domingo, 7 de novembro de 2010

A preparação de um árbitro de um clássico

Onze jogadores de cada lado. Uns mais experientes, habituados a grandes jogos, com capacidade mental para se abstrairem, apenas se concentrarem no essencial e se isolaram no seu próprio mundo. Outros estão mais inseguros, ainda tremem, acusam a responsabilidade. Quando o jogo começa tudo isso desaparece. Só interessa fazer bem, jogar, ganhar, ser feliz. Ter confiança em como as coisas vão resultar. Mas um clássico é sempre diferente: tem outra carga, outro mediatismo, a margem de erro está no zero e ninguém quer ver o adversário rir às suas custas. É um jogo que pode até contar para pouco, ser a feijões, mas há que o ganhar. É uma questão de prestígio, de orgulho, de honra. Não é o caso deste: tem o carimbo de importante, de altíssimo risco, pode ser fundamental para a decisão do título, sim, mesmo sendo à décima jornada. E um árbitro? Como se prepara, como sente, como vive um clássico?

Jorge Coroado foi um dos principais árbitros portugueses na década de noventa. Ganhou o estatuto de internacional, dirigiu jogos europeus, teve o seu prémio numa final da Taça de Portugal e dirigiu, por cinco vezes, o derby, escaldante e palpitante, entre Benfica e Sporting. Apenas por uma vez, contudo, esteve num Benfica-FC Porto. Foi em Abril de 1999, num jogo que terminou empatado a um. Diz-se que é destes jogos, com pressão e exigência, que os árbitros, como os jogadores, mais gostam. Coroado concorda: "Tendo, embora, muita experiência era sempre com renovada expectativa que recebia a nomeação. Todos nós árbitros, aqueles que gostam verdadeiramente da arbitragem, não fogem à regra de gostarem de arbitrar jogos de cariz semelhante mesmo que contem com muitos outros de espírito idêntico", adianta, questionado pelo FUTEBOLÊS tendo por base o jogo de logo mais (20h15).

Um jogo com tais proporções, sempre vivido com a máxima adrenalina, obrigará um árbitro, devido à tremenda exposição a que está sujeito, a modificar a sua semana? "Em boa verdade nunca alterei os meus ritmos, hábitos, costumes e rituais", assegura o ex-árbitro internacional. "Sempre me preparei com o mesmo rigor e empenho, sempre tratei do que tinha de tratar. Continuava a viajar de comboio para o trabalho, almoçava no mesmo restaurante, convivia com colegas e amigos do mesmo modo. A única diferença era receber mais chamadas da comunicação social", atira Jorge Coroado. Existe responsabilidade, pressão e vontade de decidir com assertividade. Isso não influencia, segundo a experiência de Jorge Coroado, a semana do árbitro: tem a sua actividade profissional, estuda as equipas, prepara-se convenientemente e descontrai. Pedro Proença, o melhor da época passada, estará hoje no Dragão. Traquejado e com credenciais para se impor.

Um árbitro está muito mais exposto num duelo entre dois concorrentes ao título. Os seus erros podem ganhar proporções gigantescas, revisitar o passado e transformar tudo o resto num inferno. O jogo é vivido com enorme paixão, é exacerbado e levado ao extremo. Jorge Coroado, recordando o tal clássico que arbitrou entre águias e dragões, o único da sua carreira, recorda-se de um caso caricato: "Foi o primeiro do Deco com as cores do FC Porto.
A determinado momento, quando o dito jogador se preparava para bater um canto, atiraram-lhe um sapato castanho que, pelo estado da sola, era novo. Foi giro verificar como a emoção do momento é capaz de retirar lucidez a um, se calhar, pacato cidadão a ponto de ele se privar de uma peça de vestuário", conclui Coroado. No Dragão, no clássico apaixonante, os votos são os mesmos de sempre: futebol total, bem jogado e com espectáculo, numa noite tranquila do árbitro.

1 comentário:

JornalSóDesporto disse...

O árbitro curiosamente foi mal nomeado porque ao que consta é do Benfica logo num lance polémico a seu favor nunca vai marcar nada. Se bem que o Benfica faciltou-lhe demais a vida ao entrar demasiado adormecido e deu tudo para o Porto vencer com as invenções e falta de classe das contratações de Jesus.