quarta-feira, 5 de maio de 2010

Mundial 2010: O fracasso brasileiro visto por dentro

HEXA EM 2014

Primeiro tempo magnífico: lançamento de gênio do meio-campo por Felipe Melo, conclusão perfeita de Robinho. Terminando os primeiros quarenta e cinco minutos, a seleção de Dunga se credencia como a principal favorita para vencer a Copa do Mundo da África. O Brasil passeava em campo, em cima de uma seleção que não perdia desde 2008. Depois, acaba o segundo tempo. Brasil eliminado, treinador burro, Felipe Melo vilão da derrota, time sem criatividade com um atacante firuleiro e pouco objetivo: Robinho. Foram dois jogos dentro de um. Um primeiro tempo onde o Brasil mandou no jogo, fez um gol, mas poderia ter feito três. No segundo tempo a Holanda foi superior e não seria nenhum absurdo se tivesse goleado o time brasileiro.


O clima em Porto Alegre foi de muita decepção após a partida. O povo gaúcho, diferentemente do restante do país, não vibra tanto com a seleção brasileira. No entanto, em 2010 houve uma maior mobilização, motivada em grande parte por ser um gaúcho o comandante do grupo. Além disso, a campanha anti-Dunga do centro do país, serviu como combustível para os gaúchos apoiarem ainda mais o técnico da seleção brasileira. Para boa parte dos gaúchos, no entanto, a tristeza durou aproximadamente três horas, quando Loco Abreu cobrou o último pênalti do Uruguai na vitória heróica dos vizinhos sobre a seleção da Gana. Os gaúchos voltaram a ter uma equipe para torcer.

A frustração da derrota na Copa da África foi diferente da última eliminação em 2006, quando o Brasil foi eliminado também nas quartas de final. Nesta Copa, embora grande parte da imprensa afirmasse que a seleção de Dunga tinha uma morte anunciada, pouca gente realmente acreditava na derrota brasileira, ainda mais depois do primeiro tempo da partida contra a Holanda. Ficou a sensação de que o Brasil poderia ter ido mais longe. Na Alemanha em 2006, por exemplo, foi unanimidade que o Brasil não merecia a classificação.

Voltando ao jogo contra a Holanda, excetuando alguns poucos jornalistas, a imprensa tratou a eliminação brasileira como um fracasso. As críticas que Dunga recebeu quando saiu do Brasil foram atenuadas durante a Copa e voltaram em dobro após o jogo contra a Holanda. A falta de jogadores diferenciados e a opção por jogadores em má fase em seus clubes foram as principais contestações, além das restrições ao trabalho da imprensa durante os treinamentos na África.

Realmente faltou talento no time. Alguns jogadores estavam em má fase, mas mesmo assim, o Brasil tinha plenas condições de trazer o hexacampeonato. A última Copa foi um claro exemplo de que um time bem organizado e com disciplina tática vale mais do que individualidades. A Itália de 2006 não tinha nenhum Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo ou Adriano e foi campeã, enquanto o Brasil caiu fora para a França de Henry e Zidane. Não foi por ter deixado de levar Ganso ou Neimar que o Brasil perdeu. A Copa do Mundo é um torneio diferente. Não é um campeonato em que há tempo de se recuperar de um erro. A partir das oitavas de final, a eliminatória é decidida em um jogo e uma falha é fatal, não pode acontecer. Um momento de desatenção ou desequilíbrio não dá chance de recuperação. Foi o que aconteceu com o Brasil.

Nessa partida, a Holanda voltou melhor no segundo tempo, mas não ameaçou o gol brasileiro, até que em um cruzamento despretencioso o goleiro Júlio César, que tantas vezes salvou o Brasil, cometeu uma falha grave e a bola entrou. Muitos atribuíram o erro a Felipe Melo, mas o erro foi do goleiro. Felipe Melo estava na bola quando Júlio César veio por cima, deslocando o volante brasileiro; por isso, a cabeçada saiu para trás. Pela imagem da televisão, nota-se que o goleiro grita “Minha!”, só que em uma hora daquelas o jogador não sai da bola para o goleiro agarrar se ele sabe que está na bola. O erro foi de Júlio César e o gol abalou o time. O segundo gol da Holanda veio ao natural.

Não foi apenas no gol que Felipe Melo se fez presente. Faz tempo que toda opinião pública alerta para o temperamento do jogador. Ainda assim, ele deu razão a todos que o criticavam. Felipe Melo não tem condições psicológicas de jogar em um grande clube, o que dizer na seleção mais vencedora do mundo. Apostar nesse jogador, apesar de sua terrível fase na Juventus, foi o maior erro de Dunga. Errou ao apostar em Felipe Melo e também ao não contar com um jogador de talento como Ronaldinho ou Ganso. Só que neste erro ele não está sozinho. O planejamento no ano da Copa foi equivocado. O último amistoso antes da convocação foi no início de março. Dunga não queria convocar jogadores que não haviam estado na seleção, por isso, deveria ter sido feito algum amistoso mais perto do dia da convocação, para exatamente testar jogadores que estavam atuando no Brasil e em destaque nos seus clubes.

Para a Copa de 2014 deve ser feita uma reformulação no elenco, já que a maioria dos jogadores desta seleção tem mais de trinta anos. A saída de Dunga está certa, pois jogando em casa não podemos ter um técnico com tanta reprovação por parte da torcida. O Brasil tem uma safra de jogadores de muito talento que devem chegar ao auge em 2014, como Ganso, Neimar, Mário Fernandes, etc. O planejamento deve ser bem pensado, pois, sendo o anfitrião, o Brasil não terá as eliminatórias sul-americanas como parâmetro.

Texto de Uriel Garber, sobre a participação do escrete no Mundial 2010

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