sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Paulo Bento: Tranquilidade, arrojo, persistência

Bento forever. Incisivo, ousado e corajoso. José Eduardo Bettencourt foi tudo isso: fez de Paulo Bento a sua bandeira eleitoral, puxou dos galões, garantiu lugar ao treinador, aumentando-lhe a confiança e a credibilidade, disparando a expressão sem receio. O ciclo de Paulo Bento, contudo, terminou ainda na primeira parte da época. Foi extremamente positivo, ficam títulos, ficam bons jogos, ficam vários jovens consolidados na equipa principal. João Moutinho e Miguel Veloso, por exemplo, foram lançados por Paulo Bento, sustentados pela sua firmeza, cresceram, ganharam estatuto e, neste Verão, renderam milhões importantes ao Sporting. Daniel Carriço, Rui Patrício ou Yannick são, actualmente, as principais bandeiras da formação que fazem parte da equipa principal leonina. Paulo Bento não foi forever, saiu ao fim de quatro anos, com duas Taças de Portugal e duas Supertaças conquistadas. Agora é o seleccionador nacional.

Portugal vive um momento delicado. Precisa de bravura, frontalidade e garra para dar a volta. Tem um ponto em seis possíveis, corou de vergonha após os jogos com o Chipre e com a Noruega, surgiu sem rei nem roque e aproxima-se uma dupla-jornada, com a recepção à Dinamarca e a visita à Islândia, decisiva: tem que ganhar, correr em busca do tempo perdido, apagar o início em falso. Paulo Bento é um treinador frontal, sem rodeios, vai directo ao assunto e trabalha com afinco. Entrou para o Sporting num dos piores momentos da história da equipa leonina, depois das demissões de José Peseiro e Dias da Cunha, conseguindo, ao longo dos anos, renovar o plantel, manter o leão vivo na luta pelo título - o Sporting, no tetracampeonato do FC Porto, foi sempre segundo classificado -, pelo meio com conquistas de outras competições internas, cumprindo os objectivos, ganhando experiência na Liga dos Campeões.

Paulo Bento tem a seu favor o facto de ter os jogadores, os clubes e os adeptos ao seu lado nesta aventura na selecção. Ou merece, pelo menos, o benefício da dúvida dos mais cépticos. Ao contrário do que acontecia com Carlos Queiroz, o novo seleccionador conta, apesar do período extremamente complicado, com bastante crédito. É ainda jovem, sim, porque tem apenas quarenta e um anos de idade e somente a experiência de quatro temporadas no comando do Sporting, mas já provou ter competência e, mais do que isso, demonstrou, desde logo, vontade de triunfar, de mudar o rumo dos acontecimentos e de conseguir recuperar os valores de Portugal. Bento é exigente, conciso, incisivo nas análise. Critica quando entende que o tem que fazer, elogia quando o merecem, aponta defeitos e não declina responsabilidades. Essas são as suas principais virtudes. E vão de encontro, precisamente, ao que a selecção necessita.

A selecção nacional exige a criação de um grupo forte. Unir o talento de todos, conseguindo um conjunto forte, que valha pelo colectivo e não se sinta carente de individualidades. A falta desse tal grupo coeso foi um dos principais pecados de Carlos Queiroz e Paulo Bento, para se conseguir impor como líder, terá de saber fazê-lo. Será meio caminho andado para que Portugal retome o seu caminho e se coloque na linha do Europeu. Treinadores perfeitos, capazes de se transformarem em heróis, não existem. Esse era o desejo de Gilberto Madail quando olhou para José Mourinho, arriscando abrir horizontes, batendo à porta do Real Madrid e regressando com uma resposta negativa e convincente. Paulo Bento surgiu naturalmente: confiante, seguro de si, nada beliscado. Terá uma tarefa hercúlea pela frente, ele sabe-o. Resta-lhe ter a paz de espírito necessária, a tranquilidade que tanto lhe está associada e ser persistente. É um treinador teimoso, insistente, capaz. O futuro ditará se a aposta foi ou não acertada.