domingo, 19 de julho de 2009

Tour de France: Alberto a contar até a Paris

Deram alvíssaras os adeptos de ciclismo, já sem mais paciência para tanto calculismo e medo de arriscar. Foi preciso esperar até à décima quinta etapa do Tour de France, à chegada a Verbier, para isso acontecer: Alberto Contador deixou-se de pragmatismos e atacou a valer. Viu a posição dos adversários e arrancou, imparável, rumo à meta. Já tinha deixado uma boa amostra nos Pirinéus, aliás, numa resposta a um primeiro abanão de Cadel Evans. Agora, ganhou isolado, chegou à camisola amarela e firmou, de uma vez por todas, que é ele o líder da Astana. Quem conseguirá fazer-lhe frente?

Tal como um jogo de xadrez em que os jogadores precisam de pensar bem naquilo que querem fazer, sem dar nenhum passo em falso e com todo o calculismo do planeta, este Tour tem sido pragmático demais. A metáfora do xadrez é perfeita. Facilmente se comprova que a colocação das etapas de alta montanha na última semana obrigam a que existam cautelas. Os próprios ciclistas admitiram que não é bom para o espectáculo mas é necessário se pretendem bons resultados. Uma boa corrida é feita de uma boa táctica. Hoje em dia, é cada vez mais difícil vermos espectaculares arranques como outrora. Há muito mais jogo estratégico.

Esta tem sido uma prova completamente anormal. Há bons exemplos disso: a vitória de Nicki Sorensen, na décima segunda etapa, depois de o pelotão ter recusado juntar-se ao grupo da frente para uma chegada ao sprint e, logo no dia seguinte, Heinrich Haussler, um sprinter, que venceu numa etapa que incluía subidas complicadas. Ah, é verdade: aquela etapa, de autêntico cicloturismo, em que deu para fazer de tudo um pouco e serviu de boicote devido à proibição da utilização dos rádios. Foi quase como nos Campos Elísios, no derradeiro dia.

Os Pirinéus, em tempos tão decisivos, acabaram por ser uma desilusão. Querem mais um exemplo de como esta corrida não é como habitualmente? Pois bem: a subida para o Tourmalet, um local mítico do Tour de France que por norma causa grandes dificuldades, foi ultrapassada por um pelotão composto por sessenta a setenta ciclistas. Pelotão, esse, que tem sido sempre controlado pela Astana. Com o ritmo que lhe convém, sem que ninguém (ou quase ninguém porque, nestes últimos dias, a Saxo Bank já se mostrou) se intrometa. A equipa cazaque tem sido a comandante.

Voltando a Contador, o homem do momento. Está à frente e tem um minuto e trinta e sete segundos de vantagem para Lance Armstrong, seu colega de equipa. Neste momento, resta aos outros candidatos atacar essa liderança, sabendo que não será nada fácil: Carlos Sastre e os irmãos Scheck são os rivais, embora também se possa colocar Cadel Evans nesse pequeno grupo. E, claro, Armstrong que, apesar dos seus trinta e sete anos e três de ausência, não pode ser descartado. Ele, afinal, venceu o Tour por sete vezes e tem dado boa conta de si no regresso.

A última semana do Tour de France'09, será a mais dura das três: logo após o dia de descanso de hoje, há duas etapas consecutivas de alta montanha; ainda o contra-relógio individual e, no penúltimo dia, a subida ao Mont Ventoux. Existem diversas oportunidades para destronar Alberto Contador, é certo, mas o espanhol já deu uma prova cabal da sua classe. A Astana de Sérgio Paulinho (além dos dois primeiros, tem Andreas Klöden na quarta posição) terá de resistir a todos os ataques que irá sofrer. Será difícil retirar a amarela a Alberto mas o contador só encerra em Paris.

Acompanhamento dos melhores momentos do Tour'09

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