
Mantendo aquela típica calma, nem que seja só de aparência, os adeptos italianos devem ter recuado até 1982. Recordar esse ano, nem que fosse apenas para fazer aconchegar o ego, poderia servir de motivação. Nesse Mundial de Espanha, num grupo com Polónia, Perú e Camarões, a Squadra Azzurra, então comandada por Enzo Bearzot, somou três empates. Mas passou aos oitavos-de-final. E chegaria, sob a batuta de Paolo Rossi e ainda com Bruno Conti e Dino Zoff, ao título mundial. Os mais pessimistas, contudo, terão pensado que o fim da linha estaria próximo. A Itália, com o seu cinismo e matreirice que deixa os outros ganharem fulgor para no momento certo desferir o golpe de misericórdia, está diferente neste Mundial da África do Sul. Menos pragmática, menos coesa, menos letal. Havia motivos para desconfiar. E, ao mesmo tempo, acreditar. O jogo com a Eslováquia ditaria a sorte.
Com o Paraguai na frente, italianos, eslovacos e neozelandeses chegaram à última jornada com possibilidades de seguir em frente. A Itália, campeã mundial, ficou colocada a meio caminho entre dois extremos: a passagem ou um abandono inglório. Frente à Eslováquia, quando seria o momento de se agigantar e puxar dos galões, tentou no início, mas, com o tempo, esmoreceu e deixou-se guiar ao sabor das ondas do futebol eslovaco: foi uma equipa amorfa, apática e inofensiva. A selecção italiana, com Marcello Lippi sempre apreensivo, teria de jogar mais, correr mais e rematar mais. Ter uma atitude competitiva bem diferente para provar que era a verdadeira Itália. A Eslováquia, bem preparada, baixou o ritmo do jogo e, conhecendo as suas limitações, tentou a sua sorte. Conseguiu marcar. E ampliar a vantagem. Duas vezes por Vittek. A Itália apenas apareceu no final. Em dez minutos tentou mudar tudo. E os outros oitenta?...
Se o tivesse conseguido, a selecção italiana teria feito jus ao seu historial: mais morta do que viva, deixando o adversário rir às suas custas, aparecendo no final para acertar contas e ficar por cima. Mas não conseguiu. Esteve perto, é verdade, mas só isso. A entrada de Fabio Quagliarella, ao intervalo, abanou a equipa. Depois de uma jogada sua, De Rossi reduziu. Os italianos, antes descrentes, ganharam alguma esperança. Contudo, aproveitando o balanceamento da Itália, a selecção eslovaca, com grande pulmão e atitude, voltou a fixar a vantagem - um erro crasso italiano e um golo de Kopunek. De pronto, já com pouco oxigénio disponível, Quagliarella voltou a encurtar a distância com um remate majestoso. O avançado do Nápoles entrou tarde para quem tinha tanto para dar. Pelo meio marcou ainda um outro golo, que daria o empate a dois, anulado por Howard Webb. Mal anulado. Foi castigo. Severo mas merecido.
A França, finalista vencida do último Mundial, caira anteontem. Envolta em polémica, sem boas recordações para guardar, numa panóplia de erros. Dois dias depois, num registo semelhante, a campeã Itália também regressa a casa: último lugar do grupo, atrás de Paraguai, Eslováquia e Nova Zelândia, com apenas dois pontos somados. Nunca antes, em nenhum outro Mundial, acontecera que, logo na primeira fase, campeão e vice-campeão tenham caído - acresce ainda que não venceram qualquer jogo. Italianos e franceses pagaram pelo mau futebol, pela falta de lucidez, fluidez e velocidade. Em ambas as selecções faltou um líder, alguém que fosse capaz de levar a equipa consigo, abrindo caminho ao triunfo, desbloqueando o resultado. A Itália precisaria de Pirlo nas melhores condições. Uma lesão impediu-o. E as soluções fracassaram. Arrivederci!
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