quinta-feira, 31 de julho de 2008

Apito Dourado: a fruta para Paixão

Apito Dourado. O processo que marca para sempre o futebol português. Decidi, então, remexer no caso, com base no livro do jornalista Eugénio Queirós, "Apito Dourado - Toda a história". Para, também eu perceber melhor isto tudo. Começo pelo "caso da fruta".

JOGO: FC Porto - Estrela da Amadora (2-0)

ÁRBITROS: Jacinto Paixão, Manuel Quadrado e José Chilrito

CASO: Pinto da Costa terá alegadamente oferecido prostitutas ao trio de arbitragem a fim de um resultado favorável ao FC Porto, usando o empresário António Araújo como intermediário.

ARGUIDOS: Pinto da Costa, Jacinto Paixão, Manuel Quadrado, José Chilrito, António Araújo e Reinaldo Teles.

INCIDÊNCIAS:

ANTES DO JOGO

  • A meio da viagem desde Évora (onde reside) Jacinto Paixão telefona a António Araújo. Segundo o Ministério Público com o intuito de pedir prostitutas.
  • No seguimento desta chamada, António Araújo telefona a Pinto da Costa - cerca das 13h – e informa o presidente do FC Porto que lhe pediram “fruta para dormir”. Pergunta se tem autorização para levar a tal “fruta” ao que Pinto da Costa responde que esta já foi enviada. Araújo explica que fala “do homem que vai estar consigo logo à noite”. Pinto da Costa manda seguir. Usam-se ainda as expressões “café” e “café com leite” que ao que o MP apurou se referem à cor da pele das prostitutas.
  • António Araújo liga a Cláudia, uma prostituta brasileira.
  • Até às 19.15h, hora do jogo, sucedem-se os telefonemas. Araújo fala com Paixão. Araújo telefona para Cláudia. Depois é Pinto da Costa quem telefona a António Araújo. Araújo volta a falar com Jacinto Paixão e por fim fala novamente com Cláudia.
  • Durante o jogo não existem mais telefonemas

DEPOIS DO JOGO

  • António Araújo encontra-se com Cláudia no bar “Gold”. Depois disso, Araújo acompanhado de um individuo não identificado, Cláudia e as três prostitutas (Celina, negra; Daniele, branca e Emanuele, mulata) vão para o Hotel Tivoli, no Porto.
  • A equipa de arbitragem janta na Marisqueira de Matosinhos. Pinto da Costa também lá está, mas noutra mesa. A PJ descobre um pagamento efectuado por PC na ordem dos 70€. O presidente do FC Porto utiliza este montante para referir ser impossível pagar o jantar dos árbitros.
  • António Araújo desloca-se com as suas acompanhantes para o Hotel Meridien onde estava instalada a equipa de arbitragem (cerca das 00.30h);
  • Araújo paga 150€ a cada prostituta e, impaciente, telefona três vezes a Jacinto Paixão;

REACÇÕES:

  • Na primeira vez que foi ouvido, Paixão confessou que foi guiado até ao hotel por Reinaldo Teles, que acusa de ter mentido. Além disso, disse nunca ter suspeitado que o jantar e as prostitutas fossem uma oferta do FC Porto, pensando sempre tratar-se de uma gentileza de Luís Lameira (também árbitro e amigo de Paixão). Mais tarde numa entrevista à TVI negou qualquer envolvimento com prostitutas e disse ter sido vítima de uma cilada e que Pinto da Costa e António Araújo deviam ser punidos. Contradições e mais contradições; Duas das prostitutas reconheceram dois dos três árbitros, no caso Jacinto Paixão e Manuel Quadrado.
  • Já Pinto da Costa disse haver uma dívida de 130 mil dólares do FC Porto a António Araújo e era sobre esse pagamento que tinham falado. Quanto à sigla “JP” (usada na conversa com Araújo) disse tratar-se de Joaquim Pinheiro, irmão de Reinaldo Teles e não do árbitro Jacinto Paixão. Segundo PC as prostitutas eram para o tal Joaquim Pinheiro e foi usado um discurso codificado pois receava que estivesse a ser escutado.
  • Carolina Salgado decidiu acusar Pinto da Costa dizendo ter presenciado um telefonema entre o presidente do FC Porto e o empresário António Araújo onde falaram de “fruta para dormir” (por volta das 13.00h). Sabe-se agora que o testemunho de Carolina Salgado é falso. Tudo porque a ex-companheira de Pinto da Costa telefonou às 11.30h a dizer que ia ter com a mãe e voltou a telefonar às 15.02h dizendo que ainda estava no cabeleireiro. Pelo meio, Pinto da Costa recebeu uma chamada às 12h05 para ir almoçar com dois amigos a um conhecido restaurante do Porto. Sendo assim, Pinto da Costa e Carolina só se encontraram ao final da tarde, já no Estádio das Antas, onde o FC Porto jogou com o Estrela.

RESULTADO: Com base no relatório dos peritos em arbitragem que não detectaram qualquer erro grave a assinalar ao árbitro, no falso depoimento de Carolina Salgado e no facto de nem ter sequer ficado provado que “JP” significava mesmo Jacinto Paixão, o juiz do Tribunal de Instrução Criminal do Porto, Artur Ribeiro, decidiu não levar o caso a julgamento.

SENTENÇA: Todos os arguidos foram ilibados e o caso arquivado.

(Baseado no livro "Apito Dourado - Toda a história", do jornalista Eugénio Queirós)

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