sábado, 10 de julho de 2010

As intrigas que descredibilizam a selecção nacional

Ponto prévio: o futebol é um jogo de intrigas. E de suspeição, mistério e polémica. São mais do que meio caminho andado para que, mais tarde ou mais cedo, ocorram problemas. Este ano, por exemplo, a participação de Portugal no Mundial da África do Sul foi assolada por uma nuvem de intriga. Numa fase tão importante, em que é imperativo manter a concentração no limite e apenas estar focado numa boa presença colectiva, a selecção nacional, sem que tenha feito muito para alterar a situação, permitiu que o grupo de trabalho fosse, de alguma forma, atingido. Não funcionou - como deveria - o escudo de protecção, algo que servisse para resguardar os jogadores e o próprio seleccionador. O ambiente vivido no seio da comitiva nacional não foi o melhor. É isso, pelo menos, que se percebe. A Carlos Queiroz, mais do que tudo, terá faltado capacidade de liderança. Conseguirá assumir-se a tempo?

A lesão de Nani foi o ponto de partida para a polémica. O jogador, porventura o que estaria em melhor forma nos eleitos de Carlos Queiroz, viu-se impossibilitado de participar no Campeonato do Mundo. Uma lesão, um azar sempre à espreita, foi o responsável. Infortúnio, sim, mas algo a que os futebolistas estão sujeitos. Contudo, a forma como a lesão foi comunicada - nunca tendo sido, até à data em que foi oficializado pela Federação Portuguesa de Futebol que Nani não teria condições para se manter na comitiva portuguesa, noticiado qualquer problema - deixou no ar alguma suspeição que abalou a tranquilidade da selecção nacional. Não demorou até se levantarem rumores, envolvendo um eventual controlo anti-doping positivo. Acresce ainda que, após aterrar em solo português, Nani adiantou que numa semana estaria recuperado. A política de comunicação, desde o silêncio do corpo clínico às declarações do jogador, falhou por completo.

Seguiram-se polémicas com Deco, Hugo Almeida e, sobretudo, Cristiano Ronaldo. O médio luso-brasileiro, desiludido pelo empate inicial frente à Costa do Marfim, não hesitou em apontar o dedo a Carlos Queiroz. Logo após, contudo, se retractou (à semelhança do que fizera Nani). Seja como for, a verdade é que o médio do Chelsea, com uma lesão pelo meio, não mais foi opção na selecção nacional: castigo? Opção estratégica? A polémica criada com Deco não fica, porém, por aqui, uma vez que após a eliminação, com a Espanha, o internacional português, quando questionado sobre o ambiente vivido no seio da selecção nacional, respondeu com mistério: "Bom ambiente? Entre os jogadores, sim". Hugo Almeida, no mesmo momento, afirmou que gostaria de ter jogado mais - foi substituído, aos cinquenta e sete minutos, por Danny. O seleccionador afirmara que estava exausto. Almeida negou. São pormaiores.

A declaração de Cristiano Ronaldo, pela responsabilidade inerente ao estatuto de capitão e pelo mediatismo daquela que é a principal figura da selecção portuguesa, ganhou proporções gigantescas. Ainda no final do jogo com a Espanha, enquanto Carlos Queiroz respondia aos jornalistas na sala de imprensa, Ronaldo, passando apressadamente pela zona mista, remeteu todas as explicações da eliminação para o seleccionador: "Falem com o Carlos Queiroz!". A posição do seleccionador, já acusado de ter optado por postura demasiado cautelosa e sem correr riscos, ficou fragilizada. A Carlos Queiroz terá faltado, sobretudo, liderança: por todas as declarações dos jogadores, principalmente Deco e Ronaldo, percebe-se que nunca conseguiu unir o grupo, focá-lo num objectivo concreto e criar um espírito positivo e mobilizador. Contudo, além das críticas dos jogadores, também nunca nenhum responsável federativo apareceu para proteger o grupo de trabalho.

Já com a eliminação portuguesa do Mundial 2010 devidamente analisada e com a garantia de que Carlos Queiroz se irá manter na liderança técnica da selecção nacional, foi atribuída ao seleccionador uma frase polémica, corrosiva, duríssima: "Tendo em conta a estrutura amadora da Federação Portuguesa de Futebol, as coisas correram muito bem a Portugal". A declaração foi de pronto desmentida e o jornalista do semanário SOL, que a publicara e garante ter o registo aúdio consigo, imediatamente arrasado por Carlos Queiroz. Quem tem razão? A única certeza, neste momento, é que a posição de Queiroz está longe de ser segura. O seleccionador nacional, para a maioria dos adeptos um dos principais culpados da eliminação portuguesa, terá condições de conseguir liderar Portugal ao Europeu 2012? Para o conseguir precisará de mobilizar a nação portuguesa e unir o grupo. Sabendo quem salta com ele para a selva.

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá, hoje vi uma referência a este blog no "Público" e vim aqui visitar-vos. Parabéns!

Já o adicionei ao meu, podem colocar o meu link?

http://fromporto.blogspot.com

Um abraço

JornalSóDesporto disse...

Portugal é sempre a mesma coisa muita parra pouca uva.