segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Opinião: Vamos ser heróis por Portugal



Dia 19 de Setembro de 2010.

O tempo escreveu a história do Mundo. Os homens ditaram a sorte da Terra. Impérios, nações, caíram bem fundo, desde o começo até à nossa era. Já não há heróis, heróis que consigam levantar o moral dos impérios caídos. Através dos tempos, guerras e impérios acabaram com povos de vida pacífica. (...) Ainda virá o dia em que se levantará um homem muito forte que todos derrotará. Todos se voltarão contra ele mas o Mundo cairá das garras do tirano, é o ódio pela paz. Já não há heróis, heróis que consigam levantar o moral dos impérios caídos.
Vamos ser heróis, heróis nesta guerra, acabar com os loucos que destroem a Terra.

O acumular de dias monótonos, sem rasgo e traços de gala, num registo que podia ser brilhante mas se ficou pelo mínimo e foi pintalgado de momentos de polémica acesa, aniquilaram as condições de trabalho de Carlos Queiroz. O seleccionador fechou-se no seu próprio Mundo, isolou-se, desapoiado, ficou entregue à sua sorte. Não teve o escudo que precisava. Ao mesmo tempo foi imprudente: atacou, abusou da sorte, colocou-se a jeito. Fez tudo ao contrário para quem está numa posição delicada, frágil, à mercê de quem o pretende atacar. Os homens revoltaram-se, colocaram o orgulho à frente de tudo, Queiroz perdeu as condições para o futuro e foi teimoso, enquanto a Federação, num pára-arranca inquietante e repulsivo, tardou em tomar uma decisão. Deixaram a selecção entregue à sua sorte. O tempo chegou ao fim.

Dois resultados fizeram corar de vergonha. Alerta máximo, escalada a montanha de problemas, enfim uma decisão a tomar. Impérios, nações, caíram bem fundo, desde o começo até à nossa era. Carlos Queiroz abandonou a selecção. Nem poderia ser de outra forma. O treinador transformara-se num problema: para os patrões, para os jogadores, para os adeptos. Não interessa discutir o passado, as causas, aquele típico diz que disse, as teorias da conspiração. Queiroz não podia continuar à frente de Portugal e ponto final. O império português, antes passando por cima de um completo fracasso asiático para se colocar no bom caminho que iniciara na entrada no novo século, caiu com estrondo. O povo português desligou-se da selecção, tirou a bandeirinha da janela, perdeu a fé. Precisa de um herói com urgência.

Uma mudança, um novo seleccionador, novos ares e siga a tropa. Não é assim tão fácil. Portugal está em baixo. Nos resultados, na confiança e nas perspectivas para o futuro. Gilberto Madail, caminhando para o fim, anunciando eleições, vendo a porta de saída aberta, sendo que muitos a indicam como uma necessidade, tenta um último golpe de asa, procura o tal herói, o tal que seja capaz de levantar o moral e derrotar o tirano. Olha para Espanha, vê lá José Mourinho: é português, é o mais melhor, é o mais especial, por que não? Tem contrato com o Real Madrid, é pago a peso de ouro, nunca aceitará. Insiste-se. Não se perde nada, já está no vermelho. Dois jogos, senhor herói, pode ser? Mourinho nem sim nem sopas, não vira as costas mas não aceita, delega no Real Madrid. A resposta sai forte, pujante, atemorizadora: não!

A ideia de Gilberto Madail tem contornos de desespero. Deixar Portugal, entrar num avião rumo a Espanha, falar com Mourinho, colocar-lhe paninhos quentes e esperar por um entendimento. Mas é uma boa ideia. Portugal e Madail nada têm a perder. Já perderam. Mourinho é o melhor. É o que se necessita. Pode ser o herói que todos derrotará. É essa, pelo menos, a esperança, remota mas uma esperança, do presidente da Federação. A ideia não tem que enganar: José Mourinho seria contratado para dois jogos, nada interferiria com o Real Madrid, porque os campeonatos estarão em pausa... por causa das selecções, Portugal venceria a Dinamarca e a Islândia, ganharia um novo fôlego e o novo treinador, escolhido para completar a caminhada, teria melhores condições e a pressão seria menor. O efeito do herói Mourinho seria óptimo.

Já não há heróis, heróis que consigam levantar o moral dos impérios caídos. Vamos ser heróis, heróis nesta guerra, acabar com os loucos que destroem a Terra. Mourinho não é excepção, não é herói, mas tentaria ser importante. Não pode, o patrão não o deixa, é um assunto demasiado sério para ser encarado como uma equação fácil. Por isso mesmo é necessário que nasçam outros heróis, que unam esforços, que consigam uma força colectiva e forte, para vencer a guerra portuguesa, conseguindo colocar a selecção nacional no trilho certo em direcção ao Campeonato da Europa, passando por cima das dúvidas, das desconfianças e dos ambientes adversos. Limpando, construindo um novo ciclo, proclamando novos heróis, acabando com os loucos destruidores. Paulo Bento é o nome do novo seleccionador. É ele quem terá de ser o herói.

11 de Outubro de 2010.

Depois do jogo com a Dinamarca e antes da jornada decisiva na Islândia. Portugal venceu, jogou com confiança, teve belos momentos de futebol, circulou a bola, exaltou a sua qualidade. Serviu-se de Nani, teve João Moutinho como cérebro, até viu Ronaldo, para sempre vivendo com o estigma de não chegar aos níveis que alcança nos clubes, jogar bem, assistir e fixar o resultado final. Os jogadores sorriram. Soltaram-se, deixaram os abalos do passo, encararam o jogo reconhecendo toda a importância. Não se deixou abater por um percalço no final, afastou os fantasmas e foi forte. Portugal fez por merecer ganhar e conseguiu-o. Antes disso, já o público presente no Dragão enchera os pulmões, puxara pela garganta e gritara pela selecção. Os adeptos e os jogadores estão juntos. De novo. Esse é o primeiro mérito de Paulo Bento. Sem ser herói, devolveu a confiança. É necessário, agora, aproveitar e prolongar o estado.

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