quinta-feira, 30 de abril de 2009

As novas tecnologias no futebol

SIM OU NÃO?

Vamos fazer um exercício de memória e regressar a 2004. Ao clássico Benfica-FC Porto, em Outubro. No minuto 78 desse jogo, um minuto que ficou para a História: remate de Petit, defesa de Vítor Baía que deixa a bola escapar em direcção à linha de golo, conseguindo ainda afastá-la para longe com uma palmada de recurso. Dentro ou fora da baliza foi a questão colocada por todos aqueles que assistiam ao jogo. Olegário Benquerença, o árbitro, entendeu que estava fora e o jogo prosseguiu. Mas estaria mesmo? Ninguém sabe ao certo. Pronto, podemos voltar ao presente. Cinco anos depois, um lance que ainda continua a gerar polémica.

Esta situação foi apenas um bom exemplo de como as novas tecnologias seriam úteis ao futebol. Em casos como este, quando existem dúvidas se a bola ultrapassou ou não a linha de golo, constituiam uma ajuda preciosa. Será que se poderiam introduzir novas tecnologias para todas as situações em que o árbitro estivesse dividido? Aí já se colocam algumas reservas pois tornaria o jogo quase que virtual, tirando-lhe toda a paixão e magia. Era como torná-lo num jogo perfeito, sem erros e sem discussões. O FUTEBOLÊS falou sobre o assunto com algumas personalidades ligadas ao futebol. As respostas coincidiram: sim, mas apenas em situações específicas. Como aquela de Petit e Baía em 2004.

Começando pelos entendidos na matéria. Jorge Coroado, ex-árbitro e actual comentador de arbitragem, diz que o futebol poderia ser prejudicado com a introdução das novas tecnologias mas aceita que se apliquem nessas tais situações como a que sucedeu no clássico de 2004: "
Por princípio, também porque entendo ser o futebol emoção, paixão e discussão (quando estas três vertentes acabarem o futebol perde a piada) sou relutante quanto à introdução de meios tecnológicos como apoio ou definição das decisões dos árbitros mas aceito parcialmente em situações em que fica a dúvida se a bola passou ou não o risco de golo". Contudo, afirma não fazer sentido para que ajudem um árbitro a avaliar uma grande penalidade, uma agressão ou um fora-de-jogo.

Esta é, também, uma opinião inteiramente partilhada pelo jornalista Cruz dos Santos. "Concordo mas não da forma como se tem falado. Por exemplo, no caso do fora-de-jogo ou dos agarrões aos jogadores dentro da área, é impossível. O futebol tornava-se um jogo de computador", afirma. Além disso refere que nesses dois casos, a decisão tem que ser tomada pelo árbitro no momento, no terreno de jogo. "É humanamente impossível ao árbitro, à distância que se encontra do lance, saber se a bola entra ou não. Por isso, nesse aspecto estou totalmente de acordo", concluiu Cruz dos Santos, adiantando a introdução do chip na bola como uma boa solução.

Chega Bernardino Barros, comentador da Rádio Renascença, com uma análise bem clara: "Saber quando é golo ou não, parece-me o mais importante. O resto é folclore". Tal como Cruz dos Santos e Jorge Coroado, entende que a capacidade de sancionar as faltas deve ser entregue aos árbitros e não concorda que os lances sejam avaliados pela televisão: "Nesse caso o futebol morre. Arbitrar é difícil e está sujeito ao erro, é humano". Coroado é da mesma opinião, dizendo que as paragens no jogo que as novas tecnologias trariam em nada contribuiria para a tranquilidade do público pois o futebol é algo totalmente diferente do ténis onde já se utiliza o olho de falcão. Nota-se uma perfeita sintonia entre as opiniões, portanto.

Visão mais abrangente tem António Boronha, ex-vice-presidente da FPF. Então, as novas tecnologias seriam úteis ao futebol? "Numa resposta curta e imediata, sim!", afirma. No entanto, defende que tem que existir uma forma de as saber utilizar, sem que se prejudique o ritmo da partida e aponta três áreas de intervenção das novas tecnologias: controlo da linha de golo, "com aplicação imediata que não atrasará o jogo porque são casos ocorridos com pouca frequência"; controlo do fora-de-jogo pois trata-se de uma avaliação "objectiva e sujeita a regras objectivas com benefício claro da verdade desportiva que resultará da análise fria que a máquina ditará do geo-posicionamento dos jogadores das duas equipas em relação à linha de golo"
e, ainda, no controlo das grandes penalidades onde terá de existir, por parte do árbitro, uma clara diferenciação entre intencionalidade e intensidade, sendo que "a máquina apenas poderá funcionar como auxiliar". Para Boronha estes são os três campos em que as tecnologias seriam úteis, muito embora não haja soluções perfeitas.

Em conclusão: os erros não acabarão. Mas as novas tecnologias podem ajudar a diminuí-los. Isto se essa medida for aprovada.

5 comentários:

afectado disse...

Cheguei aqui por um post do António Boronha e gostei muito do blog. Assim como gostei das entrevistas ao Pedro Sousa (o meu relatador preferido) e ao Pedro Azevedo.

Já está no meu google reader!

Parabéns e continua.

César João disse...

Sim,muito bom o blogue,parabéns ao autor(s).Tambem vim atraves do post do Senhor Boronha.

Ricardo Costa disse...

Afectado e César,

Agradeço os elogios e o reconhecimento feitos.

Admin disse...

Parabéns ao dono deste blogue por este fantástico espaço continua
Abraço

Anónimo disse...

Antes de se decidir por tecnologias no futebol há que saber se elas são tecnicamente fiáveis, e se forem há que saber o que fazer se durante um jogo elas falharem durante algum tempo do jogo. Julgo que ainda há caminho técnico a percorrer sobre a fiabilidade dessas tecnologias. Mesmo os menos polémicos, como o olho de falcão e o chip na bola, para verem se uma bola entrou ou não na baliza, ainda falta provar que são tecnicamente 100% fiáveis.