sexta-feira, 9 de abril de 2010

Liga Europa: As Torres fundamentais no xadrez de Benítez

COMENTÁRIO

Sofrimento, coragem, audácia. Ingredientes essenciais para o Benfica sair de Liverpool com o carimbo para as meias-finais da Liga Europa estampado no passaporte europeu. Sofrimento para resistir ao assalto dos reds, coragem para não temer o ambiente infernal de Anfield Road, audácia para não cair na tentação de se fechar em torno da sua área e deixar o ataque de lado. O Benfica levava vantagem. Um golo a mais. Mas um golo sofrido na Luz. Vantagem agridoce, matreira e viperina. Sem margem de segurança. Seria demasiadamente arriscado tentar defendê-la em casa de um opositor forte, apesar das dificuldades que tem sentido no seu campeonato, empurrado por um estádio lotado. Os encarnados estavam prevenidos. Tiveram uma entrada forte, roubando a bola ao Liverpool, jogando perto da área de Reina. Essa era a mentalidade exacta para um jogo assim. Marcar primeiro seria ouro sobre azul.

Domínio territorial, mais bola, poucas oportunidades de golo. Resume-se assim o Benfica dos primeiros vinte minutos. Aos poucos, contudo, o Liverpool foi reagindo. Começara por ver o que queriam os encarnados, perdendo na entrada, era tempo de assumirem o jogo. Fernando Torres, bem identificado como perigo número um, ameaçou por duas vezes. À terceira veio o golo. Perto da meia-hora, sempre com o Liverpool em ascenção, Dirk Kuyt marcou. Na pequena área, perante a passividade de Júlio César. O lance foi confuso, a equipa de arbitragem baralhou-se, anulou e depois validou. Foi legal. E valeu mesmo. Os reds ficaram na frente da eliminatória. O primeiro objectivo, o de colocar o Benfica a correr atrás da bola para mudar o resultado, estava alcançado. Manter a estabilidade, recuperar a entrada forte, combater a superioridade que os ingleses haviam alcançado: o Benfica tinha de preparar a resposta.

Há, em futebol, uma máxima que diz que a melhor forma de conservar uma vantagem é ampliá-la. O Liverpool levou-a a peito. Oito minutos após ter virado a eliminatória, fez o segundo golo. Jogando prático, simples e eficaz: Steven Gerrard lançou a bola em profundidade para as costas dos centrais do Benfica, Lucas Leiva foi lesto, entrou na área, sentou Júlio César e rematou certeiro. A defesa encarnada abrira uma brecha no centro. Jorge Jesus quis travar Dirk Kuyt, por isso colocou David Luiz sob a esquerda no início. Mas arriscou ao desfazer a dupla do jovem brasileiro com Luisão. Mudar rotinas que tão bons resultados têm dado pode ser fatal. Também agora o foi. A equipa sentiu a falta da consistência defensiva habitualmente transmitida. Além disso, talvez devido ao cansaço acumulado, Maxi Pereira foi substituído por Rúben Amorim na direita. Jesus mudara a base. Apenas Luisão estava no seu sítio.

Antes do intervalo, o Benfica teve a sua melhor oportunidade para marcar: jogada às três tabelas, cruzamento de Sidnei, toques da defesa do Liverpool, Cardozo tão perto de um desvio para a baliza de Pepe Reina. Seria um momento importante. Não conseguiu. Chegou à segunda parte necessitado de mudar, ganhar maior acutilância, colocar em sobressalto a também modificada defesa do Liverpool (Agger jogou na esquerda, na vaga de Emiliano Insúa, juntando-se Kyrgiakos a Jamie Carragher no centro). O meio-campo encarnado estava, no entanto, bem manietado. Lutava mas era inconsequente. O Liverpool foi cínico, apostou no contra-ataque. E chegou ao golo. Um hino ao futebol, simplicidade triunfante para responder a um lance na área de Reina: Benayoun colocou a bola no lado direito, Kuyt cruzou de primeira para o segundo poste, Torres finalizou na pequena área. O Benfica estava encurralado.

Ainda havia esperança num golo que relançasse a eliminatória. Era preciso agir e jogar tudo o que havia: Kardec entrou para o lugar de Carlos Martins. Aos setenta minutos, Óscar Cardozo dispôs de um livre. Pousou a bola, olhou para Reina, pensou que podia dar alento aos encarnados. Rematou rasteiro, seco, Gerrard saltou da barreira, a bola entrou junto do guarda-redes espanhol. Ainda era possível. Mais um golo daria o apuramento ao Benfica. Cardozo, num livre em tudo idêntico, teve nova oportunidade. O remate bateu em Fernando Torres e saiu ao lado. Jesus preparava o assalto final: jogo directo para a área inglesa, bolas bombeadas à procura de um tento, tal como em Marselha. Mas Júlio César lesionou-se. Foi assistido, perderam-se segundos vitais, entrou Moreira. E antes que algum fantasma aterrasse em Anfield, até trazido de Old Trafford, Torres fechou o jogo. O Benfica cai. De pé.

1 comentário:

Jornal Só Desporto disse...

Jorge Jesus inventou um pouco.