sábado, 7 de agosto de 2010

Supertaça: Benfica-FC Porto, 0-2 (crónica)

Mandões, adultos e com nariz empinado. O FC Porto apareceu transfigurado. Com audácia, garra e preparado para deixar a última gota de suor em campo. O golo chegou cedo: terceiro minuto. Marcou Rolando, um novo líder no centro da defesa portista, órfã de Bruno Alves, procurando a sua emancipação absoluta. Não tremeu, ao contrário dos defesa benfiquistas e de Roberto, trapalhões e indecisos, colocando a bola no fundo da baliza encarnada. A tonalidade azul, forte e concentrada, instalou-se logo no começo - depois de uma primeira aventura de Fábio Coentrão. E não se tratou de um fogacho, um mero oásis, apenas fogo de vista. O FC Porto manteve-se unido, fulgurante, carregado do espírito de vitória, pressionando alto e impedindo que o Benfica ganhasse o seu território e tivesse a bola. Os dragões instalaram-se confortavelmente, aniquilaram o rival e jogaram com atitude. O Benfica demorou a reagir.

Aos encarnados, abalados pelo golo precoce do FC Porto, faltou velocidade, criatividade e rasgo. Faltou, numa palavra, lucidez: para colocar a bola no chão, pensar e organizar o seu futebol. Os dragões, pressionantes e aguerridos, são grandes responsáveis por isso. A cabeçada de Rolando encheu o peito do FC Porto, trouxe a paz de espírito necessária e deixou a equipa portista com confiança renovada. O Benfica, confuso, surpreendido e errante, encontrou pouco espaço. A primeira vez que o campeão deu um ar da sua graça, quebrando o controlo azul, aconteceu aos vinte minutos, num remate forte de Carlos Martins que Helton defendeu bem. O Benfica teve pouca profundidade, nunca conseguindo desorganizar a defensiva portista. O regresso à fórmula do ano passado, bem-sucedida, não resultou: nem Aimar nem Martins tiveram bola, Airton não conseguiu ligar os sectores e Fábio Coentrão não foi o extremo desejado.

A venda de Di María levantara uma questão de fundo: teria o Benfica substituto à altura? Nos jogos de preparação, mesmo não havendo nenhuma fotocópia, Nicólas Gaitán e Franco Jara deram boas indicações. Jorge Jesus, em certa altura, chegou mesmo a adoptar um novo esquema táctico, soltando um dos jogadores do meio-campo para a formação de um tridente no ataque. No jogo frente ao FC Porto, contudo, o treinador encarnado adiantou Fábio Coentrão no terreno e colocou, com isso, César Peixoto no lado esquerdo da defesa do Benfica. A dinâmica pretendida não apareceu: Hulk e Varela, homens capazes de todas as diabruras, pujantes e destemidos, fizeram a cabeça em água aos defesas do Benfica, imprimiram um ritmo forte, possante e intenso. O FC Porto jogou bem pelas alas, com toque curto, sempre de cabeça bem levantada. O dragão está diferente, mais solto e ousado, beneficiando do golo de Rolando.

O AR DE GRAÇA DO CAMPEÃO

O remate de Carlos Martins, aos vinte minutos, tratou-se apenas de uma ameaça. Ou, no fundo, um sinal de que o Benfica, mesmo tendo despertado a medo, pretendia corrigir os erros, dizimar o prejuízo e lançar-se para a vitória. O FC Porto, não caindo na tentação de refrear os ímpetos para saborear a vantagem tangencial, um pecado de morte, respondeu de pronto, na mesma moeda, num tiro de Sapunaru que Roberto, bem, desviou para canto. Foi, porventura, pouco depois dessa oportunidade de aumentar a vantagem, num período de controlo portista capaz de deixar o Benfica afastado da baliza de Helton, que os encarnados cresceram. Depois da meia-hora, El Conejo Saviola, numa boa envolvência ofensiva, rematou ao lado. Apesar disso, contudo, o perigo, capaz dos maiores estragos, esteve sempre ligado ao FC Porto. Em cima do intervalo, Luisão, um verdadeiro chefe defensivo, impediu o golo de João Moutinho.

Com um meio-campo capaz, tanto a impedir os avanços do Benfica como a lançar as investidas atacantes de Hulk e Varela, o FC Porto ficou com o jogo na mão. Restava perceber qual seria o tempo de validade para tamanha intensidade e entrega, duas características inerentes desde o primeiro minuto, numa fase tão precoce da época. Com o passar dos minutos, os portistas perderam, com naturalidade, a frescura o início e a equipa baixou as suas linhas. O Benfica, com quarenta e cinco minutos para dar a volta, procurou reagir, conseguiu ter mais tempo a bola, encontrar mais espaço para progredir mas faltou sempre o clique de génio capaz de resolver. A equipa não virou a cara à luta, teve coração, espreitou oportunidades. Foi, contudo, insegura e pouco incisiva nas suas ideias. O golo andou perto, aos sessenta e seis minutos, de novo num remate de Carlos Martins travado por Helton e sem emenda certeira de Saviola.

O GOLPE FINAL

O golpe de misericórdia do FC Porto estava guardado. A equipa azul deixara de ser tão pressionante e dominadora, passara a usar a velocidade e o balanceamento do Benfica para criar perigo. Ao aviso benfiquista, seguiu-se o segundo golo portista. Jogada simples, de puro contra-ataque, tão simples como eficaz: Varela recolheu o lançamento longo, encarou com Luisão, coxeando e há muito com a substituição pedida, cruzou rasteiro, tenso e mortal, para um golo oportuno de Radamel Falcao. O FC Porto colocou um ponto final nas dúvidas. Colocou as mãos sobre a Supertaça, a décima sétima do seu historial, para não mais largar. Antes do final, numa última tentativa, Saviola obrigou Helton a uma belíssima defesa. O guarda-redes brasileiro, agora promovido a capitão, foi um pilar importante, transmitiu serenidade e resolveu com eficácia os lances de perigo que os atacantes do Benfica lhe colocaram. O sucesso começou nele.

Olhado com desconfiança à partida, o FC Porto encerra o primeiro jogo da época com uma vitória. Vale um título, renovando a conquista do ano passado, para além de trazer uma enorme confiança para o ataque às primeiras jornadas do campeonato. Os dragões venceram um rival directo, o actual campeão nacional, deixando boas indicações, sobretudo do meio-campo para a frente - com destaque para exibições de João Moutinho, Varela e Rolando -, além de que a equipa, voluntariosa e unida, procurou sempre uma ajuda constante capaz de travar o Benfica. Para os encarnados fica uma derrota, falhando frente a um rival a conquista de um troféu, num jogo em que o Benfica entrou a perder e nunca demonstrou verdadeira capacidade para desorganizar e empurrar o FC Porto. Houve, até, algum desnorte que levou à criação de picardias e entradas bem ríspidas. Óscar Cardozo, César Peixoto e David Luiz são três exemplos disso.

1 comentário:

JornalSóDesporto disse...

Nunca um verdadeiro treinador de futebol meteria aqueles homens que meteu(Rúben Amorim e César Peixoto) a defender Varela e Hulk respectivamente perdeu e perdeu bem.