terça-feira, 30 de novembro de 2010

Barça-Real: O triunfo de um estilo

O Barcelona venceu sem apelo nem agravo um Real Madrid apático e abúlico. José Mourinho sofreu a maior derrota da sua carreira, dias depois de completar dez anos como treinador. A explicação para Mourinho é simples, até porque quando se perde por cinco a zero, não há nada que possa dourar a pílula e o remédio é ficar sentado no aconchego do banco. Guardiola foi igual a si mesmo, sem se colocar num pedestal, magnânimo e coerente, quer na hora da vitória, quer na hora da derrota. Os jornais espanhóis vão, conforme as cores que defendem, tecer loas ou carpir mágoas sobre o resultado do jogo, mas sobretudo vão "crucificar" José Mourinho e as suas opções, porque ao fim de muito tempo, ele "pôs-se a jeito" e como diz o ditado "é malhar enquanto o ferro está quente".

Há uma diferença tão grande entre os dois clubes como o resultado deixa transparecer? Não. A essa conclusão chegaram, para além dos dois técnicos, outras figuras do futebol espanhol. Que aconteceu então? Diria que futebol. Ganhou o colectivo sobre o individual ou, se quiserem, ganhou uma equipa construída sobre uma em construção. O Barcelona foi igual a si próprio e ao seu estilo de jogo - posse e circulação de bola -, com Xavi e Iniesta a "tricotar" no miolo, Messi a desenrolar o novelo com passes de ruptura e Villa a dar o remate final em tapete de obra fina. Que apresentou o Real Madrid? Uma defesa com alas permeáveis, um Pepe atarantado a querer pisar locais que não os seus, deixando crateras nas suas costas, um meio-campo pouco pressionante e um ataque com pouca bola e ainda menos inspiração. Não se pode jogar contra o Barcelona sem correr e pressionar e o Real foi o que fez, com o resultado que se viu.

Guardiola foi melhor neste jogo que Mourinho e até antes do jogo já o tinha sido. Mourinho adiantou o onze e falhou porque jogou Benzema em vez de Higuaín (estava mesmo lesionado?). Guardiola disse que alguma vez teria que perder com o Real, mas ainda não foi desta. Messi foi melhor que Ronaldo, sendo decisivo nos passes que deu para Villa marcar e num pormenor de classe, logo no início do jogo, levando a bola ao poste da baliza de Casillas. O Barcelona foi por isso e outras razões, melhor, neste jogo, que o Real Madrid, como explica, e bem, o Ricardo no texto aqui em baixo. Como disse David Villa "foi o triunfo de um estilo".

Análise de Bernardino Barros ao partidazo entre Barcelona e Real Madrid

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Barcelona-Real Madrid, 5-0: Demolição com tiki-taka

COMENTÁRIO

Tiki
com Iniesta, taka com Xavi, tiki com Messi, taka com Pedro Rodríguez, tiki-taka com David Villa. Carrossel, rasgo, dinamismo. Tudo em movimento, sem tempos mortos, aproveitamento máximo, nada de quebrar. Tudo jogado no limite, passe para aqui e passe para ali, tiki-taka constante, bola colada no pé, sem falhas, movimento perfeito. O Barcelona entrou forte no clássico. Passes curtos, bola em profundidade, velocidade, dribles e descompensação. Intensidade máxima. Messi assustou com uma bola no poste, marcou no aproveitamento de uma distracção defensiva merengue, no tiki de Iniesta para o taka de Xavi, e aumentou, depois da reacção do Real Madrid, antes dos vinte minutos. Dois-zero, olhar sério de Mourinho: mãos nos bolsos, muito jogo para disputar e recolha ao banco. Sentou-se. Sem comentários, sem ondas, sem gritos. Apenas tranquilo, sereno, nada enérgico. Percebeu a dimensão do que acontecia.

Casillas cruza os braços. Visão turva, raiva que consome por dentro, farto da faena do Barcelona. Está quase no fim. O Real Madrid definhou pelo relvado. Falhou passes, não teve ligação, foi caótico, sentiu o futebol de passa e repassa do Barça bem fundo no coração, apenas desejou nunca ter subido ao relvado e não ter sequer desafiado as hostes catalãs. Os merengues foram demolidos. Casillas mantém a postura: olhar distante, sem saber muito bem o que ali se passa, completo desnorte e um inconformismo que não se controla, aumentado a cada olé, a cada passe de ruptura, a cada ferro cravado, a cada toque de calcanhar que funciona para humilhar, dizimar, destroçar a mente do Real Madrid. Depois de Xavi e Pedro Rodríguez, com outras oportunidades pelo meio, já David Villa marcara por duas vezes. Mourinho continua sentado, calado, impávido. Já colocara Lass e Arbeloa. A intenção: evitar números ainda mais gordos.

O Barcelona diverte-se com a bola. Tudo está oleado, a máquina funciona na perfeição, atinge o brilhantismo, a equipa alia os golos, o resultado puro e duro, a uma magia incomum, de divertimento absoluto, que preenche os adeptos e fascina os apaixonados. Faz parte da filosofia, da cultura, dos princípios desta equipa blaugrana. O Barcelona jogou num ritmo fabuloso, desolador para o adversário, senhorial, encheu o peito, atemorizou o Real, reduziu-o a insignificantes tiros de longe saídos dos pés de Ronaldo ou Di María, encostou o rival. Jogou, criou, assustou e marcou. O Real Madrid baixou os braços com o segundo golo. Enervou-se com o futebol culé, envolveu-se em quezílias, cometeu faltas, perdeu-se num mar de indefinições. Tudo correu mal. Sentiu falta de Higuaín, clamou por Ronaldo, o português tentou mas não pode, Benzema foi inconsequente. Mourinho chocou com algo inédito. E enrolou a bandeira.

Incapaz, desastrado e inábil, o Real Madrid ficou à mercê do Barcelona. O público vibrou, os jogadores sentiram a oportunidade única, melhor do que nunca, de passar para a frente, sim, mas também desferir golpes de morte no principal rival, de inverter a posição no topo e deixar Mourinho, por uma vez que seja, a engolir em seco. Envolto na teia catalã, preso e sem capacidade de reacção, o Real Madrid passou por momentos caóticos, impróprios num grande como é, não encontrando forças, em momento algum, para se impor, fazer valer o seu estatuto de líder e contrariar o tipo de futebol apresentado pelo Barcelona. A equipa de Pep Guardiola jogou muito, alegre e compenetrada nas suas tarefas, quis sempre mais, batalhou, tentou, criou ocasiões e chegou, em cima do apito final, à mão-cheia de golos, por Jeffren, coroando um resultado histórico, épico e desconcertante. Que poderia, até, ter sido mais amplo. De la hostia!

Liga ZON Sagres: Análise da jornada 12

A MENSAGEM DE ORDEM

O Sporting assustou o FC Porto. Entrou determinado, encostou o dedo no nariz do líder, reprimiu-o, tirou-lhe espaço para se inspirar e rematou, uma e outra vez, até ter sucesso. Teve-o merecidamente por porfiar, por trabalhar, por se dedicar. Mas o dragão soltou-se empatou. Levou a igualdade até ao fim. Sabe melhor ao FC Porto: viu o Benfica aproximar-se, reduzindo a diferença para oito pontos no regresso de Óscar Tacuara Cardozo, é verdade, mas manteve a invencibilidade, prossegue a sua caminhada, embora agora abalada sobretudo pela forma como foi manietado durante a primeira parte e, de novo, com André Villas Boas expulso, mas continua a ver o Sporting bem atrás, a treze longos pontos, afastado do topo. Será que, para o leão, valeu a pena? A forma como encarou o clássico servirá de inspiração no futuro?

Tudo vale a pena se a alma não é pequena
. O Sporting deixou os complexos, a distância assombrosa para o cimo, desligou-se das intermitências, confiou em si, acreditou nas capacidades de superação e atirou-se ao dragão. Não se intimidou com o líder, com o estatuto de uma equipa invicta e que desfila, foi briosa, entrou com força, assustou, criou oportunidades, impediu o FC Porto de jogar, levou os portistas aos piores minutos desta época - sem meios de construção, sem espaço e sem o dinamismo empreendedor O leão rugiu, surpreendeu e impôs-se. O golo de Jaime Valdés, se bem que irregular, coroou o domínio. A alma do Sporting foi decisiva. O FC Porto reagiu. Sentiu-se atacado, incapaz, à espera de um grito para se soltar. Chegou melhor do intervalo, equilibrou, teve oportunidades, empatou e ficou por cima. Até à expulsão, ingénua e forçada, de Maicon. O jogo acabou aí. Com um sabor diferente para ambos.

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce. Óscar Cardozo é um mal-amado dos adeptos benfiquistas. Marca golos, foi o artilheiro no ano passado e fundamental na conquista do título, sim, mas mesmo assim, apesar dos mais de trinta golos, não convence o público. Porque é lento, tem pouca mobilidade, não consegue construir e desperdiça. Mas emerge nos momentos-chave, decide como nenhum outro, impõe o físico e marca. Tacuara esteve ausente desde a derrota frente ao Schalke 04, por lesão. Regressou em Aveiro. Noventa minutos em campo, dois golos, um de grande penalidade e o outro de se lhe tirar o chapéu, além de uma assistência para Saviola, no ar de graça da dupla, para uma vitória preciosa do Benfica: exibição cheia, marcante e fulcral do paraguaio. O campeão ganhou bem ao Beira-Mar, que mereceu reduzir a desvantagem em cima do final, encurtou a distância para o FC Porto e voltou a sorrir. Há fé.

Quem quer passar além do Bojador, tem que passar além da dor. O Sp.Braga, nesta temporada, tem sofrido. Paga, no fundo, o preço pela última época: foi segundo, chegou mais alto do que nunca, elevou a fasquia, fez com que a responsabilidade aumentasse e habilitou-se a entrar na mais importante prova europeia de clubes. Na última terça-feira venceu o Arsenal, um colosso, na sua terceira vitória consecutiva na fase de grupos da Liga dos Campeões. Ora isso tem, ainda para mais num clube como o Sp.Braga, que não tem as características de um grande, as suas consequências. Daí a importância da partida com o Nacional. O jogo foi amorfo, lento e pouco interessante, mas a equipa bracarense venceu, cumpriu o seu objectivo, marcando por Lima numa grande penalidade ganha por Matheus e, já sobre o final, através de Paulo César. Saltou, por isso, para o sexto lugar. Mesmo assim, são quinze pontos que afastam o FC Porto.

O Vitória de Guimarães perdeu, depois da derrota ante o Marítimo, num jogo muito criticado pelos vimaranses devido à péssima arbitragem de Carlos Xistra, o contacto com o Benfica, deixando o segundo lugar e sentindo os perseguidores, liderados pelo Sporting, aproximarem-se. A Académica - venceu, em Setúbal, o Vitória (1-0) - e a União de Leiria - triunfou, ante o Portimonense, num jogo disputado... em dois dias, após dar a volta em trinta e oito minutos que sobravam para realizar (1-2) - estão, agora, com dezoito pontos, partilhando o quinto lugar, a um da equipa sportinguista. Seguem-se Sp.Braga e Nacional - dezassete. Paços de Ferreira e Rio Ave, com vitórias sobre Olhanense (1-0) e Naval (0-1), respectivamente, ultrapassaram o Vitória de Setúbal. Beneficiando do seu triunfo frente ao Vitória de Guimarães, o Marítimo distanciou-se de Portimonense e Naval, os dois últimos, que estão cada vez mais destacados no fundo.

O MOMENTO DA JORNADA

domingo, 28 de novembro de 2010

Liga ZON Sagres: O momento da traição de Maicon


SPORTING-FC PORTO (1-1): O ENROLAR DA BANDEIRA DO LÍDER

Minuto setenta e sete do clássico. Jogo empatado. Primeira parte entretida, dominada e ritmada pelo Sporting, com oportunidades, uma bola na barra e um golo marcado, se bem que beneficiando de posição irregular, com simplicidade, em poucos toques, por Jaime Valdés. O leão entrou forte, destemido, encostou o dedo no nariz do líder, amarrou o dragão, impediu que ganhasse espaço e jogasse em profundidade nas alas, em força, onde é realmente bom com Hulk e Varela. O FC Porto passou ao lado do jogo. André Villas Boas mudou ao intervalo, libertou Belluschi, deixou Moutinho com outras funções, accionou o alerta. O líder melhor: mais activo, mais agressivo, mais pressionante e mais astuto. Cresceu, equilibrou, empurrou o Sporting, rondou a área leonina e empatou. O jogo ganhou quezílias, conflitos, virilidade. O tal minuto setenta e sete completou a traição de Maicon: o brasileiro falhara no golo, voltou a ser ingénuo, envolvendo-se com Liedson, foi expulso e fez com que o FC Porto, prematuramente, se voltasse para outros objectivos na sua melhor fase. Terminou aí o clássico.

NOTA: O Momento da Jornada é uma rubrica do FUTEBOLÊS, publicada antes da análise completa de cada ronda da Liga ZON Sagres. A imagem presente tem créditos da Liga Portuguesa de Futebol Profissional.

Sporting-FC Porto, 1-1 (crónica): Um clássico amargo

A TEIA DO LEÃO

Ponto prévio: o clássico foi mal jogado. Chegou a ter bons momentos, sim, teve sobretudo um leão forte e aguerrido no início, mas faltou intensidade, dinamismo e velocidade. O FC Porto foi surpreendido pela entrada forte, fortíssima, do Sporting, ficou à mercê, desconcentrado e inseguro, viu-se em desvantagem. Conseguiu equilibrar, tomar conta do jogo, empatar no reatamento. Estava por cima quando Maicon foi expulso. O jogo, nesse minuto sessenta e sete, terminou. Ganhou conflitos, escaramuças e quezílias. Desiludiu porque Hulk se eclipsou, porque Moutinho não encantou no regresso, porque o Sporting apenas durou até ao intervalo e porque Jorge Sousa esteve mal.

O FC Porto é um jogador de cartas que está na segunda parte do seu jogo. Perdeu a primeira. Apesar de contar com mais vitórias, de viver numa forma melhor e de ter maiores probabilidades de vencer, viu o adversário ser mais aguerrido, colocar mais agressividade em prática, ter outra agilidade nos seus movimentos e, com as suas cartas, jogar melhor. O jogador sportinguista encostou o portista às cordas e mostrou-o, talvez mais do que nunca nesta época, permissivo e inseguro. O portista tem bom jogo, sim, mas está lento, preso, desconcentrado. Consegue, puxando pelo orgulho e pela sua capacidade, reequilibrar, ganha pontos, aproxima-se da marca do rival, impõe a sua maior valia e, aos poucos, vira o jogo a seu favor. Explora o adversário e domina. Está empatado. E por cima. Até permitir que o rival, matreiro, lhe veja os trunfos.

O Sporting joga em casa, é grande, precisa de ganhar, está atrasado na luta, mas pode sempre, desde que não seja demasiado tarde para isso, despertar e revitalizar-se. Paulo Sérgio agarrou-se a isso. Deixou os treze pontos de lado, não entrou em pânico por causa de Hulk ou Falcao, sublinhou e marcou a vermelho, carregado e em letras garrafais, que o Sporting, jogando concentrado e com consistência, poderia bater o pé ao FC Porto. Teria de trocar as voltas ao dragão, entrar forte, roubar a bola, intimidar, chegar perto da baliza de Helton e impedir as saídas azuis. Jogando num sistema diferente, com três médios e três atacantes, o Sporting lançou boas cartas no início, foi inteligente na forma como impediu os ases portistas de saltarem do baralho e uniu-se em torno desse objectivo. Construiu, circulou e rematou. Para assustar e marcar.

SIM, ESTE LEÃO TEM FORÇA!

Já Liedson atirara ao lado, já Postiga o imitara, já Pedro Mendes acertara em cheio na trave. O FC Porto, pelo meio, conseguira uma oportunidade de ouro, caída do céu nos pés de Radamel Falcao, que terminou esbanjada pelo avançado colombiano. O jogo fora, desde o início, interessante, aberto, entretido. O Sporting estivera sempre por cima: mais pressionante, mais dinâmico, mais solto e mais capaz. Chegou ao golo, depois das ameaças, num lance simples, com irregularidade que passou em claro, por Jaime Valdés. O chileno ganhou a Maicon, encarou Helton e rematou certeiro - foi irregular, sim, mas o brasileiro abusou da altivez. Caiu bem ao Sporting. A equipa leonina fizera por merecer, estivera melhor, criara mais perigo e dominara a toda a largura. O líder, tirando o lance de Falcao, esteve ausente. Teve displicência e pagou por isso.

André Villas Boas gritou, gesticulou e sentiu necessidade de mudar. Recolheu ao banco, pediu outra opinião e planeou mudanças. O FC Porto surgiu diferente no recomeço. Com o mesmo jogo na mão, mantendo todos os trunfos guardados, juntando uma atitude bem diferente, muito mais briosa, com pressão alta e jogo fluído. Os ases apareceram: Hulk e Falcao, sociedade mortífera, dupla de construção e finalização, em três momentos que levaram perigo a Rui Patrício, fizeram o Sporting recear e temer que a vantagem pudesse ser dizimada. O líder puxou dos galões. Equilibrou, reprimiu o leão, não repetiu a entrada e chegou ao empate: abertura de Moutinho, cruzamento de Hulk e emenda de Falcao. Saltou André Villas Boas. Conseguira marcar cedo. Só que Maicon, já ultrapassado no lance do golo, desleixou-se. E recebeu ordem de expulsão.

ESPREITAR AS CARTAS DO ADVERSÁRIO


O central brasileiro tem feito boa dupla com Rolando. Comete, contudo, erros evitáveis. Em Alvalade, por exemplo, mostrou por duas vezes as cartas ao adversário. Jaime Valdés e Liedson, astutos e oportunos, tiraram benefício, aproveitaram e deixaram o FC Porto em tremuras: primeiro com um golo e depois com uma expulsão - decisões erradas, ao que parece, por parte de Jorge Sousa, que já antes, embora se compreenda, não tenha visto uma agressão brutal de Maniche a João Moutinho. A expulsão de Maicon surgiu no melhor período azul, quando Hulk se destacara e o FC Porto tomara as rédeas do jogo. André Villas Boas foi obrigado a redefinir objectivos, alterou a equipa, reformatou a forma de jogar: tirou Falcao, lançou Otamendi, colmatou a cratera na defesa. Paulo Sérgio, em superioridade, lançou Yannick. O Sporting poderia aproveitar.

A verdade, no entanto, é que o jogo, a partir da expulsão de Maicon, perdeu-se. Subiu a agressividade, aumentaram as quezílias, as escaramuças, os tempos mortos e as alterações, tanto de um lado como do outro: o FC Porto para segurar o empate, apenas tendo Hulk sozinho contra o mundo na frente, ganhando consistência no meio-campo, e o Sporting, apostando todas as fichas, para chegar à vitória, infligir a primeira derrota ao líder e ganhar novo ânimo para poder caminhar com os olhos no topo. A saída precipitada de Maicon, deixando à mostra o jogo do FC Porto e impedindo que pudesse fazer uso dos seus trunfos nos momentos certos, levou consigo o futebol. Ambos se limitaram, depois, a jogar as cartas que sobraram, sempre numa postura ofensiva do Sporting e defensiva do FC Porto, até terminar o arsenal. O empate sabe melhor ao dragão.

sábado, 27 de novembro de 2010

Sporting-FC Porto (antevisão): Uma questão clássica de brio

Um dragão confiante, seguro de si, líder por mérito próprio, pujante e apenas por uma vez travado, em Guimarães, ficando-se por um empate. Nos outros dez jogos que realizou para o campeonato, venceu. Sendo pragmático, sendo brilhante, sendo feliz ou sendo avassalador. É uma equipa versátil, camaleónica, com capacidade de adaptação: percebe o jogo, interpreta-o e coloca em prática os seus princípios, com muita bola, circulando-a a alta velocidade, atribuindo larga importâcia aos médios, dependendo daquilo que pode fazer. O FC Porto é, sem dúvida, a melhor equipa do campeonato até ao momento: lidera, tem dez pontos de avanço sobre o segundo classificado, encaminhou muitíssimo bem o título neste primeiro terço da temporada, joga um futebol atractivo e envolvente, faz as leituras correctas das diferentes circunstâncias, junta um ataque de fogo a uma defesa consistente. Tem hoje, em Alvalade, mais um teste.

Pretendendo refazer-se de uma época negra, recheada de acontecimentos nefastos e desastrosos, o Sporting mudou a sua linhagem, abordou o mercado de transferências de forma diferente e pareceu, antes do arranque da temporada, ter ganho personalidade e fibra. A época, contudo, tem sido demasiado intermitente, demasiado irregular e demasiado macia. No campeonato, por exemplo, o Sporting, em onze jornadas, conquistou somente dezoito pontos - significa isso, portanto, que desperdiçou quinze. O leão é frágil, oscila com facilidade, consegue surpreender pela força demonstrada e logo a seguir cai a pique, nunca se sabe muito bem aquilo que verdadeiramente se pode esperar e vale esta equipa. Trata-se, contudo, de uma questão de orgulho, de honra e de prestígio. Vencer o líder, ser a primeira equipa a tirar os três pontos ao FC Porto, alcançando uma vitamina de confiança para o futuro, funciona como estímulo.

Na temporada passada, na fase em que o Sporting se conseguiu soltar das amarras e viveu uma fase ascendente, conseguindo boas respostas interna e externamente, a equipa leonina, com uma vitória categórica e incontestável por três golos de diferença, deixou a nu as debilidades que o dragão tentara esconder, travou a recuperação azul e colocou, definitivamente, um ponto final nas aspirações do FC Porto em ainda sonhar com a conquista do pentacampeonato. Agora, com um contexto diferente, em que os portistas vivem um clima de prosperidade, a motivação pode residir, um pouco, na mesma condição. O clássico não chega na melhor altura para o Sporting, é verdade, mas será, com toda a certeza, um mote importante em caso de vitória. Tendo no pensamento aquilo que o FC Porto, no Dragão, alcançou perante o Benfica. O leão, escaldado pelos acontecimentos recentes, não quer ser cobaia de mais uma demonstração de força.

Não há volta a dar: este Sporting-FC Porto é o jogo do regresso de João Moutinho à sua casa de partida. Foi com a camisola leonina que se formou e é, agora, vestindo de azul que melhor se está a dar. O médio português, um sempre-em-pé, é indiscutível e preponderante na máquina de André Villas Boas. Será, por isso, um dos elementos do meio-campo, que já contará com Fernando, após lesão, e terá de redobrar a atenção sobre o lado esquerdo para impedir que o Sporting fure e tire algum partido da ausência de Álvaro Pereira - por lesão, cederá o seu lugar a Jorge Fucile. Na frente reside a principal arma do dragão: o FC Porto tem uma equipa equilibrada, muito consistente, mas é no tridente ofensivo, com Varela, Falcao e, sobretudo, Hulk, que estará a grande preocupação do Sporting. Daí que Paulo Sérgio, cauteloso, opte, à partida, por colocar Pedro Mendes e André Santos como elementos de contenção.

Dos prováveis titulares, que o leitor pode consultar em baixo, cinco jogadores já estiveram de ambos os lados. O principal destaque é, por tudo aquilo que representou para o Sporting, João Moutinho, ex-capitão leonino, que agora está de pedra e cal no FC Porto. Há, para além dele, também Varela, saído de Alvalade com Paulo Bento. No lado do Sporting, pelo contrário, Pedro Mendes, Maniche e Hélder Postiga, agora leões, já vestiram a camisola do FC Porto, tendo participado em jogos desta grandeza. O avançado português, parceiro de Liedson no ataque, será um dos principais incómodos para a defesa do líder do campeonato nacional. Com favoritos ou não, com uma enorme barreira a separá-los ou não, independentemente dos estados de alma, este é um jogo especial. Qualquer um deles dará o seu melhor. Há Hulk, Falcao e Belluschi. Também Postiga, Liedson e Valdés. Quem decide o clássico?

SPORTING-FC PORTO
Estádio de Alvalade, Lisboa, 21h15
Árbitro: Jorge Sousa

SPORTING: Rui Patrício; João Pereira, Carriço, Polga e Evaldo; Pedro Mendes, André Santos, Maniche e Jaime Valdés; Postiga e Liedson

FC PORTO: Helton; Sapunaru, Rolando, Maicon e Fucile; Fernando, João Moutinho e Belluschi; Varela, Hulk e Falcao

NOTA: O Sporting-FC Porto terá crónica no FUTEBOLÊS, assim como acontece com todos os jogos grandes.

Revista de uma semana delicada

Estudos, trabalhos, prioridades e ausência de tempo. O FUTEBOLÊS sentiu-o. Ficou desactualizado, sem comentários, não tendo, como sempre teve até aqui, a análise ou o olhar sobre a realidade futebolística. A última vez que aqui escrevi, meio à pressa, foi no dia vinte. Hoje, leitor, são vinte e sete: passou uma semana. Deu para escrever, por essa altura, um artigo sobre a vitória memorável, numa exibição cheia e pintalgada de momentos cintilantes, de Portugal sobre Espanha, o vizinho, no reencontro depois da eliminação na África do Sul. Portugal mudou: deixou a escuridão da noite, o murmúrio e os receios, adoptando uma postura audaz, humilde mas corajosa, capaz de abrir boas perspectivas de futuro. Os jogadores sorriem. Foi isso precisamente que, a meio desta minha pausa, o Bernardino, no espaço semanal que tem aqui no blogue, pretendeu focar. Através de uma frase de Pepe, no seguimento de outras, exaltou as diferenças trazidas pelo... Bento.

Domingo, dia vinte e um. Jogos da Taça de Portugal. Sem o Benfica, em confronto com o Sp.Braga, naquele que é o jogo mais esperado da quarta eliminatória, devido à Cimeira da NATO realizada em Lisboa, mas com o FC Porto e o Sporting no cartel. Ambos venceram: sem deslumbrar, apenas marcando por uma vez, mostrando a sua maior valia. André Villas Boas, na casa do Moreirense, do segundo escalão, geriu o esforço dos jogadores, poupou, deu minutos a outros, viu o FC Porto passar por alguns sustos, com um golo mal anulado à equipa da casa, apenas conseguindo resolver, num golo pleno de oportunidade, quando Radamel Falcao entrou. Em Alvalade, o Sporting, ante o Paços de Ferreira, triunfou com um tento de Yannick, de regresso aos golos, apesar da belíssima réplica dada pelos pacenses. Missão cumprida, sem surpresas, grandes na ronda seguinte.

Terça-feira, dia vinte e três. Mais um pedacinho de História marcada em Braga: os Guerreiros, estreantes entre a elite europeia, pela primeira vez estremecendo e arrepiando-se ao ouvir o hino da Liga dos Campeões, venceram o Arsenal, um grande europeu, conseguiram a terceira vitória consecutiva, depois da dupla-jornada com o Partizan de Belgrado, e mantêm, até à última jornada, a esperança na passagem. O Sp.Braga aconchegou os cofres, garantiu mais alguns euros importantíssimos e conseguiu, no plano desportivo, um triunfo histórico, que moraliza e, apesar da altivez de Arsène Wenger ao recorrer a uma equipa secundária, entra para as estatísticas. O Sp.Braga fez por isso. Matheus, heróis doutras batalhas europeias, marcou dois golos, trabalhou e concluiu com mestria transições velozes, espetando duas setas no Arsenal. Portugal encheu-se de orgulho. Braga ainda sonha com a passagem. Tem de ganhar em Donetsk e esperar que os gunners não o façam.

Quarta-feira, dia vinte e quatro. Jogo crucial do Benfica em Telavive, ante o Hapoel, considerado, por Jorge Jesus, como "uma finalíssima". O percurso dos encarnados na fase de grupos da Liga dos Campeões começou com uma vitória sobre a frágil equipa israelita, encalhou com duas derrotas frente a Schalke 04 e Olympique Lyonnais, ambas fora de casa, antes de um novo balão de oxigénio num triunfo, categórico em setenta minutos e sofrido em vinte, perante a equipa francesa. Finalíssima, por isso mesmo: necessário um triunfo, no fundo uma demonstração da enorme superioridade individual e colectiva do Benfica, mesmo com um ambiente adverso em Israel, para, com uma pontinha de sorte no outro jogo, ficar com os oitavos-de-final à porta. O Benfica dominou, ganhou a bola, teve níveis muito altos de posse, construiu oportunidades e... perdeu. Sofreu três golos. Falhou na finalização, desorientou-se, viu o Hapoel, feliz e oportuno, fechar-lhe o caminho. Terminou vergado, rendido, humilhado. Na última ronda, com o Schalke, que venceu, necessita de confirmar a Liga Europa.

Saltamos para sábado. Em traços gerais, de forma muito breve, ficou feita a revista da semana. O blogue está, depois da pausa forçada pela ausência de tempo, por os dias não esticarem, actualizado. É dia de clássico. Sporting e FC Porto jogam, em Alvalade, mais uma partida grande desta edição da Liga ZON Sagres. Apesar dos treze pontos que os separam, da irregularidade leonina embater contra o mérito portista, será um jogo imprevisível, urgente para que o Sporting se mostre definitivamente e possa adquirir confiança para a luta, ou mais um passo, de novo gigante, que permita ao FC Porto ganhar mais probabilidades de sucesso no final da época. André Villas Boas recusa ser favorito, recusa que se pense ser fácil para o FC Porto, algo que Paulo Sérgio, puxando pelo orgulho dos seus jogadores e lembrando que joga em casa, recebe sem problemas. É também o jogo que marca o regresso de João Moutinho a Alvalade. Escaldante, intenso e vibrante. Terá antevisão e crónica no FUTEBOLÊS. Como sempre.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Olheiro de Bancada: A frase de Pepe sobre a selecção



Com Paulo Bento jogamos futebol alegre, que o povo gosta
Pepe

Façam favor de entender a frase de Pepe como quiserem. Cada um faz as leituras que quer, mas não deixa de ser engraçado que, agora, todos parecem convergir para uma ideia comum: a selecção está bem e recomenda-se. Está a jogar bem, está a fazer golos, está com unidade no grupo e, mais importante, está sintonizada com o discurso e a postura do seleccionador nacional Paulo Bento. Não foi só Pepe a referir este facto, antes já outros jogadores o tinham sublinhado, a começar por Cristiano Ronaldo, passando por Raúl Meireles, entre outros. Estaria mal, antes, com Carlos Queiroz. Se na altura poucos tiveram a coragem de o afirmar, agora as vozes são bem mais diligentes a tecerem loas do que antes o eram para criticar. As comparações não deixam margem para qualquer dúvida, que as melhoras no doente - selecção - são bem evidentes e não foram precisos grandes tratamentos: uma boa dose de confiança, mudar alguns elementos e eis o milagre operado, sem ter que recorrer à Deusa da Cura.

A selecção vai de Bento em popa mas ele não sopra de feição para Carlos Queiroz.

domingo, 21 de novembro de 2010

A motivação para o sucesso

Há uma teoria que defende a motivação como ponto de partida para o sucesso. Quem está feliz, de bem com a vida, tem paz de espírito e consegue fazer mais e melhor. Todos concordam. O rendimento aumenta em proporcionalidade directa com a motivação. A selecção portuguesa, por exemplo, agora está motivada. Há uns meses, na África do Sul, não estava: Carlos Queiroz parecia tranquilo, com a solução para todos os problemas, a serenidade em pessoa, mas, lá no fundo, perdia-se nas suas dúvidas, nos seus receios e nos seus medos. Portugal jogou à sua imagem: pragmático, expectante, temerário. Com Paulo Bento, a selecção ganhou nova vida. Rompeu com o passado, enrolou-o numa bolinha de papel, fez mira ao caixote do lixo e esqueceu os erros, os vícios e a postura utilizada. Agora está confiante.

Portugal joga, cresce, progride com a bola no pé, não teme o adversário, respeita-o, conseguindo, com a união do talento e da qualidade de cada um, criar um grupo forte. Uma equipa é isso: uma família, onde se juntam diversos egos e o objectivo é potencializar cada um deles em busca de uma finalidade comum.
Portugal vergou a Espanha. Não foi um arrufo de vizinhos, uma disputa territorial ou uma quezília com nuestros hermanos. Foi uma vitória sobre o campeão do Mundo. E que antes fora campeão da Europa. O tiki-taka espanhol, à Barcelona, foi aniquilado, pressionado, impossibilitado de surtir efeito. Espanha foi manietada.O maior mérito de Paulo Bento é, leitor, a simplicidade como encara as coisas. Não é desleixado, não deixa a preparação por mãos alheias ou não quer saber da forma como joga o adversário.

Paulo Bento consegue não criar problemas onde não existem: se tem bons jogadores, que jogam nos melhores clubes europeus, há que os aproveitar, mentalizar da importância de representarem a selecção nacional, não lhes pedir que sejam heróis, porque não os há, mas que, fazendo o melhor que podem, sejam capazes de levar Portugal para a frente. Do nada, Portugal ganhou à Espanha. Foi brilhante, roçou a perfeição, recuperou a chama, alimentou a garra e deixou os espanhóis, atónitos e incapazes, plenamente perdidos. Por momentos, a selecção esqueceu-se do mau período que passou. O próprio país sorriu -
eh, pá, não é todos os dias que se ganha aos espanhóis.

Lá voltamos ao início, leitor: acha que se não estivesse motivada, vivendo atolada em dificuldades e sem esperanças, apesar do jogo ser particular, Portugal poderia ganhar? A motivação é meio caminho andado para o sucesso.

NOTA: Artigo escrito para a parceria com o blogue Império Futebolístico.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Made in England: As contas do título inglês

A grande surpresa da última jornada em Inglaterra foi a derrota caseira do Chelsea frente ao Sunderland, maior ainda por ter sido por 0-3. O facto do Chelsea já não perder em casa desde Março e o Sunderland, em confrontos com os londrinos de Stamford Bridge, não pontuar há nove anos - tudo derrotas -, deixava os visitantes com as probabilidades de vitória nas apostas em 1/14. Mas há mais a dizer: os homens de Ancelotti apenas esboçaram uma tentativa de domínio no início da partida e depois foram incapazes de contrariar os forasteiros. O Sunderland controlou o jogo e materializou esse controlo com três golos sem resposta. O todo-poderoso Chelsea volta, assim, a ter uma exibição aquém do esperado e relança a corrida para o título, uma vez que perdeu terreno e sente já a pressão dos perseguidores.

O Liverpool, que vinha a encetar uma recuperação muito boa, acabou por ser travado mais uma vez. Em casa do Stoke City, Raúl Meireles e companhia pareciam não estar preparados para a partida. Os da casa jogaram mais e melhor e nunca pareceram estar em risco de perder - ou, sequer, empatar. Apesar de já estarem em melhor posição e de obviamente ser muito dificil, nesta liga, ganhar sempre, esperava-se um pouco mais do Liverpool, abatido por dois golos sem resposta, um no início e outro no fim da segunda parte. As duas equipas seguem agora com os mesmos pontos no meio da tabela.

No Villa Park a, vinte minutos do fim, o jogo estava empatado a zero. Uma partida dividida, entre Aston Villa e Manchester United, onde os visitantes entraram a dominar e durante meia-hora ameaçaram marcar por diversas vezes. Os da casa, com nove jogadores indisponíveis, equilibraram e passaram, também eles, a criar perigo. E assim foi até aos setenta minutos: oportunidades de parte a parte, embora nesta fase um maior domínio do Aston Villa. Consequência? Em três minutos marcaram dois golos. Quinze minutos para jogar e a tarefa dos homens de Alex Ferguson parecia gigantesca. Mas a inspiração dos red devils levou-os a encostar o adversário na defesa, reduzindo aos oitenta e empatando quatro minutos depois. Grande partida de futebol e muita emoção. No entanto, o Manchester acaba o fim-de-semana ultrapassado pelo Arsenal e está agora em terceiro, a três pontos da liderança.

Em Liverpool, mas em casa do Everton, os blues, sem perder há sete jogos, receberam o Arsenal, que lutavam, então, para se aproximar do Chelsea e passar o Manchester United. O jogo foi, tal como esperado, muito renhido. Grandes oportunidades de parte a parte e sem nenhuma das equipas a evidenciar um domínio sobre a outra. Sagna, com um potente remate de ângulo apertado, abriu o marcador, ainda na primeira parte, e Fàbregas, pouco depois do reatamento, aumentou a vantagem dos gunners. O Everton viu-se obrigado a reagir e a atacar, passando, com as alterações de David Moyes, a jogar com três atacantes, o que se traduziu numa série de oportunidades. Contudo, o melhor que consegiu foi, em cima do apito final, reduzir a desvantagem.

No Manchester City a pressão aumenta. Roberto Mancini viu a sua equipa empatar em casa contra o Birmingham e paira, novamente, no ar a incerteza sobre a sua continuidade. Contra uma equipa da metade inferior da tabela, os citizens foram incapazes de quebrar a barreira defensiva. Com um futebol pouco atraente - os visitantes também não ajudaram, pois tiveram apenas um propósito: defender -, sem soluções, o empate acaba por se ajustar. O City está agora em quarto mas com exibições muito decepcionantes. Espera-se muito mais desta equipa de estrelas.

O campeonato está muito emotivo. O ponto comum este ano tem sido a de nenhuma equipa se estar a destacar. No início, o Chelsea parecia querer deixar todos para trás mas as três derrotas que sofreu voltam a colocar a equipa londrina a escassos pontos dos perseguidores. O Arsenal parece estar a acertar mais mas ainda assim sem convercer muito. Os dois de Manchester estão a apostar na tentativa de pontapé na crise mas sem grandes resultados. Tudo em aberto com muito campeonato pela frente.

MADE IN ENGLAND: Espaço quinzenal, assinado por Armando Vieira, sobre o mais fascinante campeonato do planeta.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Olheiro de Bancada: A frase de Jorge Jesus sobre o capitão



Eu é que sei os que estão melhor

Jorge Jesus

Jesus é capaz de ter razão. Quem treina todos os dias com os jogadores e os vê trabalhar é que sabe quem está melhor preparado para jogar. Temo, todavia, que Jesus seja mais um a olhar para o bilhete de identidade, tirando, por isso, conclusões que podem pecar por precipitação. Nuno Miguel Soares Pereira Ribeiro, conhecido e celebrizado no mundo futebolístico por Nuno Gomes, não é finito. Sempre admirei o avançado benfiquista, pela sua capacidade goleadora, mas sobretudo pelo seu profissionalismo e pelo enorme anti-vedetismo que sempre patenteou ao longo da sua carreira. Nuno Gomes jogou trinta e quatro minutos durante esta época, sendo necessários três escassos minutinhos para alcançar um golo, o golo duzentos na sua conta pessoal, em campeonatos nacionais.

Jesus tem tido, desde que foi campeão nacional, algumas frases que revelam pouca humildade e assumir que se sabe tudo é, em futebol, meio caminho andado para a queda. A profissão de ponta-de-lança é rara e em vias de extinção. São autênticos predadores da área e Nuno Gomes, em poucos minutos, pela sagacidade, codícia e pelo cheiro a golo que fareja como ninguém, fez o que muitos jogadores mais novos não fazem. São mais jovens, têm mais força, correm mais, mas falta-lhes a classe de um saber de experiência feito. Caro Jorge Jesus, a idade não pode ser limitativa da utilização e da utilidade de um jogador e, para o provar, temos os bons exemplos de Pippo Inzaghi, Crespo e do também nosso João Tomás. Velhos são os trapos e Nuno Gomes ainda está aí para as curvas.

A sabedoria humana aprende muito se aprender a calar-se
Jacques Bossuet

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Liga ZON Sagres: Análise da jornada 11

A NOVA FACETA DO LÍDER

O FC Porto teve, à décima primeira jornada, a pior exibição da época: não foi tão pressionante, nem intenso, nem aguerrido, e, apesar da nova vitória que mantém a dezena de pontos de vantagem, revelou uma nova faceta: mais pragmático, mais preso e menos seguro de si. Venceu, seja como for. É o importante. Continua, por isso, a sua caminhada consistente, livrando-se das barreiras e impede que os rivais se aproximem. O Benfica, depois da derrota no Dragão, respondeu bem: exibição segura, concentrada e quatro golos marcados à Naval. Também o Sporting venceu, embora com sofrimento, depois da surpresa ante o Vitória de Guimarães. Ah, o Vitória: ganhou ao Sp.Braga, bateu o vizinho e continua igual ao Benfica. Tem cartas para dar neste campeonato.

O FC Porto é um líder meritório. Joga bem, domina, sufoca o adversário, impede-o de construir, toma conta da bola, abusa dos toques curtos, progride, cria e aproveita. Sabe vencer e convencer. Tem, por vezes, momentos de menor fulgor, em que a mente se perde, os músculos sentem e as coisas não resultam. O jogo com o Portimonense, por exemplo, foi todo assim: o FC Porto ganhou, é verdade que sim, marcou num belo pontapé de Walter, titular na vaga de Radamel Falcao, reprimiu a equipa algarvia na primeira parte, mas permitiu, no reatamento, que o Portimonense fosse ousado, rondasse a baliza de Helton, inquietasse os adeptos, gerasse ténues assobios e manifestações de descontentamento por entre o público azul. Deixou rolar, jogou em ritmo baixo e procurou não se desgastar em demasia. Assinou, depois da demolição ao Benfica, a pior exibição da época. E só serenou, nos minutos finais, através de Hulk. De novo.

Um, dois, três: nascer de novo. A derrota no Benfica, no Dragão, deixou marcas. Acima de tudo, fez com que o campeão ficasse, à décima jornada, com dez pontos de atraso, seriamente comprometido na defesa do seu título e vendo o FC Porto destacar-se no trono. Mas um jogo assim ataca o ego, fere o orgulho, deixa a honra em jogo. O Benfica, um dos grandes e o actual campeão, teria de se recompor, passar a pressão para os dragões, encurtar a distância, fazer tudo o que está ao seu alcance e, em casa, recuperar a confiança, a postura e os atributos de quem é campeão. Marcou cedo, através de Alan Kardec, foi guiado por Nico Gaitán, sorriu com o bis argentino, tranquilizou-se, empurrou a Naval, cada vez mais afundada no último lugar, e recuperou o caminho das vitórias. Teve, ainda, a cereja no topo do bolo, em cima do final, depois de uma perdida da Naval: golo de Nuno Gomes, grito do capitão e dedicatória para o céu.

O Sporting vive no oito, salta para o oitenta, regressa ao início, oscila e não se afirma. Tem dificuldade em encontrar o meio-termo, em ser regular, em conseguir consistência que lhe permita ascender aos lugares que deseja. O fantasma do jogo com o Vitória de Guimarães, uma vitória tranquila que fugiu por entre os dedos do leão e se transformou numa derrota surpreendente, pairou no início, foi chutado para canto com dois golos marcados, um por Jaime Valdés, de grande penalidade, e o outro por Vukcevic, ambos trabalhados e concluídos, ora pelo chileno, ora pelo montenegrino, mas regressou na segunda parte, logo nos primeiros minutos, quando Miguel Fidalgo, num cabeceamento fortíssimo, reduziu. A Académica ganhou fôlego, acreditou, lançou-se no ataque, forçou o segundo golo, obrigou Rui Patrício a agigantar-se e levou Paulo Sérgio, cauteloso e realista, a aumentar a capacidade defensiva. O leão ganhou. Mas sofreu a bom sofrer.

Um conquistador e um guerreiro. Costas voltadas, intensidade máxima, bandeiras diferente,s vontade de qualquer um deles se afirmar como principal símbolo da região. Vitória de Guimarães e Sp.Braga travam, ano após ano, um duelo renhido, vivo e colorido: na última temporada, o guerreiro chegou mais alto do que nunca e o conquistador, desolado e surpreendido no final, perdeu o acesso à Europa. Agora, como acontece vezes sem conta, estão com os papéis invertidos: o Vitória por cima do Sp.Braga. Em Guimarães, onde o vice-campeão perdeu pela primeira vez na última época, a equipa arsenalista começou melhor, marcou por Alan, embora fruto de ilegalidade, tentou esticar a vantagem, viu-se privado do autor do golo por expulsão, acertada, num mote para os vimaranses. Arrojo, discernimento e querer: dois golos, reviravolta, boa imagem deixada, tal com em Alvalade, pelo conquistador. Apesar da polémica com João Ferreira - deixou uma grande penalidade, favorável ao Sp.Braga, por assinalar.

Depois de um início em falso, errante e penalizador, o Rio Ave, no seguimento da vitória ante o Sp.Braga, venceu, embora com imensa polémica à mistura, o Paços de Ferreira (3-1). A equipa vila-condense deixou o Marítimo (empatou, no derby madeirense, a zero, frente ao Nacional) e o Portimonese (é, depois da derrota ante o FC Porto, penúltimo) para trás. Olhanense e Beira-Mar empataram, no Algarve, a um golo, enquanto o União de Leiria, em casa, bateu o Vitória de Setúbal (1-0). Assim, algarvios, aveirenses e leirienses, todos com quinze pontos, ultrapassaram o Sp.Braga - o vice-campeão é, actualmente, décimo classificado -, apenas com menos dois do que o Nacional, quinto classificado, colocado na última vaga de acesso à Liga Europa. Naval e Marítimo, último e antepenúltimo classificado, com cinco e oito pontos, respectivamente, são as equipas com menos vitórias: em onze jornada, contam apenas com uma.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Liga ZON Sagres: Um momento de libertação


BENFICA-NAVAL (4-0): O MOMENTO DO CAPITÃO

Minuto noventa. Três golos de vantagem, vitória construída sobre uma exibição tranquila, Naval anulada e superioridade benfiquista bem representada. Depois da tempestade chegou a bonança. O Benfica tremeu, caiu, vergou frente ao FC Porto: incapacidade, falta de garra, erros em catadupa, mar de dúvidas em contraste com a caminhada azul, triunfante e audaz, que terminou numa inusitada goleada. O campeão teria de se recompor. Ficou com o topo a dez pontos de distância, sim, mas com sessenta em disputa: tarefa difícil, mas, vá lá, ninguém é campeão à décima jornada. Por isso há que lutar, melhorar, vencer e esperar. O Benfica ultrapassou a Naval, marcou cedo, por Alan Kardec, aumentou no bis de Nicólas Gaitán, um jogador em emergência nos encarnados, cumprindo a sua parte. Chegou ao quarto golo no final. Marcou Nuno Gomes. O capitão, raríssimas vezes utilizado por Jorge Jesus nesta temporada, libertou-se, ganhou a bola, foi astuto e fechou a contagem. Olhos no céu, lágrimas e uma dedicatória ao pai. Foi o momento do capitão regressar aos golos, clamar por oportunidades e libertar as emoções.

NOTA: O Momento da Jornada é uma rubrica do FUTEBOLÊS, publicada antes da análise completa de cada ronda da Liga ZON Sagres. A imagem presente tem créditos da Liga Portuguesa de Futebol Profissional.

domingo, 14 de novembro de 2010

Opinião: O paradoxo de querer tapar e... destapar!



David Luiz desespera. Jorge Jesus diz-lhe que vai jogar no lado esquerdo da defesa: olhos no Hulk, hã?, o gajo não pode fazer nada, tira-lhe a bola ou faz o que quiseres, mas ele por ti não passa. Ouve, encolhe os ombros, mostra confiança. Lá no fundo não percebe: pôrra, cara, outra vez na esquerda?. A experiência não é boa. David Luiz revolta-se por dentro e resigna-se por fora. Vai para a sua nova posição, vê Sidnei ocupar-lhe o lugar ao lado de Luisão, tem Fábio Coentrão mais à frente. Não é ele quem manda. Só lhe resta cumprir. Continua nos seus pensamentos, nas suas dúvidas, na indefinição: vai dar barraca, vou-me queimar, isto não vai ser bom, não sei por que não joga o Fábio aqui ou o César. Só lhe resta confiar. Confiar que Hulk vai ter um dia mau. Faz figas. Mesmo que não acredite, tenta. Ou pode ser que tenha um jogo de sonho. Acredita que sim.

Seu Givanildo está com as horas contadas. O homem desaparece. Chega Hulk. Com pujança, revolta, talento, força e vontade de destroçar tudo o que lhe aparecer pela frente. Ele é o Incrível Hulk. Os adeptos saltam, agitam as bandeirinhas, gritam pelo brasileiro, dão-lhe força ritmada, espécie de Go West transformado, sabem que pode ser decisivo. O homem que fazia gastar cigarros uns atrás dos outros, trincar pastilhas elásticas com raiva, puxar os cabelos ou bater na perna com desespero, mudou, deixou-se dos vícios de querer jogar sozinho, ganhou capacidade para carregar a equipa. Não é a única estrela. Há Falcao, há Belluschi, há Varela e há Moutinho. Mas Hulk é a mais cintilante. Tem rasgo, tem alma, tem garra. Tem tudo para ser super. Pega na bola, encara David Luiz, dobra, levanta a cabeça, passa e festeja. Varela abriu a águia.

Jorge Jesus passa a mão pela testa. É preciso ter azar, pá, os gajos tinham que marcar mesmo por ali. A mudança deu mau resultado. Foi a primeira vez que Hulk rasgou, prego a fundo, velocidade de ponta, drible para aqui e drible para ali, insistiu e deixou David Luiz para trás. E deu logo golo. A ideia era tapá-lo, impedi-lo, secá-lo. Por isso é que a defesa mudou. O dragão aproveitou. Atirou-se ao pescoço do adversário, quis colocá-lo no lugar, impedir que ganhasse terreno na sua casa, empinou o nariz, puxou da personalidade, da vontade insaciável de bater no Benfica e deixá-lo ainda mais para trás. Chegou o segundo golo aos vinte e quatro minutos, o terceiro logo após. Os três surgidos pelo lado esquerdo. Foi aí que Jorge Jesus mudou. Falta ritmo, rotina, dinâmica quando se muda. David Luiz perdeu-se. Não pode render o mesmo em todo o lado.

André Villas Boas salta. Está feliz da vida: ganha por três-zero, tem o jogo ganho antes da meia-hora, diverte-se com a que a equipa faz, rejubila, enche-se de orgulho. Mas falta qualquer coisa. O treinador lá saberá. É um perfeccionista. Grita, corre, pincha. O dragão não pode adormecer e colocar-se à mercê. Tem que continuar forte, libertando fogo, encurralando o adversário e marcando, com astúcia e inteligência, nas oportunidades surgidas. O Benfica está atarantado, frágil, sem ligação, completamente à deriva e sem critério. Jorge Jesus olha resignado. Errou na estratégia, errou na forma como deixou o jogo seguir, errou por não ter agido, errou por ter dado avanço ao FC Porto. Mas dizer que foi só por isso é demasiado redutor: o Benfica nunca se encontrou, tem jogadores a léguas do que podem fazer e o dragão, imperial e senhor de si, foi forte, muito forte, para se sobrepor com segurança.

Hulk fizera das dele. Esta época faz sempre. Confia, acredita, embala, rompe e decide. Está como nunca. Só que ainda não marcara. Já não tinha David Luiz pela frente. Jorge Jesus tentara emendar a mão: o melhor central no seu lugar e o melhor lateral também onde deve estar. Mas três-zero dá vigor a quem ganha e tira razão a quem perde. Hulk carrega. Quer mais, muito mais, tudo lhe sabe a pouco. Fábio Coentrão faz falta, grande penalidade de caras, oportunidade para aumentar. O Benfica passa a fazer parte da lista de vítimas do Incrível. Falta o fecho: pontapé forte, colocado, traiçoeiro, mão-cheia de golos numa exibição de mão-cheia, para fazer corar o campeão nacional. A águia ficou envolta numa panóplia de erros, de indefinições e foi atada pelo dragão. O FC Porto liberta a sua raiva interior, aumenta a confiança e distancia-se. Yes!, diz.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Liga ZON Sagres: Análise da jornada 10

A TRIPLA VITÓRIA AZUL

O FC Porto é líder. Cada vez mais forte, mais consistente e mais isolado. Abriu um sorriso rasgado, de orelha a orelha, à décima jornada: destroçou o Benfica, bateu forte no rival, marcou como poucas vezes neste tipo de jogos, vergou o campeão a um futebol envolvente, estabeleceu a distância em dez pontos, fortaleceu-se mais um pouco na luta pelo título e, ao mesmo tempo, viu os outros dois possíveis concorrentes, Sporting e Sp.Braga, perderem terreno. O dragão ganhou a triplicar: no Dragão, em Braga e em Alvalade. Está cumprido um terço do campeonato e é cedo, demasiadamente cedo, para se colocar o rótulo de campeão anunciado. Ninguém, no FC Porto, o aceita - nem pode. Mas a máquina azul segue veloz. E é o único que mostra credenciais.

O dragão vai elegante, vestindo smoking, em passo apressado. O FC Porto segue triunfante, seguro e invicto: vitória gorda e inusitada, expressiva como poucas, sobre o Benfica. Diferenças evidentes, gritantes até, entre um dragão guerreiro, conquistador e sedento de glória e uma águia em queda livre, definhando pelo relvado, sem forças para mudar os acontecimentos. O clássico do Dragão fora marcado a vermelho e bem sublinhado como decisivo. Para o Benfica, sobretudo. Mas o campeão nunca apareceu, somou erros, inofensivo e impotente, ante um FC Porto letal, mortífero e oportuno. O dragão ganhou de forma clara. Uma mão-cheia: de golos, de entusiasmo, de vivacidade, de ritmo, de futebol. O Benfica não foi mais do que uma mão-cheia de nada: olha para as quinas de campeão com nostalgia, procura inspiração, tenta crescer. Não consegue. O FC Porto impôs o ritmo, abriu o cofre aos doze minutos e embalou, com Radamel Falcao e Hulk, auxiliados pelo toque de Belluschi, para a excelência de uma goleada. Sem contestação.

O Sporting entrou forte, empurrou o Vitória, levantou primeiro a espada do que a equipa vimaranse, tomou de assalto a fortaleza de Nilson, marcou aos quize, aumentou aos trinta minutos e conseguiu conforto. Mesmo tendo conseguido o segundo golo sem realmente o ter marcado, porque a bola não ultrapassou por completo a linha final, o leão demonstrou a sua exibição mais pujante, tenaz e proveitosa. Fosse mais assertivo e teria, na primeira parte, ganho maior ascendente. O Vitória tremeu, caiu e pareceu morto. O intervalo fez bem: Manuel Machado mudou, a equipa ganhou atitude, continuou a ver o Sporting desperdiçar, sim, mas tornou-se mais coesa. Só que o futebol é irónico, sarcástico, mordaz. Maniche, aos setenta e três minutos, perdeu a razão, pontapeou Rui Miguel e foi expulso: hara-kiri, verdadeira catástrofe, leão desnorteado, Targino na pele de diabo, dois golos em dois minutos e, no final, reviravolta num pontapé de Bruno Teles. Aproveitamento, mérito na viragem e segundo lugar: eis o Vitória.

Um lugar-comum: no futebol nada dura para sempre. Os recordes, diz-se, são feitos para ser quebrados. E as surpresas para acontecer. O Sp.Braga faz da sua casa um muro quase intransponível, mesmo para os grandes, que na última época venceu nas recepções, tendo feito um ano, em Maio, desde a última derrota dos minhotos no seu estádio. Domingos Paciência, por exemplo, nunca havia perdido em casa - era Jorge Jesus o treinador no último desaire, ante o Benfica, já no final do campeonato de 2008/09. O Beira-Mar conseguiu-o: cabeça levantada, ousadia, atrevimento, competência e uma teia por Leonardo Jardim para o sucesso. Os aveirenses chegaram aos três golos, um de Leandro Tatu e dois de Ronny (sim, o da mão em Alvalade!), deixaram o Sp.Braga em tremuras e, com labor e sacrifício, garantiram uma vitória, justa e merecida, que Meyong e Lima, nos últimos minutos, ameaçaram. O Sp.Braga ainda esteve perto do golo, é certo, mas Rui Rego negou-o. E a vitória assenta bem ao Beira-Mar.

FC Porto líder. Vitória de Guimarães, agora, no segundo lugar: igualdade com o Benfica, em dezoito pontos e, como vantagem, melhor diferença de golos e uma vitória sobre o campeão. Segue-se, depois da vitória sobre o Paços de Ferreira (0-1), a primeira sofrida pelos pacenses em casa, o Nacional - com menos dois pontos. A Académica caiu para o quinto ponto depois de, no Algarve, se ter deixado empatar, após ter dominado e conseguido uma vantagem de dois golos, pelo Portimonense (2-2). Os estudantes estão, a par do Sporting, com quinze pontos somados. Aparecem, depois, Sp.Braga, Olhanense (empate, a um, ante a Naval, que é último, com apenas cinco pontos) e Beira-Mar. O Vitória de Setúbal-Rio Ave abriu a jornada: teve emoção, alternância no resultado, três golos para cada e coloca os sadinos com treze pontos - o Rio Ave mantém os sete, em penúltimo. Marítimo (em recuperação - oito pontos) e União de Leiria (com doze) empataram, na Madeira, a um.

O MOMENTO DA JORNADA

terça-feira, 9 de novembro de 2010

A Crucificação de Jesus

Todos lhe atiram pedras, todos o culpabilizam, todos o querem crucificar pela pesada derrota no clássico. Logo a ele, que ouviu as maiores loas há uns meses atrás, vindas precisamente dos que agora o renegam. Logo a Jesus, que foi apontado como o mastermind da táctica, o catedrático do futebol e expert em descobrir o antídoto para derrotar as melhores estratégias montadas pelos adversários. Que mudou para se operar tão grande mudança? Esta época nada, em relação à época anterior muito. Faltam Dí Maria e Ramires, uma das razões para que o Benfica não seja tão atacante (os dois davam grande profundidade pelas alas) e não tenha tanta capacidade defensiva, pela primeira linha de pressão do argentino e principalmente pela capacidade de recuperação de bola do brasileiro.

Falta atitude aos jogadores, quer na forma como encaram os jogos, quer no modo como não são capazes de reagir às adversidades. Reagem, e mal, ao modo como o treinador os chama a atenção (Luisão no jogo com o Paços de Ferreira e no Dragão Carlos Martins) podendo ser, ou não, um sinal claro que já não há paciência para o discurso do treinador. Faltou ainda saber colmatar as saídas com jogadores que "pegassem de estaca", pois Gaitán, Salvio e Jara nunca o foram até ao momento. Resta saber na tríade de comando do futebol encarnado - Filipe Vieira, Rui Costa e Jesus -, se alguém ficou pelo caminho, como o deixaram antever as notícias de uma maior proximidade entre presidente e técnico (não só de vizinhança mas companheiros de mesa em restaurantes da linha).


Estes já eram os sintomas verificados em Aveiro, no primeiro jogo oficial da época (Supertaça), onde se jogou muito do futuro das duas equipas nesta época. A vitória do FC Porto, clara e inequívoca como a de ontem, só que por números menos gordos, deu claras indicações que a equipa portista estava melhor e não se enganou quem assim pensou. André Villas Boas soube construir uma equipa. Ninguém comenta as saídas de Bruno Alves (que grande jogo de Maicon no Dragão) ou de Raúl Meireles, bem como não se ouviram lamúrias da ausência de Fernando. O colectivo é o fundamental e obrigatório podendo como acessório brilhar o individual.

Como diz Villas Boas, "o futebol não é um jogo de duelos individuais, mas de organizações". Não há grandes dúvidas sobre a capacidade que o dragão patenteia: melhor ataque, melhor defesa, as duas maiores goleadas no campeonato, os três melhores marcadores do campeonato, dez pontos sobre os segundos (Benfica e Vitória de Guimarães), doze sobre o terceiro (Nacional) e treze sobre os terceiros (Académica e Sporting), já com o Sp. Braga a catorze pontos. Decidido? Claro que não, mas que está muito adiantado, lá isso, está. Apesar das "cantigas de amigo" que já se fazem ouvir, os dragões não vão em cantigas de embalar e não vão adormecer.
Sabem que ainda nada está ganho, tal como nada estava antes.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Liga ZON Sagres: Um momento inicial de júbilo do dragão


FC PORTO-BENFICA (5-0): O REGOZIJO DO DRAGÃO TRIUNFAL

Alerta vermelho no Benfica por Hulk: o Incrível foi marcando como um perigo iminente, uma bomba prestes a explodir, a estrela mais cintilante do FC Porto e levou Jorge Jesus a apostar em David Luiz, subindo Fábio Coentrão, para reforçar o lado esquerdo da sua defesa. Mudou. Fez uma adaptação. E foi precisamente por aí que começou a perder. Hulk furou. Velocidade, força, técnica e inteligência. O Incrível é forte, é desconcertante, é poderoso e David Luiz não resistiu. O passe saiu bem, à espera de um encosto, com metade do trabalho cumprido. Varela concluiu e abriu o Benfica, cravou a primeira espada no campeão, deixou os encarnados atacados, intranquilos, sem reacção. O dragão mostrou força, caminhou confiante, alargou o resultado. Precisou de mais doze minutos. Nova jogada pela direita do ataque azul, agora com Belluschi, cruzamento perfeito e desvio, num toque acrobático de calcanhar, de Radamel Falcao. Brilhante. É difícil escolher o melhor momento de um jogo tão bom, tão intenso e tão vibrante do dragão. Este foi um deles. E representou o golpe final na águia. O Benfica definhou.

NOTA: O Momento da Jornada é uma rubrica do FUTEBOLÊS, publicada antes da análise completa de cada ronda da Liga ZON Sagres. A imagem presente tem créditos da Liga Portuguesa de Futebol Profissional.

FC Porto-Benfica, 5-0 (crónica): Mão-cheia

DRAGÃO DE MÃO-CHEIA

O dragão vai elegante, vestindo smoking, em passo apressado. O FC Porto segue triunfante, seguro e invicto: vitória gorda e inusitada, expressiva como poucas, sobre o Benfica. Diferenças evidentes, gritantes até, entre um dragão guerreiro, conquistador e sedento de glória e uma águia em queda livre, abatida, sem forças para mudar os acontecimentos. O clássico do Dragão fora marcado a vermelho e bem sublinhado como decisivo. Para o Benfica, sobretudo. Mas o campeão nunca apareceu, definhou pelo relvado, inofensivo e impotente, ante um FC Porto letal, mortífero e oportuno. O dragão ganhou de forma clara. Uma mão-cheia: de golos, de entusiasmo, de vivacidade, de ritmo, de futebol. O Benfica não foi mais do que uma mão-cheia de nada. Dez pontos separam-nos à décima jornada. A vantagem é ouro.

O Benfica olha para as quinas de campeão com nostalgia. Sente que tem um título a defender, uma postura a manter, vê a sua honra em jogo, sabe que precisa de se levantar, mostrar-se novamente capaz para assumir o trono. Tem saudades do passado, é perseguido e fraqueja. Está diferente. Nota-se a léguas: na falta de ligação, no futebol desconexo, na falta de inspiração, na carência de cliques de génio que ficam atolados na intranquilidade, no alívio quando a bola é afastada para longe sem regra, no olhar distante e profundo que perde soluções e esbarra nas adversidades. Nem mesmo a hiperactividade de Jorge Jesus ou as apostas certeiras do treinador se mantêm. Tudo corre mal, tudo sai mal, a equipa não se encontra, não tem chama e deixa-se à mercê da sorte. Grita que é campeão. Mas fá-lo no vazio. Sem se escutar.


O futebol é um jogo de confiança. O Benfica está atacado, ansioso, intranquilo. Tenta recompor-se do mau início, sabe que não pode cair em vícios, uma recaída ser-lhe-á fatal, apenas pode jogar, ser brioso, lutar e esperar que o adversário ceda. O FC Porto vive no oposto. Sorri. Está feliz, nota-se, percebe-se na forma como joga, nos toques curtos, nas jogadas de apoio, no futebol seguro, veloz e dinâmico que imprime, na forma imperial como marca os ritmos, tornando o jogo naquilo que pretende, atacando em bloco e trucidando o rival. Coloca toda a garra no relvado e está confiante, solto, vibrante. É isso que faz Álvaro Pereira cair e recuperar a bola, é isso que faz Hulk correr atrás de David Luiz, é isso que faz Maicon driblar Alan Kardec. O FC Porto esmagou o Benfica: cinco golos, exibição cheia, campeão no tapete e dez pontos de avanço.

UM CAMPEÃO EM CARICATURA

Jorge Jesus olhou para Hulk. Percebeu que o Incrível está num momento explosivo, puxou pelos cabelos, imaginou alternativas, pensou no que seria melhor e alterou a sua forma de jogar. Deixou César Peixoto de fora, manteve Fábio Coentrão no meio, deslocou David Luiz para o lado esquerdo da defesa encarnada, chamou Sidnei para o centro ao lado de Luisão e, na frente, preferiu Salvio a Saviola. O mal das adaptações é sempre o mesmo: são adaptações, apesar das rotinas nada é igual, difere, o rendimento oscila. Hulk é explosivo, é pujante, é portentoso quando arranca, alia a técnica à força, destroça, produz e finaliza. Jogou pela direita, encarou David Luiz, incomparável quando está fora do seu sítio, fintou, cruzou e esperou por Varela, oportuno, até festejar. O dragão empina o nariz, sabe o que fazer e é inteligente. Havia que aproveitar a indefinição encarnada.

Meia-hora. FC Porto com três bolas no fundo da baliza de Roberto: primeiro Silvestre Varela e logo a seguir, em dose dupla, Radamel Falcao - o primeiro do colombiano é de se lhe tirar o chapéu. Hulk e Belluschi, figuras de proa desta campanha azul, imagens de marca registada do dragão, cada vez mais peças-chave na máquina azul, sempre em altas voltagens, como municiadores, aventureiros e exploradores das fragilidades da defesa do campeão. O Benfica ruiu, desmoronou-se, desfez-se. Ficou exposto a um dragão eficaz, letal, conquistador, viperino. Jorge Jesus encolheu os ombros, recolheu, pensou em soluções. Tudo está diferente. Tudo corre a favor do FC Porto. E este dragão tem sede de triunfos, desespera por títulos, corre por gosto, alimenta o ego com solidez, cresce e está fortíssimo. Manteve o ritmo, a intensidade, o domínio.

O GOLPE FINAL DO INCRÍVEL

O Benfica corou, sentiu-se incomodado, vergado e subjugado pelo adversário. Puxou pelo orgulho, exaltou o carácter, olhou para o tal escudo de campeão e tentou, pelo menos, assustar o dragão. Fez o seu primeiro remate de verdadeiro perigo aos sessenta minutos. Demorou precisamente uma hora a obrigar Helton a aplicar-se. Essa é a melhor imagem da exibição encarnada: apática, inapta, inofensiva e sem assomo de qualidade. Conseguiu melhor depois do intervalo, sim, com o acerto de David Luiz no centro e o recuo de Fábio Coentrão para o lado esquerdo da defesa, jogando Nico Gaitán na ala, mas nunca foi realmente capaz de se impor. Nem de conseguir deixar o FC Porto em sarilhos, até receoso de sofrer um golo capaz de relançar o jogo, quebrando o seu domínio conseguido, esticado e prolongado ao máximo.

Ao Benfica tudo correu mal. A estratégia, os duelos individuais, o jogo colectivo. Com os minutos, sofrendo três golos de rajada, perdeu orientação, perdeu discernimento e perdeu a razão. Luisão foi o maior exemplo: tentou agredir Guarín, aos sessenta e cinco minutos, recebeu ordem de expulsão e prejudicou, ainda mais, a sua equipa. O campeão tombou: Jorge Jesus abortou a entrada da Saviola, mudou de objectivo, percebeu que nada havia a fazer para travar a marcha triunfal do dragão. No relvado havia Belluschi a rodos, Moutinho com a assertividade habitual e Hulk, diabo e herói, pronto para mais, quer sempre melhor, ainda precisava de glória: marcou de grande penalidade, após um derrube de Fábio Coentrão, fez o Dragão delirar e fechou a mão-cheia de golos. Foram cinco. E na classificação é o dobro. O FC Porto mereceu.

domingo, 7 de novembro de 2010

FC Porto-Benfica (antevisão): Clássico é clássico

The Final Countdown. Descida vertiginosa, montanha russa iniciada, emoções, pulsações, ritmo cardíaco acelerado. Hora do embate: dragão forte, líder, passada elegante, na espreita de um golpe duro, talvez decisivo, numa águia que procura a retoma, que dá sinais de melhoria e joga tudo, sem meias-tintas, no duelo de hoje. Chegou o clássico. Ficam nove jornadas para trás. O FC Porto cresceu, recuperou o primeiro lugar, fixou-se desde o início e, num abrir e fechar de olhos, ganhou uma margem confortável, isolou-se e distanciou-se dos rivais. O Benfica começou mal: perdeu a explosão da época anterior, mostrou outra dinâmica, tropeçou, foi intermitente e logo perdeu três jogos no arranque. Por isso, pelo que fica para trás, apesar da fase tão precoce, este clássico tem uma carga emocional ainda maior, será mais intenso, vivido nos limites como sempre e aguardado como nunca, porque pode ser fundamental para o título. Dez, sete ou quatro: que vantagem terá o FC Porto no final?

Toca a sineta. É o segundo round. O primeiro foi há três meses. Abriu as hostilidades, a época, mudou o curso dos acontecimentos, deixou o Benfica, campeão e forte, abalado, mexeu com o estado de alma dos encarnados, retirou-lhe confiança e, ao mesmo tempo, permitiu que o dragão, o novo dragão de André Villas Boas, entrasse com o pé direito, mostrasse o orgulho ferido e conseguisse, com mérito e categoria, terminar por cima. O Benfica era amplamente favorito, o FC Porto foi dominador. Agora, em Novembro, a situação é, por ironia, contrária: é o dragão quem mais probabilidades de sucesso tem, por jogar em casa e por se assumir como a melhor equipa deste campeonato, por estar imbatível e apenas ter cedido dois empates nos jogos que realizou, sendo um deles no campeonato. Leva sete pontos de avanço, tem uma oportunidade de ouro para aumentar e sacode a pressão para o lado do Benfica. É a águia quem precisa de ganhar.

O FC Porto está tranquilo. Confiante, seguro e alegre. É líder, consegue aliar bons jogos, joga com consistência e é guiado por um super-Hulk, um herói, que está mais forte do que nunca, atravessa um momento de forma brutal, desconcertante e decisivo, tendo enorme vontade de mostrar o seu pontencial frente ao campeão. O Benfica responde com cinco vitórias consecutivas, até sem sofrer golos, que permitiram a aproximação ao topo, reduzindo após o empate do dragão em Guimarães a distância de nove para sete pontos, escalando até ao segundo lugar. O jogo com o Lyon, na última terça-feira, mostrou as duas faces da águia: setenta minutos de altíssimo nível, a roçar o brilhantismo, com exibição pujante que valeram quatro golos e, depois de alterações, três golos sofridos, sucessão de erros, brechas abertas e um abalo na confiança. Também o FC Porto cedeu um empate com o Besiktas. Ambos pensaram no clássico: simples.

O FC Porto tem Hulk. O Benfica, ainda sem Cardozo, responde com Fábio Coentrão: veloz, explosivo, desequilibrador, sempre em altas rotações. A dupla Peixoto-Coentrão, como na última aparição oficial, deverá ser escolhida pelo treinador encarnado. Tem, no fundo, dois objectivos: tornar a asa esquerda do ataque encarnado forte, pela tal acção de Fábio Coentrão, seja a lateral ou a médio, ao mesmo tempo que, com a união de ambos, tentará retirar força à acção de Hulk. Há ainda Carlos Martins, cada vez mais cerebral, importante e decisivo na equipa benfiquista, como ficou provado frente ao Lyon, rasgando a defesa contrária e provocando desorganização. Será, por certo, um elemento a merecer atenção especial, como Aimar, por parte de André Villas Boas. O treinador portista tem uma baixa de peso: Fernando, o Polvo, não recuperou, é carta fora do baralho e deverá ceder, como na quinta-feira, o seu lugar a Fredy Guarín. Está tudo a postos. Venha o clássico!

FC PORTO-BENFICA

Estádio do Dragão, Porto, 20h15
Árbitro: Pedro Proença

FC PORTO: Helton; Sapunaru, Rolando, Maicon e Álvaro Pereira; Guarín, Belluschi e João Moutinho; Hulk, Varela e Falcao.

BENFICA: Roberto; Maxi Pereira, David Luiz, Luisão e César Peixoto; Javi García, Carlos Martins, Fábio Coentrão e Pablo Aimar; Saviola e Alan Kardec.

NOTA: O FC Porto-Benfica terá crónica no FUTEBOLÊS, assim como acontece com todos os jogos grandes.