segunda-feira, 18 de maio de 2009

Figo, capaz de criar

Já dizia António Botto que o mais difícil é criar. No futebol, como em tudo, é isso mesmo o mais difícil: criar, ser imaginativo, conseguir coisas novas. O futebol é uma arte. Luís Figo, um artista. Tudo na vida tem um fim, porém. Figo, aos 36 anos, achou que chegava a hora de parar. Colocar um ponto final numa carreira de quase vinte anos, sempre ao mais alto nível, recheada de enormes sucessos. Depois de Eusébio, um ícone, e antes de aparecer um tal de Cristiano Ronaldo foi eleito o melhor jogador do Mundo. Estava no topo. Assim continuou mais oito anos. Até agora. Acaba com glória, como sempre quis, jogando no Inter de Milão.

Somou títulos por onde passou. O tetracampeonato italiano, conquistado pelo Inter, comprova-o bem. Faltou-lhe, talvez, jogar em Inglaterra, no futebol mais apaixonante do planeta. Não o fez por opção, certamente. Despontou no Sporting, com aquele ar jovial e descontraído mas já com enorme talento. Em 1995 chegou a Barcelona para viver os melhores momentos da sua carreira. Tornou-se um jogador fundamental, precioso nos cruzamentos milimétricos - o seu forte! - para Ronaldo, também ele no seu apogeu. Foi idolatrado pelos adeptos blaugrana. Até ao Verão de 2000, altura em que se transferiu para o Real Madrid. Que traição! Um símbolo do Barcelona rumo a Madrid. Os catalães não perdoaram, chamaram-lhe pesetero. Figo não abalou ao contrário do Barça, o que constituiu mais um motivo para a ira dos adeptos. Na capital espanhola, continuou aquilo que tinha conseguido na Catalunha. Ou melhor, superou: foi Bola de Ouro em 2000 e eleito Melhor do Mundo em 2001. Tocou o céu. Apesar disso, o Figo de Barcelona será para sempre lembrado como o melhor. Por aquilo que jogava e fazia jogar.

Tornou-se num dos galácticos que Florentino Pérez juntou no Real Madrid. O clube perdeu alguma identidade, não se deu bem com tantas estrelas juntas. Figo saiu, ao fim de cinco anos tantos quantos havia estado em Barcelona, com o sentido de dever cumprido. Decidiu experimentar um novo campeonato, o italiano. Rumou ao Inter de Milão. Já sem o mesmo fulgor de Barcelona e dos primeiros tempos em Madrid mas com a mesma genialidade e com mais experiência. É isso que fazem os grandes jogadores quando já não conseguem jogar a cem-à-hora, usam a experiência acumulada. Sagrou-se tricampeão com Roberto Mancini - um deles conseguido na secretaria devido ao caso de corrupção da Juventus, ok... -, pensou acabar mas ficou com Mourinho. Para somar mais um título. E acabar em grande.

Na Selecção, Luís Figo foi um dos mais bem sucedidos jogadores da Geração de Ouro, a par de Vítor Baía, Rui Costa e João Pinto. Esteve em todas as grandes provas de selecções desde 1996. Antes disso já havia sido campeão de juniores com Carlos Queiroz. O Euro 2000, em que Portugal apenas foi parado por um penalty maldito marcado por Zidane, marcou os portugueses. Sobretudo o jogo de abertura, em Eindhoven, frente à Inglaterra. Portugal perdia por 2-0. Deu a volta e bateu os ingleses por 3-2. A reviravolta foi notória e na memória ficou também o golo de Figo. Golo sensacional, delicioso, daqueles de tirar o chapéu. David Seaman, o guarda-redes inglês, limitou-se a apreciar o momento. Sem se mexer.

São estes momentos, de pura magia e arte, que tornam o futebol tão cativante. Figo era um desses jogadores, capazes de inventar um lance genial e resolver o jogo. Esse golo em Eindhoven foi decerto o mais marcante. É claro que existiram mais mas nenhum outro trouxe tanta emoção, teve tanta simbologia. Instantes que perdurarão para sempre. Felizmente existe o Youtube para que os possamos ver sempre que queiramos. E para recordar os bons momentos que Luís Figo nos deixou. Porque ele era capaz de criar num simples toque.

Sem comentários: