sábado, 28 de fevereiro de 2009

FC Porto-Sporting, 0-0: Que pobreza franciscana!


Imaginem aqueles jogos pachorrentos entre equipas que desesperam por um pontinho, onde há pouco futebol e oportunidades de golo nem vê-las. São jogos que não interessam a ninguém. O clássico do Dragão, entre FC Porto e Sporting, pareceu-se muito com isso e só podia ter acabado como acabou: empatado a zero. É verdade que teve intensidade e adrenalina nos píncaros mas foi mal jogado e nenhuma das equipas mostrou vontade de ganhar. Conformaram-se, aliás. Foi mesmo um clássico a sério?

FC Porto e Sporting chegavam ao Dragão com estados de espírito opostos: os portistas vinham com a moral em alta, depois de uma excelente exibição frente ao Atlético de Madrid; a equipa de Paulo Bento de uma goleada das antigas, em casa, com o Bayern de Munique mas também havia deixado boas indicações no jogo anterior do campeonato, no derby com o Benfica. Por isso mesmo, por jogar em casa e por ter mais 24 horas de descanso (já que tanto se falou disso na véspera do jogo) o FC Porto partia com um algum favoritismo. Os treinadores tinham avisado que o clássico não decidia nada mas era importante; principalmente para o Sporting que em caso de derrota ficava já a sete pontos do primeiro lugar. Quanto às equipas que começaram o jogo, houve algumas alterações: Jesualdo Ferreira teve de recorrer a Pedro Emanuel para a lateral direita devido às lesões de Fucile e Sapunaru; e Paulo Bento, em relação ao jogo da Liga dos Campeões, com o Bayern, colocou a defesa habitual com Pedro SIilva, Daniel Carriço, Polga e Grimi e ainda Pereirinha no meio-campo em detrimento de Romagnoli. Lançados os dados, estava tudo pronto para o clássico.

Porém, cedo se percebeu que este jogo pouco teria de clássico. Entrou melhor o Sporting e respondeu o FC Porto com a primeira grande situação de perigo, aos 10 minutos, num cabeceamento de Rodríguez que Pereirinha cortou em cima da linha de golo. Foi a grande oportunidade dos dragões. Depois disso, praticamente não houve jogo: as faltas sucediam-se umas atrás das outras, as interrupções eram uma constante e as equipas médicas ora de uma ora de outra equipa não tinham sossego. O jogo estava intenso e a entrega dos jogadores era total. Contudo, havia pouco futebol: muitas dificuldades na construção de jogadas ofensivas, com inúmeros passes errados e nem as transições resultavam. Apenas em jogadas individuais, havia algum perigo: primeiro, aos 22 minutos, Izmailov dentro da área tentou fazer um chapéu a Helton mas a bola saiu muito por cima; dois minutos depois, Cristian Rodríguez - foi sempre o mais esclarescido do FC Porto - arrancou uma boa jogada pela esquerda mas o lance foi anulado por um corte de Carriço.

INTENSIDADE E ENTREGA TOTAL MAS FUTEBOL NICLES

Enfim, a grande oportunidade de golo do jogo: aos 38 minutos, altura em que Liedson apareceu bem nas costas de Rolando e cabeceou ao poste. Foi o melhor lance do clássico. Chegou o intervalo e a primeira parte tinha sido fraca e pouco produtiva em lances de perigo junto de cada uma das balizas. No reatamento, a partida melhorou um pouco, estava mais aberta e já não havia tantas paragens. Quanto a lances de golo é que continuava tudo na mesma, nicles. Ao FC Porto faltava Lucho ao passo que nem Lisandro nem Hulk conseguiam assustar Tiago; do outro lado, o Sporting juntou mais as linhas e deixou que fossem os portistas, a jogar em casa, a terem mais iniciativa e mais bola no pé. Começou o jogo de banco e Paulo Bento foi o primeiro a tentar dar um safanão no jogo, colocando Yannick Djaló no lugar de Izmailov e fazendo com que Moutinho descaísse mais para o lado esquerdo do losango. Também a substituição não produziu grandes efeitos, diga-se.

A menos de vinte minutos do final, Jesualdo Ferreira foi obrigado a mexer, face à lesão de Cissokho - a segunda na partida depois de Grimi ter feito uma rotura no joelho esquerdo, ainda na primeira parte. Uma lesão que deixa o FC Porto sem laterais de origem. Por isso mesmo, entrou Tomás Costa para o lado direito da defesa, passando assim Pedro Emanuel para a esquerda; duas adaptações, portanto. É justo dizer também que o capitão se saiu bem nessas funções. Ah, o jogo: continuava igual, com as equipas cada vez mais conformadas com o resultado mas sem nunca virar a cara à luta. E assim chegou ao final, com o nulo. Nem poderia ser de outra forma.

DESTAQUES

JOÃO FERREIRA: O jogo foi intenso e disputado nos limites, já foi dito, mas o árbitro também complicou, perdendo-se no meio de tantas faltas (45 no total!) e de tantas paragens. Não assinalou uma grande penalidade favorável ao FC Porto por falta sobre Cristian Rodríguez, ainda na primeira parte e não expulsou o mesmo Rodríguez, já em tempo de descontos, numa agressão a Caneira. Também os pisões de Lucho e Derlei passaram em claro. Mas este jogo de fácil não teve nada...

JESUALDO FERREIRA: O FC Porto não conseguiu dar seguimento à exibição de Madrid, com o Atlético e nunca teve soluções para chegar com perigo à baliza do Sporting. Não houve ideias e o treinador também se conformou com o empate, não aproveitando possíveis debilidades físicas e psicológicas dos leões.

PAULO BENTO: Tal como Jesualdo, preferiu ficar com um ponto do que arriscar a ficar com três. As equipas estiveram sempre presas de movimentos. De qualquer forma, para o Sporting acaba por ser um bom resultado que lhe permite manter-se na luta pelo título.

MELHOR EM CAMPO: Daniel Carriço, um senhor central.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Os famosos túneis onde se dão amendoins...

87 minutos do Benfica-Leixões, 2-1 no resultado: após Katsouranis ter ficado estendido no relvado e ninguém ter parado o jogo para que o médio grego fosse assistido, José Mota e Quique Flores discutiram de forma enégica, ali mesmo à beira do quarto árbitro. Foi um bom exemplo de como o futebol é efervescente, frenético, apaixonante. A pressão nos bancos é terrível, a adrenalina está nos limites. O jogo acabou mesmo com a vitória do Benfica e com mais uns protestos de José Mota. Porque o futebol também é isto.

Porém, existe um problema mais sério: os túneis de acesso aos balneários, ou melhor, os conflitos que lá existem. Os túneis são um local onde tudo parece acontecer sem que haja consequências, onde os nervos estão bem expostos. Hoje, na Luz, voltou a haver escaramuças no túnel: como já havia acontecido no Benfica-Nacional e, ainda, no Dragão no jogo do FC Porto frente ao Marítimo. Desta vez, chegou mesmo a ser chamado o corpo de intervenção da polícia para serenar os ânimos. Contudo, no flash-interview da RTP, atrasado largos minutos, tanto jogadores como treinadores disseram ora que nada se tinha passado ora que eram situações normais em jogos de futebol. Resumindo: ninguém viu nada, ninguém ouviu nada, não aconteceu nada.

Com tudo o que foi dito, a polícia acabou por ir ao túnel por "nada". Ou se calhar porque estavam a dar amendoins aos pombos, como disse Pedro Sousa, jornalista da Rádio Renascença, no final da transmissão do jogo.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Standard Liège-Sp.Braga, 1-1: Agora sim, o xeque -mate!

Xeque-mate! O Sp.Braga está nos oitavos de final da Taça UEFA. O xeque já tinha sido dado na primeira eliminatória, em Portugal, com uma vitória por 3-0. De qualquer forma, existem eliminatórias viradas de um momento para o outro. Não aconteceu isso. Em Liège, a equipa de Jorge Jesus teve de fazer um jogo de sacrifício para segurar os ímpetos do Standard. Conseguiu-o, com sucesso.

Sabia-se de antemão que mesmo com a vantagem de três golos, o Sp.Braga não teria facilidade alguma. O apoio fanático, frenético dos adeptos belgas transformava o ambiente e deixava um jogo ainda mais complicado. A equipa de Jorge Jesus teve de sofrer quase até ao fim. O golo de Mbokani, aos 79 minutos, serviu para alimentar as esperanças do Standard. Mas já era tarde e a vantagem no jogo também durou pouco. Depois veio um golo fantástico de Luis Aguiar. Aí sim, a quatro minutos do final, acabaram as dúvidas que pudessem haver sobre a passagem do Sp.Braga. Aguiar ainda teve mais uma oportunidade para desempatar o jogo mas Espinoza foi enorme na defesa. Acabou empatado.

Antes disso, o Sp.Braga teve de passar por inúmeros obstáculos. O Standard entrou forte, cheio de ganas para chegar ao golo. De qualquer forma não durou muito pois a equipa arsenalista preencheu bem os espaços, juntou as linhas e uniu-se na defesa da baliza de Eduardo. Foi uma equipa personalizada, unida e, sobretudo, com grandes doses de sofrimento. Em termos atacantes não criou muitos lances de perigo, é verdade, mas o que interessava mesmo era não sofrer golos e segurar a vantagem trazida da primeira mão. Os belgas, por seu lado, usavam e abusavam do jogo directo; aí também foi importante o papel do guarda-redes Eduardo e o seu jogo fora da baliza assim como dos centrais Leone e Stélvio (esteve bem nessa nova posição). A primeira parte resumiu-se a isso, com imensas bolas bombeadas para a área sem que em nenhum caso tenha surgido um lance de golo iminente.

STANDARD CARREGA, BRAGA AGUENTA

Para a segunda parte, Laszlo Böloni decidiu mudar um pouco a estratégia e trocar o futebol directo por jogadas de velocidade, sobretudo, pelos flancos. E resultou, pelo menos aconteceram reais oportunidades de golo. Primeiro, aos 51, Mbokani servido por De Camargo não conseguiu acertar na baliza; oito minutos volvidos, foi a vez de Goreux acertar no poste; por fim, o mesmo Mbokani, novamente isolado por Camargo, voltou a perder uma grande oportunidade de golo depois de uma gaffe de Stélvio. Esta era a melhor fase do Standard que estava por cima. Respondeu o Sp.Braga por João Pereira, com um remate que embateu na barra da baliza dos belgas, num lance que serviu para a equipa portuguesa respirar um pouco e soltar-se da pressão. Estavam decorridos 69 minutos e um golo do Liège poderia ainda agitar a eliminatória.

Houve, então, mais uma oportunidade para o Standard. A quinze minutos do final, De Camargo surgiu isolado mas Eduardo foi melhor e manteve o nulo. Contudo, foi quatro minutos depois disso que surgiu o tal golo de Mbokani, o golo do Standard Liège. Insuficiente por tudo aquilo que já foi escrito. E também pelo golaço de Luis Aguiar. Ficou-se a rir o Sp.Braga. Agora segue-se o PSG.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Sporting-Bayern, 0-5: O sonho ficou desfeito


Pois, faltam as palavras. Este era à partida um jogo equilibrado, se bem que com um ligeiro favoritismo do Bayern. Os próprios treinadores assumiram-no, tal e qual. Mesmo assim, as expectativas eram elevadas, o público compareceu em Alvalade. Mas acabou por não ser nada disso. O Sporting foi melhor na primeira parte mas chegou ao intervalo a perder, devido à eficácia total dos alemães; no reatamento quando esteve perto de empatar, a equipa de Paulo Bento voltou a sofrer. Após o terceiro golo foi penoso ver o jogo do Sporting. A eliminatória, essa, está decidida!


Paulo Bento fez algumas alterações na equipa habitual: a defesa foi revolucionada e dos habituais titulares apenas Polga se manteve, entrando Caneira, Abel e Tonel para conferir mais experiência e mais centímetros; no meio-campo jogou Romagnoli na vez de Vukcevic. O Bayern, já se sabe, tem jogadores fulcrais como Ribéry, Luca Toni ou Klose, por exemplo. Mas não se pense que o jogo esteve sempre decidido, desde início. Pelo contrário, foi o Sporting quem mais perto esteve de marcar primeiro, aos 12 minutos, quando Polga apanhou a bola a jeito dentro da área e rematou para a baliza de Rensing. Tudo parecia indicar que seria golo. Não foi. Porque Philipp Lahm, qual milagreiro, cortou a bola sobre a linha. Respondeu dois minutos depois o Bayern de Munique, num lance em que Ribéry não conseguiu acertar na baliza de Tiago depois de Luca Toni ter ganho a bola nas alturas, no local onde é mais perigoso. Nesta fase estava melhor o Sporting que conseguia parar os movimentos de ataque do Bayern e impossibilitar que Luca Toni e Klose, os avançados, tivessem a bola no pé. Porém e, apesar de estarem melhor no jogo, não conseguiam criar grande perigo para a baliza de Rensing pois Oddo e Demichelis iam resolvendo os problemas que a equipa do Sporting colocava.

Marcou o Bayern, aos 42 minutos. Por Ribéry, depois de um erro enorme de Derlei e, também, de uma hesitação entre Caneira e Tonel. Uma remate e um golo; eficácia total. Num jogo onde a equipa portuguesa estava a ser melhor. Mas já se sabe o quão frios são estes alemães que assim foram para o intervalo em vantagem. Contudo, essa frieza foi ainda mais visível aos 57 minutos, altura em que Miroslav Klose fez o segundo para o Bayern. Em posição de fora-de-jogo e sem merecer, diga-se. Até porque três minutos antes disso o Sporting dispôs de uma oportunidade soberana para empatar, não fosse Abel ter sido egoísta ao preferir o remate quando tinha Moutinho, isolado, na marca de penalty.

UM AUTÊNTICO PASSEIO ALEMÃO

Paulo Bento tinha então de fazer alguma coisa e decidiu trocar Izmailov e Abel por Vukcevic e Pereirinha. A ideia era dar mais profundidade ao jogo ofensivo e tentar chegar-se à baliza de Rensing mas saiu precisamente o contrário. Foi por essa altura, aos 63 minutos, que Rochemback varreu Lahm dentro da área; penalty que Ribéry converteu com categoria, 3-0. E o Sporting acabou aqui. Não mais incomodou Rensing e teve imensas dificuldades para ultrapassar o meio-campo até. O Bayern galvanizou-se e deu um autêntico amasso. Como mudou o jogo da primeira para a segunda parte. O terceiro golo foi a pedra de toque.

Chegou a ser penoso ver o Sporting da segunda parte, sem chama, sem querer, sem nada, era uma autêntica anarquia. Os erros sucediam-se em catadupa, as oportunidades do Bayern de Munique também; já dava para tudo. Aos 84 minutos marcou Luca Toni, o quarto. O outro, o último, aconteceu já para lá dos 90 minutos. Foram cinco, no final. Uma goleada das antigas que há muito não se via na Liga dos Campeões, principalmente nesta fase. Bem feitas as contas durou até ao primeiro golo o sonho do Sporting. A segunda mão em Munique será apenas uma mera formalidade do calendário.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Atlético Madrid-FC Porto, 2-2: Soube a pouco!


Teoricamente pode dizer-se que foi um bom resultado. Porém, na prática soube a pouco. O FC Porto foi sempre a melhor equipa e demonstrou que tem todas as condições para chegar aos quartos de final; o Atlético conseguiu dois golos sem que tenha feito grande coisa para isso e acumulou erros atrás de erros, principalmente no sector defensivo. A eliminatória podia ter ficado já arrumada mas os portistas desperdiçaram muitas oportunidades. Assim, fica o suspense até ao jogo do Dragão.

Surgiu ainda antes do início do jogo, no aquecimento, a primeira adversidade do FC Porto, com a lesão de Fucile, substituído por Sapunaru no onze titular. Foi então com o romeno no lado direito da defesa que os portistas entrararm num Vicente Calderón efervescente. E podiam ter entrado a ganhar, literalmente. Apenas dois minutos estavam jogados quando Hulk ensaiou o primeiro rasgão pela direita, passou por Antonio Lopez e cruzou para Rodríguez que, só com o guarda-redes Leo Franco pela frente, não conseguiu marcar. Respondeu o Atlético. Com um golo. Agüero entrou no meio-campo do FC Porto, levantou a cabeça e inventou uma linha de passe para Maxi Rodríguez, mesmo ali nas costas da defensiva azul. O capitão dos colchoneros fez o resto e o Calderón transformou-se num autêntico vulcão em erupção.

A missão dos portistas parecia, agora, bem mais complicada. Puro engano, porque a partir da altura em que Lucho e Raul Meireles começaram a ajudar os laterais, o Atlético não mais criou perigo - tirando um bom remate de Diego Forlán, ao quarto de hora de jogo - pois tanto Maxi Rodríguez como Simão não tinham grande margem de progressão e os caminhos estavam bem tapados. Do outro lado, o FC Porto partiu para aquela que foi, talvez, a melhor exibição da época. Só com um problema, um problema grave: a finalização. Aos 18 minutos, Lisandro conseguiu marcar mas o lance foi anulado por fora-de-jogo (muito duvidoso!). Não contou à primeira, haveria de contar à segunda. Pablo Ibañez falhou o tempo de salto e deixou a bola à mercê de Lisandro, que com toda a calma do Mundo, empatou a partida. E repôs justiça no resultado.

UM GOLO CAÍDO DO CÉU AOS TRAMBOLHÕES

O FC Porto estava bem melhor. Dois minutos depois do golo do empate, aos 24', Leo Franco com uma grande defesa impediu que os portistas passassem para a frente do marcador. Quatro minutos volvidos, Hulk apareceu nas costas da defesa do Atlético mas falhou no momento do remate permitindo mais uma defesa a Leo Franco, que juntamente com o desacerto dos dragões ia mantendo o empate. O jogo continuava na mesma toada, sempre com o FC Porto mais perigoso. Oportunidades havia de sobra mas falhava sempre o remate final, o momento de mandar a bola para dentro da baliza. Com tanto falhanço, reapareceu o Atlético. Já em período de descontos da primeira parte, Forlán rematou de fora da área e Helton deu um autêntico frango. A equipa de Abel Resino foi para o intervalo em vantagem. A diferença esteve na eficácia, pois.

A segunda parte começou, novamente, com o FC Porto quase a marcar. Por duas vezes, Lisandro foi o protagonista: logo nos primeiros minutos obrigou Leo Franco a uma defesa enorme; mais tarde, falhou, de forma incrível, o golo só com o guarda-redes pela frente. O Atlético, por sua vez, recorria a remates de longa distância (quem sabe devido ao golo) para assustar Helton. O jogo estava, agora, mais dividido a meio campo, menos intenso junto das balizas. E foi nessa altura que surgiu o golo do empate, o golo tão desejado. Cristian Rodríguez ganhou a bola, endossou-a a Cissokho que, com um cruzamento perfeito, permitiu a Lisandro encostar, finalmente, para o fundo da baliza de Leo Franco. Outra vez empatado.

O golo foi ouro sobre azul para os portistas. Com 2-2 no resultado, era o FC Porto quem mais tinha a ganhar. O Atlético não teve arte, engenho nem imaginação para responder e tentar voltar à vantagem; faltou-lhe garra, sobretudo. E concentração na defesa, onde acumulou erros atrás de erros. Os adeptos assobiavam, com razão. Entretanto surgiu mais um problema para Jesualdo Ferreira: Sapunaru lesionou-se, levando assim à entrada de Pedro Emanuel para o lado direito da defesa. Já se sabe que Emanuel não é propriamente um velocista e isso viu-se quando, a cinco minutos do fim, Forlán passou por si e só não fez estragos maiores porque Fernando, primeiro, e Rolando, depois, foram fundamentais. Aos 94 minutos, apitou Howard Webb para o fim do jogo. Com o 2-2 no resultado, que deixa o FC Porto com a chave da eliminatória na mão.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Incrível Hulk leva o Dragão

ANÁLISE JORNADA 19 - LIGA SAGRES

(Crónica Sporting-Benfica)

O FC Porto é mais líder. Tem agora quatro pontos de vantagem sobre os segundos classificados, Benfica e Sporting. Por duas razões: primeiro porque venceu o seu jogo, em Paços de Ferreira, e depois porque o Benfica não ganhou qualquer ponto no derby de Alvalade. Assim, o clássico do Dragão ganha ainda mais importância e servirá para perceber quem tem mesmo capacidade para ser campeão. E também no fundo da tabela houve mudanças...


Os portistas jogaram em Paços de Ferreira com a certeza de que só tinham a ganhar nesta jornada, pois os outros dois rivais, Benfica e Sporting, defrontavam-se entre si. O que significava, logp à partida, que em caso de vitória, o FC Porto aumentaria a sua vantagem para pelo menos um dos outros dois candidatos. Mas, primeiro que tudo, a equipa de Jesualdo Ferreira sabia que tinha a obrigação de triunfar na Mata Real, no encontro imediatamente anterior ao da Liga dos Campeões com o Atlético de Madrid. Por isso mesmo e também devido ao número de cartões amarelos, o treinador portista deixou Lucho e Rodríguez no banco; entraram Tomás Costa e Farías para os seus lugares e Lisandro recuou no terreno disfarçando-se de El Comandante. O FC Porto entrou forte e determinado em resolver o jogo cedo enquanto que o Paços falhava muitos passes e não conseguia sair em ataque organizado. O primeiro golo dos portistas surgiu cedo, aos 15 minutos: marcou Hulk depois de uma boa combinação entre Lisandro e Cissokho pela esquerda e contando ainda com um desvio no pé de Ricardo. Melhor era impossível. Até ao intervalo, o FC Porto mandou sempre no jogo e teve mais oportunidades para aumentar a vantagem. Porém, um remate de Rui Miguel à barra da baliza de Helton a que se seguiram mais duas boas jogadas da equipa do Paços deixaram os dragões em alerta. Mais alarmados ficaram na segunda parte, pois, logo a abrir, Ferreira esteve perto de empatar a partida. A equipa de Paulo Sérgio estava agora mais atrevida e o resultado parecia mesmo em perigo. Só que o FC Porto tem a vantagem de ter Hulk, que é um jogador decisivo. E foi-o mais uma vez. Aos 65 minutos, pegou na bola e caminhou em direcção à baliza de Coelho sendo derrubado por Ricardo e penalty. Na conversão, Bruno Alves fez o segundo, acabando, de vez, com as dúvidas existentes. Já em cima do final, aos 84 minutos, o Paços de Ferreira conseguiu marcar mas o lance foi anulado por Jorge Sousa. Um lance polémico pois não se percebeu muito bem se foi assinalado fora-de-jogo (não havia) ou mão de Carlos Carneiro no momento do golo. A ser mão, o lance foi bem anulado...

Quem também poderia ter aproveitado o derby para se juntar a Sporting e Benfica no segundo lugar era o Leixões. Porém, a equipa de José Mota não conseguiu vencer, em casa, o Belenenses; esteve mesmo em desvantagem mas um golo de José Manuel colocou alguma justiça no resultado pois, na segunda parte, apenas o Leixões teve intenção de ganhar a partida. Na luta pela UEFA, o Sp.Braga venceu a Naval, por 2-1, e quebrou a malapata de não conseguir ganhar depois de uma jornada europeia. Contudo, o golo da vitória surgiu já em período de descontos, marcado por João Pereira; bem antes disso, com o resultado em 0-0, Eduardo voltou a ser decisivo ao defender uma grande penalidade - já lá vão três!, o que só demonstra bem as dificuldades que a equipa de Jorge Jesus encontrou na Figueira da Foz. No lado oposto está o Vitória de Guimarães que foi derrotado, no D.Afonso Henriques, pelo Trofense (que assim saiu da zona de descida). O castelo está a saque e a Europa cada vez mais longe. Destaque para a vitória do Estrela da Amadora sobre o Nacional o que só prova que nem sempre o dinheiro é o mais importante no futebol, quando existem bons profissionais (como é o caso); para a segunda vitória consecutiva do Rio Ave, novamente com um golo de Yazalde, desta vez frente ao Vitória de Setúbal e, por fim, para o regresso da Académica às vitórias com um 3-1 frente ao Marítimo. Derrota que custou o cargo a Lori Sandri.

Depois do derby, o clássico do Dragão no próximo sábado, ganhou ainda mais motivos de interesse. As contas finais do campeonato poderão passar por aí.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Sporting-Benfica, 3-2: A vantagem de ter Liedson


Acabou o derby, o Sporting ganhou ao Benfica. Por 3-2 e sem espinhas. Para se perceberem bem as diferenças entre as duas equipas falemos de duas peças-chave do jogo: Liedson e David Luiz. O primeiro vestiu a capa de herói e destroçou o Benfica, demonstrando toda a sua categoria; o outro foi o vilão, o rosto do desnorte da defesa dos encarnados. Foi um jogo de opostos, por isso. E foi também um verdadeiro derby, intenso, vibrante e emotivo.

O Benfica apresentou exactamente a mesma equipa do clássico do Dragão com o FC Porto. Em relação ao passado jogo, ante o Paços de Ferreira, Quique fez regressar três dos habituais titulares: Suazo jogou na frente do ataque, Yebda voltou ao meio-campo e David Luiz na esquerda da defesa com Maxi Pereira - cumprira castigo na ronda anterior - na direita. Por outro lado, Paulo Bento teve também de mexer na equipa pois não pôde contar nem com Rui Patrício nem com Miguel Veloso, por lesão. Jogaram, por isso, Tiago e Grimi nos seus lugares. Contou com o regresso de Moutinho e optou por manter Pedro Silva na lateral direita em detrimento de Abel. Com tudo dito sobre as equipas, apitou Olegário Benquerença para o começo do derby.

Que começou praticamente com primeiro golo do Sporting. Canto de Vukcevic e Liedson, na quina da área, rematou para o ângulo da baliza de Moreira; para onde dorme a coruja. Um golão capaz de levantar qualquer estádio. O de Alvalade não foi excepção e foi à loucura com o golo do levezinho. Quique Flores vingou-se na cobertura do banco de suplentes. Mas estavam apenas jogados dez minutos. Depois disso, a jogada de maior perigo pertenceu ao Benfica quando um cabeceamento de Yebda levou a bola a bater no poste da baliza de Tiago. Dois minutos após esse lance, aos 24', Paulo Bento trocou Hélder Postiga, lesionado, por Derlei - veremos já a importância da entrada do brasileiro. O jogo estava por esta altura mais dividido a meio-campo e sem grandes oportunidades. Chegou o minuto 35 e com ele o golo do Benfica. Polga derrubou Suazo dentro da área e penalty, pois. Reyes, frente a frente com Tiago, não tremeu e empatou a partida. Tudo de volta ao início. Daí até ao intervalo pouco mais houve, somente um lance em que os jogadores do Sporting pediram penalty por mão de Maxi. Esteve mal o árbitro ao mandar jogar porque existiu mesmo falta. Terminou a primeira etapa e foram as equipas para o descanso.

O SENHOR LEÃO QUE NÃO DEU HIPÓTESES

O intervalo fez bem ao Sporting que voltou a entrar bem. Primeiro, ameaçou num livre de Rochemback; depois marcou mesmo: passe sensacional de Polga a isolar Derlei nas costas da defesa do Benfica, que dormiu na parada, e o Ninja pleno de instinto voltou a desempatar o clássico. Dois minutos após o reatamento, apenas. O golo moralizou a equipa de Paulo Bento que partiu, então, para uma segunda parte avassaladora. Em relação ao Benfica estava desinspirado, sem ideias e sustentava-se, principalmente, em Yebda até porque Reyes e Aimar não conseguiam ter muitas vezes a bola no pé. O Sporting estava muito bem no jogo que podia ter ficado decidido aos 55 minutos quando Liedson e Derlei voltaram a destroçar a defesa do Benfica. Não ficou porque apareceu Sidnei, em cima da linha como salvador, a cortar a bola para fora.

Era tempo de Quique fazer alguma coisa perante a impotência da equipa em criar jogadas de perigo para a baliza de Tiago. O treinador do Benfica trocou, então, Yebda por Di María. A saída do francês acabou por se revelar fatal e ter efeitos contrários àqueles que Quique esperava: os encarnados perderam a referência do meio campo e o jogador mais capaz de criar desequilíbrios.
As jogadas de ataque do Sporting sucediam-se e o terceiro golo adivinhava-se. Numa transição rápida, Vukcevic esteve perto de o conseguir mas o remate saiu um pouco ao lado. A primeira jogada de perigo do Benfica aconteceu aos 72 minutos, altura em que Di María tentou isolar Aimar; Tiago saiu rápido da baliza e anulou o lance. Bem mais perigoso, o Sporting procurava sempre mais, continuavam as barracadas da defesa do Benfica - David Luiz teve uma noite terrível - e Pereirinha, recém-entrado para o lugar de Vukcevic, atirou a bola à barra. O Sporting falhou muito no último toque, no momento de chutar para dentro da baliza.

Até que surgiu novo golo de Liedson, aos 81 minutos. Grande jogada de Pereirinha pela esquerda (uma autêntica via verde mas há que dizer que Reyes também não deu grande ajuda a David Luiz) e uma tolada para dentro da baliza. Mais um golaço. E agora, o derby estava decidido de vez. Em cima dos noventa, Cardozo ainda reduziu - bom golo também. Mas não havia volta a dar.

DESTAQUES

OLEGÁRIO BENQUERENÇA: Esteve bem ao assinalar penalty favorável ao Benfica quando Suazo foi derrubado por Polga. Contudo deixou outros dois por assinalar: logo aos 9 minutos quando Rochemback se empoleirou em Aimar e, já perto do intervalo, num lance em que Maxi Pereira interceptou um cruzamento com o braço. No final, Luisão deu uma chapada em Liedson que passou, também, em claro. Erros graves mas Olegário tem a atenuante de não ter sido um jogo nada fácil de dirigir.

PAULO BENTO: Montou bem a equipa e soube aproveitar as falhas da equipa do Benfica. O Sporting da segunda parte deu um autêntico recital de futebol. Mérito de Paulo Bento, claro.

QUIQUE FLORES: Não correu bem o derby ao Benfica. Começou a perder e não mais se encontrou. O golo de Reyes ainda deu alguma esperança mas esta não era a noite do Benfica. Nem de Quique que esteve mal na susbtituição de Yebda. Além disso não se percebe muito bem o porquê de preferir Suazo a Cardozo e também a opção por David Luiz que não é, nem de perto nem de longe, um lateral esquerdo.

MELHOR EM CAMPO: É de La Palice. Marcou dois grandes golos - o primeiro então, é uma obra de arte - e foi um problema constante para a defesa do Benfica. Tanta categoria. Liedson, pois.

O derby dos derbis

Joga-se hoje o derby, Sporting-Benfica. É certo que não irá resolver nada em termos de classificação final mas pode ter uma palavra a dizer nesse contexto. Por isso mesmo e por tudo o resto é obrigatório não perder. Paulo Bento sabe bem que em caso de derrota, o Sporting poderá hipotecar as esperanças de chegar ao título até porque na ronda seguinte joga no Dragão; Quique Flores assume que não há favoritos e que apenas a derrota é um mau resultado em Alvalade. Cautelas recomendam-se, pois. A vitória do FC Porto em Paços de Ferreira, ontem, serviu para apimentar ainda mais o jogo de hoje.

Há muito que o derby de Lisboa entre os dois grandes rivais tinha tanta importância: há quinze anos, precisamente; desde aquela noite mágica dos 6-3. Seja como for e apesar de jogar fora, o Benfica parte com um certo favoritismo: pela exibição no Dragão, ante o FC Porto e também porque costuma mostrar estaleca nestes jogos grandes. Contudo, é uma equipa de altos e baixos capaz do melhor e do pior. Do outro lado, o Sporting não conseguiu qualquer ponto no confronto com os dois rivais ao título (jogou fora, é verdade) e está numa posição mais desconfortável na tabela mas joga em casa e terá um grande apoio dos seus adeptos. O resultado será sempre imprevisível.
Também por isso lhe chamam o derby dos derbis.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Sp.Braga-Standard Liège, 3-0: Xeque ao rei!

Jorge Jesus tinha dito na véspera que este jogo seria o mais difícil da Taça UEFA para o Sp.Braga, logo a seguir àquele com o Milan em San Siro. Mas não foi assim tão complicado, ou pelo menos não pareceu. Porque os jogadores tiveram o mérito de descomplicar. Também contaram com alguma sorte, é verdade. Mas isso é parte integrante do futebol. E que fica para segundo plano perante tamanha categoria.

Ainda não estavam decorridos cinco minutos quando Meyong esteve pertinho de marcar, depois de uma boa jogada de Renteria. Foi o primeiro aviso de que este Sp.Braga europeu não estava para brincadeiras e queria resolver o jogo bem cedo. Respondeu o Standard de Liège por De Camargo, para demonstrar que os campeões belgas de Laszlo Böloni também têm aspirações a seguir em frente; Eduardo opôs-se com uma grande defesa e sacudiu a pressão para bem longe dali. Foi pouco depois disso que surgiu o primeiro golo. E que golo! Renteria tirou Oneyewu do caminho e rematou, em arco, para o ângulo da baliza de Espinoza. De levantar o estádio. Ainda no primeiro quarto de hora de jogo, o Sp.Braga colocava-se em vantagem.

Porém, a resposta do Standard demorou apenas sete minutos: aos 22', De Camargo - o perigo iminente dos belgas assim como Dalmat, este mais na segunda parte - isolou Mbokani que, cara-a-cara com Eduardo, não teve arte nem engenho para empatar. O Sp.Braga agradeceu e voltou a marcar. A defesa belga dormiu na parada e depois de uma excelente jogada colectiva, Andre Leone rematou para o fundo da baliza. Melhor era impossível. A partir daí, do segundo golo, a equipa de Jorge Jesus entregou a iniciativa de jogo e passou a ter o controlo e a gestão a partida, explorando as transições rápidas.

XEQUE...MATE?

A segunda parte foi só uma confirmação da grande exibição do Sp.Braga. Ou foi ainda melhor do que a primeira. Uma verdadeira equipa grande, sempre unida, personalizada e a trocar bem a bola. Sim, porque esta também não era a noite do Standard que foi perdendo fulgor e baixando o rendimento à medida que o tempo passava. Apesar de serem os belgas a ter a iniciativa de jogo e de terem que correr atrás do prejuízo, os jogadores do Sp.Braga conseguiam sempre manter o perigo longe da baliza de Eduardo. O Standard andava ao ritmo do francês Dalmat. Mas foi César Peixoto, na cobrança de um livre, quem esteve perto do golo e ainda deixou a ilusão de golo aos adeptos. Ilusão, apenas.

Foi então que surgiu o terceiro golo, aos 83 minutos. Marcado por Luis Aguiar após um passe genial de Alan. A euforia tomou conta das bancadas do Municipal de Braga. Numa noite perfeita do Sp.Braga. Que deu xeque nesta equipa belga do Standard de Liège. A segunda mão dirá se foi ou não um xeque-mate.

Os heróis do Estrela e Olegário, o árbitro do derby

O Estrela da Amadora está nas meias-finais da Taça de Portugal - defrontará o FC Porto. Depois de derrotar o Vitória, em Guimarães, com um golo de SIlvestre Varela. Tal como disse Lázaro Oliveira, o treinador, não existem grandes adjectivos que possam caracterizar a atitude e o brio dos jogadores. Apesar de todos os problemas financeiros, continuam a jogar e, sobretudo, a ganhar os seus jogos. Como profissionais, são fantásticos. E merecem muito mais do que uma enxurrada de promessas. Uns autênticos heróis.

Para o derby de sábado, o derby dos derbis, a Comissão de Arbitragem nomeou Olegário Benquerença. Que vai estar pela primeira vez num Sporting-Benfica apesar de ser um árbitro top class da UEFA, dirigir vários jogos de competições internacionais e estar pré-seleccionado para o Mundial 2010. Porém, em Alvalade, vai ter uma pressão terrível. De ambos os lados: os benfiquistas não esquecerão nunca o pseudo-golo de Petit a Vítor Baía, em 2004; o Sporting (com Paulo Bento à cabeça) não apagam a eliminação da Taça de Portugal, em 2006, no Dragão. Olegário tem experiência de sobra mas vai precisar de sorte. Esperemos que a tenha.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Jorge Coroado, o árbitro e comentador - Parte I

Foi um dos mais famosos árbitros portugueses e está longe de ser um nome consensual entre os adeptos de futebol: uns gostam, outros odeiam. Mas ninguém lhe fica indiferente. Actualmente é comentador de arbitragem. Segue as suas convicções e critica quem tem de criticar. Já sabem quem é? Jorge Coroado, claro. No FUTEBOLÊS, sem apitos ou cartões mas sempre em parada & resposta.

"NUNCA TIVE RECEIO DE TOMAR DECISÕES"

FUTEBOLÊS: O Jorge Coroado foi um dos mais conceituados árbitros portugueses. Como entrou na arbitragem?
JORGE COROADO:
Praticava atletismo no Belenenses, clube do qual sou sócio e, no presente, vice-presidente da Mesa da Assembleia-Geral. Porque não detinha marcas relevantes (era concursista - peso e martelo) e sempre que no Estádio do Restelo assistia a um jogo ouvia as contestações aos árbitros, algo repetido na segunda-feira no estabelecimento de barbearia que existia no prédio onde habitava, ao ler no jornal A Bola estar aberto curso de candidatos a árbitros da AF Lisboa, para melhor poder discutir (sempre gostei falar das coisas com conhecimento de causa), inscrevi-me.

F: Quais foram os momentos mais marcantes da carreira? Aquele célebre lance em que expulsou Caniggia num Benfica-Sporting ficou para a história...
JC: É verdade! A nível interno o lance que envolveu o Caniggia foi marcante como, para quem como eu esteve por dentro do processo, foi exemplificativo do modo como funciona o futebol e a sociedade portuguesa em geral. Foi, também, marcante a frase por mim expressa após um Chaves-Sporting: "Estou com uma grande azia", expressão que utilizei para demonstrar a minha insatisfação pelo desempenho na noite anterior e por verificar a parcialidade da generalidade da comunicação social que apenas referia dois ou três lances desfavoráveis ao Sporting e nenhum, apesar de ter acontecido, em prejuízo do Chaves.

F: Ficou desiludido por não estar presente em nenhum Mundial nem Europeu?
JC: Por incrível que pareça, ou por menos séria que resposta possa ser entendida, apenas alimentei esperanças em estar presente no Mundial de 1994. Como isso não sucedeu e os contornos da situação foram por mim percebidos e entendidos, de imediato regressei ao meu sincero e sentido desejo: terminar como terminei, no Estádio Nacional arbitrando a final da Taça de Portugal.

F: A arbitragem está também em foco devido a tentativas de influenciar resultados. O Apito Dourado surpreendeu-o?
JC: O processo Apito Dourado não me surpreendeu, surpreendeu-me sim, a metodologia utilizada.

F: Nos seus tempos de árbitro, nunca foi pressionado para beneficiar determinada equipa?
JC: Objectivamente só uma vez tal aconteceu e, curiosamente, em divisão distrital. A nível nacional, enquanto árbitro de segunda categoria, quando pela primeira vez me dirigi ao Norte para arbitrar um Valonguense-Lixa (Páscoa de 1985) a minha mãe, na casa da qual habitava recebeu um telefonema questionando-a se seria eu o árbitro. Nada mais se passou em vinte e cinco anos de carreira

F: Alguma vez teve receio de tomar decisões?
JC: Sinceramente... não!!

F. Diz-se que os árbitros têm sempre tendência a beneficiar os grandes, nomeadamente, quando jogam em casa. Enquanto árbitro sentiu isso?
JC: Responder a esta pergunta fazendo juízo sobre mim próprio é algo ingrato, porém, sempre posso dizer que entre a classe, de forma surda e não declarada, era tido como o "Robin dos Bosques" por não dar importância aos grandes. Sobre o que outros fazem basta estarmos atentos ao que semanalmente acontece, à atitude que os árbitros evidenciam perante jogadores dos três principais emblemas. Recentemente, no jogo do Belenenses com o Sporting, um jogador do Belenenses ficou no solo a contorcer-se com dores, o árbitro que fez? Interrompeu e mandou entrar a equipa médica. Posteriormente um do Sporting demonstrou queixas semelhantes, que fez o árbitro? Colocou-lhe a mão na cabeça, falou tranquilamente com ele, deu-lhe a mão para o ajudar a levantar.

F. Algum caso concreto?
JC: No meu tempo, um belo dia, um árbitro de então que tinha sido promovido pouco tempo antes a internacional, foi ao estádio das Antas arbitrar um FC Porto-Benfica. Aos 20 minutos da primeira parte, João Pinto, capitão do FC Porto, deu uma arrochada num adversário que justificava cartão vermelho. O tal árbitro limitou-se a assinalar a falta e nada mais. Na semana seguinte, no hotel onde ficávamos quando dirigíamos jogos na zona norte, encontrei-o e questionei-o porque não havia exibido cartão vermelho. Respondeu-me: "Tás maluco? No Estádio das Antas, aos 20', mostrar cartão encarnado ao capitão da casa?".

F: E tendo o Jorge como protagonista?
JC:
Recordo uma outra situação por mim vivida: quando terminei a minha carreira, a convite do Conselho de Arbitragem da FPF, durante algum tempo acompanhei as equipas de arbitragem estrangeiras que vinham a Portugal arbitrar jogos das competições internacionais. Um dia, Rui Jorge, antigo defesa esquerdo da Selecção Nacional disse-me: "Você era f..., não dava abébias mas nós sabíamos com quem contávamos pois era-lhe indiferente sermos do FC Porto, do Sporting ou de outro qualquer"; aliás, posso contar um outro episódio constante do meu livro como o anteriormente referido, uma vez em Braga, em jogo para a Supertaça, no último minuto assinalei grande penalidade contra o FC Porto. Na cabina, depois de terminada a partida, o presidente da equipa da Invicta disse-me: "Só você seria capaz de assinalar uma grande penalidade contra o FCP no último minuto mas também o faria contra qualquer outro clube!".

(CONTINUA)

Jorge Coroado, o árbitro e comentador - Parte II

(CONTINUAÇÃO PARADA & RESPOSTA COM JORGE COROADO)

"MAIS COMPETÊNCIA E MENOS DINHEIRO PARA DIMINUIR OS ERROS"

F: Falando agora como comentador, considera que actualmente a arbitragem portuguesa está melhor?
JC: Não! Beneficia da restrita regulamentação que foi sendo elaborada e da menor agressividade, garra e determinação dos jogadores. A generalidades dos clubes perdeu aquilo a que se chama mística.

F: A verdade é que cada vez mais se fala dos árbitros e dos sucessivos erros. O que está mal?
JC: Fala-se muito dos árbitros e dos erros porque cada vez mais a cobertura mediática a isso obriga e a monocultura desportiva da população portuguesa, associada à impreparação da sociedade para discutir outros assuntos conduz à exploração do filão.

F: Acredita que Portugal voltará a estar bem representado de árbitros na UEFA?
JC: Depende como se interpreta "bem representado". Se for pela qualidade, integridade, equidistância e preocupação em apenas arbitrar um jogo de futebol dentro das regras, não acredito que algum dia tal suceda. Se entendermos "bem representado" como alguém que saiba "movimentar-se", "insinuar-se", apaparicar poderes instituídos, subjugar-se aos interesses dos países dominantes, há, inquestionavelmente e há semelhança de tempos recentes quem o saiba fazer muito bem e assim atingir um patamar de relativa consideração.

F: Seja como for, Olegário Benquerença e Pedro Proença são dois dos árbitros portugueses mais conceituados na Europa. Qual a razão para muitas vezes existirem melhores arbitragens fora de portas do que em Portugal?
JC: Digamos antes que são os dois árbitros que neste momento melhor conceito desfrutam, apesar de Portugal possuir nove elementos com insígnias da FIFA. Os restantes sete servem para colmatar "buracos" e aqueles dois chegam até aos oitavos de final e ficam por aí. Os desempenhos ditos melhor conseguidos além fronteiras devem-se, sobretudo, ao nível de atenção e concentração dos árbitros. Um jogo mal conseguido pode determinar o fim do sonho. Internamente, porque a classificação se faz com base na média do efectuado durante a temporada, a descontracção é sempre maior. Além disso, as regras e rigores internacionais exigem muito mais das equipas intervenientes e dos jogadores. Não nos esqueçamos que um jogador, nas competições internacionais, ao segundo amarelo fica fora do próximo encontro, por cá é ao quinto. Refiro isto como pequeno exemplo.

F: Qual seria a melhor solução para resolver esse problema dos erros? Bolas com chip, mais assistentes?
JC: Em minha opinião a solução seria mais competência e menos dinheiro. É histórico e ancestral, desde que o vil metal passou a impor vontades, seja em que actividade for, de imediato se perderam referências éticas, sociais, culturais e, sobretudo de honra.

F: Qual é o melhor árbitro português?
JC: No presente é o Jorge Sousa.

F: Também enquanto comentador não é uma figura consensual.
JC: Naturalmente que não. Não tenho essa veleidade muito simplesmente porque ao comentar recordo inúmeras vezes erros por mim cometidos.

F: Além do mais é também membro da AG do Belenenses, como já referiu. Como concilia tudo isso?
JC: Quem corre por gosto não cansa! Antes de ser comentador e vice Presidente da Mesa da Assembleia Geral de "Os Belenenses", sou profissional bancário. Procuro corresponder com a maior das dedicações e do melhor modo que sei. É verdade que exige muito, principalmente o cargo de de dirigente no clube por causa da incompreensão e facciosismo doentio de uns quantos mas, para quem foi árbitro durante tanto tempo, tenho poder de encaixe suficiente para compreender determinadas expressões reveladoras da impreparação social do nosso povo.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Tudo igual, senhores!

ANÁLISE JORNADA 18 - LIGA SAGRES

FC Porto, Benfica e Sporting ganharam. O que significa que nada se alterou entre eles. O que não impediu que tivessem que sofrer a bom sofrer para o conseguir. Até porque nenhum deles foi brilhante. Na luta pela Europa, Nacional e Leixões ganharam terreno frente a adversários directos. Aí também vai haver luta até final!


O FC Porto voltou a ganhar no Dragão, três empates depois. Não nada foi fácil, não senhor. Longe disso. Mas vamos pelo início até porque Jesualdo surpreendeu - ou talvez não, se virmos o número de cartões amarelos - ao deixar Lisandro e Rodríguez no banco, colocando Farías e Mariano González nos seus lugares. E os portistas entraram bem melhor na partida: com vontade de resolver o jogo cedo e afastar os fantasmas que parecem assombrar o Dragão; Paiva, guarda-redes do Rio Ave é que não parecia muito para aí virado. Já depois de Raul Meireles e Hulk terem acertados nos ferros, o FC Porto chegou à vantagem num penalty de Lucho. Foi aos 37 minutos e coroava bem o domínio portista. Voltou a marcar dois minutos depois por Mariano González, num golo que nem Elmano Santos nem o seu assistente consideraram. Chegou, então, o intervalo. E a segunda parte que foi bem diferente. O FC Porto pareceu desligado do jogo e sem vontade de continuar aquilo que de bom havia feito; o Rio Ave, por sua vez, ia aproveitando a passividade dos portistas e estava mais perigoso. A entrada de Candeias animou a equipa de Carlos Brito que conseguiu empatar com um golo enorme de Fábio Coentrão, ele que já tinha acertado no poste da baliza de Helton. E os fantasmas regressaram, o jogo estava empatado. Jesualdo Ferreira tirou Cissokho e lançou Lisandro, foi tudo ao ataque. O FC Porto voltou a marcar, por Farías, a quatro minutos do fim. Também em cima dos noventa, o mesmo Farías aumentou para 3-1 e acabou, de vez, com a história do jogo. E com a crise dos portistas em casa. Do outro lado, o Rio Ave mostrou que não são precisos autocarros para jogar com um grande.


Bem, primeiro o resultado: o Benfica ganhou 3-2 ao Paços de Ferreira, no Estádio da Luz. Este teve mesmo um final à Hitchcock. Autenticamente. Para contextualizar, dizer que Quique Flores deixou Yebda (em perigo de exclusão) no banco, colocou David Luiz na lateral direita em substituição do castigado Maxi Pereira voltando a entregar o lado esquerdo da defesa a Jorge Ribeiro e Cardozo foi titular em detrimento de Suazo. Para a crónica do jogo, quase que bastava só referir a segunda parte, altura em que o jogo foi verdadeiramente intenso. Embora na primeira, o Benfica tenha estado perto de marcar também: aos 12 minutos, quando nem Luisão nem Aimar conseguiram empurrar para o fundo da baliza pacense. Ora vamos então para a segunda metade, porque pouco mais se passou na etapa inicial. Que começou melhor para o Paços de Ferreira com Leandro Tatu que conseguiu uma oportunidade soberana para o Paços mas, depois de passar por Moreira, não teve arte nem engenho para empurrar para dentro da baliza; Quique decidiu trocar Carlos Martins por Di María para ter mais velocidade e presença na frente. E correu mais riscos, também. O Benfica chegou ao golo, numa gaffe enorme do guarda-redes Cássio que Cardozo aproveitou. Caiu do céu aos trambolhões, é verdade. Foi o lance que desbloqueou o jogo, até porque Ruben Amorim aumentou a vantagem, pouco depois. E o jogo parecia entregue. Ferreira, com um remate cruzado, fez questão de desenganar quem assim pensava e o Paços voltou a acreditar que era possível mais qualquer coisa. Di María não gostou e voltou a aumentar a vantagem, com um golão de fora da área. 87 minutos, 3-1, ninguém diria que o Benfica ainda teria que sofrer. Mas teve, porque já em descontos Chico Silva reduziu para 3-2. E no último lance do jogo, no último suspiro, Kelly acertou em cheio no poste da baliza de Moreira. Foi mesmo à Hitchcock este final. Tal como havia sido na Mata Real, na primeira volta.

Para não variar a tendência, também o Sporting teve de sofrer, no Restelo. Frente ao Belenenses era obrigatório ganhar: para continuar vivo na luta pelo título depois de ter sido derrotado, em Alvalade, pelo Sp.Braga e ainda por causa do derby frente ao Benfica da jornada seguinte. Rui Patrício devido a uma lesão na mão e João Moutinho, com febre, estiveram de baixa; jogaram Tiago e Adrien. Mas as alterações de Paulo Bento não ficaram por aí: Pedro Silva foi o lateral direito, na vez de Abel, enquanto que Miguel Veloso jogou na esquerda. Quanto ao Belenenses, jogou com um esquema de três centrais - Arroz, Carciano e Ávalos - e um sistema de contenção. Ora relativamente ao jogo, a primeira parte foi quase só do Sporting. Liedson, Izmailov e Carriço bem assustaram Júlio César mas não passou disso. O falhanço do central, aos 29 minutos, foi o mais flagrante. Chegou o intervalo com o nulo e com um sentido único na partida: a baliza do Belenenses. Para o reatamento, Jaime Pacheco decidiu estender um pouco mais a equipa e trocou o central Rodrigo Arroz por Marcelo, um avançado. Foi exactamente o homem que entrou, Marcelo, quem marcou primeiro ainda que beneficiando de uma posição irregular. O golo mexeu com a equipa de Paulo Bento que perdeu um pouco o controlo que tinha até então. As entradas de Yannick e Hélder Postiga foram determinantes para que o Sporting voltasse a ser mais perigos. Bastaram quatro minutos para o Sporting dar a volta: primeiro, aos 75 minutos, Vukcevic empatou; depois, quatro minutos depois, Hélder Postiga marcou o golo da reviravolta. Ganhou e ganhou bem.

Os três grandes tiveram todos que sofrer para ganhar. Mas houve mais nesta jornada 18 da Liga Sagres. Mais Nacional que goleou o Vitória de Guimarães, na Madeira, por 3-0 com mais um bis de Nené. Porém, há mais nesta equipa de Manuel Machado, para além de Nené e muito futebol: Ruben Micael e Igor Pita. Num outro duelo por onde a Europa pode ser decidida, o Leixões venceu o Sp.Braga. Há que dizer que a equipa de Jorge Jesus foi melhor, dominou o jogo mas foi traída por Frechaut num autogolo que determinou o vencedor. O Leixões contou com a sorte e, mais uma vez, com um gigante chamado Beto. O Marítimo ganhou ao Estrela num jogo sem grande história e o Trofense empatou com a Naval a dois.

Continua tudo igual na frente, com o FC Porto a ter um ponto de vantagem sobre o Benfica. Sábado há derby que irá, certamente, mudar algumas coisas. E também a luta pela UEFA está bem renhida.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

As diferenças entre Quique e os outros

Confesso que gosto de Quique Flores. É uma pessoa frontal que não arranja desculpas para tudo e mais alguma coisa, prefere assumir que algo não está bem. Hoje, na conferência de imprensa que antecede o jogo com o Paços de Ferreira, foi confrontado com a polémica do clássico (ainda dura!) e com o facto de os encarnados pedirem castigo para Lisandro López por simulação no lance que originou o empate. Quique podia ter dito que o Benfica foi prejudicado, que Lisandro era um enganador. Mas não. Lembrou-se que já fora jogador e que também, por vezes, simulava porque todos - ou quase todos - o fazem. A resposta foi directa, do mais directo que pode existir: "Quando era jogador também fazia simulações". E é por isso que se diferencia da maioria dos treinadores do campeonato português. Eu tiro-lhe o chapéu.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Comunicação? Onde?

Não percebo muito bem as políticas de comunicação dos clubes. Ou melhor, não percebo para que servem os directores de comunicação. É só para acompanharem os treinadores nas conferências de imprensa? Parece-me que não. Os clubes, principalmente os de topo, têm todos um departamento específico para tratar das relações com a Comunicação Social e com os próprios adeptos. Na minha opinião, é para isso que eles servem: para que exista uma boa colaboração entre clubes e imprensa. Porém, não é isso que acontece.

Vou falar só dos casos de Benfica e FC Porto. Onde a política de comunicação não funciona, simplesmente. João Gabriel é o director de comunicação dos encarnados, mas por vezes costuma meter os pés pelas mãos e dizer algumas coisas sem sentido nenhum, como quando chamou porta-voz do FC Porto a Soares Franco, presidente do Sporting. No FC Porto acontece o mesmo. O director de comunicação é Rui Cerqueira, saído da RTP. Contudo, nunca foi ouvido em defesa da equipa na imprensa. Quem se faz ouvir é o Labaredas no site oficial, onde aparecem textos sobre tudo e mais alguma coisa mas sem que ninguém os assine. Pergunto eu: onde está a comunicação?

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Pela enésima vez, um texto sobre árbitros

Em Portugal fala-se demasiado dos árbitros. Todas as semanas, umas atrás das outras há queixas da arbitragem. Algumas com razão pois concordo com quem diz que os árbitros portugueses erram de mais. É de La Palice e não há como negar. Mas há que perceber que quanto mais pressão se fizer, pior será. Porque não há cultura desportiva, simplesmente. Quer nos jogadores que cada vez mais aproveitam as críticas e são mestres na arte de simular; quer nos dirigentes e treinadores, os mesmos que reclamam e gritam alto e bom som que são prejudicados mas quando são eles os beneficiados desculpam-se sempre, ou "estava longe" ou "não deu falo sobre o assunto". Há quem chame a isso falta de coerência. Para mim é hipocrisia.

Contudo, são os adeptos quem mais se manifestam contra as arbitragens. Mas apaudem o antijogo: gostam que um jogador arranque um penalty, chamam-lhe inteligente; não gostam que outro não queira enganar o árbitro e pretenda prosseguir a jogada, é um jogador "sem experiência" e que não sabe aproveitar. Porém, se for um jogador da equipa adversária a mergulhar dentro da área já é um falso, um enganador. E pratica antijogo. Paradoxal, não? Mas é assim que funciona.

Com tanta simulação e com tanta crítica é normal que os árbitros estejam afectados (ia escrever desnorteados...). Porque eles têm que decidir em segundos, sem direito a repetições de todos os ângulos e mais alguns. Será que vai haver uma jornada em que ninguém se queixe das arbitragens? Não me parece. Sinceramente.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

António Boronha: o dirigente e o blogger

António Boronha é um nome bem conhecido do futebol português. Começou por ser dirigente do Farense, o seu clube de sempre, mas ficou conhecido na Federação Portuguesa de Futebol, onde foi vice-presidente de Gilberto Madaíl. Em 2002, na fase pós-Mundial demitiu-se. Afastou-se do futebol e passou, então, a escrever num blogue (antonio boronha). Com grande sucesso.

"HOUVE MÁ LIDERANÇA NA COREIA"

FUTEBOLÊS: Foi durante largos anos dirigente desportivo, primeiro no Farense e depois na Federação Portuguesa de Futebol. Que recordações guarda desse tempo?
ANTÓNIO BORONHA: As melhores e as piores nos dois lados. No Farense, as grandes alegrias desportivas - entre as quais saliento a participação nas final e finalíssima da Taça de Portugal, em Junho de 90 - que nunca tive muito tempo para saborear devido às permanentes dificuldades financeiras; na Federação vivi o mandato de ouro em termos desportivos: campeão da europa de júniores em 1999, idem de juvenis em 2000, 3º lugar no Euro 2000 em AA e idêntica classificação no Mundial de futsal, disputado na Guatemala; pela negativa, excluídos os meus dois colegas de área, o Augusto Oliveira e o falecido Carlos Silva, as faltas de qualidade e de carácter dos 'pares' que comigo se sentavam à mesa da direcção da FPF.

F: Destacou-se como 'vice' da FPF e saiu após o Mundial 2002. Por que o fez?
AB: Sobretudo pelo que disse na resposta anterior. No final do mandato senti-me rodeado de 'macaquinhos' mais preocupados em mostrar as 'habilidades' ao chefe do que em tratar dos muitos problemas do futebol português.

F: Esse Mundial foi catastrófico para Portugal. Passou sempre uma imagem de desorganização e de falta de liderança. Concorda?
AB: Concordo que essa foi a imagem que passou para o exterior. Mais do que falta de liderança houve má liderança. Primeiro, e desde logo a partir do início do ano de 2002, má por ausente e desatenta da parte do seleccionador António Oliveira, depois nossa, de Madaíl e minha, no plano institucional por não termos sabido resolvê-la a tempo. Acrescente-se que no plano dos convocados a maior parte estava fisicamente de 'gatas', tendo sido o trabalho de recuperação feito, nulo.

F: Houve quem fizesse uma comparação com o 'caso Saltillo', no México em 1986. Acha o mesmo?

AB: O único elemento comum que vejo entre as duas situações é Amândio de Carvalho que nos dois casos mais não terá feito do que aquilo em que é especialista: dizer que sim à mão que lhe dá de comer. No resto penso que não. Em 86, no México, houve muito amadorismo e pouco dinheiro; na Coreia, julgo que se passou o contrário: muito dinheiro posto à disposição de maus profissionais.

F: Não saiu a bem. Sente-se desiludido?
AB: Desiludido não. Saí porque quis. Muito magoado com os defeitos de carácter das pessoas? Sim!

F: Pouco depois de se ter demitido apresentou o 'Relatório Boronha'. Fê-lo para que os portugueses percebessem melhor o fracasso da Selecção?
AB: Primeiro fi-lo porque era essa a minha obrigação; depois porque quis dizer aos meus 'colegas' da altura que não papava 'grupos'! Muito menos o 'grupo' do senhor presidente.

F: O que é certo é que nunca mais voltou ao futebol. Arrepende-se disso?
AB: Voltei, voltei! Basta ver que tenho o blogue mais lido em Portugal, maioritariamente com 'entradas' sobre futebol. Não o jogado no campo, que para isso está o Luís Freitas Lobo, o Bruno Prata e o Tadeia, mas o 'outro', o que explica muitas vezes o que se joga dentro das quatro linhas.

F: Pode-se dizer que conhece o futebol português por dentro?
AB: E por fora!

F: Tem actualmente um dos blogues mais consultados a nível nacional onde debate temas do dia-a-dia futebolístico e onde conta algumas das suas memórias. O que o atraiu na blogosfera?
AB: Entrei na blogosfera, como simples consumidor, no inverno de 2002. Comecei a aperceber-me que eram tão ou mais interessantes, oportunas e acutilantes, as opiniões que aí podiam ser lidas sobre os preparativos da 'guerra do Iraque' ou da ida do Durão Barroso para Bruxelas, do que as reproduzidas, sem 'sal' nem o tempero da independência, nos jornais. Depois, depois...seguiu-se o passo natural: montei a minha própria banca de opinião.

RÁPIDAS:


Farense: A grande e única paixão.
FPF: A história da pulhice humana sem o traço do imortal José Vilhena.
Gilberto Madaíl: O pulha-mor.
António Oliveira: Um homem que me encantou como poucos, como jogador, e desencantou como nenhum, como seleccionador nacional.
Scolari: Visto de longe, um excelente fabricante de grupos coesos mas um técnico intuitivo mas técnica e teoricamente pouco dotado.
Carlos Queiroz: Um técnico, técnica e teoricamente muito habilitado, intuitivamente pouco dotado, parecendo ter dificuldades em fazer da Selecção um grupo forte e coeso.

O jackpot de Scolari e Pedro Proença

Luiz Filipe Scolari foi demitido do comando técnico do Chelsea. Apenas meio ano depois. São os resultados que mandam. E não eram nada bons para aquilo que Mourinho os habituou; as exibições muito menos. Scolari não tinha conseguido ganhar a nenhum dos concorrentes directos - a derrota, 3-0, com o Liverpool piorou as coisas - e não resistiu após o empate, em casa, com o Hull City. Bem melhor é a indemnização que Abramovich vai pagar: são 17 milhões de euros, aproximadamente. É um jackpot. Entretanto, Guus Hiddink irá ser o novo treinador do Chelsea. Mas continuará, também, a ser o seleccionador da Rússia. Outro milionário!

Pedro Proença, agora. O árbitro do FC Porto-Benfica, tão cedo não se vai livrar do penalty assinalado no Dragão. Até porque foi daí que resultou o golo do empate. Errou o árbitro, pois foi mal assinalado, assim como também errou ao não assinalar penalty sobre Lucho Gonzaléz, na primeira parte. É mau dizer que um erro foi consequência do outro. Contudo, pior do que isso é que se estabeleçam ligações por causa do clube do árbitro. A alguns anos atrás, Proença assumiu ser sócio do Benfica. E depois? Se tem competência, o clube de que gosta mais não interessa para nada. E Pedro Proença é competente.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O clássico que deixou tudo na mesma e o Super-Braga

ANÁLISE JORNADA 17 - LIGA SAGRES

(Crónica do FC Porto-Benfica)

O clássico do Dragão poderia ter alterado o líder ou então fazer com que essa posição fosse reforçada. Mas não, nem uma coisa nem outra. Porque deu empate e ficou tudo como estava até aqui: FC Porto passa mais uma jornada como líder enquanto que o Benfica se mantém a um ponto. E tanto portistas como benfiquistas aumentaram a vantagem (é um ponto, ok, mas pode fazer a diferença) para o Sporting, derrotado, em Alvalade, pelo Sp.Braga. Pelo Super-Braga.


O Sporting podia ser uma das equipas beneficiadas da jornada, pois os dois outros rivais jogavam entre si e havia a certeza de que pelo menos um deles perderia pontos - até perderam os dois, no final de contas. Podia, sim senhor, mas para isso era preciso ultrapassar o Sp.Braga que apesar das derrotas com Benfica e FC Porto (tão, tão polémicas!) é uma equipa muito forte. E confirmou-o em Alvalade. Com uma exibição categórica, personalizada e sem receios. Já todos sabem que Jorge Jesus é um estratega, um especialista das tácticas e voltou a prová-lo mais uma vez, ao mudar o losango para um 4x3x3 e preenchendo todos os espaços possíveis. Quanto ao jogo, começou melhor o Sporting: Vukcevic trabalhou bem e foi Evaldo quem salvou o golo. Foi este o mote para o Sp.Braga passar da teoria à prática e começar a ser bem mais perigoso para Rui Patrício - Renteria e Luis Aguiar, sobretudo. Chegou ao golo, aos 59 minutos. Num lance atabalhoado, Meyong colocou a bola dentro da baliza, já depois de César Peixoto ter feito tiro ao boneco. Plenamente justo. Porém, dez minutos depois foi o Sporting a marcar, por Derlei. Voltava tudo à estaca zero. Ou quase porque os bracarenses foram sempre superiores. E marcaram outra vez, num excelente lance de Luis Aguiar que Renteria concluiu bem. Muito bem jogado. Mas houve mais, desta vez com os papéis invertidos: Renteria fez a jogada, Aguiar rematou e Carriço, milagreiro, salvou em cima da linha; a bola sobrou para Mossoró que, de um ângulo muito apertado, fez a bola passar por cima de Rui Patrício e entrar na baliza do Sporting - ficaram algumas dúvidas se a bola terá entrado mesmo mas o auxiliar disse que sim e isso é que conta. Era o 1-3, a oito minutos do fim, a vitória estava no papo. Izmailov, em cima do apito final de Jorge Sousa (boa arbitragem!) reduziu a desvantagem. Grande vitória do Sp.Braga.

Chega agora a vez do Nacional. A equipa de Manuel Machado parece cada vez mais apostada em lutar por um lugar na Europa. Conta com Nené, o melhor marcador da Liga Sagres (12 golos) como grande figura. Nesta jornada, na Figueira, marcou mais dois na vitória por 4-0. Quem também está a emendar a maneta é o Vitória de Guimarães que, depois de um mau início de época, tem conseguido resultados positivos. Desta vez frente ao Marítimo, vitória por 2-1. O Leixões quebrou a série de empates que tinha e voltou a vencer. Ante o Trofense, com uma exibição espantosa de Beto (mais uma!). Destaque para a primeira vitória de Carlos Brito no comando do Rio Ave, com um golo de Yazalde, avançado emprestado pelo Sp.Braga. E ainda o Estrela da Amadora-Vitória de Setúbal. Um jogo chato, sem motivos de interesse! Claro, acabou 0-0. No encerramento da jornada, Paços de Ferreira e Belenenses também empataram.

O campeonato está bom. Equilibrado, disputado e renhido. Daqui a duas jornadas volta a haver clássico, Sporting-Benfica. Isto promete!

domingo, 8 de fevereiro de 2009

FC Porto-Benfica, 1-1: Fez-se justiça por linhas tortas


Estádio do Dragão, 50 mil espectadores, ambiente fantástico. Jogaram os dois primeiros da classificação, FC Porto e Benfica. Deu empate. O clássico foi vivo, teve intensidade e emoção. Foi um jogão, apesar de não ter sido um primor técnico. E acaba por ter um efeito de copo meio cheio: o FC Porto continua líder e o Benfica mantém-se a apenas um ponto. O resultado foi justo. Mas houve polémica também.

Durante a semana que antecedeu o jogo falou-se da condição física que poderia ser importante para o desfecho do clássico. Tinha havido Taça da Liga, na quarta-feira e Jesualdo Ferreira, como se sabe, poupou toda a equipa ante o Sporting; Quique Flores não foi nessas cantigas e, apesar de ter feito descansar alguns jogadores, não fez nenhuma revolução no onze. Então, o FC Porto tirou proveitos desse descanço e esteve melhor fisicamente? Não se notou absolutamente nada. Porque o ritmo nunca foi avassalador. E foram os encarnados quem tiveram o controlo na maior parte do tempo.

A primeira meia-hora foi de claro domínio do FC Porto. Com oportunidades. Uma em que Lucho, isolado só com Moreira pela frente, cabeceou por cima foi a mais flagrante. Por esta altura, o Benfica sentia dificuldades na construção de jogo e quase nunca saía para o ataque. Porém, este ritmo imposto pelos portistas durou 30 minutos, apenas isso - não foi avassalador, nem por sombras. E não produziu efeitos. Porque depois apareceu Aimar que lançou uns pózinhos e o Benfica começou a ser melhor. Era pelo argentino que passava a construção de jogo e a ofensividade do Benfica. Lá atrás, Sidnei e Luisão tratavam de Hulk e Lisandro - jogou muito longe da zona do agrião, onde gosta de estar. A partida estava agora mais aberta e dividida com o Benfica por cima. Na primeira grande ameaça dos encarnados, Reyes esteve perto de marcar mas Helton não deixou. Não foi à primeira, havia de ser à segunda. Yebda saltou mais alto do que toda a gente e mandou a bola para o fundo da baliza do FC Porto. No momento certo, em cima do intervalo. O Benfica estava em vantagem. E bem.

EMPATAR POR LINHAS TORTAS

A segunda parte começou mais expectante. O FC Porto, naturalmente, meteu as mãos à obra na procura do empate e o Benfica juntou mais as linhas, à espera do que o jogo dava. Uma equipa personalizada, segura de si e com o controlo das operações. Poucos minutos estavam da segunda parte quando David Suazo esteve pertinho de fazer o segundo. Era uma machadada que acabaria com o jogo, numa altura em que os portistas procuravam a todo o custo o empate. Mas sem grande clarividência. O Benfica estava com uma defesa forte. E os avançados do FC Porto com falta de inspiração, também.

Estava cumprido o primeiro quarto de hora da segunda parte e Quique Flores meteu a marcha-atrás: retirou Suazo, o único ponta-de-lança e lançou Di María para explorar as transições rápidas. Jesualdo respondeu colocando Mariano González em campo para o lugar de Raul Meireles, explorando a velocidade também. Por esta altura, o Benfica fazia a melhor exibição da época e o resultado parecia cada vez mais fechado. Até aos 70 minutos, altura em que Pedro Proença assinalou penalty num lance entre Yebda e Lisandro. Um erro do árbitro, não houve falta. Lucho aproveitou e empatou a partida. O Dragão foi à loucura.


O jogo, praticamente, ficou sentenciado aí com o golo do empate. Os portistas voltaram a animar-se e foram em busca da vitória. Hulk, de fora da área, ainda obrigou Moreira a uma grande defesa; do outro lado, Di María assustou Helton, sem consequências. O jogo estava partido e qualquer uma das equipas podia ter marcado. Nesta fase, é justo dizer que o FC Porto voltou a ser melhor. O clássico acabou empatado. Com justiça. Apesar da gaffe de Pedro Proença.

DESTAQUES:

PEDRO PROENÇA: Fica manchado pelo penalty. Pedro Proença estava em cima da jogada, viu a mão de Yebda no peito de Lisandro e não hesitou (a mão realmente estava lá, mas o Licha já ia em queda antes disso). Errou, contudo. Como já havia errado antes quando mandou jogar num lance em que Reyes prendeu o pé de Lucho González, dentro da área, aos 18 minutos. Foi pena.

JESUALDO FERREIRA: Demorou a reagir com um Benfica superior e com claro controlo do meio-campo. Lançou depois Mariano e Farías, sem efeitos. De início, voltou a modificar o esquema, jogando com Rodríguez no meio e Hulk e Lisandro na frente mas os avançados portistas não estiveram muito em jogo.

QUIQUE FLORES: Tacticamente esteve melhor do que Jesualdo mas cometeu um pecado: retirou Suazo quando o Benfica estava em vantagem e procurava o segundo, passando a jogar sem ponta-de-lança. Foi como entregar o ouro ao bandido.

MELHOR EM CAMPO: Aimar. O jogo ofensivo do Benfica foi obra dele. É outra música com a bola nos pés.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Uma barrigada de futebol

Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete! São sete os jogos transmitidos, hoje, pela SportTV em directo. Três de Inglaterra, dois de Itália e mais dois de Espanha. Uma barrigada de futebol. Delicioso o Portsmouth-Liverpool, narrado por Pedro Sousa.

Um verdadeiro jogo de Premier League, cheio de emoção e intensidade. Na segunda parte, principalmente - a primeira foi muito pragmática, expectante. Ainda com o jogo empatado a zero, Ryan Babel protagonizou um lance que parecia tirado dos melhores apanhados de futebol, quando, com a baliza completamente escancarada, não conseguiu marcar. Na jogada seguinte, golo do Portsmouth. É futebol. Sete minutos depois, Peter Crouch 'ofereceu' a bola a Dirk Kuyt, que não marcando ganhou um livre indirecto já dentro da àrea; remate de Fabio Aurelio e golo. Empate, aos 70 minutos. Foi então numa fase em que o golo do Liverpool, da reviravolta, se anunciava que o Portsmouth voltou a marcar. Por Hreidarsson, num frango de Reina. Mais um erro, mais um golo e a equipa de Tony Adams estava de novo na frente. Até ao minuto 85, quando Kuyt aproveitou uma barracada de Distin e fuzilou David James, também ele com culpas. Segundo empate no jogo. Ora bem, já se sabe que o Liverpool é a equipa que mais golos marca em período de descontos; cabeceamento de Fernando Torres e já está. Aos 91 minutos, estava feita a reviravolta. Depois de estar por duas vezes a perder. O futebol tem destas latitudes, como diria o outro.

Antes disso já tinha visto o Manchester City ganhar ao Midllesbrough com um golo de Craig Bellamy e uma exibição assombrosa do guarda-redes Shay Given, recém-chegado do Newcastle. Já tinha visto o Chelsea voltar a desperdiçar pontos, em casa, com um nulo frente ao Hull City. De Itália, vi o Inter ganhar 3-0 em Lecce. Neste momento ouço Carlos Dias no AC Milan-Reggina. E mesmo ao lado há o Real Madrid-Racing Santander. Tanta bola!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

As Crónicas do BB


A COSMÉTICA NÃO CHEGA

Estão na moda as operações de cosmética, quer no sentido figurativo, quer no sentido lato. No sentido lato, as ditas operações vão levando algumas figuras nacionais ao contacto com o bisturi, e apesar do sofrimento (não esbocem esse sorriso maroto porque isto não tem nada a ver com a Maya) que revelam após as ditas operações, não há grandes reclamações.


No sentido figurativo, elas raramente resultam, quer porque são arquitectadas por gente sem capacidade, quer porque são feitas em cima do joelho. É o que acontece no futebol português, onde as ondas de regeneração, de tão mal calculadas, se estão a transformar num tsunami de asneiras. Para não ser muito fastidioso tomemos apenas como exemplo a Taça da Liga, competição criada para dar mais jogos e consequentemente mais dinheiro aos clubes. Jogos só para alguns, os que chegam à fase final de grupos, porque os outros ficam logo pelo caminho.. Dinheiro só para os “grandes”, que beneficiaram de um sorteio “cozinhado” a preceito, e a verdade é que não “queimou no refogado”, pois saiu direitinho como tinha sido calculado, Sporting, Benfica, FC Porto e V. Guimarães nas meias-finais. Falta de espectadores na prova (ainda ontem nas meias-finais um total de 31.00 espectadores nos dois encontros), jogos sem interesse competitivo, ausência de delegados de arbitragem numa prova inequívoca que, nem a Liga, liga à Taça da Liga, e um regulamento arcaico, são as queixas mais ouvidas.


Sobre o regulamento e o célebre “goal average” já muito se explicou, e se o espírito da letra não condiz com o espírito da lei, o melhor é não se meterem a fazer regulamentos com anglicismos ou francesismos. A língua portuguesa é perfeita, embora alguns dos legisladores não a domine também na perfeição, mas isso já são outras histórias.


Faltava a cereja no topo do bolo, o argumento, estúpido e sem senso, dado pelo Conselho de Justiça da Federação, sobre o recurso do Belenenses que foi mal endereçado, pois nem sempre se deve seguir o caminho que os franceses indicam, “cherchez la femme”. É tudo uma questão de saber traduzir, coisa que os juízes não fizeram, optaram pelo que se quis dizer e não pelo espírito da lei. Abriu-se um precedente grave com esta decisão, não se julgava pelo que está escrito nos regulamentos, mas pelo que o bom senso manda. Já estou a ver alguns “chicos-espertos” do nosso futebol a começar a tirar proveito desta coisa do bom senso. Para os doutos “justiceiros”, média de golos e diferença de golos é a mesma coisa, na linguagem tida no futebol como comum. Argumentam ainda com a brilhante ideia que "mister" é a palavra comum para treinador. Eu também tenho uma palavra comum para os classificar, “assholes”, que pode ser traduzida como pessoas tontas ou estúpidas, mas dada a confusão reinante na Wikipédia para a definição correcta, o melhor é não a utilizar para fugir a más interpretações. Assim, apenas digo que, em certas pessoas, as operações de cosmética não resultam.


BERNARDINO BARROS

Taça da Liga: Derby dos derbis na final

Vai haver derby na final da Taça da Liga. Benfica-Sporting, o derby dos derbis. A equipa de Paulo Bento goleou o FC Porto, por 4-1, em Alvalade. É certo que os portistas alinharam sem nenhum dos titulares, mas de qualquer forma é sempre um jogo grande. Na Luz, o Benfica ganhou ao Vitória de Guimarães. Sem jogar bem, mais uma vez. Mas está na final. E é isso que interessa.

Apesar de jogar com o Sporting, um clássico, Jesualdo Ferreira não convocou nenhum dos habituais titulares. Preferiu levar jogadores menos utilizados e alguns juniores. Percebe-se por causa do jogo de domingo com o Benfica, para o campeonato. Paulo Bento também poupou alguns jogadores, mas mesmo assim jogou com seis habituais titulares. Ora vamos ao jogo. Que começou, praticamente, com o golo do FC Porto: a equipa do Sporting dormiu na parada, Tarik Sektioui aproveitou e colocou a bola dentro da baliza. Ainda nem dez minutos estavam decorridos. Porém, o Sporting assumiu o controlo do jogo e partiu em busca do prejuízo. Nuno, por duas vezes, evitou o golo do empate mas foi Tomás Costa quem esteve mais perto de marcar para o FC Porto. E este foi o último lance de perigo do campeão nacional em todo o jogo. Já depois de Postiga ter visto um golo ser-lhe bem anulado, o Sporting conseguiu empatar. Carlos Xistra (vá-se lá saber porquê) marcou penalty e Romagnoli enganou Nuno. 1-1 ao intervalo. No reinício da partida, o Sporting voltou a marcar. Novo penalty - aparetemente bem marcado, apesar do teatro de Hélder Postiga - e novo golo de Romagnoli. O jogo acabou. O FC Porto não conseguiu reagir e o Sporting jogou a bel-prazer. E voltou a marcar. Por duas vezes, Derlei. Primeiro após um passe sensacional de Vukcevic; depois com um pontapé de moinho fantástico que não deu hipótese a Nuno. O dragãozinho foi impotente e saiu vergado de Alvalade.

Na outra meia-final, o Benfica recebeu o Vitória de Guimarães. Quique Flores também fez algumas alterações na equipa (nenhuma revolução, nem de perto nem de longe): Quim, dois meses depois, regressou à baliza; Miguel Vítor foi o lateral direito em troca com Maxi e Reyes, Aimar e Katsouranis regressaram. O Vitória entrou melhor e no primeiro quarto de hora foi a melhor equipa. Porém, nunca criou lances de perigo iminente para a baliza de Quim. Perigo criou o Benfica, quando Cardozo acertou na barra - está com a pontaria afinada nos ferros. Mas este foi um caso isolado. Porque chegou o intervalo, sem grandes oportunidades e com um jogo muito disputado a meio. O reatamento voltou a começar melhor para a equipa de Manuel Cajuda e Fajardo esteve perto de marcar. Talvez tenha sido o 'despertador' do Benfica e, depois disso, Quique Flores colocou Maxi Pereira na direita, passando Miguel Vítor para o centro da defesa, tornando assim a equipa mais dinâmica e mais perigosa. Até porque por esta altura o Vitória estava mais atrevido. Porém, foi o Benfica a marcar. Num autogolo de Gregory - um golaço, diga-se. E voltaram a marcar os encarnados, por Aimar (ao tempo, Pablo!) aos 87 minutos. Desmarets reduziu, dois minutos depois, para o Vitória. E Artur Soares Dias, excelente arbitragem, apitou para o final.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Os relatos únicos da Renascença

É por estas e por muitas outras que os relatos da Renascença são diferentes de todos os outros. São vibrantes, intensos e com boa disposição. Únicos. O Belenenses-FC Porto foi um exemplo disso. Não faltaram gargalhadas. Contagiantes.

(A propósito do cartão vermelho a Fucile que o deixa disponível para o clássico com o Benfica)

Pedro Sousa: Estes regulamentos da Liga são uma treta!

Jorge Coroado:
Fazem lembrar os regulamentos do campeonato das reservas, quando o Benfica, há uns anos, com Carlos Manuel fez cinco jogos de reservas na mesma semana para limpar o castigo do jogador.


Pedro Sousa: Há uns anos? Há trinta, não é?

Jorge Coroado: Também não sou assim tão velho, entenda-se.

Pedro Sousa: Mas quase...

Bernardino Barros: Ah ah ah