sexta-feira, 16 de julho de 2010

Opinião: A essência do futebol de Diego Armando Maradona



Um beijo, um grito e uma palmada nas costas. Diego Armando Maradona, sem os calções negros a baloiçar, sai em direcção ao relvado. Caminha devagar, mais robusto, bem mais, e com uns anitos passados. Não tem o fio de ouro ao pescoço. Usa uma gravata. Tem o fato completo, cinzento, aparece vestido de gala, nada condizente com ele. Parece outro. A fé mantém-se: uma pequena pulseira, com uma cruz, está enrolada na mão. E dois relógios, um em cada pulso. Passa a mão pela barba, negra e branca, olha para o relvado e espera o apito do árbitro. Está, outra vez, onde se sente bem. A sua vida é aquilo. Sente-se como há vinte anos, com a mesma força, a mesma alma guerreira. Mas agora não joga. É o seleccionador. E quer que os seus jogadores, os meninos que lidera, sintam a camisola e deixem tudo em campo por ela.

Para Maradona, o futebol é simples. Não tem que enganar. Rejeita tácticas, observações, frases-feitas ou pragmatismo. Para ele, o futebol é pegar na bola, correr, encantar os adeptos, fazê-los levantar das cadeiras, tocar curto e marcar. Foi assim que ele, tantas vezes, resolveu. A sua Argentina, a Argentina que agora comanda, não pode fugir a esse padrão. O futebol argentino é assim: toca, passa, corre, cruza e marca. Aproxima-se da essência do jogo. E é apelativo. Mas, na maioria das vezes, ineficaz. Para que resulte bem, para que a arte do futebol se junte aos resultados, é necessário um enorme trabalho. Técnico, táctico, de entrosamento, de colocação das peças. Isso, para Maradona, não existe. O futebol visto por El Pibe não se cola a um jogo de xadrez. Aí, sim, há grande cuidado ao mover as peças. Em futebol, só talento e uma bola.

Foi com muito talento e uma bola que Diego Armando Maradona conseguiu ser imortal. Só ela lhe interessava. O jogo de equipa era importante, sim, mas quando não resultava, Diego, na sua magia, sobressaía. A Argentina ia consigo. O tempo passou, deixou-o fora dos relvados, mas não pode ter mudado assim tanto o jogo. Para ele, pelo menos, está na mesma. A pureza do futebol é transportada para a equipa, escolhe os que julga melhores, em quem se revê, recua no tempo e imagina-os no seu lugar. Tem bons jogadores e o resto é fácil: colocá-los no campo, uni-los, incutir o espírito de luta e de ambição para recolocar a Argentina no trono mundial e esperar que façam o que de melhor sabem. Se o conseguirem, se estiverem ao seu nível máximo, tudo sairá bem. A Argentina terá sucesso, deixará os adversários para trás, ganhará.

A mentalidade de Maradona é essa. Aproxima o futebol dos seus princípios. E tem toda a ingenuidade. Maradona desespera quando vê a sua Argentina, desnorteada e sem fio de jogo, ser engolida pela Alemanha. Não percebe o que ali se passa. Se ali estão os melhores jogadores, se são destacados pela sua qualidade, o que não resulta? Por que não resulta como, com ele, no México? Para Maradona, o treinador, a resposta é uma incógnita. Ele, afinal, usou a mesma fórmula que o levou ao sucesso. Procurou, no banco, fazer com que outros assumissem o seu papel. Só que o tempo corre. Há evolução. O Mundial do México, onde El Pibe subiu ao pedestal, foi já há vinte e quatro anos. O futebol pouco tem de parecido. Mudou. Deixou de ser ganho por quem joga com mais qualidade. Passou a ser trabalho de laboratório.

É essa nova forma de jogar futebol que Maradona, por mais que tente, nunca conseguirá entender. O seu jogo não tinha nada daquilo: era inspiração, suor, corrida e muito talento à solta. Só que o futebol, hoje, é mais do que isso. Diego Armando Maradona representa o futebol na sua essência, naquele jogo vibrante, com clique de génio, aproxima-nos quase do que se joga nas ruas, sem complexos. Maradona jogava por prazer, por amor, por gostar do que fazia. Esse trabalho de união está reflectido nos jogadores. Esta selecção argentina representou uma verdadeira família. Mas de que vale isso se o mais importante na actualidade, a preparação e a leitura do jogo, fica esquecida? Poderia ser mais do que suficiente há algumas décadas. Agora, claro, não chega. Os rivais estão preparados. A falta de um rumo colectivo definido sente-se.

Maradona lá está na sua área técnica. Ou, melhor, na área reservada aos treinadores. Aquela nunca será a sua casa. Anda de um lado para o outro, passa a mão pela barba, vê poucas soluções mas ainda confia. O seu frágil meio-campo, com Mascherano entregue a si mesmo, perante uma enchente alemã, fora triturado. A partir daí, com pressão e posse de bola, a Alemanha dominou o jogo. Há organização, disciplina, trabalho táctico. A Argentina tem coração, garra, querer. Falta tudo o resto. Maradona incentiva, puxa pelo orgulho dos jogadores, é um verdadeiro patriota. Acredita nos seus meninos. Só que o jogo está há muito decidido. Os argentinos estão desorganizados, sem rei nem roque, esperando que as individualidades resolvam. O colectivo nunca existiu. A derrota cai como uma bomba. Mas é natural.

4 comentários:

JornalSóDesporto disse...

Diego Maradona nunca foi treinador de futebol.

Tiago Nogueira disse...

Olá, bom post

http://footinmyheart.blogspot.com/

digam a vossa opinião, um abraço ;)

Tiago Nogueira disse...

Olá,

http://footinmyheart.blogspot.com/

vai uma troca de links? abraço

Anónimo disse...

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