sábado, 18 de setembro de 2010

Liga Europa: Risco, domínio e duas entradas certeiras

LILLE-SPORTING (1-2): ARRISCAR PARA GANHAR

Necessidade de mudar, recursos disponíveis para o fazer, crença que os efeitos serão positivos e ousadia em dose dupla: receita de revolução, corte com o passado, mudando as peças, a estratégia se necessário, para encarar um novo desafio. Paulo Sérgio adoptou o método, deixou apenas Daniel Carriço e André Santos em relação à equipa que mais tem utilizado neste início de época, experimentou novas soluções e partiu para o jogo com o Lille, o primeiro adversário na fase de grupos da Liga Europa, que, não sendo uma equipa de topo, tem qualidade e é capaz de provocar calafrios. À partida, a opção do treinador pareceu um verdadeiro suicídio, foi interpretada como sinal de poupança para o jogo com o Benfica, poderia ter corrido mal. Puro engano: o Sporting venceu, fez por isso, foi sempre consistente e equilibrado, mostrando qualidade escondida. Paulo Sérgio arriscou, sentiu a adrenalina e sorriu no final.

Tiago surgiu na baliza, Torsiglieri na esquerda da defesa, Diogo Salomão no meio-campo e Hélder Postiga fez dupla com Saleiro na linha atacante. Também Polga, Abel, Zapater e Vukcevic tiveram a sua oportunidade. É essa a palavra correcta: oportunidade. Ora, como têm sido poucas, sobretudo para os quatro primeiros, há que aproveitar ao máximo, baralhar as contas, mostrar trabalho e deixar o treinador satisfeito com o risco que assumiu. Paulo Sérgio seria sempre, em caso de derrota ou empate, o grande crucificado. A melhor forma de os jogadores responderem passaria por uma vitória. Coesos, solidários e trabalhadores. O Sporting entrou bem, prendeu os movimentos do Lille, ganhou a bola e o domínio do jogo, cedo se adiantou: golo de Vukcevic, aos onze minutos, após uma incursão fulgurante de Abel. Aproveitamento total da oportunidade. O segundo golo, num belo envolvimento colectivo, deu a paz de espírito necessária.

O cabeceamento de Hélder Postiga, de novo no caminho certo, deixou o Sporting confortável, dominando e vencendo com uma boa margem, apenas por uma vez vendo o Lille chegar junto da baliza de Tiago. A equipa francesa, amarrada e inofensiva, viu-se obrigada a mudar: Rudi Garcia, com trinta e nove minutos de atraso, lançou Hazard, o menino bonito belga, uma promessa em emergência - o que fez ele tanto tempo no banco? O Sporting desperdiçou o terceiro golo, o Lille melhorou, apresentou-se mais desinibido e reduziu, por Frau, num lance em que Tiago esteve mal. A equipa francesa tentou o empate, o jogo abriu, teve oportunidades e Tiago, redimindo-se do golo sofrido, impediu, a dois minutos do final, o empate gaulês. O Sporting foi coeso, pragmático, os jogadores souberam aproveitar o momento e venceu merecidamente. Entrou com o pé direito na competição e pode ter ganho, para o jogo com o Benfica, novas opções.

FC PORTO-RAPID VIENA (3-0): JOGAR AO SOM DA PRÓPRIA MÚSICA

Domínio total, jogo na mão, três golos marcados, vinte e cinco golos bem agradáveis e o oitavo triunfo oficial. O FC Porto mantém o sorriso de orelha a orelha, amealha pontos, jogos em que trava as pretensões do rival, joga ao ritmo que pretende e, quando percebe que é a sua hora, aparece para tornar mais colorido o resultado e a prestação. Estar longe da Liga dos Campeões é uma dor de alma para os portistas, uma sensação estranha, sentida pela última vez há sete anos. Foi precisamente na época em que venceu a segunda competição europeia, o parente pobre da poderosa Champions, que o FC Porto ganhou um lugar na elite de clubes europeus. Perdeu-o agora: a realidade azul é a Liga Europa, algo ncomparável mas também com prestígio, as possibilidades de triunfar são maiores e, por isso mesmo, tem licença para sonhar. É o que faz o dragão. Vence, é senhorial mesmo não sendo avassalador e segue a sua caminhada.

FC Porto e Rapid de Viena são equipas incomparáveis. Na força colectiva, na forma como produzem desequilíbrios, como defendem e na qualidade individual dos jogadores que as compõem. Os austríacos, impulsionados por um público vibrante e louco no apoio aos seus e nas vaias ao adversário, afinal de contas os donos da casa, criaram uma primeira ocasião, sim, mas logo depois perderam a bola e o controlo. O FC Porto assume-o, gosta de estar por cima, vai crescendo à medida que os minutos se acumulam. O dragão não partiu sufocante para a luta com o adversário, como se não houvesse amanhã, querendo trucidar a formação austríaca. Pelo contrário: foi inteligente, geriu o esforço, não elevou em demasia o ritmo sob pena de perder andamento devido ao desgaste causado pelo jogo frente ao Sp.Braga, esperou que surgissem as oportunidades para marcar e, então sim, ficar ainda mais tranquilo sobre o relvado.

A vitória do FC Porto começou a ser construída através de um dos obreiros da consistência defensiva: Rolando ganhou espaço na área do Rapid, fez tudo para não repetir a falha imperdoável que tivera minutos antes, exactamente na mesma zona, teve frieza e rematou certeiro. O golo trouxe, por paradoxal que pareça, o melhor dos austríacos: combinações interessantes, aproveitamento de metros vazios, Nuhiu e Hoffman - identificado como sendo o mais perigoso do Rapid - conseguiram deixar o Dragão algo inquieto. Serviu de alerta. O FC Porto regressou para a segunda parte mais dono do seu território, não permitindo mais iniciativas dos austríacos, marcando a negrito as diferenças existentes. Aumentou o ritmo, marcou por Falcao, fez poupanças tendo em conta o próximo jogo, fez descansar Hulk e El Tigre (Belluschi, que entrou, e Varela ficaram no banco) e fechou as contas num golaço de Rúben Micael.

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