quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Liga Europa: Dragão invicto na noite perfeita do leão

CSKA SÓFIA-FC PORTO (0-1): VENCEDOR, LÍDER E INVICTO

Décimo primeiro jogo e décima primeira vitória. O FC Porto segue invicto, respira confiança, está motivadíssimo, percebe que não pode relaxar, está obrigado a jogar sempre nos limites e encontrar em cada jogo um objectivo atraente. Quer ganhar sempre, construir um ciclo invejável de vitórias, sabe que vai ser travado mas quer atrasar ao máximo o dia em que perderá pontos pela primeira vez nesta temporada, continuar a sua caminhada com êxito pleno. O dragão assumiu o jogo em Sófia, mostrou os maiores recursos, jogou a seu gosto nos terrenos do adversário, marcou por Radamel Falcao, um golo natural, tendo passado ao lado de mais oportunidades para aumentar a vantagem. Esse foi, aliás, um problema novo, pouco visto nesta época, que afectou a equipa portista: ficaram muitos golos por concretizar. Daí que na segunda parte, com o CSKA espreitando uma chance para ser feliz, sendo ousado, o FC Porto tenha somado alguns sustos.

Rotatividade. André Villas Boas tem um vasto leque de jogadores, o grupo portista é forte, existem várias soluções e há a possibilidade de, em cada jogo, lançar novas peças sem descaracterizar ou tirar rendimento à equipa. Na Bulgária, o treinador voltou a apostar em Sapunaru, lançou pela primeira vez Otamendi e Maicon no centro da defesa, colocou Souza na vaga de Fernando e deu a Cristian Rodríguez a possibilidade de se juntar a Hulk e Falcao no tridente ofensivo. A ideia não altera: posse de bola, azul vivo, facilidade para chegar à área contrária e rival recuado, sem poder criar perigo, impedido de rematar à baliza de Helton. O golo chegou ao quarto-de-hora. Natural, anunciado e justo: Falcao recebeu de Hulk, encarou o guarda-redes M'Bolhi e atirou para o fundo da baliza da equipa búlgara. Tudo o resto, como fora antes, teve azul intenso como fundo. O FC Porto tomou as rédeas do jogo.

Embora apenas com uma vantagem tangencial, o FC Porto baixou a guarda e mostrou distracções. Tiivera inúmeros lances para voltar a marcar, com Falcao ou Belluschi, por exemplo, mas não foi eficaz. Na equipa búlgara, até então inofensiva e incapaz de criar desequilíbrios, sobressaiu um tal de Michel Platini. O atacante brasileiro aproveitou as falhas, assustou Helton, rondou o golo e colocou a vantagem do FC Porto em perigo, tal como Sheridan foi outra ameaça, mostrando o maior arrojo do CSKA de Sófia. André Villas Boas, percebendo que era necessário reagir, lançou Varela, Guarín e Walter. Ao mesmo tempo, poupou Hulk, Belluschi e Falcao. Conseguiu fazer a rotatividade e ser bem-sucedido. O FC Porto, pelo meio da subida dos búlgaros, continuou a criar oportunidades, assustar M'Bolhi e ter capacidade para fazer mais golos. Não fez. Tal como não sofreu. O tento de Falcao vale um passo decisivo.

SPORTING-LEVSKI SÓFIA (5-0): A NOITE DE RENDIÇÃO

Diogo Salomão. Começamos por ele. Tem vinte e dois anos, foi nesta temporada chamado à equipa principal do Sporting, chegou do Real Massamá, assim como acontecera com Nani, da terceira divisão. Mostrou potencial, garra e vontade para triunfar. Teve, ante o Levski de Sófia, a oportunidade de jogar como titular. Aproveitou, espalhou talento, desequilibrou, esteve eléctrico ante a débil defensiva búlgara e marcou um golo. Ao Sporting, atordido pelo mau início e cada vez mais intranquilo devido aos resultados recentes, com a derrota no derby ante o Benfica e o empate caseiro com o Nacional, evidenciando uma atitude passiva e de impotência, o jogo com os búlgaros chegou em boa altura: exibição sólida, confiante, mostrando superioridade, remetendo o campeão da Bulgária à sua área, sem que tenha criado qualquer perigo a Rui Patrício, conseguindo afastar os fantasmas da finalização. O leão produziu e marcou. Foram cinco.

O Sporting vive numa constante indefinição. Na temporada passada atingiu o seu ponto máximo: errou, deu imensos passos em falso, acumulou desatenções e terminou a vinte e oito pontos do campeão nacional e sem qualquer título conquistado. Pelo meio, contudo, teve belas exibições, principalmente na Europa, conseguindo um balão de oxigénio que logo terminou quando regressaram os problemas iniciais. Teve uma época de metamorfoses. O arranque para a nova temporada trouxe nova ambição, mentalidade renovada, jogadores e treinador novos, maior confiança. Os resultados não têm sido os desejados. No campeonato, por exemplo, o leão está já a dez pontos da liderança do FC Porto. Mesmo assim, mostrou consitência, capacidade e valor na Liga Europa, batendo o Lille, em teoria o adversário mais forte do grupo, jogando com apenas dois dos seus habituais titulares. Ante o Levski, o Sporting rugiu forte. Como nunca nesta época.

Sem Nuno André Coelho, sem André Santos, sem Yannick e sem Liedson. O Levezinho tem sido o grande suporte do Sporting, mostrou talento para resolver jogos sozinho, mas está em clara quebra. Perdeu o estatuto de indiscutível. Com isso, com as novas opções de Paulo Sérgio, beneficiaram Polga, Zapater, Postiga e o já referido Salomão. O primeiro golo surgiu, seguindo a ordem natural dos acontecimentos, à meia-hora: bola parada ofensiva, cabeceamento forte de Daniel Carriço, aberta a baliza de Petkov. Antes do intervalo, num inusitado golpe de cabeça, Maniche aumentou. O Sporting chegou a uma vantagem tranquila, concretizou o domínio territorial e ficou confortável. A segunda parte, mantendo a intensidade e a vontade de marcar, trouxe mais golos, mais três, até à mão-cheia: um remate de Diogo Salomão, um belíssimo tiro no regresso de Hélder Postiga e o fecho por Matías Fernández. Perfeito para o leão.

Schalke 04-Benfica (2-0): A vitória alemã nos erros da águia

COMENTÁRIO

Uma bola, onze contra onze e vitória da Alemanha. Para Gary Lineker não havia que enganar: apesar das tácticas, da ambição, do talento individual e do fio condutor que orientam uma equipa, tudo isso fundamental para ganhar, seriam sempre, fosse como fosse, os alemães a sorrir. Para Portugal, por exemplo, também tem sido assim: com a selecção nacional ou com equipas, a Alemanha triunfa, superioriza-se, consegue ser melhor. O Benfica foi mais uma vítima: desperdiçou oportunidades, faltou-lhe o clique final para concretizar e deixar o adversário nas trevas, permitiu que o Schalke 04 se mantivesse vivo, controlado mas vivo, cedeu em momentos fundamentais, errou como não é permitido na Liga dos Campeões e acabou derrotado. Depois de um ar de melhoria, iniciado frente ao Hapoel Tel Aviv, prosseguido com vitórias ante Sporting e Marítimo, os encarnados voltaram a perder. O campeão é um semáforo demasiado intermitente.

Minuto zero. Duas equipas feridas no seu orgulho, começando a época com o pé esquerdo, acumulando erros, perdendo pontos importantes, vendo a margem de manobra cada vez menor: para o Benfica defender o seu título de campeão português e chegar longe na Liga dos Campeões, um objectivo ousado mas assumido por Jorge Jesus, e para o Schalke que é vice-campeão alemão e pretende voltar a discutir o título germânico. A equipa portuguesa ganha ascendente no jogo. Tem a bola, circula, avança, está tranquila, impede o perigo do adversário e cria oportunidades de golo. Cardozo e Saviola, dupla letal na época passada, arrasadora e com uma eficácia de fazer inveja a qualquer um, tiveram golos nos pés, ambos podiam ter marcado, mas falharam. Este é um problema actual do Benfica: perdeu capacidade para finalizar, para ferir o adversário e marcar o jogo a seu favor. O Schalke, aos poucos, aventurou-se no ataque.

Minuto quarenta e cinco. Persistência do nulo: mais Benfica, primeiro quarto-de-hora de uma equipa imperial e mandona, Schalke demostrando as suas carências, revelando-se perfeitamente ao alcance dos encarnados, mas que, nas vezes em que se aproximou da baliza benfiquista, criou perigo: marcou por duas vezes em lances anulados por fora-de-jogo, um deles mal assinalado, Rául acertou no poste e, na recarga, Roberto, tranquilo e seguro depois das tormentas iniciais, agigantou-se para impedir o golo de Rakitic. Quer tudo isto dizer que o Benfica teve o jogo na mão, deve a si próprio o facto de não ter aproveitado as soberanas oportunidades desperdiçadas pelos dois goleadores, Tacuara e El Conejo, aumentando as preocupações sobre a eficácia dos encarnados, e o Schalke, nas ocasiões em que criou perigo, foi realmente uma ameaça para a baliza de Roberto. Manter a postura e acertar na baliza: propósito do Benfica para vencer.

Minuto noventa. A História mantém-se: o Benfica não consegue vencer na Alemanha e os alemães, no duelo de onze contra onze, terminam por cima. Os encarnados foram ineficazes na primeira parte. Na segunda, somando a isso, perderam o ar mandão, baixaram a guarda, somaram desatenções e cometeram erros individuais que se revelaram fundamentais: César Peixoto atacou mal um cruzamento de Schmitz que resultou no golo de Jefferson Farfán e, doze minutos volvidos, a cinco do final, David Luiz foi ingénuo perante Raúl, matreiro e audaz, antes de Huntelaar, assistido por Jones, terminar com as aspirações do Benfica. A equipa portuguesa cai por culpa própria. Por não ter conseguido ser eficaz, terminando com o Schalke, impedindo os alemães de se manterem vivos e cedendo espaços na defesa. Os alemães ganham uma nova vida. O Benfica recua na recuperação. Sem que o início o fizesse prever.

NOTA: O comentário ao jogo do Benfica, na Liga dos Campeões, apenas pôde ser colocado agora.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Sp.Braga-Shakthar Donetsk (0-3): Sonho distante

COMENTÁRIO

O despertador tocou alto e bom som em Londres. O Sp.Braga acordou estremunhado, de forma violenta e abrupta, sentindo a exigência, a falta de traquejo e a incomparável diferença para com as armas do Arsenal. Terminou o estado de graça, caiu com estrondo, sentiu o peso nos ombros e foi vergou a uma pesadíssima derrota. Depois disso, jogou duas vezes para o campeonato: empate desolador em Paços de Ferreira e vitória tranquila sobre a Naval. Chegou, por fim, a Liga dos Campeões a Braga. Com o Shakthar Donetsk pelo caminho: equipa ucraniana, com brasileiros talentosos, bem orientada por Mircea Lucescu. A incapacidade voltou a assolar os Guerreiros, traduziu-se num novo falhanço, com mais uma derrota pesada, por metade dos números do Emirates Stadium, que compromete as aspirações, à partida legítimas, de o Sp.Braga ganhar um lugar nos oitavos-de-final: batido por três-zero e último lugar do grupo.

O Sp.Braga é um burguês em crescimento no mundo dos negócios. Tem talento, sabe o que deve fazer, ganha força no mercado interno, progressivamente começa a ascender e a pisar os calcanhares aos grandes senhores que se instalaram no domínio do ramo. Começa por ter o seu cantinho, vai adquirindo estatuto e passa a dispor de capacidade para negociar com bons argumentos. Mas ainda lhe falta a experiência, a matreirice, o oportunismo. Tem talento, não há dúvida, só que pode não ser suficiente se quiser lutar de igual para igual com alguém com maior traquejo, mais anos de trabalho e competências apuradas na alta-roda europeia. É ainda uma equipa verde. Numa prova tão importante como a Liga dos Campeões, onde apenas os melhores sobrevivem, como numa corrida desenfreada por conseguir melhores negócios do que a concorrência, os erros pagam-se caro. O Sp.Braga tem-no sentido. Perde, gela e desanima.

Foi num erro que o Shakthar se colocou em vantagem: Luiz Adriano trabalhou bem, abriu espaço na defesa do Sp.Braga, conseguiu uma boa posição e rematou certeiro, com a permissão de Felipe, para o primeiro golo do campeão ucraniano. Para trás haviam ficado cinquenta e seis minutos pouco intensos, longe de serem bem jogados, com maior ascendente do Sp.Braga, traduzido nalgumas boas oportunidades desperdiçadas ou bem travadas pelo guarda-redes Pyatov, embora nunca o Shakthar Donetsk tenha dado mostras de desorientação ou descontrolo. Dois minutos antes do golo dos ucranianos, o tal em que Luiz Adriano contou com a ajuda de Felipe, Domingos Paciência retirara Leandro Salino, até então o melhor jogador da equipa minhota, para lançar Lima, o joker de Sevilha, na tentativa de aumentar a capacidade ofensiva. A decisão pareceu pouco acertada. Também o treinador se estreia na elite europeia.

Atacados na sua fortaleza, onde não perdiam há já catorze meses, os jogadores do Sp.Braga, destroçados pela derrota de Londres, pretenderam mostrar os seus atributos. A equipa portuguesa criou oportunidades e Pyatov emergiu: travou os remates de Paulo César, Matheus e Lima, agigantou-se na baliza, tapou todos os caminhos e revelou-se uma peça-chave na equipa ucraniana. O Sp.Braga criara, estivera perto do golo, mas não fora eficaz, esbarrara na extraordinária prestação do guarda-redes adversário. Não marcou e sofreu. Sobressaiu a tal matreirice e oportunismo do Shakthar, uma equipa pragmática, para selar a vitória: Luiz Adriano ganhou a Moisés, encontrou uma posição semelhante à do primeiro golo e voltou a ser bem-sucedido frente a Felipe. Já em período de compensação, Douglas Costa, na conversão de uma grande penalidade, fixou o resultado final. Pesado, mais uma vez. Sonho cada vez mais distante.

Liga ZON Sagres: Análise da jornada 6

O PASSO CERTEIRO DO DRAGÃO

Liderança sólida, alicerçada em bons jogos, atitude personalizada e confiante: o FC Porto bateu o Olhanense, cimenta o seu estatuto, exibe as distâncias para a concorrência e percebe que nada ganhou, é realista, não deixa que o pensamento seja toldado pelo fabuloso arranque. O Benfica somou a segunda vitória consecutiva, mais esforçado do que o necessário, sendo demasido perdulário e apenas por uma vez conseguindo acertar na baliza do Marítimo, enquanto o Sp.Braga, sem jogar bem, foi eficaz frente à Naval. Em Alvalade, o Sporting desiludiu, cometeu erros antigos, cedeu ante o Nacional e atrasou-se na luta pelo título - já são dez pontos. Destaque para a campanha da Académica, mostrando arrojo e credenciais, estabelecendo-se na segunda posição.

O líder está bem e recomenda-se: solto, confiante, risonho e vencedor. O FC Porto carrega no acelerador, esforça-se por fazer bem, é tenaz, percebe que o resultado é realmente o objectivo a que tem que chegar em primeiro lugar, torna-se possessivo, transcende-se, tira bola ao adversário e joga com o pensamento fixado na baliza. Ultrapassou mais uma barreira, nova etapa da sua consolidação, está cada vez mais próximo dos ideais de André Villas Boas, é uma equipa moderna, capaz, vence com categoria. Ultrapassou o Olhanense, uma das boas formações deste arranque de temporada, impondo a primeira derrota aos algarvios. O dragão circula, produz e concretiza, ao mesmo tempo que fecha os caminhos para o seu território. No contexto de felicidade, favorável à manutenção, Nicolás Otamendi estreou-se a marcar, abriu o caminho da vitória que Hulk confirmou. O FC Porto cumpriu antes do intervalo, geriu o esforço depois.

A tensão benfiquista subira, ameaçara o limite e a ansiedade apoderara-se da águia. Oportunidades em catadupa, golos feitos desperdiçados por Cardozo e Saviola, uma grande penalidade deixada passar em claro por João Capela, se bem que Maxi Pereira também tenha colocado a mão sobre o ombro de Djalma no interior da área benfiquista, total desacerto, pressão cada vez maior, margem nula: cocktail explosivo para o campeão, proibido de ceder terreno, falhando onde antes era letal, vendo Roberto agigantar-se na baliza. O minuto cinquenta descarregou a adrenalina: Fábio Coentrão recebeu a bola, deixou-a a saltitar, olhou para Marcelo Boeck e disparou certeiro. O golo surgiu pelo melhor jogador, pelo mais entusiasta e aguerrido, encheu de justiça o resultado: o Benfica foi melhor, teve requintes de masoquismo, falhou inúmeras ocasiões por inusitada inépcia mas conseguiu vencer ante um frágil Marítimo.

O Sp.Braga regressou a casa. Encontrou o ambiente ideal para superar o pesadelo em que, num abrir e fechar de olhos, se viu inserido. Precisava de uma vitamina, um aconchego e um novo início para voltar a abrir um sorriso. Conseguiu alimentar o ego, venceu e somou três pontos: isso é o importante neste contexto. Os bracarenses encontraram dificuldades no início, mostraram poucas ideias, embateram na boa organização da Naval, coesa a defender e tentando ser perigosa a atacar, não conseguindo criar perigo. Marcaram, sem saber ler nem escrever, num tiro forte de Mossoró. O golo, antes da meia-hora, abalou a Naval: perdeu os seus atributos, desorganizou-se e foi incapaz de reagir. Imprimindo o seu ritmo, sem jogar bem, o Sp.Braga chegou aos três golos, aproveitando erros adversários, e carimbou a vitória. Foi a equipa mais forte e, sim, ganhou bem. Apenas nos minutos finais, Fábio Júnior reduziu a diferença.

Aos poucos, o Sporting cai nos vícios do passado, revela impotência, mergulha nas dúvidas e perde força para se assumir na luta pelo título. O leão controla, tem bola, remata, ronda a baliza adversária e passa perto do golo, só que tarda em conseguir um fio de jogo, em fazer valer-se como colectivo. Não tem alegria, falta-lhe maturidade, está intranquilo. Vive de raros fogachos e sente forte a falta de desequilíbrios e a completa ausência de Liedson - que até faz Paulo Sérgio, ao intervalo e com um nulo, retirá-lo da equipa. A equipa melhorou após o intervalo, com Saleiro e Diogo Salomão em campo, pressionou mais, deu mais largura ao seu futebol, desbloqueou o nulo, num sensacional pontapé de Saleiro, conseguindo saltar para a frente. Em vantagem, o Sporting recuou, abusou da confiança, colocou-se a jeito. Todo o esforço para marcar foi inglório: Danielson, também num belo golo, embora consentido, deu o empate. O Nacional pouco fez.

A Académica conseguiu, à sexta jornada, ultrapassar as expectativas: ascendeu ao segundo lugar, com onze pontos, depois de ultrapassado o Vitória de Guimarães (3-1) - em igualdade pontual, tal como o Sp.Braga -, conseguindo um belíssimo arranque de temporada no campeonato nacional. O União de Leiria conseguiu vencer pela segunda vez: bateu o Rio Ave, por 1-0, confirmando o arranque em falso da equipa vila-condense, ainda sem triunfos, contando, a par do Marítimo, com apenas dois pontos. O Vitória de Setúbal, inflingindo a primeira derrota ao Paços de Ferreira (ganhou, no Bonfim, com um golo de Claudio Pitbull), chegou aos nove pontos, alcançando o Olhanense. Também o Portimonense somou mais três pontos (1-0, sobre o Beira-Mar), conseguindo o segundo triunfo na Liga ZON Sagres. Apenas com quatro pontos somados, imediatamente acima dos lugares de descida, a Naval despediu Victor Zvunka.

O MOMENTO DA JORNADA

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Liga ZON Sagres: Um momento de estreia de sonho


FC PORTO-OLHANENSE (2-0): HOLA, YO SOY OTAMENDI!

Bruno Alves era o capitão: um símbolo e o principal portador do espírito de dragão e da tal mística que tão importante é no futebol. Deixou o FC Porto neste defeso. Ficou um buraco, uma lacuna, pensou-se que André Villas Boas teria dores de cabeça, o novo dragão começaria mal na defesa. Puro engano: apesar de algumas distracções, de momentos menos conseguidos, num típico estudo mútuo, Rolando e Maicon formaram uma boa dupla e, num ápice, o FC Porto construiu uma muralha em frente da sua área. Mesmo assim, porque é necessário criar competitividade interna e antever todos os cenários, os portistas atacaram o mercado. Voltaram-se para onde gostam, a Argentina, viram Nicolás Otamendi, um jovem em ascensão, chamado para o Mundial da África do Sul, partiram para a conquista e chegaram a acordo. O central argentino faz parte do plantel praticamente desde o início, mas apenas se estreou agora, ante o Olhanense, roubando o lugar a Maicon. Atento, confiante e oportuno: dos seus pés começou aos vinte e três minutos, a décima vitória azul. Estava no sítio certo e marcou. Foi perfeito.

NOTA: O Momento da Jornada é uma rubrica do FUTEBOLÊS, publicada antes da análise completa de cada ronda da Liga ZON Sagres. A imagem presente tem créditos da Liga Portuguesa de Futebol Profissional.

domingo, 26 de setembro de 2010

Estados de espírito: como vivem?

O FC Porto vive na felicidade extrema. Joga, ganha, as coisas saem bem, resultam, domina o adversário e marca os ritmos com confiança. Ganha terreno, impede as aproximações dos rivais, mantém o nariz empinado, cola-se no topo, não dá mostras de fragilidade, amealha pontos importantes e segue invicto: desde que venceu o Benfica, na Supertaça Cândido de Oliveira, o dragão somou nove triunfos, seis no campeonato, os outros na Liga Europa. André Villas Boas incutiu uma nova postura, um olhar diferente à realidade, percebe o que lhe é exigido, o seu FC Porto vence e convence sem precisar de ser massacrante ou brilhante em cada segundo dos noventa minutos de cada jogo. Trabalha ao pormenor, não deixa nada ao acaso, propicia rotatividade sem perder dinâmica, sabe o que faz, não relaxa sobre o extraordinário arranque, é impulsionada por Hulk. Givanildo deixou de ser um mortal e passou a herói: o FC Porto agradece.

O Benfica vive a sua recuperação. Começou mal, acumulou erros, perdendo pontos onde não se esperaria, assinou o pior arranque de sempre no campeonato português, pareceu deixar a defesa do seu título por mãos alheias. Agora, está em ascensão: leva duas vitórias na Liga, sobre Sporting e Marítimo, acrescenta-se outra ante o Hapoel, evidencia superioridade em todos, cresce, impede o adversário e cria diversas oportunidades, além de, finalmente, Roberto ter estabilizado e manter a baliza a zeros. Só que há uma diferença abissal, clara e explicativa, na força atacante da águia: perdeu fulgor, poder de fogo, está menos letal, dá bicadas mas não consegue o golpe de misericórdia. Contra o Marítimo, o Benfica teve diversas oportunidades, empurrou os maritimistas, rondou a baliza de Marcelo e só marcou por Fábio Coentrão. Valeu a vitória e isso é o importante. Mas não apaga, por exemplo, o desacerto do matador Cardozo.

O Sp.Braga vive um período estranho. Subiu ao céu ao eliminar o Sevilha, garantindo o passaporte para a fase de grupos da Liga dos Campeões, ao mesmo tempo que confirmou o seu poder no campeonato, querendo dar continuidade à extraordinária época realizada no ano passado, contribuindo mais um pouco para o crescimento do seu estatuto. Até que, de um momento par o outro, caiu com estrondo: vencido pelo FC Porto no melhor jogo do campeonato, dizimado pelo Arsenal numa espécie de praxe na liga milionária e surpreendido, depois de ter chegado à aparente tranquilidade, por vinte minutos finais arrasadores do Paços de Ferreira. Averbou três resultados negativos. A sua estrelinha empalideceu, perdeu-se um pouco, as dores de crescimento fizeram-se sentir e o Sp.Braga ficou abalado. Recuperou ante a Naval: vitória justa, cómoda e tranquila, marcando três golos e sofrendo um, sem que tenha jogado bem.

A Académica vive acima do que esperaria. À sexta jornada, para uma equipa que se habituou a estabelecer objectivos realistas e com o pensamento somente em garantir a permanência no principal campeonato português, ocupar o segundo lugar, tendo onze pontos, é fenomenal. A equipa de Jorge Costa começou bem com uma vitória na Luz, a primeira a que o campeão nacional foi sujeito depois do desaire na Supertaça, experimentou um empate e uma derrota nas jornadas seguintes, conseguiu reencontrar-se e assina um brilharete. Para quem tenciona apenas evitar o mal-estar de se ver inserido nos lugares de descida, fugindo deles a sete pés, a Académica está bem, recomenda-se, dá provas, como deu frente ao Vitória de Guimarães, num belo jogo de futebol entre duas equipas capazes e creditadas, de ter capacidade de algumas surpresas, podendo parar os grandes e, aos poucos, alargando horizontes.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Paulo Bento: Tranquilidade, arrojo, persistência

Bento forever. Incisivo, ousado e corajoso. José Eduardo Bettencourt foi tudo isso: fez de Paulo Bento a sua bandeira eleitoral, puxou dos galões, garantiu lugar ao treinador, aumentando-lhe a confiança e a credibilidade, disparando a expressão sem receio. O ciclo de Paulo Bento, contudo, terminou ainda na primeira parte da época. Foi extremamente positivo, ficam títulos, ficam bons jogos, ficam vários jovens consolidados na equipa principal. João Moutinho e Miguel Veloso, por exemplo, foram lançados por Paulo Bento, sustentados pela sua firmeza, cresceram, ganharam estatuto e, neste Verão, renderam milhões importantes ao Sporting. Daniel Carriço, Rui Patrício ou Yannick são, actualmente, as principais bandeiras da formação que fazem parte da equipa principal leonina. Paulo Bento não foi forever, saiu ao fim de quatro anos, com duas Taças de Portugal e duas Supertaças conquistadas. Agora é o seleccionador nacional.

Portugal vive um momento delicado. Precisa de bravura, frontalidade e garra para dar a volta. Tem um ponto em seis possíveis, corou de vergonha após os jogos com o Chipre e com a Noruega, surgiu sem rei nem roque e aproxima-se uma dupla-jornada, com a recepção à Dinamarca e a visita à Islândia, decisiva: tem que ganhar, correr em busca do tempo perdido, apagar o início em falso. Paulo Bento é um treinador frontal, sem rodeios, vai directo ao assunto e trabalha com afinco. Entrou para o Sporting num dos piores momentos da história da equipa leonina, depois das demissões de José Peseiro e Dias da Cunha, conseguindo, ao longo dos anos, renovar o plantel, manter o leão vivo na luta pelo título - o Sporting, no tetracampeonato do FC Porto, foi sempre segundo classificado -, pelo meio com conquistas de outras competições internas, cumprindo os objectivos, ganhando experiência na Liga dos Campeões.

Paulo Bento tem a seu favor o facto de ter os jogadores, os clubes e os adeptos ao seu lado nesta aventura na selecção. Ou merece, pelo menos, o benefício da dúvida dos mais cépticos. Ao contrário do que acontecia com Carlos Queiroz, o novo seleccionador conta, apesar do período extremamente complicado, com bastante crédito. É ainda jovem, sim, porque tem apenas quarenta e um anos de idade e somente a experiência de quatro temporadas no comando do Sporting, mas já provou ter competência e, mais do que isso, demonstrou, desde logo, vontade de triunfar, de mudar o rumo dos acontecimentos e de conseguir recuperar os valores de Portugal. Bento é exigente, conciso, incisivo nas análise. Critica quando entende que o tem que fazer, elogia quando o merecem, aponta defeitos e não declina responsabilidades. Essas são as suas principais virtudes. E vão de encontro, precisamente, ao que a selecção necessita.

A selecção nacional exige a criação de um grupo forte. Unir o talento de todos, conseguindo um conjunto forte, que valha pelo colectivo e não se sinta carente de individualidades. A falta desse tal grupo coeso foi um dos principais pecados de Carlos Queiroz e Paulo Bento, para se conseguir impor como líder, terá de saber fazê-lo. Será meio caminho andado para que Portugal retome o seu caminho e se coloque na linha do Europeu. Treinadores perfeitos, capazes de se transformarem em heróis, não existem. Esse era o desejo de Gilberto Madail quando olhou para José Mourinho, arriscando abrir horizontes, batendo à porta do Real Madrid e regressando com uma resposta negativa e convincente. Paulo Bento surgiu naturalmente: confiante, seguro de si, nada beliscado. Terá uma tarefa hercúlea pela frente, ele sabe-o. Resta-lhe ter a paz de espírito necessária, a tranquilidade que tanto lhe está associada e ser persistente. É um treinador teimoso, insistente, capaz. O futuro ditará se a aposta foi ou não acertada.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Clube Portugal: Paulo Bento é o mister

Oficial e pouco cavalheiro. Oficial, porque Paulo Bento é, como já o era há uns dias, o novo seleccionador nacional de futebol. Pouco cavalheiro, porque a rábula da contratação de José Mourinho por dois jogos cheira a farsa de teatro burlesco, idealizada por quem tem grande influência no seio da selecção nacional, Jorge Mendes, com Gilberto Madail a cumprir à risca o guião do filme. Terminada a confusão da busca do "santo" que nos traria a esperança na qualificação, resta-nos esperar que o Paulo seja mesmo Bento para nos guiar ao caminho da redenção, devolvendo à selecçã, a esperança, os bons resultados (se possível com exibições a condizer) e sobretudo que consiga reconciliar a equipa das quinas com o povo.

Tem Paulo Bento condições para recuperar o que Carlos Queiroz perdeu? Tem, porque é um líder, sabe falar com os jogadores, é exigente na disciplina e intransigente para com os vedetismos. Acrescente-se ao tirocínio nas camadas jovens (campeão nacional com o Sporting), a experiência que acumulou no banco dos leões nas últimas quatro épocas, com o lançamento de muitos jovens no futebol português, estando, pois, reunidas as condições para que, mais que a qualificação - difícil mas não impossível -, possa lançar as bases de uma reformulação mais que necessária de todo o futebol da selecção nacional.

Acredito em Paulo Bento e, porque sei que pensa por cabeça própria, espero que saiba sacudir todos os "espírito-santos de orelha" que lhe vão sair ao caminho, com a convicção que se as coisas lhe correrem mal, correram porque pensou pela sua cabeça e não pela dos outros. Acreditar nas suas ideias e colocá-las em prática, é meio caminho para o sucesso. Madail e seu pares continuam ao leme da Federação, Queiroz foi "pescado" mas ainda esperneia preso ao anzol que o agarrou, Mourinho tem que alcançar resultados rápidos para lavar a imagem que ficou algo suja com a história da sua contratação e Jorge Mendes vai continuando a estender os seus tentáculos a uma selecção onde é claramente "polvo" dominante. Sobre a rábula dos últimos dias, este escrito é elucidativo. Que Paulo Bento tenha a sorte, que merece, pois o resto, capacidade técnica e táctica, tem ele.

Opinião de Bernardino Barros sobre o actual panorama da selecção nacional

Minuto noventa: O derby controlado pelo Benfica

O Benfica venceu o derby. Não sendo deslumbrante, mas ganhando com consistência e mérito, asfixiando a capacidade ofensiva do Sporting e lançando ataques perigosos, explorando fragilidades na defesa leonina, o campeão conseguiu quebrar o pessimismo. Chutou para canto um novo tropeção, ganhou num momento fundamental, num jogo estranhamente decisivo por ser jogado à quinta jornada mas assim determinado pelo péssimo início, diminuindo a desvantagem para o Sporting e para Sp.Braga, dois rivais na luta pelo título, embora continue a ver o FC Porto liberto e confortável na liderança. O Benfica foi mais forte, mais agressivo, mais intenso, mais astuto: ganhou o derby nos duelos individuais, nas oportunidades de golo criadas, no caudal de jogo ofensivo e teve sempre, ao longo dos noventa e quatro minutos, o jogo sob controlo.



O campeão teve a paz de espírito necessária para assumir o jogo, não querendo ser brilhante mas fixando-se na vitória, ganhou com a naturalidade de quem se mostra superior, individual e colectivamente, conseguindo ser ousado e impedindo que o adversário o fosse. Apesar de terem perdido nos passes efectuados, na posse e no número de toques na bola, o que nem sempre explica a tendência do jogo, como é o caso, os encarnados conseguiram mais remates, sobretudo com uma maior percentagem nos que atingiram a baliza de Rui Patrício, explorando as faixas laterais do terreno, a partir do centro, num contraste com a pouca astúcia leonina nas alas. A aposta de César Peixoto para médio interior esquerdo, jogando à frente de Fábio Coentrão, explica-o: o Benfica ganhou dinâmica, foi acutilante e impediu os avanços de João Pereira.

A superioridade encarnada nas faltas cometidas (vinte e oito-vinte) e nos cartões amarelos (seis-dois) é também sintomático da maior garra colocada em campo pela equipa de Jorge Jesus. Jogando nos limites, com ímpeto e alma, tal como um verdadeiro derby exige, o Benfica conseguiu ser mais adulto e realista na forma de encarar o adversário. O Sporting é uma equipa lutadora, mostra vontade, quer fazer bem, tenta reagir, mas demonstra apatia, ingenuidade e revela-se demasiado verde. Ora, num jogo para homens de barba rija, importante e quase sem margem de manobra, adoptar uma postura mais ligeira, evitando cometer faltas, até quando são realmente necessárias, é fatal. O leão revelou-se sempre preso, inofensivo, apenas assustando Roberto perto da hora de jogo. Muito tarde: no relógio e no marcador. O resultado estava feito.



CARDOZO E LIEDSON: O DIA E A NOITE



Óscar Tacuara Cardozo tem uma relação delicada com os adeptos do Benfica. É um jogador corpulento, alto e pesado, joga com contacto, é bom de cabeça e tem uma potência tremenda no pé esquerdo. Liedson foi durante anos a fio o principal suporte do Sporting: leve, baixo e matreiro, goleador, por vezes espectacular, sempre abnegado, capaz de resolver e deixar os defesas contrários num verdadeiro trinta e um. O Benfica, por exemplo, costumava ser um dos seus eleitos. Agora está diferente, não tem o mesmo rendimento, está longe do que produziu quando chegou ao Sporting, parece ter perdido algum do seu instinto letal. Na Luz, no duelo de goleadores, Cardozo levou a melhor. O paraguaio tocou mais vezes na bola, rematou quase o dobro de Liedson, aproveitou e marcou os dois golos do Benfica. Apenas foi decisivo.

Cardozo e Liedson jogaram ambos os mesmos noventa e quatro minutos totais do derby. O avançado luso-brasileiro do Sporting - sendo certo que também sem os mesmos meios municiadores dos encarnados - teve mais tempo com a bola nos pés, mas perdeu para Tacuara em aspectos fundamentais: toques, remates, eficácia nos tiros à baliza e, sobretudo, nos golos. O Levezinho teve a primeira verdadeira oportunidade de golo dos leões, aos cinquenta e oito minutos, após uma falha primária de Rúben Amorim. Rematou ao lado. Pelo contrário, Cardozo, passando ao lado de mais golos, acertou por duas vezes com sucesso na baliza de Rui Patrício. Marcou, decidiu, fez as pazes com os adeptos. Liedson precisa de renascer. Conseguirá readquirir os níveis que o fizeram destacar no Sporting e, até, na selecção portuguesa?

NOTA: Os dados presentes são estatísticas oficiais da Liga Portuguesa de Futebol Profissional. Minuto Noventa é uma nova rubrica onde serão analisados os jogos entre grandes.

Liga ZON Sagres: Análise da jornada 5

REFORÇO DO DRAGÃO NO AR DE GRAÇA ENCARNADO

Nona vitória consecutiva, quinze pontos somados, dragão intocável e pleno de triunfos, distâncias fixadas e alargadas para a concorrência: os mesmos nove pontos para o Benfica, agora sete para o Sp.Braga e oito para o Sporting. Caminhada segura, confiante, tranquila. O FC Porto quer vencer, alimentar o seu ego de vitórias, cavalgar no topo, deixar os rivais em posição frágil e impedir que se moralizem com um tropeção seu. Na Madeira, com inusitada facilidade, ultrapassou comodamente o Nacional e completou o ciclo de cinco jogos a vencer. Na Luz, no derby capital, o Benfica bateu o Sporting, justa e merecidamente, conseguindo dar um ar da sua graça, não sendo deslumbrante, ganhando de forma indiscutível. E o Sp.Braga? O que se passa, Guerreiros?

O FC Porto joga no seu ritmo, acelera quando necessário, levanta o pé ao perceber que a velocidade média é suficiente para vencer, superioriza-se ao adversário, impede-o de criar perigo e chega aos golos. Precisa de poucas oportunidades, prescinde de envolvimentos, abusa do pragmatismo e da realidade pura e dura. Joga com firmeza, domina com autoritarismo, ganha com tranquilidade: ultrapassou o Nacional, uma equipa demasiado macia e inofensiva, incapaz de criar sarilhos a Helton, marcando num autogolo de João Aurélio e no aproveitamento de um erro descomunal de Stojanovic que originou o remate certeiro de Varela. Sem asfixiar o rival, o FC Porto controlou, obrigou Bracali a impedir um resultado mais avolumado e viu ainda Falcao desperdiçar uma grande penalidade - antes disso, minutos depois do primeiro golo, Bruno Paixão deixara passar em claro um corte com o braço de Rolando: penalty não assinalado.

Um derby importante, fulcral, decisivo. A meados de Setembro e ainda à quinta jornada, sim, mas assim estabelecido pelos arranques de Benfica e Sporting, sobretudo do campeão, em contraponto com uma entrada triunfante do FC Porto. Na Luz, na sua casa, o Benfica foi mais forte, colocou intensidade e ritmo no jogo, criou mais oportunidades, asfixiou a criação Sporting, mesmo não sendo deslumbrante, conseguiu dar passos seguros. Óscar Tacuara Cardozo apresentou o pedido formal de desculpas, não em palavras, mas em golos, dois tiros certeiros, que deram a preciosa vitória aos encarnados. Voltou a ser herói, mudou da noite para o dia, mantém a relação sui generis com os adeptos benfiquistas. Incapaz, passivo e sem garra para colocar em sobressalto o triunfo adversário, o Sporting apresentou cedo a rendição, despertou tarde, acabou com vários elementos no ataque mas sem consistência. Perdeu terreno.

O estado de graça do Sp.Braga terminou de forma violenta. Ou, pelo menos, foi colocado em pausa: a equipa afundou-se diante do Arsenal, despertando cruelmente de um sonho, sofreu a segunda derrota consecutiva e sérios danos psicológicos. O Sp.Braga atemorizou-se em Londres, desmoronou-se como um baralho de cartas, permitindo inúmeros golos, abrindo brechas onde costumava funcionar como uma verdadeira muralha. Baixou do pedestal a que subiu com o seu suor e com o seu esforço. Em Paços de Ferreira conseguiu marcar por duas vezes, ganhou ascendente, foi eficaz, mas nunca realmente dominador. Os pacenses acreditaram, revoltaram-se com o segundo golo minhoto, aparentemente tranquilizador, explodiram: vinte e cinco minutos arrasadores e guerreiros, polvilhados de bons momentos, sobretudo o golaço de Baiano, deram o empate, merecido, e quase o triunfo. Serão dores de crescimento, Sp.Braga?

O Vitória de Guimarães mantém o segundo lugar, cimenta a posição europeia, melhora o registo, dá largas à imaginação e, continuando na mesma linha, tem legítimas ambições a querer situar-se entre os primeiros. A equipa vimaranense venceu o União de Leiria, por 1-0, conseguindo fixar-se no segundo lugar, apesar da pressão do surpreendente Olhanense - derrotou, no derby algarvio, o Portimonense (2-0) -, já com nove pontos, e ainda da confirmação do bom arranque da Académica. A equipa de Jorge Costa empatou ante o Rio Ave (2-2), tem apenas um ponto de atraso para o terceiro lugar - os vila-condenses, à semelhança do Marítimo, que alcançou o mesmo resultado (1-1, em Aveiro, com o Beira-Mar) estão na cauda da tabela, apenas com dois empates somados em cinco rondas. Naval e Vitória de Setúbal, olhando a campeonatos tranquilos, anularam-se num jogo sem assomo de qualidade.

O MOMENTO DA JORNADA

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Liga ZON Sagres: Um momento de dupla reconciliação


BENFICA-SPORTING (2-0): BOA, RAPAZ, ESTÁS PERDOADO!

Pressionado, sob brasas, impossibilitado de ceder sob pena de ver o FC Porto, o principal rival, velho inimigo de guerra, ganhar ainda maior margem no cimo e poder disparar, à quinta jornada, para uma caminhada triunfal. Carimbo de jogo decisivo, grande, fundamental para o campeão se manter vivo na defesa do título que conquistou por obra própria no ano passado. Tão cedo, sim. Ao Sporting, não tendo a mesma carga, porque ficaria sempre à frente dos encarnados, também um jogo importante. O Benfica entrou bem, aumentou a confiança e a vontade de triunfar, manietou o Sporting, encostou o leão, não sendo massacrante mas jogando com mais garra, marcou cedo. Óscar Tacuara Cardozo regressou, apresentou as desculpas, fez o que compete, como sabe, curvando-se perante um público com quem mantém uma relação difícil, pouco entedível, uma espécie de amor-ódio. Aos cinquenta minutos, sentenciou o resultado, coroou a exibição em que o campeão deixou boas indicações, foi decisivo. A vitória ficou entregue. O Benfica reconciliou-se com as vitórias.

NOTA: O Momento da Jornada é uma rubrica do FUTEBOLÊS, publicada antes da análise completa de cada ronda da Liga ZON Sagres. A imagem presente tem créditos da Liga Portuguesa de Futebol Profissional.

Benfica-Sporting, 2-0 (crónica): O ar de graça do campeão

DUAS DOSES DE TACUARA

Um derby importante, fulcral, decisivo. A meados de Setembro e ainda à quinta jornada, sim, mas assim estabelecido pelos arranques de Benfica e Sporting, sobretudo do campeão, em contraponto com uma entrada triunfante do FC Porto. Na Luz, na sua casa, o Benfica foi mais forte, colocou intensidade e ritmo no jogo, criou mais oportunidades, manietou o Sporting e deu passos seguros. Óscar Cardozo apresentou o pedido formal de desculpas, não em palavras, mas em golos, dois tiros certeiros, que deram a preciosa vitória aos encarnados. Incapaz, passivo e sem garra para colocar em sobressalto o triunfo adversário, o Sporting apresentou a rendição, despertou tarde, acabou com vários elementos no ataque mas sem coesão e consistência. Perdeu terreno.

Óscar Cardozo tem uma relação difícil com os adeptos do Benfica. Marca muitos golos, decide jogos, funciona como verdadeiro abono de família. É herói. E vilão logo após: paradão, lento, complicativo. É adorado e odiado em momentos, tudo depende dele, está proibido de fraquejar. Começou mal a época, como o Benfica, não aproveitou as oportunidades que teve, falhou como não falhara no ano passado, perdeu bolas de golo feito. Apareceu diferente: cansado, distante, triste. Cada vez mais pressionado. Regressou aos golos frente ao Hapoel Tel Avive. Descarregou a raiva, marcou, cansou-se dos assobios, levou os adeptos ao extâse e logo após a unirem-se contra ele. Viu-se obrigado a desculpar-se. Não com palavras, com paninhos quentes, com pedidos de piedade. A um avançado exigem-se golos. Tacuara regressou. E com ele o Benfica.

Sangue na guelra, nervos à flor da pele e suores frio escorrendo pelo rosto. Um derby sente-se, a emoção sobe, a intensidade atinge o máximo. O futebol pode não ser deslumbrante, deixar a desejar até, mas há sempre traços especiais a circundar o duelo entre velhos rivais. Derby à quinta jornada, cedo no calendário, estranhamente decisivo, com margem nula por inícios erráticos, sobretudo dos encarnados, apenas com a vitória no horizonte. Um escorregão do Benfica deixaria o campeão ainda mais longe do topo, vendo o FC Porto no topo, perdendo tempo para recuperar. Jogando em casa, sob brasas, querendo apagar o começo e recuperar o fulgor do passado, o Benfica entrou com tudo. Levado por Óscar Cardozo. Uma, duas, três oportunidades: uma no poste, outra sem acerto e a última dentro da baliza. Passo em frente.

BENFICA, DOMÍNIO TOTAL!

Uma dúzia de minutos, um golo de vantagem do Benfica, encarnados melhor sobre o relvado, mais confortáveis e fortes, perante um Sporting atordido e sem ter ainda capacidade para assumir o jogo. Os leões, de regresso à fórmula inicial depois da revolução em França, sentiram dificuldades nas bolas paradas, a base tremeu, todo o castelo abalou com um Benfica que é bom no ataque à baliza contrária. Cardozo fez as pazes com os golos, com a equipa e com os adeptos. Cumpriu a sua parte e marcou. O Benfica coroou a sua superioridade, chegou ao primeiro objectivo de marcar cedo, continuou forte, tentando libertar-se de todos os fantasmas, mesmo baixando a intensidade. O apito de Carlos Xistra repetiu-se, uma e outra vez, faltas em catadupa, inúmeras paragens, futebol menos vivo. Picardias e escaramuças: derby é derby.

O Sporting entrou mal. Esbarrou num Benfica forte e possessivo, um ar de graça do que produziu na época passada, acumulou erros, teve passividade e não encontrou espaços para chegar à baliza de Roberto. Na primeira parte, por exemplo, os leões não criaram um lance de ataque capaz de levar perigo. O Sporting é uma equipa com querer, sim, mas demasiado passiva. Mais agressivo, mais aguerrido e mais capaz, o Benfica dominou, marcou, ficou com o jogo na mão e jogou como gosta, lançando-se contra o adversário, abrindo brechas e jogando com dinâmica e velocidade. O segundo golo dos encarnados chegou depois do intervalo, cinco minutos de continuidade, marcado por Cardozo. Marcou dois, festejou com o público. Perdão, pediu o paraguaio. Desculpado, claro que está desculpado - grito de um público sedento de golos.

UMA VANTAGEM GARANTIDA NATURALMENTE

Com o passar dos minutos, sentindo-se mandão e intocável no jogo, o Benfica reaproximou-se do que pode realmente fazer. A equipa das primeiras jornadas foi uma caricatura. Nesta ronda, no derby decisivo, os encarnados apareceram melhor, com mais ritmo, mais acutilância e mais confiança. O Benfica teve sempre o comando consigo, foi criando oportunidades, não o fazendo numa enxurrada ofensiva mas sim em momentos, prendendo os movimentos do adversário e impedindo-o de construir lances de futebol ofensivo. A ideia de Jorge Jesus lançar surpreendentemente César Peixoto, em detrimento de Nico Gaitán, fez com que João Pereira, um desequilibrador do Sporting, não se intrometesse no ataque. Sem astúcia nas faixas laterais, com Matías sem espaço, com médios muito distantes, o leão afundou-se.

A primeira vez que o Sporting se acercou com perigo da baliza de Roberto aconteceu perto dos sessenta minutos. Tarde, demasiado tarde, para quem é grande e pretende discutir o jogo na casa do eterno rival. Nasceu de um erro descomunal de Rúben Amorim, dando a Liedson a oportunidade de descontar: o Levezinho está longe do que era, perdeu capacidade para resolver, não acertou com o golo. Depois, Postiga, lançado por Paulo Sérgio, obrigou Roberto, por entre tremeliques, a agir. O Sporting tentou importunar o Benfica, acrescentar alguma emoção à ponta final, responderam os encarnados por duas vezes, ambas com Cardozo, passando ao lado de um resultado mais gordo. Ganhou o Benfica com naturalidade, não sendo deslumbrante ou encantador, mas mostrando maior força, mais argumentos e maior vontade de triunfar.

domingo, 19 de setembro de 2010

Benfica-Sporting (antevisão): O derby decisivo

O grande derby. Seja qual for o momento e a classificação que ocupam, os jogos entre Benfica e Sporting, os dois maiores clubes da capital, têm sempre um toque especial, emotivo e surpreendente. Defrontam-se, agora, em momentos críticos: nenhum deles iniciou a época como deveria, tendo já cedido pontos importantes, ambos vêem o FC Porto caminhar seguro no topo. Viveram em pólos opostos na época passada, os destinos cruzam-se, neste momento estão numa ordem inversa. O Benfica foi campeão, galvanizante e poderoso, ganhou com mérito, espalhou classe, mas começou a defesa do seu título com o pé esquerdo, acumulando desaires, marcando a vermelho o pior início de sempre. Está proibido de perder pontos e tem no derby um jogo decisivo, por paradoxal que pareça, à quinta jornada. O Sporting, saindo lentamente do pesadelo em que caiu na época passada, quer marcar a sua qualidade. Sem margem para errar.

Um jogo entre candidatos ao título, mais do que prognosticado, tem que ser vivido e jogado no limite durante noventa minutos. Diz-se, até, que quem está numa condição mais delicada, por baixo na classificação, costuma terminar a sorrir. Neste caso, ao contrário do que se esperava antes do arranque, o Benfica está sob pressão intensa, tem um atraso de nove pontos para o topo, perdeu por três vezes em quatro jornadas, mais do que em toda a época passada, confirmando um arranque nada condizente para quem é campeão e faz do bicampeonato a sua meta. Tem apenas três pontos. Perdeu o estado de graça, a força demolidora, vive com inúmeros problemas e iniciou uma cruzada fortíssima tendo por base as polémicas em torno da arbitragem. Perder mais pontos poderá ser realmente fatal. Sim, mesmo sendo a quinta jornada. O Benfica chega ao derby com um único cenário: vencer e esperar um tropeção na liderança.

O Sporting está melhor. Mesmo tendo menos cinco pontos do que o FC Porto, em igualdade com o Sp.Braga, os leões, aconteça o que acontecer no derby, terminarão a quinta ronda à frente do eterno rival. Não tem a mesma carga do que o Benfica, sim, mas uma derrota será, igualmente, desencorajadora para o Sporting se manter confiante na luta pelo título. Tendo jogado em França dois dias depois dos encarnados, que receberam o Hapoel na terça-feira, a equipa leonina pode apresentar maiores sinais de desgaste, mas a vitória ante o Lille, numa prova de que o plantel do Sporting tem qualidade e Paulo Sérgio poderá contar com maiores opções, será um catalisador importante para o derby de hoje. O treinador tentou dar descanso aos titulares para o jogo com o Benfica e, em face da resposta positiva das segundas escolhas, baralhou as contas em redor do onze inicial. Simon Vukcevic e Hélder Postiga poderão ter ganho um lugar. Também Abel?

Repetir a época passada, pelo menos dando seguimento aos feitos alcançados, melhorando até nalguns aspectos, foi o objectivo a que o Benfica se propôs no início da nova temporada. Jorge Jesus perdeu duas peças-chave: Di María e Ramires. Pode ser demasiado redutor referir as perdas de dois jogadores como explicação para tão acentuada quebra, mas é inegável que os encarnados sentem falta da capacidade explosiva e da dinâmica do passado. A incomparável diferença com a última época acentua as dúvidas dos benfiquistas, aumentando desde logo a descrença e vendo o FC Porto, principal rival, recuperar o seu fulgor. Na equipa titular, contudo, Jorge Jesus, em relação à última aparição oficial do Benfica, nada deve mudar, persistindo uma dúvida na lateral-direita: Maxi Pereira ou, de novo, Rúben Amorim? Nada mais, para além disso, se alterará, à partida, no campeão nacional. É lançar os jogadores e esperar pelo jogo.

BENFICA-SPORTING
Estádio da Luz, Lisboa, 20h15
Árbitro: Carlos Xistra

BENFICA: Roberto; Rúben Amorim, Luisão, David Luiz e Fábio Coentrão; Javi García, Carlos Martins, Pablo Aimar e Nicólas Gaitán; Saviola e Cardozo

SPORTING: Rui Patrício; Abel, Daniel Carriço, Nuno André Coelho e Evaldo; André Santos, Vukcevic, Maniche e Matías Fernández; Liedson e Hélder Postiga

NOTA: O Benfica-Sporting, assim como todos os jogos grandes - entre candidatos ao título - que se jogarão até ao final do campeonato, terá crónica no FUTEBOLÊS.

Opinião: Já não há heróis



O tempo escreveu a história do Mundo. Os homens ditaram a sorte da Terra. Impérios, nações, caíram bem fundo, desde o começo até à nossa era. Já não há heróis, heróis que consigam levantar o moral dos impérios caídos. Através dos tempos, guerras e impérios acabaram com povos de vida pacífica. (...) Ainda virá o dia em que se levantará um homem muito forte que todos derrotará. Todos se voltarão contra ele mas o Mundo cairá das garras do tirano, é o ódio pela paz. Já não há heróis, heróis que consigam levantar o moral dos impérios caídos. Vamos ser heróis, heróis nesta guerra, acabar com os loucos que destroem a Terra.

O acumular de dias monótonos, sem rasgo e traços de gala, num registo que podia ser brilhante mas se ficou pelo mínimo e foi pintalgado de momentos de polémica acesa, aniquilaram as condições de trabalho de Carlos Queiroz. O seleccionador fechou-se no seu próprio Mundo, isolou-se, desapoiado, ficou entregue à sua sorte. Não teve o escudo que precisava. Ao mesmo tempo foi imprudente: atacou, abusou da sorte, colocou-se a jeito. Fez tudo ao contrário para quem está numa posição delicada, frágil, à mercê de quem o pretende atacar. Os homens revoltaram-se, colocaram o orgulho à frente de tudo, Queiroz perdeu as condições para o futuro e foi teimoso, enquanto a Federação, num pára-arranca inquietante e repulsivo, tardou em tomar uma decisão. Deixaram a selecção entregue à sua sorte. O tempo chegou ao fim.

Dois resultados fizeram corar de vergonha. Alerta máximo, escalada a montanha de problemas, enfim uma decisão a tomar.
Impérios, nações, caíram bem fundo, desde o começo até à nossa era. Carlos Queiroz abandonou a selecção. Nem poderia ser de outra forma. O treinador transformara-se num problema: para os patrões, para os jogadores, para os adeptos. Não interessa discutir o passado, as causas, aquele típico diz que disse, as teorias da conspiração. Queiroz não podia continuar à frente de Portugal e ponto final. O império português, antes passando por cima de um completo fracasso asiático para se colocar no bom caminho que iniciara na entrada no novo século, caiu com estrondo. O povo português desligou-se da selecção, tirou a bandeirinha da janela, perdeu a fé. Precisa de um herói com urgência.

Uma mudança, um novo seleccionador, novos ares e siga a tropa. Não é assim tão fácil. Portugal está em baixo. Nos resultados, na confiança e nas perspectivas para o futuro. Gilberto Madail, caminhando para o fim, anunciando eleições, vendo a porta de saída aberta, sendo que muitos a indicam como uma necessidade, tenta um último golpe de asa, procura o tal herói, o tal que seja capaz de levantar o moral
e derrotar o tirano. Olha para Espanha, vê lá José Mourinho: é português, é o mais melhor, é o mais especial, por que não? Tem contrato com o Real Madrid, é pago a peso de ouro, nunca aceitará. Insiste-se. Não se perde nada, já está no vermelho. Dois jogos, senhor herói, pode ser? Mourinho nem sim nem sopas, não vira as costas mas não aceita, delega no Real Madrid. A resposta sai forte, pujante, atemorizadora: não!

A ideia de Gilberto Madail tem contornos de desespero. Deixar Portugal, entrar num avião rumo a Espanha, falar com Mourinho, colocar-lhe paninhos quentes e esperar por um entendimento. Mas é uma boa ideia. Portugal e Madail nada têm a perder. Já perderam. Mourinho é o melhor. É o que se necessita. Pode ser o herói que todos derrotará. É essa, pelo menos, a esperança, remota mas uma esperança, do presidente da Federação. A ideia não tem que enganar: José Mourinho seria contratado para dois jogos, nada interferiria com o Real Madrid, porque os campeonatos estarão em pausa... por causa das selecções, Portugal venceria a Dinamarca e a Islândia, ganharia um novo fôlego e o novo treinador, escolhido para completar a caminhada, teria melhores condições e a pressão seria menor. O efeito do herói Mourinho seria óptimo.

Já não há heróis, heróis que consigam levantar o moral dos impérios caídos. Vamos ser heróis, heróis nesta guerra, acabar com os loucos que destroem a Terra. Mourinho não é excepção, não é herói, mas tentaria ser importante. Não pode, o patrão não o deixa, é um assunto demasiado sério para ser encarado como uma equação fácil. Por isso mesmo é necessário que nasçam outros heróis, que unam esforços, que consigam uma força colectiva e forte, para vencer a guerra portuguesa, conseguindo colocar a selecção nacional no trilho certo em direcção ao Campeonato da Europa, passando por cima das dúvidas, das desconfianças e dos ambientes adversos. Limpando, construindo um novo ciclo, proclamando novos heróis, acabando com os loucos destruidores. Paulo Bento é o nome do novo seleccionador. É ele quem terá de ser o herói.

sábado, 18 de setembro de 2010

Liga Europa: Risco, domínio e duas entradas certeiras

LILLE-SPORTING (1-2): ARRISCAR PARA GANHAR

Necessidade de mudar, recursos disponíveis para o fazer, crença que os efeitos serão positivos e ousadia em dose dupla: receita de revolução, corte com o passado, mudando as peças, a estratégia se necessário, para encarar um novo desafio. Paulo Sérgio adoptou o método, deixou apenas Daniel Carriço e André Santos em relação à equipa que mais tem utilizado neste início de época, experimentou novas soluções e partiu para o jogo com o Lille, o primeiro adversário na fase de grupos da Liga Europa, que, não sendo uma equipa de topo, tem qualidade e é capaz de provocar calafrios. À partida, a opção do treinador pareceu um verdadeiro suicídio, foi interpretada como sinal de poupança para o jogo com o Benfica, poderia ter corrido mal. Puro engano: o Sporting venceu, fez por isso, foi sempre consistente e equilibrado, mostrando qualidade escondida. Paulo Sérgio arriscou, sentiu a adrenalina e sorriu no final.

Tiago surgiu na baliza, Torsiglieri na esquerda da defesa, Diogo Salomão no meio-campo e Hélder Postiga fez dupla com Saleiro na linha atacante. Também Polga, Abel, Zapater e Vukcevic tiveram a sua oportunidade. É essa a palavra correcta: oportunidade. Ora, como têm sido poucas, sobretudo para os quatro primeiros, há que aproveitar ao máximo, baralhar as contas, mostrar trabalho e deixar o treinador satisfeito com o risco que assumiu. Paulo Sérgio seria sempre, em caso de derrota ou empate, o grande crucificado. A melhor forma de os jogadores responderem passaria por uma vitória. Coesos, solidários e trabalhadores. O Sporting entrou bem, prendeu os movimentos do Lille, ganhou a bola e o domínio do jogo, cedo se adiantou: golo de Vukcevic, aos onze minutos, após uma incursão fulgurante de Abel. Aproveitamento total da oportunidade. O segundo golo, num belo envolvimento colectivo, deu a paz de espírito necessária.

O cabeceamento de Hélder Postiga, de novo no caminho certo, deixou o Sporting confortável, dominando e vencendo com uma boa margem, apenas por uma vez vendo o Lille chegar junto da baliza de Tiago. A equipa francesa, amarrada e inofensiva, viu-se obrigada a mudar: Rudi Garcia, com trinta e nove minutos de atraso, lançou Hazard, o menino bonito belga, uma promessa em emergência - o que fez ele tanto tempo no banco? O Sporting desperdiçou o terceiro golo, o Lille melhorou, apresentou-se mais desinibido e reduziu, por Frau, num lance em que Tiago esteve mal. A equipa francesa tentou o empate, o jogo abriu, teve oportunidades e Tiago, redimindo-se do golo sofrido, impediu, a dois minutos do final, o empate gaulês. O Sporting foi coeso, pragmático, os jogadores souberam aproveitar o momento e venceu merecidamente. Entrou com o pé direito na competição e pode ter ganho, para o jogo com o Benfica, novas opções.

FC PORTO-RAPID VIENA (3-0): JOGAR AO SOM DA PRÓPRIA MÚSICA

Domínio total, jogo na mão, três golos marcados, vinte e cinco golos bem agradáveis e o oitavo triunfo oficial. O FC Porto mantém o sorriso de orelha a orelha, amealha pontos, jogos em que trava as pretensões do rival, joga ao ritmo que pretende e, quando percebe que é a sua hora, aparece para tornar mais colorido o resultado e a prestação. Estar longe da Liga dos Campeões é uma dor de alma para os portistas, uma sensação estranha, sentida pela última vez há sete anos. Foi precisamente na época em que venceu a segunda competição europeia, o parente pobre da poderosa Champions, que o FC Porto ganhou um lugar na elite de clubes europeus. Perdeu-o agora: a realidade azul é a Liga Europa, algo ncomparável mas também com prestígio, as possibilidades de triunfar são maiores e, por isso mesmo, tem licença para sonhar. É o que faz o dragão. Vence, é senhorial mesmo não sendo avassalador e segue a sua caminhada.

FC Porto e Rapid de Viena são equipas incomparáveis. Na força colectiva, na forma como produzem desequilíbrios, como defendem e na qualidade individual dos jogadores que as compõem. Os austríacos, impulsionados por um público vibrante e louco no apoio aos seus e nas vaias ao adversário, afinal de contas os donos da casa, criaram uma primeira ocasião, sim, mas logo depois perderam a bola e o controlo. O FC Porto assume-o, gosta de estar por cima, vai crescendo à medida que os minutos se acumulam. O dragão não partiu sufocante para a luta com o adversário, como se não houvesse amanhã, querendo trucidar a formação austríaca. Pelo contrário: foi inteligente, geriu o esforço, não elevou em demasia o ritmo sob pena de perder andamento devido ao desgaste causado pelo jogo frente ao Sp.Braga, esperou que surgissem as oportunidades para marcar e, então sim, ficar ainda mais tranquilo sobre o relvado.

A vitória do FC Porto começou a ser construída através de um dos obreiros da consistência defensiva: Rolando ganhou espaço na área do Rapid, fez tudo para não repetir a falha imperdoável que tivera minutos antes, exactamente na mesma zona, teve frieza e rematou certeiro. O golo trouxe, por paradoxal que pareça, o melhor dos austríacos: combinações interessantes, aproveitamento de metros vazios, Nuhiu e Hoffman - identificado como sendo o mais perigoso do Rapid - conseguiram deixar o Dragão algo inquieto. Serviu de alerta. O FC Porto regressou para a segunda parte mais dono do seu território, não permitindo mais iniciativas dos austríacos, marcando a negrito as diferenças existentes. Aumentou o ritmo, marcou por Falcao, fez poupanças tendo em conta o próximo jogo, fez descansar Hulk e El Tigre (Belluschi, que entrou, e Varela ficaram no banco) e fechou as contas num golaço de Rúben Micael.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Arsenal-Sp.Braga (6-0): Um pesadelo com tiros de canhão

COMENTÁRIO

O Sp.Braga perdeu frente ao Arsenal, saiu vergado a uma pesadíssima derrota - a mais avolumada de sempre de equipas portuguesas em competições europeias -, não conseguiu esticar a sua capacidade para quebrar a teoria e ser mais forte no relvado. Não teve a ousadia necessária para voltar a mostrar a sua fibra, dando a conhecer ao Mundo a qualidade que tem, permitindo que o futebol praticado pelos gunners, veloz e tricotado, concedesse total controlo ao Arsenal. Há duas razões para o insucesso: o que fez o Arsenal e o que não fez o Sp.Braga. A equipa inglesa tem outro andamento, é mais forte, descomplica como ninguém, torna qualquer lance num conjunto de toques em progressão que levam à baliza adversária. Sabe o que faz e é extremamente difícil de ultrapassar. Por outro lado, o Sp.Braga acusou a pressão, tremeu, apenas se encontrou depois do golo e acabou, com naturalidade, goleado.

Sofrer um golo, jogando na casa de um adversário possante e muitíssimo superior, seria um início terrível, evitado a todo o custo, algo que colocaria, desde logo, o Sp.Braga numa situação frágil. Uma precipitação de Felipe, derrubando Chamakh, permitiu a Cesc Fàbregas, o maestro da equipa do Arsenal, colocar os gunners em vantagem. O Sp.Braga reagiu bem, puxou pela sua atitude guerreira, fez jus ao nome que carrega: lutou, tentou esconder atrás do seu escudo a ansiedade natural de quem se estreia numa prova tão importante, não caiu com o primeiro tiro disparado pelo canhão britânico, mesmo ciente de guerrilhar com armas diferentes, deixou-se guiar pela vontade de Alan. Foi, contudo, apenas um fogacho, um óasis, um momento em que o Sp.Braga tentou mostrar-se ao adversário. Logo depois o Arsenal sentenciou o jogo. A equipa de Arsène Wenger troca a bola como poucos, passa e repassa, tem capacidade e desorganiza.

O Arsenal joga em antecipação, domina no meio-campo, chega com grande facilidade à área contrária e cria diversas oportunidades para marcar. Ao mesmo tempo, tendo a bola e pressionando forte, impede a construção do adversário. O Sp.Braga respirou com a bola nos pés e tentou ser feliz, mas foi demasiado permissivo a atacar as investidas da equipa britânica. A reacção demorou apenas até à meia-hora: Arshavin marcou, logo se seguiu Chamakh, a diferença fixou-se nos três golos, confirmou-se a impotência do Sp.Braga face ao poderio de um Arsenal versátil, rápido e dinâmico ao sabor da liderança de Cesc Fàbregas - muita liberdade, sim, mas como o impedir? O jogo de estreia do Sp.Braga na alta-roda europeia, um sonho de uma vida, passou a um pesadelo ainda com longos minutos até terminar. O Arsenal ganharia com comodidade, jogando no seu ritmo, sem sobressaltos. Nada o impediria.

O jogo chegou ao final com uma vitória contundente, terrível e dura para o Sp.Braga: seis golos sofridos frente a um Arsenal incomparavelmente superior. Fàbregas marcou por duas vezes de cabeça, Carlos Vela fixou a contagem, Arshavin acertou no poste e o árbitro Alain Hamer, ainda com o nulo, deixara passar em claro uma grande penalidade cometida por Paulo César sobre Chamakh. À equipa portuguesa, exceptuando o regresso de Márcio Mossoró, uma boa notícia tendo em conta a próxima jornada do campeonato nacional, tudo correu mal, o Arsenal geriu os ritmos, disparou seis tiros certeiros, deixou os Guerreiros desamparados e desorganizados na defesa da sua honra. Depois de ter atingido o seu ponto máximo com a eliminação do Sevilha, também um adversário creditado mas muito longe da valia dos ingleses, o Sp.Braga cai com estrondo. Só tem que esquecer, apagar as marcas, levantar a cabeça e caminhar seguro.

Made in England: Chelsea destroçante a caminho do bi?

Sir Alex Ferguson decidiu deixar Wayne Rooney de fora como forma de protecção ao jogador - lembre-se que Rooney teve uma semana atribulada por razões de ordem pessoal. Ora, os red devils parecem ter acusado a ausência do avançado e entraram um pouco desorientados, acabando mesmo por sofrer o primeiro golo - marcado por Pienaar. O golo parece ter despertado os homens de vermelho e, ainda antes do intervalo, igualaram o marcador com um tento de Fletcher, a corresponder da melhor maneira a um cruzamento de Nani. Após o descanso, novamente o português a centrar e desta feita Vidic a finalizar (que ajuda daria Nani no clássico lisboeta do próximo fim-de-semana). Aos sessenta e seis minutos, Berbatov marca o terceiro e o que parecia ser também o golo da tranquilidade. Mas contra todas as expectativas, já em periodo de descontos, o Everton marca dois golos e fixa o resultado final num empate a três

Em Birmingham, o Liverpool, ainda sem Raúl Meireles, apareceu muito fraquinho. As boas indicações que tinha dado no jogo contra o Arsenal parecem agora promessa vãs. Mais ainda: não fora a grande exibição de Pepe Reina e nem o empate teriam conquistado. A próxima deslocação será a Old Trafford e ou muito muda ou este Liverpool vai afundar-se ainda mais na tabela. Quatro jogos e cinco pontos é muito pouco para as aspirações dos homens da cidade dos Beatles. Com a mesma pontuação encontra-se o super-reforçado Manchester City. A pressão sobre a equipa millionária de Roberto Mancini é enorme e com a falta de resultados, após tão grande investimento, o italiano começa a ver o seu futuro um tanto incerto. Verdade que dominaram, verdade que Paul Robinson fez uma exibição fabulosa, mas com tantas soluções e estrelas, empatar a um golo em casa com o Blackburn é um mau resultado.

Em alta estão o Chelsea e o Arsenal. Os campeões continuam sem perder pontos e, apesar de terem sofrido o primeiro golo da época, venceram facilmente o último classificado, West Ham, que ainda não tem qualquer ponto. A vitória da equipa de Carlo Ancelotti começou a desenhar-se muito cedo, aos dois minutos, com um golo de Essien após um canto conquistado por Ramires. Kalou aos dezassete e, novamente, Essien aos oitenta e três marcaram pelos blues, enquanto Parker, a seis dos noventa, reduziu para os hammers. Quatro jogos, doze pontos, dezassete golos marcados e apenas um sofrido: Chelsea em grande no arranque da temporada.

No Emirates Stadium, o Arsenal passeou a sua classe e derrotou o Bolton por 4-1. A equipa visitante, que tem estado a um nível superior esta época, ainda equilibrou a partida terminando a primeira parte empatado a um. No entanto, após sofrer o segundo golo e, sobretudo, após ter visto Tim Cahill ser expulso, a equipa do Bolton não mais foi capaz de travar os homens de Arsène Wenger acabando derrotados por números expressivos.

O Tottenham que se estreia este ano na Liga dos Campeões, após uma brilhante época transacta, está uns furos abaixo no presente. O West Brom nas estatísticas para o jogo era claramente inferior e durante a primeira parte parecia que os spurs teriam argumentos para vencer, mas um ataque muito perdulário permitiu apenas que o fizessem por uma vez. Ainda no primeiro tempo, quatro minutos antes do intervalo, os da casa empataram e depois do descanso inverteram os papéis. No final, o Tottenham parece ter tido sorte ao conseguir levar um ponto para Londres. No embate entre recém-promovidos, o pequenino Blackpool foi a casa do Newcastle ganhar por 2-0. Com sete pontos em doze possíveis, a equipa do noroeste de Inglaterra está, para já, a causar sensação. Provavelmente será sol de pouca dura mas estes preciosos pontos poderão fazer toda a diferença quando chegados ao final da época.

Nos restantes jogos, duas vitórias caseiras do Stoke City e Fulham frente ao Aston Villa e Wolverampton, respectivamente - esperava-se mais do Aston Villa que parece ter perdido o fulgor da época passada. Por último o empate do Wigan frente ao Sunderland, num jogo morno de equipas de meio da tabela.

MADE IN ENGLAND é um espaço quinzenal, assinado por Armando Vieira, que incide sobre o mais apaixonante campeonato do planeta

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Benfica-Hapoel Tel Avive (2-0): Regresso feliz

COMENTÁRIO

Frouxo, errante e desolado: no campeonato, na defesa de um título que conquistou por mérito próprio na temporada passada, o Benfica começou em falso, tropeçou por duas vezes, deu sinais de melhoria e voltou, na jornada anterior, a sofrer uma nova derrota, perdendo pela terceira vez em quatro rondas, algo inédito, mergulhando num pesadelo inicial. Ainda é demasiado cedo, sim, mas os números são preocupantes, desencorajadores até, porque os encarnados estão diferentes para pior desde o ano anterior, sentem falta de rasgo e de equilíbrio, algo que Jorge Jesus atribui à falta de índices físicos desejáveis, além de tais erros de arbitragem que fizeram explodir os responsáveis benfiquistas. A entrada na Liga dos Campeões, cinco épocas depois, ganhou maior importância, que por si só já é imensa, e o Benfica fê-lo com o pé direito, vencendo o Hapoel Tel Aviv. Uma vitória, num grupo com boas perspectivas de qualificação, melhor do que a exibição.

As vitórias chegam sempre em boa altura. Para o Benfica, o triunfo ante o Hapoel Tel Aviv, para lá de confirmar a teórica superioridade encarnada sobre os israelitas e de ser um bom início na principal prova de clubes europeus, surge inserida num contexto delicado, num turbilhão de emoções e desconfianças para uma equipa que tem sentido dificuldades no arranque, e antecedendo o importantíssimo jogo do Benfica, para o campeonato, frente ao Sporting.
Vencer dá motivação, energia e vontade de repetir o resultado - perder deprime, aumenta as dúvidas, espairece o apoio e é precisamente isso que os encarnados têm sentido. O Benfica não foi brilhante, oscilou na forma como jogou, viu mesmo o Hapoel criar dificuldades a Roberto, bem resolvidas pelo guarda-redes espanhol, mas a vitória é clara e indiscutível: marcou por Luisão e aumentou por Cardozo, ganhou bem e deu um passo em frente. Isso é o fundamental.

Jorge Jesus, frio e pragmático, alertara para os perigos vindos do Hapoel Tel Aviv. Os israelitas, segundo o treinador encarnado, ocupam bem os espaços, têm capacidade táctica e sabem colocar-se sobre o relvado. O Hapoel revelou-se uma equipa disciplinada e organizada a defender, mas demasiado curta para, quase sempre tentando-o em profundidade, colocar em sobressalto o Benfica - na primeira vez que realmente conseguiu, ao quarto de hora, o Hapoel Tel Aviv viu Luisão, com os braços, impedir a progressão de
Schechter dentro da área: grande penalidade não assinalar. Por cima, passando mais tempo no terreno adversário, o Benfica chegou à vantagem aos vinte minutos. Luisão, capitão e peça-chave, concluiu, com um belíssimo remate, um cruzamento de Carlos Martins após canto largo de Pablo Aimar, um lance inusitado e capaz de desposicionar a defensiva do Hapoel. El Mago apareceu bem no jogo.

A equipa israelita, utilizando as suas armas, respondeu, levou Roberto a sobressair - o guarda-redes respondeu com acerto e manteve a sua baliza a zero. O espanhol é pouco ortodoxo, treme nos cruzamentos, mas revela apetência para lances de remates de longa distância e esteve bem. O Benfica reassumiria o controlo, tirando iniciativa ao Hapoel, fazendo valer a sua maior capacidade técnica e colectiva, guardando o resultado e, antes dos setenta minutos, apliando-o por Cardozo, já depois de vaiado pelos adeptos numa perdida incrível, no seguimento de um contra-ataque mortífero. O paraguaio, na sua relação de amor-ódio com os adeptos, levantou o indicador, juntou-o ao nariz e mandou calar os adeptos. Exagerou, sim, mas compreende-se pelo que acontecera minutos antes - no final, com o triunfo no bolso, desculpou-se. Apesar de um susto final - remate de Tamuz ao ferro, a cinco minutos dos noventa - o Benfica garantiu a vitória.

NOTA: Os jogos da Liga dos Campeões e da Liga Europa, onde participarem equipas portuguesas, terão comentário no FUTEBOLÊS.

Liga ZON Sagres: Análise da jornada 4

O DRAGÃO SORRI, GANHA, CONVENCE: ESTÁ FELIZ DA VIDA!

Um dragão feliz, crente nas suas capacidades, forte e solidário como equipa, com um tridente de morte como Hulk, Varela e Falcao, ganha terreno, aproveita os deslizes da concorrência directa e ganha espaço no topo. O FC Porto ultrapassou a sua primeira grande prova de fogo: sofreu, teve capacidade para se erguer, lutou frente a um Sp.Braga guerreiro e capacitado. Foi um jogo grande, disputado por grandes, com a liderança no horizonte. Os portistas terminaram por cima, fizeram por merecer a vitória, impediram a ousadia bracarense de triunfar e alargaram o fosso: cinco pontos para Sporting e Sp.Braga, nove para o Benfica. O campeão nacional voltou a tropeçar, assinou o pior arranque de sempre. Na próxima jornada, sem margem de manobra para um eventual deslize, recebe o Sporting. Alta pressão!

Quinze minutos monótonos, guerrilhados no centro, longe das balizas, necessitando de um golpe de génio para elevar intensidade. Duas equipas coesas, fortes e duras, convencidas do seu poderio, sim, mas também cautelosas em função da valia do adversário. Um golo, num tiro sensacional, marcado por Luis Aguiar, ao décimo sexto minuto, rasgou o panorama e juntou-lhe brilhantismo. Respondeu Varela, recolocou o FC Porto igualado, travando o seu visitante arrojado e atrevido. A velocidade aumentou com os minutos, a emoção triplicou, voltaram os grandes golos, primeiro por Lima, logo com troco de Hulk. O Incrível transformou-se em super-herói, deixou a defesa do Sp.Braga numa encruzilhada, carregou os dragões e impediu que os minhotos, jogando sem receio, elevassem a confiança. Varela, para fechar o compêndio de belíssimos golos, garantiu a vitória azul num jogo grande, grande, grande.


Pedra, papel, tesoura. A pedra amassa a tesoura, o papel enrola a pedra, a tesoura corta o papel. Olegário Benquerença, o árbitro português mundialista, foi uma pedra em Guimarães. Sóbrio e decidido na África do Sul, merecedor de elogios e de confiança, transfigura-se, muda a sua forma de estar, comete pecados capitais e perde o seu fio condutor em Portugal. O triunfo do Vitória de Guimarães, por mais que tenha sido um papel que conseguiu deixar a pedra benfiquista tapada, fica manchado pela prestação do árbitro, protagonista e errante, por não ter assinalado duas grandes penalidades na área vimaranse e, por indicação dos seus assistentes, ter travado duas jogadas de perigo no ataque do Benfica. O campeão queixa-se, Olegário foi mais um motivo do seu desaire, é inegável, mas há mérito de um Vitória que aproveitou os erros alheios, do árbitro e do Benfica, nunca baixando a guarda e desmoralizando ante os encarnados.

Perdido o embalo de duas vitórias consecutivas, travado o ciclo ascendente da época, num regresso a um futebol com poucas ideias, pouco fulgor e nenhuma eficácia. O Sporting foi perdulário, desperdiçou as oportunidades que criou para marcar, esbarrou sempre na estratégia de contenção do Olhanense - jogando com as linhas juntas e remetida ao seu terreno procurando a sua sorte através de saídas rápidas para ataque, uma equipa personalizada e consistente na sua zona defensiva. Os algarvios contentaram-se com o ponto conquistado: o Olhanense raramente incomodou Rui Patrício, apesar de ter chegado ao golo num lance inexplicavelmente interrompido pelo árbitro André Gralha, é verdade que sim, mas soube suster e deixar o leão num beco sem saída. Não sendo constante, vivendo em altos e baixos, o Sporting teve dificuldades, não encontrou soluções e não conseguiu tirar total partido do deslize do Benfica.

Dois empates, duas vitórias e abertura a novos horizontes: o Vitória de Guimarães, renovado com a entrada de Manuel Machado, adoptando os ideais do técnico, recheada de bons jogadores, é um dos destaques do início de temporada. Também a Académica, que venceu a Naval (3-0), começou com o pé direito, garantindo sete pontos em doze possíveis, algo que permite ambicionar melhor a última época. Olhanense e Paços de Ferreira - empatou, na Madeira, 1-1, frente a um Marítimo ainda sem encontrar a rota certa - são, juntamente com FC Porto e Vitória de Guimarães, equipas imbatíveis nas quatro primeiras jornadas. Marítimo e Rio Ave ainda não venceram - apenas um ponto. União de Leiria e Portimonense venceram pela primeira vez: os leirienses bateram o Nacional (2-1) e os algarvios o Rio Ave (3-1, no Estádio do Algarve, quebrando a malapata). Vitória de Setúbal e Beira-Mar, com um nulo, fecharam a jornada.

O MOMENTO DA JORNADA


domingo, 12 de setembro de 2010

Liga ZON Sagres: Um momento final de gáudio portista


FC PORTO-SP.BRAGA (3-2): ÚLTIMO APITO DE PEDRO PROENÇA NUM JOGO INTENSO, VIBRANTE E CINTILANTE

Minuto noventa e quatro. Pedro Proença apita pela última vez no Dragão. Cai o pano, o público exulta, mantêm-se ligados os holofotes. Para trás fica um jogo emotivo, inconstante no resultado e por isso com batimentos cardíacos acelerados, puro entretenimento realizado por duas equipas capazes, ombreando com audácia pela vitória, salpicando cada minuto com momentos de deixar água na boca. Foi futebol total. O FC Porto terminou por cima, soube sair de duas desvantagens, trazidas em dois pontapés fabulosos de Luis Aguiar e Lima, foi carregado por Hulk, um homem transformado em diabo para arruinar a defesa bracarense, ajudado por Silvestre Varela, conseguindo colocar em sentido o Sp.Braga. Os portistas esfregam as mãos de contentes, ganharam um avanço pouco visto, melhor do que em sonhos até, sobre os principais rivais. Para a equipa de Domingos Paciência, depois da frustração pela derrota, fica a confirmação: este Sp.Braga já nada deve aos grandes e está ainda em fase de crescimento. Já acabou? Venham mais assim!

NOTA: O Momento da Jornada é nova rubrica no FUTEBOLÊS, publicada antes da análise completa de cada ronda da Liga ZON Sagres. A imagem presente tem créditos da Liga Portuguesa de Futebol Profissional.

FC Porto-Sp.Braga, 3-2 (crónica): O dragão caminha alegre

FUTEBOL TOTAL, COMBATIVO E VIBRANTE

Começou morno, aumentou progressivamente de velocidade, foi polvilhado de momentos cintilantes, ganhou intensidade, emoção e ritmo com os minutos. Acabou por ser um jogo de luxo, entre verdadeiros candidatos, mostrando as suas forças. O FC Porto, recuperando de duas desvantagens, terminou por cima, uniu-se em prol da equipa, aproveitou todo o talento e génio de Hulk, um diabo irascível, para cimentar a liderança, agarrando-se cada vez mais ao trono, um lugar onde também o Sp.Braga quer estar. A equipa bracarense é guerreira, luta até ao fim, não enrola a bandeira. Jogou com as suas armas e obrigou o FC Porto a lutar para conseguir vencer. São candidatos. Está na cara. Jogo emotivo, golos brilhantes, excelente arbitragem: futebol total.


Velocidade um. Futebol morno: amarrado, táctico, disputado e sem balizas. Com luta, com combatividade colocada em cada lance, com vontade de ganhar por parte de duas equipas capazes, confiantes para lutar pelo título, querendo agarrar a liderança com unhas e dentes. O FC Porto é um grande por tradição, tem um estatuto rico e invejável, dominou na última vintena e meia de anos, conquistou quatro campeonatos seguidos até ceder perante o Benfica e o emergente Sp.Braga, caindo para terceiro, vendo-se ultrapassado por esta equipa que anseia ser grande. Ambos em estado de graça, em busca de o prolongar e deixar bem vincada a sua candidatura a altos voos no primeiro verdadeiro teste da época. Por isso, por lutarem pelo mesmo, têm cautelas. Começam expectantes, serenos, sentindo as pulsações do rival.

A monotonia dos primeiros quinze minutos, tépidos e insípidos, pedia um momento de inspiração. Fosse um remate forte, uma prova à atenção dos guarda-redes, uma jogada de deixar água na boca. Um golo abalaria o jogo, dar-lhe-ia emoção, obrigaria a maiores aventuras. Um grande golo, então, seria perfeito. Foi do Sp.Braga: Luis Aguiar, na cobrança de o livre, colocou os minhotos em vantagem. Na primeira oportunidade, deixando Helton sem hipótese, o uruguaio lançou a sua equipa para a frente, colocou-a por cima no território do dragão, levou o FC Porto a ter de ser mais afoito para ultrapassar a barreira defensiva, o ponto forte do Sp.Braga, criando desequilíbrios que não conseguira. A resposta portista, levado por Hulk, chegou também num livre. A trave desviou as pretensões do Incrível. As dificuldades dos dragões fizeram-se sentir.

HULK: GÉNIO, DIABO, DECISIVO!

O Sp.Braga é uma equipa adulta, pragmática e inteligente. Sabe que nem sempre pode ser elogiada pela forma como joga, tenta-o mas não é obssessiva por bons espectáculos, concentra-se apenas nas suas tarefas fundamentais. Joga com união, com garra, asfixia a criação do adversário e lança ataques poderosos, apanhando o adversário em contra-pé, sempre que percebe a valia do rival que tem pela frente. É destemido, não suicida. Ganha o meio-campo, controla o rival, fica com o jogo. O FC Porto necessitou de talento, de explosão, de velocidade. Chamou Hulk: jogada individual, veloz e arrasadora, antes de um cruzamento perfeito para a cabeça de Silvestre Varela. Dois momentos de génio, rasgando um jogo com pouco perigo junto das balizas, para dois golos. O intervalo chegou a exigir a segunda velocidade.

Fala-se em velocidade e surge Hulk no imediato. O brasileiro é cada vez mais um jogador de equipa, está empenhado em deixar os defeitos que ainda ostenta, percebe que tem muito a ganhar, individual e colectivamente, se se entregar de corpo inteiro e canalizar toda a sua força para o sucesso da equipa. Iniciou a segunda parte empenhado, espalhando qualidade, levando Elderson às trevas. O FC Porto regressou mais aguerrido, rápido de processos, jogando perto da baliza de Felipe, por duas vezes obrigado por Hulk a duas belas intervenções, colocando os seus elementos mais próximos. No melhor momento do dragão, em que conseguira assentar o domínio em sua casa, o Sp.Braga, pleno de ousadia e atrevimento, recolocou-se em vantagem. Lima parou, olhou e disparou. A bola saiu forte e só parou no fundo da baliza azul. Chapeau!

POTÊNCIA, COLOCAÇÃO, FUZILAMENTO


O dragão não gostou de ver o Sp.Braga, na sua melhor fase, chegar a uma nova vantagem. Respondeu de pronto. Potência, colocação, fuzilamento: Hulk recebeu de Álvaro Pereira, sorriu quando viu Elderson escorregar e rematou com estrondo para o empate. A velocidade, com dois golaços em tão curto espaço, saltou para o quatro. Nem houve espaço, sequer, para experimentar a terceira. Domingos Paciência franziu a testa, percebeu que o seu Sp.Braga estava menos pressionante, apesar de sempre batalhador, e que Hulk destroçara Elderson. Lançou Miguel Garcia, deslocando Sílvio para a esquerda, na procura de estancar a vontade do Incrível. Logo após, para manter o FC Porto em alerta, trocou Lima por Matheus. Pelo meio, sabendo das intenções do rival, André Villas Boas colocou Rúben Micael no lugar de Moutinho. Duelo táctico.

Potência, colocação, fuzilamento - parte dois. Passando o período dos treinadores, ambos irrequietos, regressaram os golos. Mais um pontapé forte, colocado, indefensável. Falcao ganhou a bola a Miguel Garcia, o FC Porto conseguiu espaço, Varela encarou com Felipe e rematou, convicto, para o terceiro golo dos dragões. Pela primeira vez, recuperando de duas desvantagens, a equipa portista colocou-se em superioriade. Terminou a busca pelo resultado, ficou nas suas sete quintas, ganhou os duelos ao Sp.Braga, parou a reacção minhota e percebeu que a vitória não lhe escaparia. Foi uma equipa combativa, solidária, acabou com Hulk em sofrimento pelos seus interesses e travou o Sp.Braga, uma vez e para sempre guerreiro, até garantir o triunfo. Suou para isso. Cimenta a liderança, vive na alegria, caminha feliz.