quinta-feira, 18 de junho de 2009

A festa do golo


Golos. É atrás deles que os jogadores correm, lutam e dão tudo o que têm. O golo é a essência do futebol, é por ele que multidões são arrastadas a um estádio ou ficam coladas à televisão. Por muito bom que um jogo possa ser, se não tiver golos não tem sentido. Quase como ir ao cinema e só ver uma parte do filme, sair sem saber o seu final. Num jogo de futebol acontece o mesmo. Sem golos, o espectáculo perde dimensão. Pode servir os interesses das equipas mas não dos adeptos. Portanto, hoje soube-me a pouco. O golo é um verdadeiro ópio.

Marca-se um golo, segue-se uma euforia total. Principalmente quando se trata de um golo decisivo, capaz de colocar um jogador ou uma equipa a tocar o céu. Uns correm desenfreados tentando fugir de todos aqueles que os tentam agarrar, outros ficam quase imóveis e agradecem ao divino pela ajuda. Há ainda aqueles que gostam de tirar a camisola, talvez num sinal de raiva, e acabam por ser castigados. Não tem nexo que os principais artistas do espectáculo não possam extravazar os seus sentimentos nos melhores momentos das suas carreiras. No entanto, os senhores que mandam futebol não querem saber disso para nada.

Já lá vão cinco anos mas não há como esquecer aquele sprint louco de José Mourinho em Old Trafford. O FC Porto tinha um jogo decisivo ou, como diria Scolari, um verdadeiro mata-mata. Aos portistas bastava um empate para juntar à vitória sensacional da primeira mão. Paul Scholes fez questão de ser desmancha-prazeres e colocou o Manchester United em vantagem na eliminatória. Foi assim que o jogo chegou ao minuto 89. Apareceu uma bendita falta à entrada da área, descaído para o lado esquerdo. Era o agora ou nunca para o FC Porto. Os adeptos ingleses puseram as mãos na cabeça, alguns nem quiseram ver, como que antecipando um possível empate.

O sul-africano Benni McCarthy encarregou-se da marcação do livre: tomou balanço, esperou pelo apito de Valentin Ivanov e rematou em jeito. Tim Howard, o guarda-redes do United, foi melhor e conseguiu defender. Defendeu para a frente, porém. Surgiu Costinha, no sítio certo à hora certa, chutando para dentro da baliza do Manchester. Nenhum português ficou parado naquele momento, ninguém aguentou naquele estádio. José Mourinho lá estava no banco. Viu o golo, saiu disparado, correu ao longo da linha lateral. Saltou até chegar onde estavam os jogadores portistas. Alguém conseguiu ficar indiferente?

Esse lance é uma boa amostra de como um golo pode ser festejado. Com a adrenalina nos píncaros, quase como um Axl Rose quando sobe ao palco, com toda a energia. Para terminar, tem que se falar também de quem relata um golo em directo. Não existe forma de conter a alegria, não há como despir a camisola. Impossível ficar indiferente quando um relator de rádio grita a plenos pulmões um goooolo!, impossível. Delicioso, simplesmente. Um golo tem a capacidade de colocar um país parado e um país emocionado, não é Jorge Perestrelo?

VISTO DA BANCADA é um novo espaço de opinião semanal no FUTEBOLÊS

2 comentários:

Anónimo disse...

Sao interessantes os varios sentimentos que um simples golo pode provocar num ser humano :

Alegria
Tristeza
Espanto
Raiva
Admiracao
Alivio
Resignacao
Desapontamento
Decepcao
Esperanca
Euforia
Entusiasmo
Etc

Andre

Ricardo Costa disse...

André,

Claro, dependendo de quem o marca e quem o sofre. O golo é o porquê de haver futebol.

Dei apenas o exemplo do golo de Costinha em Old Trafford porque foi um momento espantoso. Mas até poderia ser o de Iniesta, esta época, em Londres.