sábado, 4 de setembro de 2010

Portugal-Chipre (4-4): O escândalo de uma equipa sem rumo

COMENTÁRIO

Portugal accionou o piloto automático e deu-se mal. Tremeu, nervoso e desorientado, num início apático, demasiado frágil e permitindo avanços cipriotas. O Chipre tem uma selecção modesta, sem estrelas e demonstra imensas fragilidades, mas é voluntariosa, tem coração e dá tudo o que tem. Faz por ser feliz, tenta o que está ao seu alcance e espera por erros alheios. Portugal é muito superior. Mas vive num turbilhão de emoções contraditórias, falta concentração, estabilidade e equilíbrio. Falha colectivamente, sobressaem as individualidades, lutando contra o Mundo, querendo resolver tudo. Portugal é, no fundo, uma equipa sem rumo: sem o líder, sem o capitão, ferida no orgulho e sem um horizonte risonho. Em casa, frente a Chipre, a selecção portuguesa foi apática, pouco audaz, nada pressionante e terminou empatada. Marcou quatro golos, sim, mas cedeu um ponto ante um adversário nada cotado. Portugal cora de vergonha.

Dez minutos: dois golos sofridos, um tento de Hugo Almeida pelo meio numa tentativa de acalmia para a selecção portuguesa e vantagem cipriota, inusitada mas feliz, no aproveitamento exímio das falhas defensivas, erros alheios que o Chipre conseguiu transformar em golos, num início de tempestade sobre a selecção portuguesa. Os golos de Aloneftis e de Konstantinou serviram de alerta, aumentaram a desconfiança, o descrédito e a incapacidade da selecção nacional. Mesmo assim, com todo o tempo pela frente para poder recuperar, Portugal, estabilizando e conseguindo ter a bola no pé, conseguiria obter rupturas na defesa cipriota, procurando criar perigo e chegar, acima de tudo, rapidamente ao golo do empate. Regressando à fórmula inicial, mesmo já com duas surpreendentes desvantagens, teria condições para partir para uma exibição sólida. Raúl Meireles, com a ajuda do guarda-redes Georgallides, empatou à meia-hora.

O golo de Raúl Meireles foi uma libertação da raiva, um reflexo de que são reais os fantasmas que assombram a selecção nacional e deixou Portugal, de novo, em igualdade. Suportando o Chipre, impedindo as saídas rápidas do adversário, seria possível superar o mau arranque e passar para a frente. O golo da vantagem chegou, com naturalidade, no recomeço, em cima dos primeiros cinco minutos da segunda parte, num golpe de cabeça de Danny. Na frente, ultrapassando a turbulência inicial e deitando para trás das costas o que de mau fizera, Portugal teria de circular a bola, tornar-se senhorial e, mostrando as diferenças entre as duas selecções, ser consistente como colectivo. Nunca o foi. Viveu de raros fogachos de Ricardo Quaresma, ruiu pela base, acumulou desatenções defensivas incompreensíveis, permitindo que o Chipre se mantivesse vivo. Okkas marcou, seis minutos depois, o terceiro golo cipriota.

A resposta chegou três minutos depois, num pontapé sensacional, concretizado por Manuel Fernandes, rematando certeiro e colocado, para colocar Portugal, pela segunda vez, na frente do marcador. O golo do médio do Valência deu estabilidade à selecção portuguesa, pareceu mais confiante, mais perigosa e ousada, conseguindo ter oportunidades e duas bolas nos ferros da baliza cipriota. Falhou, contudo, na eficácia. Abriu, ao mesmo tempo, enormes brechas naquele que era o seu ponto mais forte, viu-se encostada nos últimos minutos, inexplicavelmente sem conseguir empurrar a equipa do Chipre. Os cipriotas, lutadores até ao final, marcaram nos últimos instantes, por Avraam, após uma defesa falhada de Eduardo. Quatro golos sofridos em casa, um empate comprometedor, um resultado negro e com traços de humilhação. Anárquico, intranquilo, sem rasgo e sem dinâmica: Portugal empatou ante o Chipre!

1 comentário:

JornalSóDesporto disse...

Rico resultado deviam ter vergonha.