Há três tipos de equipas com ambição de conseguirem bons desempenhos: as candidatas, as cronicamente mais fortes e, ainda, as forças emergentes que buscam afirmação. A Alemanha estava, a 11 de Junho, no segundo grupo: não era das principais favoritas a triunfar, apesar do segundo e terceiro lugares alcançados nas duas últimas edições do Mundial, mas, pelo seu valor e pela qualidade individual dos seus jogadores, não poderia ser posta à margem. A chegada à África do Sul, sem receios, foi feita a toda a força, sobressaíndo na primeira jornada, marcada pelo pragmatismo e pelas excessivas cautelas, com uma goleada sobre a Austrália. A Mannschaft foi o completo oposto do que se vira. Para muito melhor, mostrando um futebol atacante, sem que isso o revele ingénuo, mostrando um sentido colectivo impressionante e fazendo uso da enorme qualidade individual de jogadores como Thomas Müller ou Mesut Özil.
O segundo jogo, frente à Sérvia, foi um passo atrás. Ou, pelo menos, pareceu. A selecção de Joachim Löw, quando poderia ter confirmado a qualificação para os oitavos-de-final, falhou frente aos sérvios. Perdeu, com surpresa - num jogo marcado pela sensacional exibição de Vladimir Stojkovic, guarda-redes ligado ao Sporting. O fulgor demonstrado no jogo inicial, perante uma macia selecção da Nova Zelândia, poderia ter sido, afinal, fogo de vista. A última partida da fase de grupos, com o Gana, equipa que liderava, foi o tira-teimas. A equipa alemã assegurou, como se esperava, a qualificação. O jogo com a Sérvia ficara para trás, a Alemanha, se bem que não demonstrando o poder de fogo exibido com os neozelandeses, carimbou o apuramento. Frente ao Gana, com um golo de Özil, cada vez mais uma figura de proa, os alemães ficaram também com o primeiro lugar do grupo.
A liderança alemã no seu grupo colocou a Inglaterra, uma candidata que se classificara atrás dos Estados Unidos da América, no caminho. Um embate de gigantes nos oitavos-de-final, em reedição da final de 1966 - num célebre jogo que ficou atravessado na garganta dos alemães. A vingança não poderia ter sido melhor, mais eficaz, com maior malvadez. A Alemanha venceu, reduziu a cinzas as pretensões inglesas e, numa verdadeira lição de como contra-atacar em velocidade e aproveitar o balanceamento do adversário para ser letal, conseguiu uma exibição de encher o olho. O sarcasmo, quando os ingleses a mesma sensação dos alemães há quarenta e quatro anos, foi trazido pelo remate de Frank Lampard que, apesar de ter entrado totalmente na baliza de Manuel Neuer, o árbitro não considerou como golo. Ao contrário do que em 1966 acontecera no remate de George Hurst. Vingança conseguida. E muita, muita motivação ganha.
Um dos maiores méritos desta Alemanha está em jogar um futebol simples. Não há toques desnecessários para o adepto apreciar, não há jogadas de habilidade, muito menos se espera que um qualquer jogador tenha a bola, galgue terreno e, sozinho, resolva todos os problemas. A Alemanha é o contrário disso: equipa voltada para o ataque, com um colectivo fortíssimo, encontrando espaços nas defesas contrárias e ressalvando a valia individual. O talento de Müller, de Özil, de Schweinsteiger ou de Klose é fundamental. São, contudo, jogadores que se inserem numa bela equipa e não têm, devido aos seus maiores atributos, a obrigação de marcar a diferença. Conseguem fazê-lo, sobretudo, porque não jogam sozinhos contra o Mundo. O duelo com a Argentina, um choque filosofias idênticas, seria intenso. E a hipótese de, vinte anos depois, repetir o triunfo, da então RFA, na final do Mundial de Itália.
Diego Armando Maradona nunca será um treinador com o mesmo valor que teve enquanto jogador. São poucos, aliás, os que o conseguem. No entanto, apesar de todas as desconfianças e de uma fase de apuramento muito sofrida, a Argentina destacou-se, desde logo, como uma das melhores selecções do Mundial 2010. Completou o pleno de vitórias na fase de grupos e venceu, com comodidade, o México nos oitavos-de-final. Foi, por isso, apontada como uma das principais candidatas a chegar ao título mundial. Como a Alemanha, os argentinos também jogam um futebol ofensivo, vistoso e capaz de prender os adversários. Há, no entanto, uma diferença importante: a Mannschaft é uma equipa mais organizada, mais disciplinada e mais consciente. O futebol da Argentina, à imagem de Maradona, aproxima-se da sua essência: o golo é o objectivo. E isso, agora, pode ser fatal.
Actualmente, não basta ter os melhores jogadores, jogar um futebol apelativo ou estar mais tempo com a bola em sua posse. É necessário ter inteligência e saber ler as diversas fases do jogo. É precisamente nisso que a Alemanha é perita, torna-se camaleónica e sabe o que quer e qual o caminho a seguir. A Argentina, pelo contrário, mostra ingenuidade. Já não tem Maradona, no auge, com a bola no pé esquerdo, pronto a correr e decidir. Nesta selecção, Messi nunca poderia representar para El Pibe o que ele próprio representou, no México, para Carlos Bilardo - o futebol mudou. A defesa argentina, apesar de não ter ainda sido realmente colocada à prova, já demonstrara fragilidades - Ottamendi, Demichelis, Burdisso e Heinze, tal como o guarda-redes Romero, não formam a muralha defensiva que a selecção albiceleste necessitaria. A Alemanha, pela sua rapidez e capacidade de ruptura, seria um duro teste às capacidades argentinas.
Entrar bem no jogo é meio caminho andado para vencer. Numa eliminatória, onde uma equipa sabe que irá cair, tem um tremendo efeito psicológio. A Alemanha, em vantagem desde os três minutos, enervou a Argentina, obrigou a selecção de Maradona a arriscar e colocou-se como gosta: à espera, unida como uma verdadeira equipa deve ser, para depois, em velocidade, desferir mais golpes nos argentinos. Esta Alemanha que Joachim Löw construiu é uma equipa sádica, impediosa e trituradora. Dominou o jogo, esperou pelas apostas contrárias, viu Maradona quase a lançar Javier Pastore, a vinte minutos do final, e sentenciou, com Müller em destaque e Klose na conclusão, o jogo. As pretensões argentinas morreram aí. Mantendo a gula, Fredrich e Klose, de novo ele, ainda marcaram. O resultado, pesado, bateu forte na Argentina e em Maradona - há demérito, sim, mas muito mérito do rival. A Alemanha, um vendaval atacante, sai fortalecida. Está em alta. E, agora sim, é candidata a valer.
O segundo jogo, frente à Sérvia, foi um passo atrás. Ou, pelo menos, pareceu. A selecção de Joachim Löw, quando poderia ter confirmado a qualificação para os oitavos-de-final, falhou frente aos sérvios. Perdeu, com surpresa - num jogo marcado pela sensacional exibição de Vladimir Stojkovic, guarda-redes ligado ao Sporting. O fulgor demonstrado no jogo inicial, perante uma macia selecção da Nova Zelândia, poderia ter sido, afinal, fogo de vista. A última partida da fase de grupos, com o Gana, equipa que liderava, foi o tira-teimas. A equipa alemã assegurou, como se esperava, a qualificação. O jogo com a Sérvia ficara para trás, a Alemanha, se bem que não demonstrando o poder de fogo exibido com os neozelandeses, carimbou o apuramento. Frente ao Gana, com um golo de Özil, cada vez mais uma figura de proa, os alemães ficaram também com o primeiro lugar do grupo.
A liderança alemã no seu grupo colocou a Inglaterra, uma candidata que se classificara atrás dos Estados Unidos da América, no caminho. Um embate de gigantes nos oitavos-de-final, em reedição da final de 1966 - num célebre jogo que ficou atravessado na garganta dos alemães. A vingança não poderia ter sido melhor, mais eficaz, com maior malvadez. A Alemanha venceu, reduziu a cinzas as pretensões inglesas e, numa verdadeira lição de como contra-atacar em velocidade e aproveitar o balanceamento do adversário para ser letal, conseguiu uma exibição de encher o olho. O sarcasmo, quando os ingleses a mesma sensação dos alemães há quarenta e quatro anos, foi trazido pelo remate de Frank Lampard que, apesar de ter entrado totalmente na baliza de Manuel Neuer, o árbitro não considerou como golo. Ao contrário do que em 1966 acontecera no remate de George Hurst. Vingança conseguida. E muita, muita motivação ganha.
Um dos maiores méritos desta Alemanha está em jogar um futebol simples. Não há toques desnecessários para o adepto apreciar, não há jogadas de habilidade, muito menos se espera que um qualquer jogador tenha a bola, galgue terreno e, sozinho, resolva todos os problemas. A Alemanha é o contrário disso: equipa voltada para o ataque, com um colectivo fortíssimo, encontrando espaços nas defesas contrárias e ressalvando a valia individual. O talento de Müller, de Özil, de Schweinsteiger ou de Klose é fundamental. São, contudo, jogadores que se inserem numa bela equipa e não têm, devido aos seus maiores atributos, a obrigação de marcar a diferença. Conseguem fazê-lo, sobretudo, porque não jogam sozinhos contra o Mundo. O duelo com a Argentina, um choque filosofias idênticas, seria intenso. E a hipótese de, vinte anos depois, repetir o triunfo, da então RFA, na final do Mundial de Itália.
Diego Armando Maradona nunca será um treinador com o mesmo valor que teve enquanto jogador. São poucos, aliás, os que o conseguem. No entanto, apesar de todas as desconfianças e de uma fase de apuramento muito sofrida, a Argentina destacou-se, desde logo, como uma das melhores selecções do Mundial 2010. Completou o pleno de vitórias na fase de grupos e venceu, com comodidade, o México nos oitavos-de-final. Foi, por isso, apontada como uma das principais candidatas a chegar ao título mundial. Como a Alemanha, os argentinos também jogam um futebol ofensivo, vistoso e capaz de prender os adversários. Há, no entanto, uma diferença importante: a Mannschaft é uma equipa mais organizada, mais disciplinada e mais consciente. O futebol da Argentina, à imagem de Maradona, aproxima-se da sua essência: o golo é o objectivo. E isso, agora, pode ser fatal.
Actualmente, não basta ter os melhores jogadores, jogar um futebol apelativo ou estar mais tempo com a bola em sua posse. É necessário ter inteligência e saber ler as diversas fases do jogo. É precisamente nisso que a Alemanha é perita, torna-se camaleónica e sabe o que quer e qual o caminho a seguir. A Argentina, pelo contrário, mostra ingenuidade. Já não tem Maradona, no auge, com a bola no pé esquerdo, pronto a correr e decidir. Nesta selecção, Messi nunca poderia representar para El Pibe o que ele próprio representou, no México, para Carlos Bilardo - o futebol mudou. A defesa argentina, apesar de não ter ainda sido realmente colocada à prova, já demonstrara fragilidades - Ottamendi, Demichelis, Burdisso e Heinze, tal como o guarda-redes Romero, não formam a muralha defensiva que a selecção albiceleste necessitaria. A Alemanha, pela sua rapidez e capacidade de ruptura, seria um duro teste às capacidades argentinas.
Entrar bem no jogo é meio caminho andado para vencer. Numa eliminatória, onde uma equipa sabe que irá cair, tem um tremendo efeito psicológio. A Alemanha, em vantagem desde os três minutos, enervou a Argentina, obrigou a selecção de Maradona a arriscar e colocou-se como gosta: à espera, unida como uma verdadeira equipa deve ser, para depois, em velocidade, desferir mais golpes nos argentinos. Esta Alemanha que Joachim Löw construiu é uma equipa sádica, impediosa e trituradora. Dominou o jogo, esperou pelas apostas contrárias, viu Maradona quase a lançar Javier Pastore, a vinte minutos do final, e sentenciou, com Müller em destaque e Klose na conclusão, o jogo. As pretensões argentinas morreram aí. Mantendo a gula, Fredrich e Klose, de novo ele, ainda marcaram. O resultado, pesado, bateu forte na Argentina e em Maradona - há demérito, sim, mas muito mérito do rival. A Alemanha, um vendaval atacante, sai fortalecida. Está em alta. E, agora sim, é candidata a valer.
2 comentários:
Vou ser sincero...como sempre aliás..
No inicio a equipa de Low não figurava nas que tinha previsto fazer história neste Mundial, mas esta competição é assim mesmo, a vitória traz motivação e eleva o espirito de grupo e isso a selecção germânica têm de...sobra.
Depois de golear Inglaterra e Argentina chega a vez dos Espanhois mas não acredito na velha historia de...não há duas sem três...
Mattos....paixaodabola.blogspot.com
Esta Alemanha que se cuidem.
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