sábado, 22 de maio de 2010

Todo o campeonato em tons de vermelho

Sem meios-termos, olhando em jeito de balanço ao que se jogou no campeonato nacional, sai a primeira pergunta: o Benfica foi um justo campeão? É uma tendência dizer-se que sim, que o Benfica tem muito mérito no título que conquistou, suou para isso, foi melhor do que os adversários e mereceu os festejos. Pedro Azevedo, editor de Desporto da Rádio Renascença, não hesita. A resposta é pronta, pragmática e suportada na frieza dos números: "O Benfica teve o melhor ataque, melhor defesa (a par do Sp.Braga), foi a equipa que agradou mais em termos exibicionais, a mais espectacular, com mais vitórias, menos derrotas, melhor futebol e mais regularidade. Tudo isto somado dá um justo vencedor, indiscutivelmente", afirma. O investimento encarnado deu total retorno: "Teve um plantel muito bem apetrechado sob o ponto de vista técnico, com jogadores em grande nível exibicional e também com grande regularidade".

Apesar do seu reconhecido talento, o Benfica foi obrigado a esperar pelo derradeiro jogo para festejar. Por obra alheia. O Sp.Braga, uma surpreendente equipa que se intrometeu na luta pelo título, correndo pela História, adiou a coroação benfiquista. Os bracarenses foram guerreiros na verdadeira acepção da palavra, nunca baixaram a guarda. Para Pedro Azevedo, contudo, ainda não se pode juntar o Sp.Braga ao grupo de top nacional: "Um grande não nasce de um dia para o outro.
Nasce após muitos e muitos anos de consistência: de resultados e de força social. O Sp.Braga terá de crescer em número de adeptos, de sócios efectivos, em orçamento, em apoios, em sponsors. Só dentro de alguns anos é que podemos dizer se temos efectivamente um quarto grande no futebol português", afirma. "O Sp.Braga ainda não tem força social - basta recordar que, para encher o estádio, teve que abrir as portas e fora, quando conseguiu grandes assistências, teve que oferecer bilhetes".

O SUCESSO DE JORGE JESUS E DOMINGOS PACIÊNCIA

Jorge Jesus é um treinador de amor e ódio. Idolatrado pelos benfiquistas que vêem nele um obreiro do título e o criador de uma equipa forte como há muito não tinham na Luz. Os adversários, claro, apontam defeitos: é arrogante, é egocêntrico, é espalhafatoso. "Goste-se ou não se goste de Jorge Jesus, daquele seu estilo, daquela sua linguagem, é um treinador de sucesso, porque pegou num Benfica que há cinco anos não ganhava o campeonato e levou-o ao título. Tem grande mérito nisso", afirma Pedro Azevedo, ressalvando ainda a conquista da Taça da Liga. Para o jornalista da Rádio Renascença, o treinador encarnado, culminando uma subida a pulso com a conquista do título nacional, revelou-se "um excelente gestor de recursos humanos". "Di María, Saviola, Javi García e Óscar Cardozo são jogadores que, de facto, se exibiram a um nível muito elevado; a adaptação de Fábio Coentrão também foi um sucesso; Maxi Pereira sempre foi regular", exemplifica.

O que dizer, então, de Domingos Paciência? O jovem treinador do Sp.Braga ultrapassou o seu exame final, depois de ter estado em bom plano na Académica, demonstrando ter inúmeras capacidades como técnico e um horizonte risonho pela frente. O Sp.Braga foi uma etapa plenamente cumprida.
"Já não há palavras para qualificar um trabalho de altíssima qualiade de Domingos Paciência, é um treinador quem, degrau a degrau, vai mostrando ter grande futuro. Soube lidar com um grupo que não tem comparação em termos de orçamento com os chamados grandes, soube segurar a pressão, teve um discurso prático, dizendo que atacava o título quando o devia ter feito. Por isso, acho que foi, também, um bom condutor do projecto do Sp.Braga, o projecto possível, mas que se revelou numa época absolutamente excepcional, histórica e, desconfio, irrepetível", diz Pedro Azevedo.

FC PORTO: UM TETRACAMPEÃO SEM ESTATUTO


O FC Porto partiu como tetracampeão. Na linha da frente. Acabou, contudo, em terceiro, suplantado pelo Benfica no título e pelo Sp.Braga no acesso à Liga dos Campeões. Em relação à época anterior, há apenas uma diferença de dois pontos. Pode o mérito dos rivais explicar o falhanço? "Eu acho que os campeonatos só são comparáveis dentro do próprio campeonato: confrontos directos, diferença de pontos, exibições e resultados que se verificam nos jogos decisivos. Cada campeonato, sua história. O FC Porto, efectivamente, soma em 2009-10 o seu pior registo dos últimos trinta anos, apenas comparável ao de 2002 (também terceiro) e ao de 1982 (quando Pinto da Costa tomou conta do clube). Só estes números dizem que a época é francamente negativa e temos que somar uma saída humilhante da Liga dos Campeões e uma derrota categórica na Taça da Liga", relembra. Muito mais se esperaria dos dragões.

Pedro Azevedo tem uma opinião curiosa sobre o plantel azul: "Ao contrário do que foi dito, o FC Porto não ficou muito descapitalizado em termos qualitativos.
Basta recordar que saíram três jogadores muito importantes - Lucho, Lisandro e Cissokho -, mas entraram três reforços e meio muito bons", refere. "Alguns dos reforços não resultaram, mas isso acontece em todas as equipas e esses que não resultaram não são responsáveis por nada, porque praticamente não jogaram", firma. O problema residiu, segundo Pedro Azevedo, na táctica: "Pessoalmente, acho que aquilo que falhou foi a falta de afinação táctica, ou seja, o FC Porto deste ano jogou com o sistema do ano passado. Com jogadores diferentes, estilos de jogo diferentes. O FC Porto teria de jogar no esquema que utilizou nestes últimos dez jogos", argumenta. Os verdadeiros reforços do FC Porto são fáceis de adivinhar: Álvaro Pereira, Radamel Falcao e Silvestre Varela.

"Álvaro Pereira foi uma das grandes revelações, foi o jogador mais utilizado do FC Porto com mais de quatro mil minutos e sempre numa bitola idêntica; Falcao conseguiu ser o melhor marcador desde a era Jardel e, inclusivamente, não fossem dois ou três golos mal anulados, mas são circunstâncias do jogo das quais hoje ninguém se pode lamentar - é apenas um dado estatístico - até seria o melhor marcador do campeonato; Varela, relacionando o preço e a qualidade, tratou-se de uma grande compra", explana. Falta a meia-aquisição. É Belluschi: "Estou convencido, por aquilo que fez nesta ponta final, que, depois deste ano de adaptação, será uma confirmação".
Há, ainda, a questão de Hulk. Jogador influente, indiscutível na equipa, esteve dois meses de fora: "Ainda que também não seja uma desculpa decisiva, a ausência de Hulk, um jogador de grande peso, contribuiu para que este FC Porto tivesse sido muito diferente, para pior, em relação à última época".

SPORTING: UM FRACASSO COM VÁRIAS CAUSAS E UM ALERTA

O que nasce torto, tarde ou nunca se endireita. É uma máxima popular, conhecida, referida vezes sem conta. Pode, por exemplo, sintetizar a época do Sporting: os problemas sentidos durante a pré-temporada foram um prenúncio para o que aconteceria ao longo de todo o campeonato, culminando num quarto lugar a anos-luz, traduzido em vinte e oito pontos, do primeiro lugar. Para explicar o insucesso leonino, Pedro Azevedo encontra vários motivos. Começando, justamente, pela preparação da temporada: "A equipa não se reforçou bem. Paulo Bento construiu um plantel, na minha opinião, muito curto: confiou em demasia nas pedras que tinha e não exigiu, provavelmente por falta de recursos financeiros, um plantel mais vasto, com mais alternativas para todas as posições. Seguiu-se a mudança técnica, logo houve instabilidade", adianta. Essa insegurança não se sentiu, porém, só no plantel. Alargou-se à estrutura directiva.

Agora estabilizado com Costinha, o actual homem-forte do futebol do Sporting, os leões tiveram, durante a época, outros dois directores na chefia dos destinos da equipa profissional. "Houve mudanças de chefe de departamento do futebol e problemas internos que até passaram por alguma animosidade dentro do próprio balneário. Tudo isto, mais a irregularidade que o Sporting uma vez mais teve nesta temporada, dá uma época muito negativa, com uma larga distância em relação às equipas da frente. Eu diria inadmissível, levando em conta o orçamento e a dimensão do clube", atira de pronto para classificar a caminhada sportinguista
. E concluir com um alerta: "O Sporting esteve mal, acabou mal e já começou mal a próxima época, porque Paulo Sérgio [o novo treinador] sabe que não foi a primeira opção, essa era André Villas Boas. Saber que foi segunda escolha é uma sensação muito má".

O PERFUME DE DI MARÍA


Posto isto, pede-se, como pergunta da praxe, o nome do melhor jogador do campeonato. "É injusto falar apenas de um", diz, hesitante, Pedro Azevedo. Mas há um, sim: "Ao ter que eleger um jogador, elegeria Di María. Pelo virtuosismo, pela capacidade de desequilibrar, pelas paixões que desperta nas bancadas e pelo espectáculo. É um jogador raro, tem velocidade, técnica, excelente drible, excelente visão, remate fácil e é muito bom nas assistências. Dá gosto ver jogar. Não é por acaso que Maradona, de forma indiscutível, o coloca nos vinte e três e, presumo, nos onze: é um jogador que vai ser titular, pela Argentina, no Campeonato do Mundo. Ser titular na selecção argentina jogando no campeonato português prova, de facto, ser um fora de série. Di María é a grande figura do campeonato", avalia Pedro Azevedo, elogioso para Angelito.

OS MELHORES: TOTAL DOMÍNIO VERMELHO

Depois da figura maior, o melhor em cada posição. "O guarda-redes do campeonato é Eduardo. É bom recordar que, além de o Sp.Braga ser, com o Benfica, a defesa menos batida, na fase de qualificação para o Mundial, Eduardo sofreu apenas dois golos. Não sei como é que é possível ter passado seis anos na equipa B do Sp.Braga sem que tenha sido chamado para guarda-redes titular", interroga-se Pedro Azevedo, ressalvando o valor daquele que foi um dos principais suportes da sensacional caminhada do Sp.Braga e será o número um da selecção portuguesa na África do Sul. Progredindo no terreno, deixando a baliza, há a defesa. E David Luiz: "Só uma vez é que a FIFA teve a infeliz ideia de eleger um defesa como melhor jogador do Mundo, acho que foi uma ideia muito má, mas David Luiz é um dos melhores jogadores deste campeonato, muito melhor do que Luisão. Dunga [seleccionador brasileiro] francamente a dormir", atira.

Do defesa saltamos para o goleador. Óscar Cardozo e Radamel Falcao travaram, ao longo de todo o campeonato, um duelo à parte, intenso e vibrante na corrida pelo prémio de melhor marcador. Tacuara levou a melhor em cima da meta, confirmando o prémio na partida do título. Pedro Azevedo também lhe dá preferência: "Ainda que toda a gente elogie Falcao - foi uma revelação: sem adaptação, sem férias, um ano e meio seguido a jogar -, mas, para mim, Cardozo está acima. É, de facto, um jogador que eu gosto muito, porque tem grande porte atlético, tem um pé esquerdo fabuloso, tem um remate fulminante. É o goleador do campeonato, foi o número um nos golos. Falcao é um jogador diferente, é menos posicional", argumenta, mostrando também admiração por aquilo que El Tigre conseguiu na sua primeira época em Portugal.

Se Cardozo é o artilheiro, o ponta-de-lança que vive de golos, Di María, o eleito de Pedro Azevedo para destaque do campeonato, é o avançado. Não o que marca golos, o que inferniza as defesas: "Di María como avançado, pela versatilidade, brilhantismo, fintas, exuberência, qualidade e slalons inesquecíveis". O jovem argentino foi um jogador que encheu as medidas aos adeptos portugueses. Na eleição para melhor médio, o voto de Pedro Azevedo vai para Aimar. El Mago não teve uma presença assídua, foi gerido por Jorge Jesus devido à sua condição física, mas revelou-se fundamental em momentos decisivos. "É um jogador que particularmente gosto muito e trata a bola de uma forma que, muitas vezes, merece o preço do bilhete", conclui o jornalista da Rádio Renascença. Para Pedro Azevedo, estes foram os melhores da Liga.

7 comentários:

Guilherme Oliveira disse...

Dominio vermelho sem duvida.. Espero é que o Sporting volte a ser competitivo, é somente o que eu quero.

Aceita parceria?
http://gologol.blogspot.com

Filipe Futebol Total disse...

Mais um fantastico post sem duvida.
Concordo com tudo menos com a parte de Cardozo superior a Falcao.

Abraços

Rodrigo Magalhães disse...

Olá, tenho um blog sobre o Chelsea e gostaria, se possível, de fazer parceria com seu blog. Já, inclusive, adicionei como parceiro. Aguardo retorno. Obrigado.

http://chelseanewsbr.blogspot.com

saviolz. disse...

O Benfica foi um justo vencedor .
Sim , Cardozo é superior a Falcao, mas o colombiano é um grande jogador .

Podia-se também falar algo sobre Ramires que também não teve férias ..

Vai uma troca de links ? Depois avisa no nosso .

http://futebol-resolution.blogspot.com/

Anónimo disse...

Excelente análise!

Cumprimentos,
Paulo Silva
http://portuguesesnoestrangeiro.wordpress.com/

Vermelho de vergonha disse...

Dominio também nas ameaças a arbitros de Colaço e da sua troupe de ugandeses.Miserável clube que tem gente desta.

Jornal Só Desporto disse...

Excelente tópico.