quinta-feira, 28 de julho de 2011

Opinião: A necessidade de viajar para a Europa

Para viajar basta existir.

Vem, bandido, vem sambando pra ficar com a bichinha. Futebol de rua, ritmado pelo samba, dois pés trocados, fintas, jogo total e divertimento puro. Gozo máximo. A vitória está na habilidade, na forma como a bola é tratada. Eh, mané, você tá sendo humilhado. Todos se divertem. Naquele campo improvisado, naquelas linhas feitas com areia, naquele pó que sobe depois de cada passo, o talento espalha-se, toma conta de tudo, não há cadeados nem tácticas. A essência do futebol, o sonho de um dia poder aplicar aquele dom, aquela vontade, tantos diamantes em bruto. Sem rédeas. Libertinos e rebeldes. Cara, mamãe tá chamando pra jantar. No outro dia há mais. À mesma hora.

O Brasil sempre foi uma mina de ouro. Talento, arte, técnica, os melhores habilidosos do planeta, os jogadores mais entusiasmantes. Têm ritmo, sabem o que fazer à bola, tratam-na como amiga, são melhores que os outros. Só que aquele futebol de rua, sem regras ou amarras, começa a saber a pouco. O talento é demasiado para jogar entre amigos, para ganhar umas apostas com os irmãos de sempre. Abre-se a porta: Europa. Mamãe, tchau, vou lá pra Europa, quero o meu sonho. É uma espécie de El Dorado. Agora é preciso aprender regras, aprender posicionamentos, aprender táctica, aprender como se joga. Agora há amarras e o samba não chega. Na Europa joga-se à Paolo Rossi, seu Telê sabe...

Muitos não se adaptam. Droga, cara, como é possível? Têm talento mas nunca deixam o estado bruto. Não limam arestas, não assimilam a forma de jogar e perdem-se. O talento, aquele perfume das ruas, continua lá. Pegam na bola, levantam-na, passam-na para trás da orelha, baixam-na pelo pescoço e voltam a colar-se no pé. Delicia pela facilidade e pela arte. Aquilo, sim, é verdadeira arte, que pena não puder ser totalmente aplicada. Mas há quem consiga. Mamãe, como diz seu Vinicíus de Moraes,
por mais longa que seja a caminhada o mais importante é dar o primeiro passo. Por isso há que acreditar, que sonhar, que ousar e que procurar um lugar. Ronaldo, Rivaldo, Romário, Ronaldinho conseguiram depois de Yeso Amalfi ter sido o primeiro a correr Mundo. Por que não eu?, pensa Neymar.

Os brasileiros sentem falta do futebol de outros tempos. Da magia que dava títulos. Do deslumbramento aliado às conquistas. Agora está diferente. Mudou e não é possível jogar como antes. Querem a todo o custo voltar a ter um jogador entre os melhores do Mundo, alguém que supere Messi e Ronaldo, o Cristiano, alguém que prove que o espectáculo, os dribles, a pureza da técnica é a verdadeira essência do futebol e é uma boa forma de lucrar. Apostam tudo em Nylmar. Um menino que saiu das ruas, que leva todo esse génio nos pés, que finta como poucos, é um alvo apetecível. Só que Neymar ainda joga sozinho, ainda abusa do individualismo e ainda tem pouca noção do colectivo. Falhou na Copa América. Ele e todos os outros.

Neymar tem dezanove anos. E talento, génio, arte, habilidade, técnica: é um portento. Só que em bruto. Pode ser o melhor do Mundo? Pode. Mas tem que sair para a Europa, tem que limar arestas, tem que aprender como se joga futebol por cá e tem que enriquecer a sua cultura táctica. Tem que juntar inteligência à magia. Aí, poderá ser um novo Ronaldo, o Nazário, que desperte os brasileiros. A fórmula é esta: o Brasil produz, a Europa potencia, o jogador cresce e todos ganham.
Será?

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