas tecnologias seriam úteis ao futebol. Em casos como este, quando existem dúvidas se a bola ultrapassou ou não a linha de golo, constituiam uma ajuda preciosa. Será que se poderiam introduzir novas tecnologias para todas as situações em que o árbitro estivesse dividido? Aí já se colocam algumas reservas pois tornaria o jogo quase que virtual, tirando-lhe toda a paixão e magia. Era como torná-lo num jogo perfeito, sem erros e sem discussões. O FUTEBOLÊS falou sobre o assunto com algumas personalidades ligadas ao futebol. As respostas coincidiram: sim, mas apenas em situações específicas. Como aquela de Petit e Baía em 2004.
Começando pelos entendidos na matéria. Jorge Coroado, ex-árbitro e actual comentador de arbitragem, diz que o futebol poderia ser prejudicado com a introdução das novas tecnologias mas aceita que se apliquem nessas tais situações como a que sucedeu no clássico de 2004: "Por princípio, também porque entendo ser o futebol emoção, paixão e discussão (quando estas três vertentes acabarem o futebol perde a piada) sou relutante quanto à introdução de meios tecnológicos como apoio ou definição das decisões dos árbitros mas aceito parcialmente em situações em que fica a dúvida se a bola passou ou não o risco de golo". Contudo, afirma não fazer sentido para que ajudem um árbitro a avaliar uma grande penalidade, uma agressão ou um fora-de-jogo.
Esta é, também, uma opinião inteiramente partilhada pelo jornalista Cruz dos Santos. "Concordo mas não da forma como se tem falado. Por exemplo, no caso do fora-de-jogo ou dos agarrões aos jogadores dentro da área, é impossível. O futebol tornava-se um jogo de computador", afirma. Além disso refere que nesses dois casos, a decisão tem que ser tomada pelo árbitro no momento, no terreno de jogo. "É humanamente impossível ao árbitro, à distância que se encontra do lance, saber se a bola entra ou não. Por isso, nesse aspecto estou totalmente de acordo", concluiu Cruz dos Santos, adiantando a introdução do chip na bola como uma boa solução.
Chega Bernardino Barros, comentador da Rádio Renascença, com uma análise bem clara: "Saber quando é golo ou não, parece-me o mais importante. O resto é folclore". Tal como Cruz dos Santos e Jorge Coroado, entende que a capacidade de sancionar as faltas deve ser entregue aos árbitros e não concorda que os lances sejam avaliados pela televisão: "Nesse caso o futebol morre. Arbitrar é difícil e está sujeito ao erro, é humano". Coroado é da mesma opinião, dizendo que as paragens no jogo que as novas tecnologias trariam em nada contribuiria para a tranquilidade do público pois o futebol é algo totalmente diferente do ténis onde já se utiliza o olho de falcão. Nota-se uma perfeita sintonia entre as opiniões, portanto.
Visão mais abrangente tem António Boronha, ex-vice-presidente da FPF. Então, as novas tecnologias seriam úteis ao futebol? "Numa resposta curta e imediata, sim!", afirma. No entanto, defende que tem que existir uma forma de as saber utilizar, sem que se prejudique o ritmo da partida e aponta três áreas de intervenção das novas tecnologias: controlo da linha de golo, "com aplicação imediata que não atrasará o jogo porque são casos ocorridos com pouca frequência"; controlo do fora-de-jogo pois trata-se de uma avaliação "objectiva e sujeita a regras objectivas com benefício claro da verdade desportiva que resultará da análise fria que a máquina ditará do geo-posicionamento dos jogadores das duas equipas em relação à linha de golo" e, ainda, no controlo das grandes penalidades onde terá de existir, por parte do árbitro, uma clara diferenciação entre intencionalidade e intensidade, sendo que "a máquina apenas poderá funcionar como auxiliar". Para Boronha estes são os três campos em que as tecnologias seriam úteis, muito embora não haja soluções perfeitas.
Em conclusão: os erros não acabarão. Mas as novas tecnologias podem ajudar a diminuí-los. Isto se essa medida for aprovada.
5 comentários:
Cheguei aqui por um post do António Boronha e gostei muito do blog. Assim como gostei das entrevistas ao Pedro Sousa (o meu relatador preferido) e ao Pedro Azevedo.
Já está no meu google reader!
Parabéns e continua.
Sim,muito bom o blogue,parabéns ao autor(s).Tambem vim atraves do post do Senhor Boronha.
Afectado e César,
Agradeço os elogios e o reconhecimento feitos.
Parabéns ao dono deste blogue por este fantástico espaço continua
Abraço
Antes de se decidir por tecnologias no futebol há que saber se elas são tecnicamente fiáveis, e se forem há que saber o que fazer se durante um jogo elas falharem durante algum tempo do jogo. Julgo que ainda há caminho técnico a percorrer sobre a fiabilidade dessas tecnologias. Mesmo os menos polémicos, como o olho de falcão e o chip na bola, para verem se uma bola entrou ou não na baliza, ainda falta provar que são tecnicamente 100% fiáveis.
Enviar um comentário