quarta-feira, 24 de março de 2010

O regresso ao túnel e a um futebol sem rei nem roque

O futebol português é uma verdadeira Caixa de Pandora. Surpreende a cada momento, alastra o espanto, faz com que os adeptos se interroguem sobre o seu real valor. Um dos principais problemas estruturais do nosso futebol passa, necessariamente, pela sua justiça. O túnel da Luz, nas bocas do Mundo desde Dezembro, aquando do Benfica-FC Porto, um caso que ganhou proporções gigantescas, é um exemplo perfeito do mau funcionamento da justiça desportiva em Portugal. Na celeridade e, mais importante do que tudo, na aplicação dos regulamentos. Como resquícios dos incidentes ocorridos no final do clássico entre águias e dragões, após terem sido provadas as agressões a stewards, Hulk e Sapunaru foram castigados, ficando, respectivamente, quatro e seis meses fora dos relvados nas competições internas. Nada de novo até aqui.

Na justificação apresentada para as sanções aplicadas, Ricardo Costa, presidente da Comissão Disciplinar da Liga, órgão responsável pelas medidas, referiu que os dois jogadores do FC Porto haviam agredido agentes de recinto desportivo, incorrendo por isso numa moldura penal situada entre seis meses e três anos de suspensão. No entanto, como as provocações dos membros da empresa de segurança (Prosegur) contratada pelo Benfica tinham ficado provadas, a pena diminuiu para metade, ou seja, de três meses a ano e meio. Assim se explica a razão para Hulk e Sapunaru terem sido punidos com tais sanções. Levanta-se, contudo, uma questão fundamental: serão os stewards intervenientes no jogo, tal como entendeu a Comissão Disciplinar? O FC Porto recorreu para o Conselho de Justiça da FPF, afirmando que não poderão ser assim considerados.

A primeira decisão de castigar os jogadores portistas fora conhecida a 19 de Fevereiro. Mais de um mês depois, o Conselho de Justiça decidiu alterar as penas aplicadas aos dois jogadores portistas... de forma drástica. Os castigos de Hulk e Sapunaru, inicialmente de quatro e seis meses, foram reduzidos para três e quatro... jogos - desde que foram suspensos preventivamente, o FC Porto realizou dezoito partidas oficiais, exceptuando a Liga dos Campeões, onde os jogadores, como aconteceu com Hulk frente ao Arsenal, poderiam ser utilizados. De acordo com o que tem sido veiculado, a decisão assentou num facto essencial: a forma como ambos os organismos interpretaram os regulamentos e, consequentemente, o estatuto que atribuíram os stewards. De acordo com um comunicado do FC Porto, o Conselho de Justiça entende que os agentes da segurança são considerados público, não intervenientes.

O que mais ressalta de tudo isto é a tamanha disparidade entre as decisões tomadas. É brutal reduzir de quatro e seis meses para três e quatro jogos. Num efeito bola de neve, após o Conselho de Justiça reprovar as medidas aplicadas em primeira instância pela Comissão Disciplinar, Hermínio Loureiro renunciou ao cargo de presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional. Hermínio já anunciara que não se recandidataria a um novo mandato, abandonando a presidência em Junho. No entanto, a tomada de posição por parte do Conselho de Justiça da FPF levou a que o até hoje presidente da Liga apresentasse a sua demissão imediatamente. Justificada ou não, é somente a confirmação de que o futebol português vive necessitado de estruturas fortes, capazes de uma liderança forte, aplicando de forma célere e indubitável os regulamentos. A polémica, essa, continua dentro de momentos!...

1 comentário:

Jornal Só Desporto disse...

A Justiça desportiva ou é tardia ou dá vontade de rir.