quinta-feira, 8 de julho de 2010

Minha África: Espanha-Holanda a final do futebol tricotado

Holanda (pela terceira vez) e Espanha (primeira vez) ganharam justamente um lugar na final do Mundial de 2010. As duas praticam um futebol alicerçado no colectivo, com troca de bola, grande rigor defensivo e com "vedetas" que emergem naturalmente do colectivo, nunca dele se dissociando mas contribuindo com a sua classe e técnica para abrilhantar, ainda mais, um jogo que prima em privilegiar a equipa. Pelas características das duas equipas será a final do futebol tricotado e que poderá ser decidido por detalhes, inclinando-me para dar maior favoritismo a uma selecção espanhola, apenas e só porque a sua defesa é mais segura e fiável que a holandesa.

Holanda - Uruguai (3-2): Resolver e depois sofrer

Quem aos 85 minutos de jogo olhasse para o marcador e visse lá espelhado os 3-1 para os holandeses, pensaria que nada poderia ser feito para tirar a certeza aos holandeses que a vitória estava garantida. Puro engano: em poucos minutos e fazendo alarde da entrega, raça e garra que caracterizou a prestação uruguaia neste Mundial, o"chuveirinho" para a área laranja culminou num golo de Maxi Pereira e no "ai Jesus que isto nunca mais acaba", que não se ouvia, mas se pressentia na cabeça dos jogadores e responsáveis técnicos da selecção holandesa.

Foi mais forte a selecção holandesa que marcou cedo - o remate de Van Bronckhorst é candidato ao título de melhor golo do Mundial - que depois descansou e não dando grandes espaços ao ataque uruguaio, a sentir a ausência de Suarez, deu espaço para Forlán empatar uma partida que estava lenta, táctica e sem interesse. Mudou na segunda parte o técnico holandês, fazendo o que havia feito frente ao Brasil: desfez o duo de trincos, ficou só com Van Bommel, e fez entrar mais um médio criativo, Van der Vaart. Dois golos em três minutos, Sneijder e Robben, marcaram a diferença levando o jogo para o tabuleiro da melhor equipa. A parte final do jogo foi de espantar quem gosta de futebol, sendo de enaltecer a raça de uma equipa que acreditou até ao fim, mesmo sem Suárez e sem Forlán, que Tabárez já havia substituído.

Destaque para o colectivo das duas equipas mas realce para Sneijder, cinco golos na competição e uma época inolvidável de um proscrito do Real Madrid, Robben, o "rapaz de cristal" foi outro renegado madrileno, e para Forlán, a prova provada que as vedetas cabem perfeitamente dentro do colectivo.

Alemanha - Espanha (0-1): Quem tem bola ganha

Ter a posse de bola é mais que meio caminho andado para a vitória. Essa foi a razão do sucesso de uma equipa espanhola, que com um emaranhado de passes foi tecendo a teia onde enredou o futebol alemão. A posse de bola, a sua circulação e a pressão imediata para recuperar a bola perdida foram a base para a vitória espanhola. A Espanha deixou Torres no banco e optou pelo jovem Pedro no apoio a David Villa, o resto manteve-se inalterável. A Alemanha não podia contar com o ala/avançado Müller e a opção recaiu em Trochowski. O jogo apontava para a posse de bola de Espanha e uma Alemanha a postar na sua arma mais forte, as saídas rápidas e apoiadas para ao ataque.

Só que quem tem bola manda no jogo, a Espanha tinha-a. Quando a perdia, exercia uma pressão alta intensa que não deixava a Alemanha sair em jogo organizado quanto mais em contra-ataque. Essa foi a base para anular o poderio alemão, o resto foi conquistado à base do seu futebol tricotado, de muita paciência e persistência, para saber aproveitar as oportunidades que lhe surgiriam pela frente. Aproveitou a garra de Puyol para de cabeça fazer o 1-0 e garantir um lugar na história do futebol espanhol, a primeira presença numa final do Mundial.

O resto da história escreve-se no Domingo, ficando por saber se no lugar de destaque fica uma Holanda, que marca presença na final pela terceira vez (costuma dizer-se que à terceira é de vez) ou a Espanha, que em caso de vitória pode juntar o título de campeã do Mundo ao da Europa, conquistado em 2008.

Até lá com um abraço.