sábado, 9 de outubro de 2010

Portugal-Dinamarca (3-1): Rendição segura e tranquila

COMENTÁRIO

Confronto de força, de postura e de realidade: Portugal pressionado, obrigado a ganhar, lutando por se manter vivo na corrida por um lugar na fase final do próximo Europeu e querendo relançar-se depois de um início confrangedor, com uma Dinamarca tranquila, certo que longe da valia da selecção portuguesa, que joga no erro do adversário, reconhece a importância de um empate na casa de um teórico concorrente directo e deixa todas as investidas nas mãos de quem o deve fazer. Só Portugal teria essa missão. Por estar numa posição delicadíssima, por querer dar um ar da sua graça e por jogar em casa. A selecção portuguesa passou meia-hora a pregar no deserto, num jogo de sentido único, sim, mas sem efeitos, até Nani aproveitar dois erros dinamarqueses. Portugal ganhou confiança, jogou como gosta, teve possibilidade de trocar a bola e manter-se sempre superior, mesmo depois de ter visto a Dinamarca reduzir, antes do golpe de misericórdia.

Dois golos de vantagem, tranquilidade no relvado e revés na estratégia dinamarquesa. Sabendo aproveitar os deslizes da selecção da Dinamarca, Portugal saltou para a frente. Foi feliz. E fez, depois, por merecer o brinde: circulou, jogou um futebol apoiado, trocou a bola entre os seus jogadores, não se acomodou e manteve-se dinâmico. Assumiu as rédeas do jogo, dominou, travou a iniciativa dinamarquesa. A selecção de Morten Olsen foi incapaz de incomodar Eduardo, apenas apareceu em lances de bola parada, fazendo valer a maior capacidade atlética dos seus jogadores, mas nunca se assumiu realmente como uma séria ameaça à vantagem portuguesa. Apenas a dez minutos do final, num dos tais lances de bola parada, a Dinamarca criou perigo. Viu a bola bater em Ricardo Carvalho, deixar a defesa portuguesa em contra-pé e sorriu quando a rede balançou. Poderia ter sido um fantasma. Ronaldo fez questão de o afastar antes disso.

Portugal entrou apressado. Quis resolver, mudar a imagem e ganhar rapidamente confiança. Demorou meia-hora até ter a primeira oportunidade. Logo após, ainda com festejos, veio a segunda. Dois golos, dois tiros de rajada, duas vitaminas numa selecção carente e desejosa de mudar o rumo em que se colocara. A partir daí juntou a segunda parte: jogou bem, fez por isso, trabalhou os lances, colou os olhos na baliza dinamarquesa, servindo-se da posição confortável, para criar mais ocasiões. Sobressairam talentos individuais, capacidades de João Moutinho ou Cristiano Ronaldo, sucederam-se os remates, o guarda-redes Lindegaard, entrado para substituir o lesionado Thomas Sorensen após o segundo golo de Nani, emergiu e impediu que Portugal ganhasse maior conforto no resultado. A selecção portuguesa jogou com segurança, apresentou-se consistente e soube empurrar o adversário. Pecou na finalização. De novo.

Um golo fortuito, em carambola, alimentou a esperança dinamarquesa. A selecção nórdica, diga-se de passagem, apenas tivera dois remates com algum perigo, sem que nenhum deles tenha obrigado Eduardo a aplicar-se a fundo, conseguindo marcar num dos inúmeros lances em que procurou fazer valer os centímetros dos seus jogadores. Portugal recordou o passado. Mas não abalou. Manteve a toada, jogou simples, aproveitou e voltou à fórmula inicial: jogada entre Nani e Ronaldo, agora com papéis invertidos, para o golo do capitão, também ele bem regressado, já depois de ter acertado na barra, que colocou um ponto final no jogo. Portugal somou três pontos e ganhou novo alento para a luta. Teve momentos de bom futebol, foi uma equipa solidária, deixou o talento espalhar-se, lançou João Pereira no onze titular e Paulo Bento, na sua estreia, conseguiu passar uma mensagem positiva. Importa, antes de mais, ganhar. Portugal ganhou. E bem.