domingo, 14 de novembro de 2010

Opinião: O paradoxo de querer tapar e... destapar!



David Luiz desespera. Jorge Jesus diz-lhe que vai jogar no lado esquerdo da defesa: olhos no Hulk, hã?, o gajo não pode fazer nada, tira-lhe a bola ou faz o que quiseres, mas ele por ti não passa. Ouve, encolhe os ombros, mostra confiança. Lá no fundo não percebe: pôrra, cara, outra vez na esquerda?. A experiência não é boa. David Luiz revolta-se por dentro e resigna-se por fora. Vai para a sua nova posição, vê Sidnei ocupar-lhe o lugar ao lado de Luisão, tem Fábio Coentrão mais à frente. Não é ele quem manda. Só lhe resta cumprir. Continua nos seus pensamentos, nas suas dúvidas, na indefinição: vai dar barraca, vou-me queimar, isto não vai ser bom, não sei por que não joga o Fábio aqui ou o César. Só lhe resta confiar. Confiar que Hulk vai ter um dia mau. Faz figas. Mesmo que não acredite, tenta. Ou pode ser que tenha um jogo de sonho. Acredita que sim.

Seu Givanildo está com as horas contadas. O homem desaparece. Chega Hulk. Com pujança, revolta, talento, força e vontade de destroçar tudo o que lhe aparecer pela frente. Ele é o Incrível Hulk. Os adeptos saltam, agitam as bandeirinhas, gritam pelo brasileiro, dão-lhe força ritmada, espécie de Go West transformado, sabem que pode ser decisivo. O homem que fazia gastar cigarros uns atrás dos outros, trincar pastilhas elásticas com raiva, puxar os cabelos ou bater na perna com desespero, mudou, deixou-se dos vícios de querer jogar sozinho, ganhou capacidade para carregar a equipa. Não é a única estrela. Há Falcao, há Belluschi, há Varela e há Moutinho. Mas Hulk é a mais cintilante. Tem rasgo, tem alma, tem garra. Tem tudo para ser super. Pega na bola, encara David Luiz, dobra, levanta a cabeça, passa e festeja. Varela abriu a águia.

Jorge Jesus passa a mão pela testa. É preciso ter azar, pá, os gajos tinham que marcar mesmo por ali. A mudança deu mau resultado. Foi a primeira vez que Hulk rasgou, prego a fundo, velocidade de ponta, drible para aqui e drible para ali, insistiu e deixou David Luiz para trás. E deu logo golo. A ideia era tapá-lo, impedi-lo, secá-lo. Por isso é que a defesa mudou. O dragão aproveitou. Atirou-se ao pescoço do adversário, quis colocá-lo no lugar, impedir que ganhasse terreno na sua casa, empinou o nariz, puxou da personalidade, da vontade insaciável de bater no Benfica e deixá-lo ainda mais para trás. Chegou o segundo golo aos vinte e quatro minutos, o terceiro logo após. Os três surgidos pelo lado esquerdo. Foi aí que Jorge Jesus mudou. Falta ritmo, rotina, dinâmica quando se muda. David Luiz perdeu-se. Não pode render o mesmo em todo o lado.

André Villas Boas salta. Está feliz da vida: ganha por três-zero, tem o jogo ganho antes da meia-hora, diverte-se com a que a equipa faz, rejubila, enche-se de orgulho. Mas falta qualquer coisa. O treinador lá saberá. É um perfeccionista. Grita, corre, pincha. O dragão não pode adormecer e colocar-se à mercê. Tem que continuar forte, libertando fogo, encurralando o adversário e marcando, com astúcia e inteligência, nas oportunidades surgidas. O Benfica está atarantado, frágil, sem ligação, completamente à deriva e sem critério. Jorge Jesus olha resignado. Errou na estratégia, errou na forma como deixou o jogo seguir, errou por não ter agido, errou por ter dado avanço ao FC Porto. Mas dizer que foi só por isso é demasiado redutor: o Benfica nunca se encontrou, tem jogadores a léguas do que podem fazer e o dragão, imperial e senhor de si, foi forte, muito forte, para se sobrepor com segurança.

Hulk fizera das dele. Esta época faz sempre. Confia, acredita, embala, rompe e decide. Está como nunca. Só que ainda não marcara. Já não tinha David Luiz pela frente. Jorge Jesus tentara emendar a mão: o melhor central no seu lugar e o melhor lateral também onde deve estar. Mas três-zero dá vigor a quem ganha e tira razão a quem perde. Hulk carrega. Quer mais, muito mais, tudo lhe sabe a pouco. Fábio Coentrão faz falta, grande penalidade de caras, oportunidade para aumentar. O Benfica passa a fazer parte da lista de vítimas do Incrível. Falta o fecho: pontapé forte, colocado, traiçoeiro, mão-cheia de golos numa exibição de mão-cheia, para fazer corar o campeão nacional. A águia ficou envolta numa panóplia de erros, de indefinições e foi atada pelo dragão. O FC Porto liberta a sua raiva interior, aumenta a confiança e distancia-se. Yes!, diz.

3 comentários:

|Nobita| disse...

ola queria uma parceria com o teu blog e que nao vi o contacto
www.essenciabenfiquista.blogspot.com
felipe7_Cxb@hotmail.com.

|Nobita| disse...

ola queria uma parceria com o teu blog e que nao vi o contacto
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JornalSóDesporto disse...

De facto este Benfica só desilude.