segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O olhar benfiquista à nova época: Estabilidade e ambição

O Benfica voltou a impor-se na temporada anterior: foi a melhor equipa, a que mais encantou e marcou, tendo conseguido quebrar a hegemonia do FC Porto para conquistar o trigésimo segundo título do seu historial. De lá para cá, com o defeso pelo meio, duas das principais jóias, Di María e Ramires, assediados, deixaram a Luz, juntando-se à saída, por opção, de Quim. Para a nova época, mantendo Jorge Jesus no comando e a maioria dos artistas que levaram os encarnados à glória, o Benfica parte, pela primeira vez em vários anos, com legítimas ambições de se sagrar bicampeão nacional. A Supertaça Cândido de Oliveira, contudo, poderá ter trazido alguma apreensão aos benfiquistas. Mas Jorge Jesus prometeu magia e o FUTEBOLÊS colocou cinco perguntas a José Marinho: ex-jornalista, amante de futebol e, acima de tudo, um indefectível adepto benfiquista que colabora no Mágico SLB.

FUTEBOLÊS: Estabilidade e objectivos idênticos: o Benfica possui condições para readquirir a glória de outrora?

JOSÉ MARINHO: Depois da vitória no campeonato, na época passada, é necessário identificar o grande objectivo para esta época. O primeiro passo para que o Benfica possa readquirir essa glória, estabelece-se internamente, revalidando o título. Não é possível avançar para conquistas europeias, à semelhança do que sucedeu nos anos sessenta, se não recuperarmos antes a hegemonia nacional. Pensar que é possível ganhar na Europa sem primeiro consolidar uma liderança indiscutível em Portugal, é alinhar na propaganda e na fanfarronice. O Benfica é o único clube em Portugal com dimensão histórica e social para se alinhar internacionalmente com os grandes clubes europeus, mas há muito trabalho de casa a fazer antes disso. No futebol, as coisas não acontecem porque nós queremos que aconteçam. Elas acontecem porque há muito trabalho por detrás, nuns casos trabalho honesto e duradoiro, noutros casos trabalho sujo e indigno. Mas, como diz o outro, tudo se resume a trabalho, trabalho, trabalho.

A mesma máquina, o mesmo treinador, três pedras (Quim, Di María e Ramires) importantes de fora. Que análise faz do plantel?
Não partilho do alarmismo geral de que o Benfica está mais fraco, com as saídas de Ramires e Di María. Nesse caso, não sou de extremos. Nem esquerdos, porque já temos o Gaitán, nem direitos, porque o Ramires nunca foi um extremo e nunca, no Benfica, se discutiu a sua utilidade no meio-campo, como interior-direito e como jogador que repunha equilíbrios defensivos. Acho que o Benfica, mais do que extremos - é curiosa esta fixação dos benfiquistas pelos extremos, quando Di María deixou de ser extremo com Jesus e Ramires nunca foi um jogador de linha - precisa de recuperar os jogadores que estiveram no Mundial. Na final da Supertaça, ninguém destacou o seguinte: o Benfica tinha no onze inicial. quatro mundialistas e outro no banco de suplentes, exactamente porque começara mais tarde a sua preparação. O FC Porto começou com um mundialista e tinha outro no banco. Quem pensar que isto não faz diferença, não percebe de fisiologia, de recuperação e, no limite, de futebol de alto rendimento. Mais do que reforços - lá está, extremos - o Benfica precisa de recuperação. Se o jogo da Supertaça decorresse três ou quatro semanas depois, teria sido completamente diferente. O Benfica é o principal candidato ao título, porque a sua equipa reforçará as ideias do treinador e tem um espaço de maturação superior aos outros.

A Supertaça Cândido de Oliveira, perdida para o FC Porto, colocou um travão na onda de entusiasmo?
Foi um travão no entusiasmo dos adeptos e na fanfarronice exagerada de alguns pregadores da ilusão de que ao Benfica basta mandar os equipamentos para os jogos. O jogo da Supertaça demonstrou que o Benfica apenas terá possibilidade de revalidar o título se jogar nos limites, como o fez na época passada. O resto será feito pela qualidade dos jogadores, pela astúcia do treinador e pelo apoio dos adeptos. E foi esse exagero dos adeptos e de alguns comentadores de pacotilha - especialmente na blogosfera benfiquista - que levou a um novo exagero, a um quase radicalismo de considerar que, de um momento para o outro - afinal estava tudo mal, devia colocar-se tudo numa equação simples: Benfica menos Di María e menos Ramires é igual a um Benfica mais fraco e um Benfica que precisa de extremos. O problema do Benfica não se resolve com extremos, resolve-se com bom senso, com trabalho e com menos espalhafato ideológico.

Está esperançado numa época no seguimento da anterior?
Claro que sim. O treinador é o mesmo. Os jogadores são, quase todos, os mesmos. Os adversários são os mesmos - em Portugal - porque não inventaram nenhuma nova combinação biológica de jogadores que possam afectar o favoritismo do Benfica. Só na Liga dos Campeões é que o Benfica terá uma oposição diferente da época passada. Não concordo com Jorge Jesus e creio que o tempo dar-me-á razão. O treinador do Benfica alegou, várias vezes, num triunfalismo imoderado, que apenas via o Barcelona como a única equipa da Liga dos Campeões claramente melhor do que o Benfica, considerando que outras equipas não eram assim tão fortes como as pessoas as imaginavam. Não sei se Jorge Jesus ainda pensa assim, agora que estão mais diluídos os efeitos da fantástica vitória do Benfica no campeonato. É na Liga dos Campeões que o Benfica defrontará adversários claramente superiores aos que enfrentou na época passada. De resto, o FC Porto vai estar mais forte, mas a diferença não será da noite para o dia. Quando se alega que o FC Porto completou uma época bisonha, há uma tendência esquisita, selectiva, para se esquecer o essencial: o FC Porto bateu o recorde de golos marcados na Liga e obteve um número de pontos que ultrapassa quase todas as épocas em que foi campeão com Jesualdo Ferreira. O que esteve diferente, muito diferente, foi o Benfica. E tenho claro que o FC Porto não vai conseguir melhorar muito a sua pontuação da época passada e o número de golos marcados. E se o Benfica voltar a fazer a pontuação da época passada, será, de novo, campeão. Independentemente do FC Porto ou o Sporting estarem mais fortes ou não.

Quais são as principais virtudes desta nova águia? E defeitos?
Virtudes: qualidade, talento, equilíbrio, astúcia e capacidade goleadora. Defeitos: estão quase todos na baliza.


NOTA: O questionário foi realizado antes do início do campeonato português.

1 comentário:

JornalSóDesporto disse...

O Benfica anda com entusiasmo a mais mas o que é certo é que a equipa nada tem haver com a equipa do ano passado.