quarta-feira, 31 de março de 2010

Passado e futuro do Sporting por entre tiros nos pés

Carlos Carvalhal não será o treinador do Sporting na nova época. Não é propriamente uma novidade mas agora é oficial. Trata-se do enésimo tiro no próprio pé dado por este Sporting. Há muito se sabia que Carvalhal era um treinador a prazo, com um contrato curto e com validade bem fixa, percebendo-se que muito dificilmente estaria à frente da equipa para além do período para o qual foi contratado. A fase de maior fulgor, em que o Sporting readquiriu parte da sua alma e deixou de ser o elo mais fraco, conseguindo explanar o seu futebol e reconciliando-se com os adeptos tem dedo de Carlos Carvalhal. Por isso o treinador disse esperar ser recompensado pelo trabalho abnegado que desenvolve desde o primeiro dia em Alvalade. Poderia ter funcionado para lhe ser dado algum crédito. Mas a decisão há muito estava tomada.

Depois de uma recuperação com sete jogos seguidos a ganhar e antes do melhor ciclo da época, o Sporting perdeu as possibilidades de lutar por qualquer prova interna. Oscilou entre o bom e o mau. Foi fatal e o destino de Carvalhal ficou marcado logo aí. A equipa teve capacidade para reaparecer mas já nada tinha para vencer. Não se pretende com isto dizer que o treinador devesse continuar. Só o tempo será capaz de mostrar se a mudança favoreceu ou não o clube leonino. No entanto, não faz qualquer sentido que num dia a saída de Carvalhal seja desmentida categoricamente pelo presidente, José Eduardo Bettencourt, e quatro dias depois seja oficializada. É paradoxal. Há, para além disso, uma questão fundamental: que motivação encontrará Carlos Carvalhal para cumprir o seu contrato até final?

O Sporting tem seis jogos para disputar até encerrar definitivamente a temporada de 2009-10. São, no entanto, seis partidas importantíssimas para salvaguardar o quarto lugar - o objectivo que José Eduardo Bettencourt, a certa altura, estabeleceu como prioritário -, pressionado pelo Vitória de Guimarães que está apenas a dois pontos. Ver-se ultrapassado nesta recta final, caindo para um negro quinto lugar, será o pior que poderá acontecer a qualquer sportinguista. Culminará uma época de verdadeiro pesadelo. Para Carlos Carvalhal será uma contagem descrecente até ficar desempregado. Aconteça o que acontecer, ganhe ou perca, jogando bem ou não, o treinador já tem o seu destino traçado. E, mais importante do que isso, anunciado publicamente. Não terá, portanto, qualquer motivação. Não é um tiro no próprio pé?

Carlos Carvalhal não pareceu em momento algum um treinador seguro. Procurou implementar as suas ideias, fez por agarrar a oportunidade que o Sporting lhe dera, mas nunca se livrou do estatuto de ser apenas uma ponte entre o passado e o futuro. Foi isso, então, que aconteceu: o treinador entrou num período conturbado, conseguiu juntar algumas peças, ressuscitou a equipa mas, olhando somente aos números, aumentou as distâncias para o topo e foi eliminado das provas em que o clube estava inserido. É herói num sentido, vilão noutro. Ao Sporting interessa ssquecer o que de mau foi feito nesta época e preparar os alicerces para um futuro mais risonho. Carvalhal está fora do próximo projecto de Bettencourt e Costinha porque nunca foi verdadeiramente pensado para liderar os leões. O Sporting quer mudar. É legítimo.

Só um volte-face totalmente imprevisto irá impedir André Villas Boas de ser o treinador do Sporting em 2010-2011. É um namoro antigo de José Eduardo Bettencourt e, antes de Carvalhal ser anunciado - mais uma prova de como foi uma solução momentânea -, o jovem treinador da Académica esteve perto de rumar a Alvalade. Não se concretizou na altura, será agora. Villas Boas fez escola com Mourinho, do Porto a Milão, tal como já recolhera conhecimentos de Bobby Robson. Já mostrou ter qualidades e essas experiências jogam a seu favor. Foi o suficiente para a aposta de Bettencourt. Por outro lado, porém, André Villas Boas começou a sua carreira de treinador principal há pouquíssimos meses, além de que ainda não alcançou a manutenção na Académica. Será sempre uma aposta de risco de quem quer uma ruptura com o passado.

terça-feira, 30 de março de 2010

Cá se fazem e cá se pagam, Fergie!

O futebol é um jogo vingativo. Leva os vencedores ao céu, coloca-os num pedestal, dá imenso prestígio. No momento seguinte, contudo, pode destruir tudo isso. É cruel. Há sempre alguém que fica mal, o sucesso de uns é a frustração de outros. Faz parte do jogo. Custa a aceitar, ainda assim. Perder um jogo no final é brutal. Perder uma final de Liga dos Campeões, o cume da glória dos clubes europeus, custa ainda mais. A dor pela derrota ganha proporções gigantescas, marca, deixa resquícios inapagáveis. Em 1999, o Bayern de Munique experimentou a sensação. Em Camp Nou, cheio como um ovo, jogou contra o Manchester United. Mas foi mais do que um jogo de futebol. Tornou-se uma lenda. Todas as regras foram quebradas. Ficará para sempre a imagem de uma recuperação épica. E de que no futebol só os golos contam.

O Bayern marcou cedo. Fê-lo aos seis minutos. Poderia ter sido um passo fundamental para vencer. Ou, pelo menos, para partir para uma exibição confiante, superior, subjugando o adversário. Os alemães conseguiram-no em parte. Jogaram melhor, criaram oportunidades, mas falharam mais golos. Peter Schmeichel, devidamente ajudado pelos ferros da sua baliza, impediam que o Bayern de Munique conseguisse acomodar-se no resultado. Contudo, o tempo era cada vez mais escasso para o Manchester ambicionar dar a volta. Ottmar Hitzfield, no banco germânico, pensava que nada lhe tiraria a vitória. Era legítimo. Todos os adeptos bávaros assim entendiam. A fé inglesa mantinha-se. Enquanto há jogo, há vida. É um lema dos ingleses: nunca desistir até ao apito final do árbitro. Tempo de compensação dado por Pierluigi Collina.

Os festejos dos adeptos do Bayern de Munique já tinham começado, a loucura já começara a ganhar corpo, preparavam as gargantas para gritarem que eles eram os senhores da Europa. Mas ainda havia jogo. Tudo poderia acontecer. Um golpe de sorte, qualquer coisa assim, algo que atirasse a bola para o fundo da baliza de Oliver Khan. Era isso que esperavam os ingleses. Até o outro guarda-redes, Peter Schmeichel, subira à área alemã. Era agora ou nunca. Matar ou continuar a viver. Beckham cobrou o canto, desvio aqui e ali, remate de Teddy Sheringham. Para o golo. Um minuto depois dos noventa, dava para continuar a acreditar. Viria um prolongamento. Não! O estado de graça esticaria até ao limite, a reviravolta estava ao virar da esquina. Marcou Solskjaer. Alex Ferguson rejubilou. Os homens que lançara deram-lhe o triunfo.

Passaram onze anos. Manchester United e Bayern de Munique já se defrontaram depois dessa final. A Liga dos Campeões desta época, 2009-10, voltou-os a colocar frente-a-frente nos oitavos-de-final. Começou a ganhar o Manchester United, golo de Rooney, o cliente habitual, falharam-se oportunidades para aumentar a vantagem. O segundo golo inglês esteve mais próximo do que o empate alemão até ao intervalo. Os red devils não chegaram à tranquilidade mas interiorizaram-na. Baixaram a guarda. O Bayern cresceu. Aos setenta e sete minutos dispôs de um livre. Eficácia fenomenal, golo de Ribéry com um desvio em Rooney. Vidic acertaria, depois, na trave. Tal como Nani na primeira parte. E tal como os alemães em 1999. Já depois dos noventa, Olic fez o golo da vitória do Bayern. Uma pequena vingança. Serve para o ego, se não servir para a passagem...

Opinião: Quando Givanildo não é Hulk


Pega na bola, leva-a no pé esquerdo, parte para cima do adversário. Faz fintas sucessivas, troca os olhos a quem o segue, explode para a linha de fundo. É possante, veloz, tem grande capacidade para continuar com a bola controlada. Parece intocável, mais forte do que tudo, capaz de derrubar qualquer muralha que lhe apareça à frente, ganha poderes que só estão reservados a predestinados. Dá bom resultado. Mas, infortúnio, também pode chegar à linha de fundo e cruzar mal. O lance perde-se, o ataque não tem frutos, a baliza não ficou em perigo, o guarda-redes respira de alívio. Nesse momento, Hulk volta a ser Givanildo Vieira de Souza. Deixa os atributos que fazem dele um jogador acima da média, cai na realidade: é um homem sujeito ao erro, nem tudo lhe sai bem, por vezes pode não resultar. Por mais que tente, não dá. Entra numa panóplia errante.


A analogia é sempre a mesma. Imaginemos um barco. Em pleno naufrágio. Onze remadores que se vêem cada vez mais numa situação aflitiva, o tempo passa e não conseguem sair do sítio, a tempestade, o grande adversário, leva vantagem. É preciso agir. Como em tudo, há sempre quem se destaque. Há um remador forte, capaz de incentivar os outros, que sozinho tem atributos que escapam aos dez restantes. Tenta a sua sorte, faz de tudo para mudar a situação, não dá o seu lugar, quer mostrar que é capaz. Todos o sabem, ele precisa de o mostrar a si próprio. Mas, vá lá, quem é que sozinho consegue sempre, em todas as circustâncias, fazer a força de onze? Ninguém. Nem o remador nem o jogador de futebol. São tantos, tantos, tantos os que o querem. Seria melhor unir as forças de onze.

Esse é um defeito que se aplica a Hulk. O brasileiro tem um inegável talento genuíno, é capaz de decidir jogos, mas falta-lhe cabecinha. Precisa de perceber que não pode querer resolver sempre, o apelido não permite a Givanildo segurar a equipa nos ombros, torna-se mais fácil de travar quando pretende enfrentar os onze adversários sem apoio. É um jogador com uma qualidade imensa, sim, mas precisa dos colegas. Tal como o remador. Se assim não for, não conseguirá passar à primeira. Nem à segunda, nem à terceira. Irá tentar, tentar, tentar, enfim, provar que consegue. Começa a ficar com um nervosinho interior, vai aumentando à medida que o rival é mais forte, torna-se inconsequente. O público não gosta, reclama, passa a bola!. Ele mantém-se confiante: há-de conseguir por mais que custe.

Ora, leitor, este não é um problema associado a ene jogadores que vão passando pelos melhores relvados? Têm talento, mas não o canalizam para a equipa, antes mostram que consegue fazer tudo bem sozinhos. Resulta nalgumas situações. O público curva-se, agradece a oportunidade. É um regalo para a vista. Noutras não. Perdem-se as oportunidades, os possíveis golos, uma eventual vitória. Tudo causado pela teimosia. Hulk já foi anjo e diabo para os portistas. Destroça os adversários, deixa-os pelo caminho, remata com uma potência descomunal para dentro da baliza. Golo, vitória, glória. Títulos. É anjo o Hulk. Noutras parece que nada o travará, mas não passa pelos defesas, o guarda-redes agiganta-se, perde as ocasiões e reclama. Entra numa ânsia de marcar. É diabo o Givanildo.

Hulk começou a temporada como sendo o principal jogador do FC Porto. Hulk-dependência, disse-se que afectava a equipa portista. A pré-temporada deixara indicações de que este seria o ano da sua explosão definitiva. Começou mal, porém. Em Paços de Ferreira apareceu o Hulk individualista, envolvendo-se em picardias constantes, parado por faltas dos adversários, a melhor forma de o travar quando está inspirado, expulso no primeiro jogo. Não pensou na equipa, na falta que poderia fazer, ficou arredado dois jogos. Apareceu mais calmo, ponderado, percebendo que são estas as leis do jogo. Quis justificar os elogios iniciais. Até ao jogo da Luz, com o Benfica. Foi bem anulado nas quatro linhas, não conseguiu soltar-se da teia e deixar o relvado triunfante. Perdeu-se no túnel.

As consequências dos incidentes no final do jogo com o Benfica já são bem sabidos, leitor. Hulk falhou dezoito jogos em Portugal. Pelo meio, apareceu ante o Arsenal. No Dragão e em Londres. Entrou decidido a provar que a paragem não o afectara, que mantinha as qualidades intactas, que tinha sido uma baixa de vulto para o FC Porto. Não conseguiu. Acusou a falta de ritmo, a vontade de querer fazer tudo. Obviamente. Que se poderia esperar de um jogador sem jogo há dois meses? Entre trapalhadas jurídicas, Hulk terminou o castigo. Jesualdo Ferreira utilizou-o à primeira oportunidade. Sinal claro da sua importância na equipa. Jogou no Restelo ao seu melhor nível: duas assistências e um golo de bandeira, devorador de uma defesa tenrinha. Foi uma libertação de raiva pela pausa.

Poderia o campeonato do FC Porto ter sido diferente se Hulk não tivesse entrado no túnel da Luz com os nervos à flor da pele? É uma pergunta incontornável, tão incontornável como olhar para David Seaman, nos tempos do Arsenal, e não reparar no bigode que o imortalizou. Ou Freddie Mercury. A resposta permanece no segredo dos deuses. Ninguém a pode dar, portanto. O melhor Hulk é uma peça fulcral. Não é, contudo, sempre assertivo. Por isso, nunca se saberá o que poderia ter acontecido se o brasileiro tivesse jogado a maior parte do campeonato. Mas é inegável que Hulk, o melhor, a versão genuína em que Givanildo Vieira de Souza se transforma, fez imensa falta a este FC Porto. E ao futebol português. Afinal, os melhores jogadores estão cá para isso. Se foi por isso que a época azul falhou? Não!...

segunda-feira, 29 de março de 2010

Liga Sagres: A revolta dos últimos na jornada do Benfica

ANÁLISE

O Benfica ganhou ao Sp.Braga, aumentou a vantagem para seis pontos, há dezoito em disputa até final. O mesmo é dizer, portanto, que os benfiquistas têm tudo para voltarem, cinco anos depois, a chegar ao trono de campeão nacional. Só uma ponta final desastrada, aliada a seis jogos triunfantes e históricos do Sp.Braga, poderá inverter a situação. É imperativo, contudo, que o Benfica não interiorize que tem desde já o título assegurado. Aí, sim, poderá dar-se mal. E o que dizer desta equipa bracarense? Está na sua melhor época de sempre, tem muito mérito no que conseguiu até agora, fez jus ao seu estatuto diante do Benfica, provou ter qualidade. No entanto, o FC Porto, ao vencer no Restelo, conseguiu encurtar a distância para cinco pontos. É o que separa os dragões do segundo lugar.


Foi o jogo do título? Talvez, mas só os seis encontros que faltam darão a resposta. Dizer que o campeonato ficará decidido à vigésima quarta jornada será sempre arriscado. No entanto, ao vencer o Sp.Braga, o Benfica deu um passo fundamental. Dispõe de uma boa margem, é a equipa mais completa, possui argumentos que faltam aos minhotos, apostou as fichas todas para ser feliz nesta temporada enquanto o Sp.Braga está a superar-se a si próprio. Irão lutar até final, disso ninguém duvide. O Benfica está mais confortável e tem o caminho do título aberto, sim, mas terá que manter a mesma intensidade para chegar à glória. Jogo lutado, limites da adrenalina, vontade de qualquer um deles sair fortalecido. Um golo de um herói revisitado: Luisão. A fazer lembrar 2005, quando decidiu um jogo... do título, contra o Sporting, na Luz
- Clique para ler a crónica do jogo

Hulk é um jogador portentoso. Tem técnica, explosão, potência. Capacidades inatas para um futuro auspicioso. Falta-lhe, contudo, ser mais racional, controlar os nervos, jogar em prol da equipa e não decidir ser ele contra o Mundo. Nesse duelo desigual, geralmente, perde. Como acontece com todos os que pretendem fazê-lo. Quando consegue anular esses defeitos, salientando as virtudes, Hulk torna-se temível, ganha poderes que lhe permitem carregar a equipa, aniquila os adversários. Por estes dias, pelo processo disciplinar que o envolveu, Givanildo de Souza é um homem revoltado. Quer-se recompor, mostrar que está vivo, que fez uma enorme falta. É aí que aparece Hulk. No Restelo, o brasileiro foi fundamental para a vitória do FC Porto: assistiu Rolando no primeiro golo - em posição irregular -, fez um golaço e cruzou para Falcao fechar as contas.

O Sporting é imprevisível. Oscila em demasia, consegue atingir patamares de grande qualidade, deita tudo a perder num ápice, volta a entrar numa curva descendente. É mau para qualquer equipa, grande ainda mais. Os leões estão no seu momento mais vivo, com boas exibições e vitórias, uma retoma com os adeptos mas que nada trará para o museu do clube. O jogo com o Atlético de Madrid, a eliminação da Liga Europa, poderia ser um abalo. Foi mesmo. O Sporting voltou à sua fase má, tristonha, sem consistência. O Marítimo fez um bom jogo, com os olhos postos na baliza de Rui Patrício, ganhou com justiça. Por um golo, num 3-2 ditado pelos minutos finais, mas que poderia ter sido mais amplo. A derrota do Sporting deixa estampada a falta de soluções. Sem João Moutinho, sem Miguel Veloso e sem Izmailov, o Sporting parou a retoma. Pior do que isso: reviveu o passado.

A emancipação de um trio de aflitos. Leixões, Vitória de Setúbal e Olhanense são equipas que terão de lutar até final para alcançarem a permanência. Nesta jornada todas venceram. Os leixonenses alcançaram a primeira vitória desde a chegada de Fernando Castro Santos, bateram a Naval por 1-0, mas nem por isso reduziram diferenças para a primeira posição que lhes garante sossego. Há dois culpados: o Vitória bateu, em casa, o Nacional (2-1, vida complicada para os insulares na luta pela Europa), confirmando uma subida substancial na segunda metade da temporada, somando, aqui e ali, pontos importantes para a concretização do objectivo; o Olhanense, trinta e seis anos depois, voltou a triunfar fora em jogos do principal campeonato português: venceu o Rio Ave, ainda sem confirmar a permanência mas tranquilo, por concludentes 5-1. Juntamente com os sadinos, mantém cinco pontos de avanço para o Leixões.

Dos últimos quatro classificados, só o Belenenses foi derrotado. Mas, convenhamos, defrontava o FC Porto e era, por isso, quem tinha tarefa mais complicada. A derrota deixa o campeão nacional de 1945-46 com a corda na garganta, sem horizontes cor-de-rosa, antes cada vez mais invadidos pela penúria de cair no segundo escalão do futebol português. São nove os pontos de atraso, ou seja, metade dos que há para discutir. Embora tenha ganho, também o Leixões, pelos triunfos dos rivais, se mantém numa posição delicada. No acesso aos lugares europeus, nomeadamente o quinto, última posição para entrar na Liga Europa, o Vitória de Guimarães (com uma vitória, 1-0, sobre a Académica salvaguardou a sua posição, ao passo que os estudantes reentraram, quando se esperava que alcançassem a manutenção rapidamente, no lote de equipas ainda em perigo de descida), acossado pelo União de Leiria - venceu, em casa, o Paços de Ferreira (2-1).

domingo, 28 de março de 2010

Análise: O número seis que dá conforto ao Benfica

Seis. O número de jornadas que separam o Benfica do título, cinco anos depois, uma conquista anunciada e próxima como nunca no passado recente. E o número de pontos que serve de almofada aos benfiquistas e trava o sonho do Sp.Braga em concretizar a sua melhor época de sempre com um inédito triunfo no campeonato nacional. Por tudo aquilo que fez nas vinte e três jornadas que se disputaram, pelo momento que vive, dificilmente o título fugirá ao Benfica. O jogo de ontem, considerado como sendo decisivo, poderá ter uma importância crucial. Será o jogo-chave se os encarnados conseguirem manter a distância alcançada, se aproveitarem a margem que têm, embora sem nunca poderem festejar por antecipação. O Benfica está próximo de ser o futuro campeão nacional, é incontornável. Contudo, terá de se manter em alerta máximo.

Ao Sp.Braga fica, após a derrota na Luz, uma consolação: mantém a vantagem no confronto directo com os encarnados. Pode não valer de muito, é certo, mas também poderá fazer toda a diferença. Em caso de empate pontual, os bracarenses saem por cima. As próximas seis jornadas, longas para o líder e um espaço demasiado diminuto para o perseguidor, terão de ser atípicas para que o Benfica ceda, pelo menos, duas derrotas. Tem jogos complicados, entre eles com o Sporting, em casa, e com o FC Porto, fora, mas não é crível que falhe num momento em que dispõe de todas as premissas para ser bem sucedido. Seria necessário, para além dos tropeções do líder, uma série de seis jogos verdadeiramente perfeitos por parte do Sp.Braga. Não é impossível, mas é improvável. No entanto, nenhum guerreiro baixa a guarda.

Benfica e Sp.Braga estão no topo por mérito próprio, não é ao acaso que discutem o título, são actualmente as duas melhores equipas nacionais. Está longe de ser uma surpresa, contudo o jogo de ontem fez questão de o deixar bem vincado. Mesmo não sendo um jogo de deslumbrar, teve grande emoção e intensidade, apostas dos treinadores, vontade de ganhar. Qualquer uma das equipas percebeu a importância que esta partida poderá ter nas contas finais do campeonato. O Benfica, favorito por jogar em casa, por ter mais recursos e por viver uma fase de extrema motivação, estaria sempre mais próximo da vitória. Percebeu-se desde o primeiro minuto. O Sp.Braga interiorizou que seria suicídio entrar na Luz com descaramento total, preferiu servir-se da sua grande força: a coesão defensiva.

O golo do Benfica surgiu num momento crucial. Marcar mesmo em cima do intervalo, no período de descontos, é um contributo fundamental para tranquilizar a equipa para a segunda parte e, com isso, obrigar o adversário a apostar no recomeço. A importância do jogo, sempre com emoções fortes, eleva o relevo que o tento de Luisão teve. O Benfica partiu para a segunda parte mais confiante, com um golo de vantagem, teve oportunidades para ficar mais confortável no marcador. Seria uma machadada final. Não o conseguiu. Domingos Paciência, primeiro obrigado pela lesão de Mossoró que o fez lançar Luís Aguiar, depois por sua opção jogando Matheus e Rafael Bastos como trunfos em substituição dos apagados Rentería e Hugo Viana - a equipa sentiu a falta do criativo -, modificou a forma de jogar do Sp.Braga.

Com as alterações efectuadas, o jogo da equipa bracarense melhorou de forma substancial: tirou a posse de bola ao Benfica, conseguiu avançar no terreno, obrigou os encarnados a concentração máxima para impedir que a resposta ganhasse forma. Também Jorge Jesus leu bem o jogo. Lançou Aimar, depois Rúben Amorim: duas apostas para voltar a ter bola, deixar o jogo em ritmo baixo, diminuir a intensidade e não dar espaços para os bracarenses explorarem a rapidez de Alan e Matheus. Tanto Domingos como Jesus estiveram bem nas alterações e na forma como, cada um com os seus interesses, fizeram entrar jogadores frescos. O Sp.Braga,porém, apesar da subida registada, mantinha as dificuldades para chegar com perigo à baliza de Quim. Não virou a cara à luta, deixou uma boa réplica, deu seguimento ao campeonato que tem feito. Mas o Benfica já marcara. E, já se sabe, raramente deixa a vantagem fugir...


sábado, 27 de março de 2010

Benfica-Sp.Braga, 1-0 (crónica)

UM PASSO DE GIGANTE PARA O TÍTULO

O Benfica vive sedento de conquistar o título de campeão nacional. É algo que lhe foge desde 2005. Há cinco anos quebrou um jejum de mais de uma década mas faltou juntar-lhe brilhantismo. Era uma equipa pragmática: ganhou, aproveitando as oscilações dos rivais, mesmo tendo lapsos que um campeão não costuma cometer. Só festejou na última jornada. Contudo, o jogo com o Sporting foi decisivo. Primeiro contra segundo. Tal como agora. Em 2005, Luisão marcou, aos oitenta e quatro minutos, levou a Luz à loucura, deixou o Benfica com o título na mão. Restava confirmar. O central benfiquista ficaria para sempre marcado como o herói da conquista. Hoje, contra o Sp.Braga, voltou a sê-lo. O Benfica tem seis pontos de vantagem. E todas as condições para ser campeão.


Foi o jogo do título? Talvez, mas só os seis encontros que faltam darão a resposta. Dizer que o campeonato ficará decidido à vigésima quarta jornada será sempre arriscado. No entanto, ao vencer o Sp.Braga, o Benfica deu um passo fundamental. Dispõe de uma boa margem, é a equipa mais completa, possui argumentos que faltam aos minhotos, apostou as fichas todas para ser feliz nesta temporada enquanto o Sp.Braga está a superar-se a si próprio. Irão lutar até final, disso ninguém duvide. O Benfica está mais confortável e tem o caminho do título aberto, sim, mas terá que manter a mesma intensidade para chegar à glória. Sessenta mil adeptos, um estádio na ânsia de uma vitória, procurando cimentar a liderança. Jogo lutado, limites da adrenalina, vontade de qualquer um deles sair fortalecido. Oportunidade que não dá para desperdiçar.

Jogando em casa, respirando confiança num momento tão importante da temporada, o Benfica seria sempre favorito. Assumiu, por isso, o jogo, foi mais incisivo no ataque, fez circular a bola no meio-campo contrário. Não criou, no entanto, situações de golo. Faltava o clique que fizesse aquecer o jogo. Chegou, por fim, aos vinte e quatro minutos. Vindo do inimigo: Filipe Oliveira mediu mal um passe para o centro da defesa, Saviola, afinal titular, percebeu, ganhou a bola, mas faltou-lhe astúcia e foi bem travado por Eduardo. O guarda-redes agigantou-se, impediu a festa benfiquista, salvou a pele do colega. Havia respeito mútuo, era bem notório que nenhuma as equipas pretendia correr o risco de dar um passo em falso. Viria, depois, um cabeceamento de Cardozo, estorvado por Eduardo, para fora. O Benfica começava a apertar o cerco.

LUISÃO: DECISIVO, OUTRA VEZ!

Se o Sp.Braga se mantinha certinho na defesa, salvaguardando a sua imagem de marca, também denotava dificuldades em conseguir partir para o ataque. Começou por tentar explorar as faixas laterais, com a velocidade de Paulo César e Alan, mas faltava-lhe Hugo Viana. Aos poucos, os bracarenses conseguiram soltar-se das amarras procurando alcançar a baliza de Quim. Mantinha-se o nulo. Pensou-se que o jogo iria empatado para o intervalo. Não foi. Culpa de Luisão. O Benfica marcou um canto curto, Carlos Martins cruzou para a área, Javi García desviou e Luisão, aproveitando o ressalto no meio de tantos adversários, rematou certeiro. Erupção do vulcão da Luz, o reaparecimento do central nos momentos decisivos. Só depois viria o descanso. Com os encarnados em vantagem. Afinal, havia sido quem mais procurara o golo.

Um mal nunca vem só. É uma frase que se repete. E faz sentido. O Sp.Braga acabara a primeira parte com um golo sofrido, poucos minutos depois de ter recomeçado a partida ficaria sem Mossoró. O médio, talvez a estrela maior desta equipa bracarense que vale sobretudo pelo colectivo, lesionou-se com gravidade. Domingos Paciência lançou Luís Aguiar. Por esta altura, o Benfica vivia a sua melhor fase. Anunciava-se o segundo golo. Di María e Cardozo, com incursões de Maxi Pereira pela direita, tiveram a oportunidade de trazer a tranquilidade. Ao fim de dez minutos de puro domínio benfiquista, Domingos sentiu necessidade de voltar a agir. Lançou Matheus e Rafael Bastos, fez sair Rentería e Hugo Viana, a equipa melhorou muito: arriscou mais no ataque, trocou a bola em zonas adiantadas do terreno, procurou o empate.

JOGO ABERTO, INTENSO, LUTADO

O Sp.Braga crescera, tentara contrariar o domínio do Benfica, queria ser feliz. É legítimo para uma equipa que tão boa conta tem dado de si ao longo de todo o campeonato. Jorge Jesus percebeu que os minhotos haviam subido com as alterações, soltando-se para espaços ofensivos, quis recompor o seu meio-campo. Lançou Aimar, por isso. O mago entrou bem, disposto a pautar o futebol encarnado, colocando-o ao seu ritmo, aproveitando espaços para desmarcações de ruptura. O jogo estava mais aberto, mais vivo, mais intenso. O Sp.Braga dispôs, aos setenta minutos, da melhor oportundidade: Moisés desperdiçou, num livre de Luís Aguiar, cabeceando ao lado. Era nas bolas paradas e nas transições que o Sp.Braga dava mostras de estar mais afoito. Mas já se sabe quão forte é o Benfica em vantagem.

Homens de barba rija de um lado e do outro, lutando até final, suando por uma vitória. Ninguém ousou virar a cara à luta. O Benfica já tinha o ouro, não poderia querer ser demasiadamente guloso, precisava, isso sim, de guardar o que conquistara. Jesus recorreu a Rúben Amorim para impedir que os bracarenses ainda tentassem ganhar novo alento. A partida abrira, um golo poderia ter acontecido em qualquer das balizas:
Cardozo dispôs de oportunidades, Di María deu sempre um toque a mais e a equipa não concretizou; Paulo César teve uma soberana ocasião a um quarto de hora do final. No entanto, o Benfica mantinha a vantagem e tinha o relógio consigo. Tem mais força, estava por cima, foi consistente e rentabilizou o golo de Luisão. Ganhou. Com sacrifício. E, assim, deu um passo fundamental rumo ao título.

A época de metamorfoses do Sporting

A época do Sporting tem diferentes metamorfoses. É má, na globalidade, já que nesta fase nada resta que faça os leões sonharem com sucesso: precocemente esquecidos na luta pelo título, onde têm sido o principal concorrente do FC Porto nos últimos anos, caídos sem glória da Taça de Portugal e da Taça da Liga, aos pés dos maiores rivais, eliminados nos oitavos-de-final da Liga Europa. O mesmo é dizer, pois, que o Sporting terminará esta temporada sem nada de palpável. No entanto, apesar disso, houve períodos positivos e alguns em que a equipa atingiu até um nível de algum brilhantismo. Não é difiícil perceber que os leões revelaram demasiada irregularidade para uma equipa grande. Foram frágeis, sim, mas tiveram capacidade para sair da crise. Contudo, não fizeram o necessário para evitar recaídas. É também o preço por um mau planeamento, com pouca ambição e quase nenhum investimento.

O Sporting começou a temporada envolto num pesadelo. A chegada de Carlos Carvalhal teve efeitos motivacionais, fez com que os jogadores reagissem, deixassem a passividade que os havia invadido. Por essa altura, porém, já os leões estavam longe do título. Esperava-se, acima de tudo, uma melhoria no futebol apresentado, um requisito indispensável para atacar as provas que ainda poderiam ser conquistadas. Sete jogos sem perder foram um bálsamo para os sportinguistas. A equipa estava claramente numa fase ascendente. Viviam o melhor período. Em Braga, todavia, perderam definitivamente a esperança de sonhar com o campeonato. Entraram, de novo, numa depressão: seguiram-se sete jogos sem vencer, crença de vencer alguma coisa internamente caídas como um baralho de cartas. Nesse período negro, ainda mais do que no início, o futuro parecia não trazer nada de bom.

Foi no pior período da temporada leonina que o Sporting reagiu verdadeiramente. Venceu o Everton, seguindo em frente na Liga Europa, tirou ao FC Porto a esperança de sonhar com o pentacampeonato. Duas vitórias por três-zero, inteiramente justas. É irónico, é paradoxal, é estranhíssimo. É futebol, acima de tudo. Onde andava aquela equipa? A pergunta foi repetida vezes sem conta. Era a emancipação sportinguista, o momento encontrado para dizer basta. Seguiu-se ainda mais uma vitória frente ao Belenenses, um empate ante o Atlético, jogando uma hora em Madrid com dez jogadores, e um regresso aos triunfos com o Vitória de Guimarães, suportada em vinte minutos infernais, com uma força atacante capaz de impressionar, uma raiva contida que se transformara numa enorme alegria em jogar e mostrar algo positivo. O regresso à dura realidade foi trazida pelo Atlético de Madrid.

Embora não tenha perdido nenhum dos jogos com os colchoneros, o Sporting, pelo facto de ter sofrido dois golos em casa que constrastam com o nulo da primeira mão, foi eliminado da Liga Europa. Terminou a época, ficou sem mais o que disputar, mesmo com a sensação de que poderia ter ido mais além na segunda competição internacional e entregou-se a um campeonato há muito perdido. A melhor fase da época, no seguimento de um ciclo absolutamente nefasto, foi abalada. A tremenda melhoria no futebol apresentado, agora com consistência, agressividade e lucidez, fora insuficiente para um brilharete internacional. Ontem, jogando para o campeonato, os leões tiveram um retrocesso. Perderam na Madeira, ante o Marítimo, por 3-2. O resultado é, contudo, algo lisonjeiro perante a superioridade manifestada. O Sporting voltou a ser a equipa do passado. Só ontem ou para o futuro?

A questão fica, para já, sem resposta. A derrota e má exibição ante os maritimistas poderá ter sido somente um reflexo da falta de soluções que o plantel tem. Carlos Carvalhal foi obrigado a improvisar, por não contar com jogadores fundamentais como João Moutinho, Miguel Veloso e... Izmailov e isso, obviamente, foi decisivo. Uma das explicações poderá residir aí. Ou, por outro lado, poderá ser um segmento da época de metamorfoses: os leões alternam o bom com o mau num curto espaço de tempo, são intermitentes e não existem projecções que resultem a longo prazo. O tempo encarregar-se-á de confirmar se foi uma excepção ou a imposição de uma nova regra. Para além do défice qualitativo existente, sendo que Pedro Mendes, sobretudo, e João Pereira conseguiram dar maior dinâmica ao plantel, existem problemas internos que abalam o grupo de trabalho.

O caso Sá Pinto/Liedson antecedeu a série de sete jogos sem vencer. A entrada de Costinha coincidiu com o melhor momento do Sporting nesta temporada. O conflito entre Izmailov e o Sporting, resultando na exclusão de um jogador com importância elevada na retoma da equipa e consolidação da filosofia de Carlos Carvalhal, embora o russo tenha sido convocado para o jogo com o Marítimo (viu o jogo da bancada), poderá ter sido mais um golpe numa estrutura que pretendia deixar de vez os fantasmas do passado. Coincidência ou não, o Sporting perdeu. Acresce ainda que, à medida que a época se aproxima do final, ganham maior relevo os rumores sobre a próxima temporada. Essencialmente sobre o treinador: Carvalhal não deverá continuar, muito dificilmente lhe será proposta a renovação, confirma-se que tem um prazo. Tudo isso se reflecte no relvado.

Benfica-Sp.Braga (antevisão)

Vertiginosa contagem decrescente, duelo ansiado, tira-teimas fundamental, duro teste que deve ser superado por quem mais quer ser o próximo campeão português. Benfica e Sp.Braga, primeiro e segundo, no topo desde o início, agora com três pontos a separá-los, têm que provar que são mesmo bons. Defrontam-se na Luz, um horizonte com vinte e um pontos em disputa. É uma oportunidade única para os benfiquistas ganharem espaço de manobra, encaminharem o título, assim aproximarem uma conquista há muito desejada. Em caso de vitória, mesmo ainda tendo que jogar com o Sporting e no Dragão, o Benfica dará um passo de gigante rumo ao triunfo final no campeonato. Para o Sp.Braga é a História, quebrar a tradição, o sonho de chegar mais alto do que nunca. Uma vitória minhota aumentará o despique, trará uma ponta final empolgante, com todos os condimentos, sem possibilidades para falhar. É o jogo do título.

O Benfica tem apenas uma derrota no campeonato. Sofreu-a em Braga, à nona jornada. Os minhotos conseguiram encontrar o antídoto para travar a veia goleadora encarnada, vivendo o seu ponto mais alto, e alcançaram uma vitória. Foi uma prova cabal de força dos minhotos, um sinal evidente, até para os mais cépticos, de que nada acontecia por acaso. Aquela equipa vencera em Alvalade e derrotara o FC Porto, tivera sete vitórias consecutivas, um registo que o Rio Ave parou com um empate, mas respondeu da melhor forma: vencendo o Benfica. Ganharam uma nova relevância e, aí sim, foram colocados na órbita do título. Por que não? Os motivos são mais do que suficientes. Actualmente, já com os dragões de fora da corrida, Benfica e Sp.Braga são os grandes rivais. A época dos minhotos tem sido pautada por enorme regularidade. Há, contudo, um fantasma: a goleada sofrida no Dragão pode paira nas mentes.

Uma equipa com uma capacidade atacante impressionante, ultrapassada a barreira dos cem golos nesta temporada, convincente e recheada de brilhantismo nalguns momentos da época. E outra que é pragmática, consistente, faz da sua defesa a principal arma, monta uma fortaleza que impede a passagem do adversário e sente que poderá estar muito próxima de deixar um marco no historial do futebol português. Benfica e Sp.Braga correm em busca da glória: uns tentando recuperar a grandeza e o domínio que as últimas duas décadas lhes roubaram, outros com a ambição de chegar mais longe e percebendo que o título não é, afinal, uma simples ilusão de início de época. Nenhum deles embandeira em arco, ambos sabem que o rival é forte e pode aproveitar um deslize. É um mérito de ambos. Souberam adaptar-se às exigências, às fases da temporada, aos perigos que cada opositor colocou no caminho.

A consistência defensiva do Sp.Braga foi abalada frente ao FC Porto. No Dragão, a 21 de Fevereiro, os bracarenses sofreram cinco golos do campeão, desceram do pedestal em que se encontravam, viram-se ultrapassados pelo Benfica - na classificação, sobretudo, e como melhor defesa. A equipa ressente-se da ausência de Vandinho, o suporte de toda a estrutura. Frente ao Benfica, a equipa que maior caudal ofensivo apresenta, Domingos Paciência poderia equacionar mudar a estratégia, procurar povoar um pouco mais o sector médio, mas a má experiência ante o FC Porto desaconselha a fazê-lo. É, porém, no Benfica que reside uma enorme incógnita: Saviola está em dúvida, não se sabe se terá as condições ideais para ser utilizado e aumentam as interrogação porque Jorge Jesus não divulgou os convocados. Existem alternativas, sim, mas El Conejo tem sido fundamental. Às 20h15, Portugal estará de olho na Luz.

EQUIPAS PROVÁVEIS


BENFICA: Quim; Maxi Pereira, Luisão, David Luiz e Fábio Coentrão; Javi García, Ramires, Aimar e Di María; Saviola e Cardozo

SP.BRAGA: Eduardo; Filipe Oliveira, Moisés, Rodríguez e Evaldo; Andrés Madrid, Hugo Viana e Mossoró; Alan, Paulo César e Meyong

sexta-feira, 26 de março de 2010

O complexo caso entre o Sporting e Izmailov

O que pensaria, leitor, se poucas horas antes de um jogo decisivo, sem que nada o fizesse prever, o treinador tenha riscado da convocatória um dos jogadores mais importantes da equipa? Lesão, por certo. Foi precisamente esse o pensamento dos adeptos sportinguistas, numa altura em que os leões estavam em contagem decrescente para uma partida fulcral, com a época em jogo, ante o Atlético de Madrid, Izmailov deixou de estar entre os disponíveis. Entendeu-se que poderia ter sido alguma lesão de última hora, seria verosímil, mas ficou alguma estranheza. No final do jogo, que os leões acabaram por empatar e deixar escapar o acesso aos quartos-de-final da Liga Europa, Carlos Carvalhal não confimou a indisponibilidade física de Izmailov e remeteu explicações para a estrutura directiva do clube. Algo se haveria passado. Não fora somente uma indesejada lesão.

Na sala de Imprensa do Sporting, após a promessa de Carvalhal, surgiu Costinha, homem-forte do futebol leonino, acompanhado pelo médico Gomes Pereira. O director-desportivo foi peremptório, não se escondeu e deixou bem claro que Izmailov não jogara por sua ordem. O russo não tinha, confirmou Gomes Pereira, qualquer lesão que o impedisse de participar na partida. A que se deveu, então, a forte tomada de posição de Costinha? Marat Izmailov, tantas vezes apontado como exemplo de jogador abnegado e uma imagem perfeita de quem coloca o colectivo acima de tudo o resto, teria afirmado que não dispunha de total disponibilidade física para dar o seu contributo à equipa. Não seria benéfico, dissera. Costinha entendeu essa vontade como uma recusa de jogar. Quis deixar bem patente que o Sporting exige grande sacrifício aos seus jogadores.

O caso é complexo. Após o jogo com o Atlético e a declaração feita perante os jornalistas, em que Costinha deixou patente que teria existido falta de empenho do médio russo e, por isso, ordenou que fosse banido da lista de convocados por Carlos Carvalhal - sendo certo que seria titular -, aumentou a instabilidade entre o Sporting e Izmailov. Costinha afirmou que o jogador não atendera o telefone e nem sabia, sequer, onde se encontrava. Não foi instaurado, contudo, qualquer processo disciplinar interno, algo que seria normal pelas circunstâncias. Também por aí se percebe que havia algo escondido, nem todos os contornos haviam sido tornados públicos, a história estava mal contada. O médio russo defendeu-se, afirmou que jogara sob o efeito de injecções. Gomes Pereira desmentiu novamente, assegurando que nunca o estado físico do jogador fora colocado em causa.

De acordo com os pormenores hoje revelados, no dia 18 de Março, depois de se ter mostrado indisponível para participar no embate com o Atlético de Madrid, Izmailov terá rumado a Moscovo. Maurício do Vale, responsável pela comunicação do clube leonino, já garantiu que o Sporting irá instaurar um processo ao internacional russo para apurar a veracidade dos factos. A viagem de Izmailov, caso se confirme, constitui uma grave infracção ao regulamento interno, já que o jogador ausentou-se sem a concordância do Sporting e, mais do que isso, garantira que estivera em reunião no consulado da Rússia - algo que se junta a uma entrevista dada pelo moscovita ao jornal Sport-Express. Apesar disso, está convocado para o jogo ante o Marítimo (hoje, na Madeira, às 20h15). Resta perceber quais as repercurssões para o grupo. Tal como o caso Sá Pinto/Liedson surge num momento de retoma.

Quem está certo: Comissão Disciplinar ou Conselho de Justiça?

O caso do túnel da Luz, como se lhe convencionou chamar, irá marcar toda a época futebolística. Noticiados poucos momentos depois do final do clássico que o Benfica ganhou ao FC Porto, os incidentes ocorridos no túnel de acesso aos balneários resultaram nas expulsões de Hulk e Sapunaru. Seguiu-se a abertura de um inquérito para averiguar o que realmente terá acontecido e os dois jogadores portistas ficaram automaticamente suspensos, tal como prevê o regulamento disciplinar. A fase de instrução do processo, com todos os devidos passos, levou, até ser conhecida a envergadura das sanções, cerca de dois meses. Quando ficou a saber-se que Hulk ficaria fora dos relvados durante quatro meses e Sapunaru por meio ano, já o romeno rumara ao Rapid de Bucareste, uma solução encontrada pelos dragões para manter o lateral em actividade. Passou demasiado tempo.

Uma constatação factual: agredir um steward é mais grave do que agredir um colega de profissão ou um espectador. Não faz sentido, é certo. De acordo com a intepretação feita pela Comissão Disciplinar da Liga, os agentes de recinto desportivo, os stewards, são considerados intervenientes no jogo. Por isso se justificam penas severas - que vão de seis meses a três anos, contudo reduzidas para metade por terem existido provocações que estiveram na origem da violenta acção dos dragões. No entanto, quatro e seis meses parecem sanções desproporcionadas. Aliás, o próprio Ricardo Costa, presidente da Comissão Disciplinar, confessou existerem lacunas e discrepâncias no regulamento. Nas suas palavras, o organismo que lidera apenas cumpriu a lei. Não foi a Comissão Disciplinar quem o fez, esse poder está nas mãos dos clubes.

Traduzindo os meses em jogos oficiais, contabilizando as provas realizadas sob alçada da Liga ou da Federação Portuguesa de Futebol, Hulk teria de cumprir vinte e três jogos de suspensão. Convenhamos: é um número gigantesco, priva um profissional da sua acção, corresponde a quase um campeonato inteiro sem que possa jogar. Não se pretende, claro, desculpar os actos acontecidos no túnel da Luz: ao existirem provas testemunhais, indícios suficientes para a acusação, o jogador deve ser castigado pelos actos que cometeu, pois, sendo ou não provocado, nada justifica tais situações. Não poderia passar impune, obviamente. Mas vinte e três jogos parece, de facto, um número exagerado. É aqui que se encontra uma grande brecha no regulamento: ser o agredido fosse um colega de profissão, Hulk não poderia ser suspenso por mais de seis jogos.

Mais de um mês após ter conhecido os castigos aplicados em primeira instância pela Comissão Disciplinar, o FC Porto viu o seu recurso ser aceite, em certa medida, pelo Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol. A diferença entre as suspensões é abissal. Não é admissível que dois organismos com as mesmas competências, na posse dos mesmos documentos e dados, tenham tomado medidas tão díspares. A Comissão Disciplinar da Liga castigou os portistas em quatro e seis meses, o Conselho de Justiça reduziu para três e quatro jogos. Ou seja: conferiu aos stewards um estatuto totalmente diferente, equiparando-os ao público e, por isso, enquadrando as agressões numa moldura penal situada entre três e seis jogos. Quem tem razão? Os stewards são intervenientes no jogo ou têm a mesma importância que um adepto? Todos querem a resposta. Mas ninguém a parece encontrar.

PS:
O castigo imposto a Hulk prejudicou o FC Porto. É óbvio: o brasileiro é o jogador mais valioso do plantel, titular indiscutível e, inclusive, chegou a falar-se nalguma dependência que a equipa sentia do Incrível. Contudo, diferente será dizer que, com Hulk, a temporada dos portistas teria corrido melhor. Poderia ou não, nunca se saberá. Portanto, não é por aí que os dragões encontrarão uma justificação para terem falhado o objectivo de revalidar a conquista do campeonato. O que importa ressalvar é que, acima de tudo o resto, as decisões contraditórias e a enorme confusão gerada prejudicam Hulk.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Taça de Portugal: FC Porto com pé e meio no Jamor

COMENTÁRIO

Um jogo difícil, de carga intensificada pela final perdida para o Benfica, um ponto marcante na época titubeante, importância máxima na Taça de Portugal para salvar a honra do FC Porto nesta temporada. Falhado o campeonato, caído sem glória da Liga dos Campeões, perdendo de forma concludente a Taça da Liga, só resta aos portistas revalidarem a vitória na segunda prova nacional. É curto para um clube que se habituou a conquistas prolongadas no passado recente, tem sido dominadora internamente, mas serve de consolação. É, além disso, a oportunidade para o FC Porto ficar com algo de palpável numa temporada negativa. Impunha-se uma resposta forte. E uma vitória. O Rio Ave é um opositor com qualidade, joga bem, olhos nos olhos, poderia aproveitar a ansiedade contrária. O dragão reagiu bem. Ganhou, deu um passo fundamental.

Sem Hulk, sem Varela, sem Mariano e, agora, sem Rodríguez. Ou, resumindo tudo isso, um FC Porto sem extremos. Jesualdo Ferreira, no meio de todas as dificuldades que têm sido colocadas no caminho azul, foi obrigado a inovar. Deixou o seu 4x3x3, o esquema que sempre guiou os dragões desde que o professor assumiu o comando, optou por um 4x1x4x1: linha defensiva com Fucile no lugar de Miguel Lopes, junção de Guarín a Raúl Meireles, Rúben Micael e Belluschi, um quarteto de apoio a Falcao. A opção de Jesualdo deu resultado. O Rio Ave entrou com força, obrigou Beto a aplicar-se, mostrou estar disposto a disputar o jogo. Conseguiu o FC Porto reequilibrar, superiorizar-se e marcou cedo, aos vinte minutos, por Rúben Micael. Foi a estreia do madeirense a marcar com a camisola portista. O dragão parecia recomposto do Algarve.

Após chegar à vantagem, porém, o FC Porto baixou a intensidade. O Rio Ave tem mérito: Carlos Brito, quando percebeu que as faixas laterais haviam sido tomadas pelos portistas, fez com que Chidi e Bruno Gama contribuíssem para uma ajuda preciosa à sua defesa. Antes do intervalo, os vila-condenses chegaram ao empate. Bola no ataque, domínio de Vítor Gomes entre os centrais do FC Porto e remate colocado de Bruno Moraes, de regresso frente ao seu clube, bateu Beto. Se tantas vezes falhou noutros jogos, com demasiadas oportunidades falhadas, desta feita os dragões foram eficazes e tiveram bom aproveitamento: o jogo continuava enrolado, com o FC Porto por cima de um Rio Ave expectante, Raúl Meireles desbloqueou com um bom golo. Guarín abriu para Rúben Micael, o madeirense ofereceu o tento. Tudo simples, tudo certo.

Carlos Brito arriscou na procura de conseguir um golo capaz de deixar a eliminatória em aberto para o jogo do Dragão: lançou Bruno Fogaça e Nélson Oliveira, logo após veio Sidnei. Contudo, o
segundo golo do FC Porto batera com estrondo no Rio Ave e animicamente os vila-condenses sofreram uma quebra irreversível, nunca mais tendo capacidade para criar perigo para a baliza de Beto. Aproveitando a situação, deixando a pele de vítima para ser o explorador das debilidades alheias, os portistas alcançaram o terceiro golo. O que lhes permite encarar a segunda mão desta eliminatória com confiança. Entrado há instantes para extremo, Miguel Lopes cruzou para Rúben Micael, de novo ele, assistir Fredy Guarín. O colombiano é um mal-amado no FC Porto, mas há que dar mérito: esteve, directa ou indirectamente, nos três golos. Tal como Rúben.

quarta-feira, 24 de março de 2010

O regresso ao túnel e a um futebol sem rei nem roque

O futebol português é uma verdadeira Caixa de Pandora. Surpreende a cada momento, alastra o espanto, faz com que os adeptos se interroguem sobre o seu real valor. Um dos principais problemas estruturais do nosso futebol passa, necessariamente, pela sua justiça. O túnel da Luz, nas bocas do Mundo desde Dezembro, aquando do Benfica-FC Porto, um caso que ganhou proporções gigantescas, é um exemplo perfeito do mau funcionamento da justiça desportiva em Portugal. Na celeridade e, mais importante do que tudo, na aplicação dos regulamentos. Como resquícios dos incidentes ocorridos no final do clássico entre águias e dragões, após terem sido provadas as agressões a stewards, Hulk e Sapunaru foram castigados, ficando, respectivamente, quatro e seis meses fora dos relvados nas competições internas. Nada de novo até aqui.

Na justificação apresentada para as sanções aplicadas, Ricardo Costa, presidente da Comissão Disciplinar da Liga, órgão responsável pelas medidas, referiu que os dois jogadores do FC Porto haviam agredido agentes de recinto desportivo, incorrendo por isso numa moldura penal situada entre seis meses e três anos de suspensão. No entanto, como as provocações dos membros da empresa de segurança (Prosegur) contratada pelo Benfica tinham ficado provadas, a pena diminuiu para metade, ou seja, de três meses a ano e meio. Assim se explica a razão para Hulk e Sapunaru terem sido punidos com tais sanções. Levanta-se, contudo, uma questão fundamental: serão os stewards intervenientes no jogo, tal como entendeu a Comissão Disciplinar? O FC Porto recorreu para o Conselho de Justiça da FPF, afirmando que não poderão ser assim considerados.

A primeira decisão de castigar os jogadores portistas fora conhecida a 19 de Fevereiro. Mais de um mês depois, o Conselho de Justiça decidiu alterar as penas aplicadas aos dois jogadores portistas... de forma drástica. Os castigos de Hulk e Sapunaru, inicialmente de quatro e seis meses, foram reduzidos para três e quatro... jogos - desde que foram suspensos preventivamente, o FC Porto realizou dezoito partidas oficiais, exceptuando a Liga dos Campeões, onde os jogadores, como aconteceu com Hulk frente ao Arsenal, poderiam ser utilizados. De acordo com o que tem sido veiculado, a decisão assentou num facto essencial: a forma como ambos os organismos interpretaram os regulamentos e, consequentemente, o estatuto que atribuíram os stewards. De acordo com um comunicado do FC Porto, o Conselho de Justiça entende que os agentes da segurança são considerados público, não intervenientes.

O que mais ressalta de tudo isto é a tamanha disparidade entre as decisões tomadas. É brutal reduzir de quatro e seis meses para três e quatro jogos. Num efeito bola de neve, após o Conselho de Justiça reprovar as medidas aplicadas em primeira instância pela Comissão Disciplinar, Hermínio Loureiro renunciou ao cargo de presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional. Hermínio já anunciara que não se recandidataria a um novo mandato, abandonando a presidência em Junho. No entanto, a tomada de posição por parte do Conselho de Justiça da FPF levou a que o até hoje presidente da Liga apresentasse a sua demissão imediatamente. Justificada ou não, é somente a confirmação de que o futebol português vive necessitado de estruturas fortes, capazes de uma liderança forte, aplicando de forma célere e indubitável os regulamentos. A polémica, essa, continua dentro de momentos!...

Claques: o negro reverso da medalha

As claques são importantíssimas num jogo de futebol: pela forma como apoiam, dão cor ao espectáculo nas bancadas, impelindo uma força especial para o relvado, fundamental para os jogadores. Fazem uma cobrança elevada e, por isso, contribuem para que a equipa seja obrigada a dar sempre o seu melhor, sem contemplações para falhanços. Mas, como em tudo, há o reverso da medalha. Um lado escuro, violento, de fanatismo levado ao extremo, ultrapassando os limites da razão, que faz entrar num verdadeiro clima terror, algo que funciona para afastar o público dos estádios. Deverão existir opinião contrárias, amores próprios e adversários. Não inimigos que sejam motivo de ódio e devam abatidos a qualquer custo. Os troféus conquistam-se dentro das quatro linhas. Nunca do lado de fora. A segurança é essencial para o adepto.

Num curto espaço de tempo, em Alvalade e no Algarve, houve conflitos motivados por claques. No jogo de quinta-feira entre o Sporting e o Atlético de Madrid, adeptos de ambos os clubes envolveram-se em confrontos numa chuva de pedras e tochas, obrigando a polícia a agir com tiros para o ar. Resultado: dez agentes da PSP, pelo menos, ficaram feridos. O mote havia sido dado, inexplicavelmente, por Miguel Salema Garção, team-manager dos leões: o Atlético deve ser recebido com hostilidade. Não se pretende, obviamente, atribuir todas as culpas do que aconteceu ao dirigente sportinguista. Contudo, deveria - ainda para mais em alguém que ocupa uma posição importante - ter tido maior prudência nas afirmações. A ideia terá passado por uma pressão constante ao adversário durante os noventa minutos. Nunca antes ou depois.

Não é, todavia, a primeira vez que um grupo organizado de adeptos do Atlético de Madrid cria problemas em Portugal. Na temporada anterior, aquando da visita ao Dragão, para a segunda mão dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões, os ultras do Atlético apedrejaram um autocarro de adeptos portistas, desencadeando confrontos entre portugueses e espanhóis. Num clima de pânico de quem nada percebia o que ali se passava, as forças policiais, com maior ou menor dificuldade, conseguiram resolver a situação. No entanto, tal como agora em Alvalade, apenas o fizeram por reacção. Não se haviam prevenido de forma conveniente, conseguindo ter controlo sob as tentativas (porque as há sempre...) de provocar o rival. Feridos, detidos, um cenário de guerra que em nada se enquadra. É isso que queremos no futebol?

Em Portugal, a rivalidade entre portistas e benfiquistas ultrapassa qualquer outra. No Algarve, para a final da Taça da Liga, a GNR de Faro preparou o maior acompanhamento policial de que há memória. A estratégia estava bem delineada, tudo pronto para que as claques não se cruzassem, não havendo por isso hipótese de conflitualidade. No entanto, o plano falhou. Os adeptos do FC Porto chegaram trazendo um rastilho pronto a explodir, insultando os rivais, lançando pedras, levando a polícia a recorrer a tiros de borracha. Já antes, no caminho para o Algarve, tinham existido distúrbios entre adeptos de ambos os clubes. A festa da final ficou, à partida, manchada pela violência, e continuou já no interior do estádio com o lançamento de tochas e cadeiras para o relvado. Tudo por puro divertimento, numa lógica de lei da selva.

Para erradicar definitivamente estas situações do futebol é necessária uma tomada de posição forte por parte dos organismos directivos. Não basta condenar ou repudiar o que se passou, importa essencialmente impedir que se repitam e alastrem. A tal importância que as claques têm para o apoio às suas equipas, o lado positivo, fica afundado em tão graves incidentes. Pior do que isso parece ser o facto de não existirem, ainda, medidas preventivas capazes de pôr cobro a estes actos de vandalismo, sem que isso coloque em causa o bem-estar de quem se desloca ao estádio para ver um jogo de futebol e, naturalmente, dar o seu apoio ao clube. Terão, também, de ser os dirigentes a dar o exemplo, mostrando cordialidade, respeito e fair-play para com os adversários. Para que o futebol seja um espectáculo. Não uma guerra.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Análise: Benfica superior ao FC Porto em toda a linha

Um duelo entre FC Porto e Benfica não pode nunca ser considerado como um simples jogo de futebol. É muito mais do que isso, é uma disputa pertinaz, sem tréguas, onde os adversários se transformam em verdadeiros inimigos de guerra. Por si só, um embate entre águias e dragões é capaz de fazer faísca. O último capítulo da saga, em Dezembro, fez aumentar esse rastilho, a rivalidade, o ódio pelo rival. Daí que esta final da Taça da Liga não pudesse, em momento algum, ser apenas o jogo decisivo de uma competição secundária, em que nenhum dos clubes apostou realmente em vencer - as circustâncias da temporada, contudo, obrigavam o FC Porto a encarar o jogo como sendo de maior relevância. David Luiz dissera, na antevisão da final, que o sucesso estaria destinado à equipa que melhor soubesse controlar as emoções.

A frase do central dos encarnados pode ter passado em claro, afundada por tudo e mais alguma coisa, mas comprovou-se. No Algarve, o Benfica mostrou ser melhor. Em todos os sentidos: tem um futebol mais consistente, maior organização no seu jogo, vive um período de euforia e está motivadíssimo. O FC Porto está mal, em crise, os resultados não aparecem, a equipa parece impotente para fazer frentes aos rivais. Durante o jogo foram bem visíveis as marcas da temporada. Os portistas não tiveram capacidade para se abstrair do que de mau têm feito e partir para uma exibição confiante. Seria, aliás, quase irreal que assim fosse, conhecendo-se os antagónicos estados de alma em que vive cada um dos clubes. O FC Porto não soube controlar a ansiedade, a pressão de ter de vencer e mostrar que ainda se mantém vivo.

Bruno Alves foi a imagem perfeita da equipa azul: descontrolado, ríspido, com os nervos à flor da pele, tentando impedir o mau desfecho mas sem eficácia. O capitão é um jogador de grande valia, actua nos limites, gosta de marcar posição. Frente ao Benfica exagerou. Nas provocações verbais, nos toques aos adversários já depois de ter tirado a bola, nas constantes tentativas de criar escaramuças no relvado, sendo demasiado hostil. Ao não conseguir ter um bom controlo emocional, a tal chave do jogo, o FC Porto nunca soube contrariar o facto de, actualmente, ser inferior aos encarnados. Não teve estofo mental para o interiorizar e se superar a si próprio. Se é certo que os dragões ainda conseguiram reagir à abissal gaffe de Nuno, a partir do momento em que o Benfica fez por justificar a vantagem não mais se acercaram da baliza de Quim.

Há, ainda, outro campo em que o Benfica leva vantagem sobre o FC Porto. Ou melhor: Jorge Jesus ganha a Jesualdo Ferreira. Ao longo da final, com o resultado a seu favor e já com o pensamento no jogo com o Sp.Braga - para o campeonato, a prova que os encarnados declararam como prioritária -, o treinador benfiquista pôde lançar Saviola, Ramires e Cardozo - e deixar Javi García como suplente durante todo o encontro. Jogadores fundamentais na equipa, mas que têm muitos jogos realizados e, naturalmente, sofrem de algum cansaço que se acumula puderam ser poupados. Sem que a equipa tenha baixado substancialmente o seu rendimento, ou seja obrigada a ter de mudar a sua filosofia de jogo por isso, Jesus lançou Airton, Éder Luís e Alan Kardec, todos contratados na reabertura do mercado. E do outro lado? Poucas soluções!

Com o passar do tempo, necessitado de refrescar a equipa e torná-la mais agressiva para procurar ainda colocar em sobressalto o adversário, Jesualdo Ferreira viu-se obrigado a agir. Lançou Fucile e Valeri ao intervalo: o primeiro, por ser mais ofensivo do que Miguel Lopes, para dar maior dinamismo e, ao mesmo tempo, impedir as subidas de Fábio Coentrão; o outro para conferir criatividade ao meio-campo. A aposta em Valeri, um jogador raramente utilizado nesta temporada, revelou-se um verdadeiro fracasso. Mais tarde, mantendo-se ainda alguma esperança num golo que reabrisse o jogo, lançou Orlando Sá, prescindindo de Belluschi. Sem efeitos, de novo. Quem mais havia para apostar? Tomás Costa ou Guarín, para além de Maicon e Beto. E no Benfica? Moreira, Sidnei, Javi García e Nuno Gomes. Sintomático.

domingo, 21 de março de 2010

Taça da Liga: Benfica-FC Porto, 3-0 (crónica)

O BENFICA SABE JOGAR E GANHAR!

Uma final é uma final. Diz-se que não são para jogar, mas para ganhar. Podem ser, por vezes, noventa minutos inesperados, isolados de tudo o resto, onde tudo é possível de acontecer. No entanto, é impossível dissociar do que tem sido a temporada de ambas as equipas. O FC Porto vive um dos seus mais complicados períodos da última década, o Benfica está em verdadeiro estado de graça que se prolonga a cada jogo. Os encarnados seriam favoritos, são quem melhor se tem apresentado em termos exibicionais e até emocionais. É fundamental controlar os sentimentos, não deixar que toldem a razão e sejam eles a decidir o que fazer. Este FC Porto, contudo, não o consegue: quer mudar, faltam-lhe forças e discernimento. O Benfica é melhor, indiscutivelmente. E provou-o.


Desde que foi derrotado pelo Sporting, em Alvalade, o FC Porto nunca mais se encontrou. Foi o segundo verdadeiro abalo que sofreu na época, o segundo jogo onde não puxou dos galões de um campeão, depois de ter ficado combalido pela derrota ante o Benfica deitou tudo a perder com os leões. Em momentos que estava bem, até com maior favoritismo para vencer, acabou derrotado de forma concludente. Passou, então, a imperar entre os portistas uma espécie de Lei de Murphy: se alguma coisa pode dar para o torto, tudo virá por acréscimo, pequenos pormenores serão fatais. Antes do jogo com o Benfica, muito mais do que uma Taça da Liga em disputa, sobretudo para os azuis, ansiosos por mostrar que a euforia do velho inimigo pode ser quebrada, Jesualdo Ferreira ficou sem Varela. E já sabia que não tinha Mariano.

Marcar um golo cedo numa final é meio caminho andado para conseguir um jogo tranquilo e colocar uma mão sobre o troféu. O Benfica está motivado, vive um permanente estado de graça, tem tudo para quebrar o ciclo sem vitórias no campeonato e conseguir recuperar o estatuto de outrora na Europa. No FC Porto há uma vontade de querer fazer melhor, de terminar a época com brio, de ganhar as taças que ainda tem em jogo. O futebol, contudo, necessita de uma mente forte e de grande auto-estima. Neste momento, os dragões, por mais que queiram mudar o seu destino, não têm essa faculdade. O Benfica marcou cedo. Aos nove minutos. Rúben Amorim rematou de longe, rasteiro e seco, a bola foi ter com Nuno Espírito Santo, o guarda-redes deu um frango descomunal. Jesualdo encolheu os ombros: que fazer perante este destino?

BOA REACÇÃO... MAS ATACADA POR UM GOLO

Apesar das adversidades, o FC Porto reagiu bem. Já havia pertencido aos dragões a primeira oportunidade, num lance em que Quim negou as intenções de Cristian Rodríguez, mas o golo poderia ter terminado precocemente com a ambição portista em contrariar o Benfica. Os portistas, porém, tiveram capacidade para reequlibrar o jogo, conseguir jogar no meio-campo encarnado e fazerem circular a bola nas proximidades da baliza contrária. Aos vinte e três minutos, com carambolas entre Falcao e Fábio Coentrão, Quim foi obrigado a uma defesa felina. No entanto, pouco mais se viu dos dragões. Escasseavam ocasiões de golo iminente. Foi, sobretudo, a partir da meia-hora que o Benfica quis demonstrar que o seu tento não caíra do céu aos trambolhões. E chegou ao segundo golo num momento-chave: antes do descanso.

Mesmo sendo um guarda-redes experiente, o erro crasso no primeiro golo do Benfica deixou marcas profundas em Nuno. Tremeu, mostrou-se nervoso, não teve recursos para impedir que essa sua inquietação passasse para os seus colegas. Os jogadores encarnados perceberam-no. Nos últimos instantes da primeira parte, o Benfica dispôs de uma falta a cerca de trinta e cinco metros da baliza. Carlos Martins tem um pontapé potente, gosta de tentar a sua sorte, aumentou a confiança em ser feliz. E foi. Rematou forte, uma folha-seca, para o lado de Nuno, a bola entrou juntinho ao poste esquerdo da baliza portista. O golo da tranquilidade assegurado pelo Benfica, mais uma facada nas aspirações do FC Porto em tentar vencer. Aumentou a tensão entre os dragões, acentuou-se a luta desigual contra o rumo natural dos acontecimentos.

UM RUMO NATURAL QUE NÃO SE IMPEDE

E a lógica deste jogo ditava que o Benfica iria ganhar. Simplesmente porque é mais forte. Tem alternativas válidas, Jorge Jesus dá-se ao luxo de deixar Javi García, Ramires, Saviola e Cardozo de fora sem que a equipa sinta qualquer quebra. Os processos estão bem interiorizados, saem com enorme facilidade, o Benfica respira confiança. Ao invés, o FC Porto é uma equipa triste, lutadora mas impotente, sem soluções que dêem sangue novo à equipa e obriguem o adversário a repensar a estratégia. A perder por dois golos ao intervalo, Jesualdo Ferreira lançou Fucile, para procurar estancar as investidas ofensivas de Fábio Coentrão que haviam atormentado Miguel Lopes, e Valeri, em substituição de Rúben Micael, na procura de maior criatividade ao meio-campo azul. Foi inconsequente. O FC Porto não mais criou perigo para Quim.

Uma equipa desesperadamente à procura de sair para o ataque, jogando com o coração, pouco discernida e envolvendo-se em picardias constantes. Foi assim que o FC Porto se apresentou no Algarve. Não foi a primeira vez na temporada, é certo. O Benfica jogou com o tempo e com a ansiedade do adversário, não deu azo a que os dragões tentassem crescer na busca de um golo capaz de relançar o resultado. Há muito mérito nisso. Ciente de que tinha o jogo controlado, Jorge Jesus foi lançando as peças fundamentais que poupara: começou com Saviola, passou por Ramires e terminou com Cardozo. O Benfica terminou o jogo próximo da sua equipa-base, portanto. E fechou com chave de ouro, numa das poucas oportunidades da segunda parte: passa e repassa, Rúben Amorim picou a bola sobre Nuno, o poste encaminhou-a para o pé de Cardozo. Três-zero, resultado abrilhantado.

Taça da Liga: Benfica-FC Porto (antevisão)

O clássico de Dezembro marcou ambos: o Benfica deu uma prova de força e ganhou ainda maior fulgor, o FC Porto teve uma recaída na sua recuperação e nunca mais dispôs de recursos para afastar esse jogo de pairar na sua mente. Foi um momento decisivo da temporada. Agora, quatro meses depois, estão de novo frente-a-frente. Para uma final. A discussão de um título é sempre importante, mesmo não sendo o objectivo prioritário da época, aumenta a relevância do jogo por ser entre dois rivais, inimigos para sempre numa disputa sem tréguas. É curioso que seja ao FC Porto, talvez o rosto mais visível do desagrado pela criação desta Taça da Liga, que a vitória é mais importante. Por já estarem arredados da conquista do campeonato, o seu principal propósito, mas também por ter uma oportunidade única de igualar o Benfica nos títulos conquistados. Em caso de vitória azul, serão sessenta e seis para cada lado.

Contrariamente ao que acontecera em Dezembro, o FC Porto chega ao Algarve desfalcado. Jesualdo Ferreira há muito não conta com Ernesto Farías, perdeu Mariano González no último jogo, com a Académica, e soube que não mais contará com Silvestre Varela. O extremo português, um dos jogadores mais influentes nesta época dos dragões, fracturou o perónio e irá estar afastado dos relvados durante vários meses (tem o Mundial em risco). Problemas de sobra para o treinador portista, órfão de extremos, apenas com a compensação de Cristian Rodríguez estar a regressar à sua forma habitual, moralizado com o golo decisivo marcado em Coimbra. Assim, o professor poderá optar por um 4x4x2, juntando Belluschi ao sector médio - embora o argentino possa jogar como extremo. E há o regresso de Fernando. Essa é a melhor notícia para Jesualdo: a equipa sentiu, durante o período de ausência do brasileiro, um profundo abalo.

O Benfica está em estado de graça. Lidera o campeonato português, a sua candidatura ao título é mais forte do que nunca nos últimos anos, e está motivadíssimo pela vitória ante o Marselha, na última quinta-feira, que lhe garantiu o acesso aos quartos-de-final da Liga Europa. Passaram, porém, apenas setenta e duas horas desde esse triunfo categórico e tremendamente desgastante no Vélodrome. Junta-se a isso a contagem descrescente para um jogo de elevada importância, decisivo até, com o Sp.Braga no próximo sábado. Já se sabe que o objectivo dos encarnados é a conquista do campeonato e, por isso, a equipa terá de estar na máxima força para o duelo com os minhotos, uma concorrência incómoda pelo primeiro lugar. A Taça da Liga surge, portanto, no meio das duas provas mais importantes. O que fará Jorge Jesus? Fará descansar os jogadores que têm mais jogos e são fundamentais na manobra da equipa?

O mais crível é que o treinador benfiquista promova alguma rotatividade na equipa. Não quer isso dizer que o Benfica fique mais fraco, pois já foram dadas provas de que existem no plantel alternativas válidas. A baliza, à semelhança do que acontecerá no FC Porto, onde Nuno irá ser titular, deverá ser entregue a Júlio César, o guardião extra-campeonato. Também jogadores como Maxi Pereira, Javi García ou a dupla ofensiva Cardozo-Saviola poderão ceder os seus lugares, tendo em vista o calendário denso que o Benfica terá pela frente. Alan Kardec ganhou uma confiança descomunal com o golo vital marcado em Marselha e Jorge Jesus poderá canalizar essa motivação do brasileiro para o jogo com o FC Porto. Dúvidas para tirar a partir das 19h15. Jesus vive o melhor período da sua carreira e procura a primeira conquista, Jesualdo quererá sair do comando do FC Porto com todos os troféus internos no currículo. É um duelo à parte.

EQUIPAS PROVÁVEIS

BENFICA: Júlio César; Rúben Amorim, Luisão, David Luiz e Fábio Coentrão; Airton, Ramires, Di María e Aimar; Éder Luís e Alan Kardec

FC PORTO: Nuno; Fucile, Bruno Alves, Rolando e Álvaro Pereira; Fernando, Raúl Meireles, Rúben Micael e Belluschi; Rodríguez e Falcao

sábado, 20 de março de 2010

Uma final sem a devida promoção

A Taça da Liga não é, ainda, uma prova com impacto no futebol português. Está apenas no seu terceiro ano, é um processo embrionário, não há um clube que aposte verdadeiramente na sua conquista, até pelo facto de as contrapartidas desportivas e financeiras não serem aliciantes. Além do prestígio que não tem, a Taça da Liga, comparativamente com a Taça de Portugal, perde por não oferecer ao seu vencedor, ou até apenas finalista vencido, uma presença num lugar europeu. Os problemas regulamentares que têm surgido contribuem, também, para a existência desse desinteresse pela competição. A fraca aposta por parte dos clubes leva, então, a que os adeptos não se sintam atraídos a ir ao estádio. Cria-se uma relação de causa-efeito que justifica o fracasso que, até ao momento, a Taça da Liga tem sido.

Amanhã, pela terceira vez no Estádio do Algarve, joga-se a final da Taça da Liga. Sendo um jogo entre dois grandes rivais do futebol português, Benfica e FC Porto, a partida ganha maior destaque. Aos portistas, estreantes na final da competição, nunca este troféu terá importado tanto: para além de ter a oportunidade de bater o seu grande opositor, com o campeonato como uma miragem e eliminado da Liga dos Campeões, apenas sobram as Taças da Liga e de Portugal para os dragões anexarem ao seu historial. Poderá parecer uma enorme ironia que a conquista da prova seja importante para um clube que sempre se manifestou anti-Taça da Liga, assumindo publicamente que nunca esteve de acordo com a opção de Hermínio Loureiro em acrescentar uma competição ao calendário do futebol português.

No entanto, a Liga falhou na promoção do encontro de amanhã. Não teve capacidade para cativar público. A data e a hora do jogo - no Algarve num domingo à noite - levam a que poucos adeptos do FC Porto marquem presença nas bancadas. Essa é, pois, uma lacuna que não contribui para o espectáculo. Acresce ainda que não se ouviram protagonistas. Não faz sentido. Contrariamente às duas épocas anteriores, os treinadores rivais não se uniram para uma antevisão conjunta da partida: nas edições anteriores, Paulo Bento, então no Sporting, esteve ao lado de Carlos Carvalhal (V.Setúbal) e Quique Flores (Benfica). Não agora. Juntar o FC Porto e o Benfica, convenhamos, seria algo irreal, alimentado pelo clássico de Dezembro, um novo foco para aumentar o clima de hostilidade entre dois dos grandes nacionais. Mesmo assim...

Há ainda um silêncio que não se percebe por parte do FC Porto - embora a Liga já não tenha responsabilidade, pois os clubes são soberanos para decidir. De Jesualdo Ferreira ou de qualquer jogador nem uma palavra sobre a final da Taça da Liga. O clube deixa, por isso, os seus adeptos sem as informações que se impõem sobre o estado de uma equipa que não atravessa um bom momento. Estas medidas que poderão ser uma revolta contra um órgão de comunicação social ou um protesto para com alguma medida tomada pelos organismos que lideram o futebol nacional, apenas contribuem para que isolamento dos clubes em relação aos adeptos seja maior. É paradoxal. Não são os adeptos o suporte de uma equipa? Merecem, então, estar por dentro do que se passa. O futebol não sai beneficiado em nada. Há que mudar isso.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Benfica: apostar ou não na Liga Europa?

Um jogo poderoso, numa demonstração de classe e garra, essa capacidade que permite sofrer e fortalece para que seja possível dobrar as adversidades, deixou o Benfica apurado para os quartos-de-final da Liga Europa. Ou tudo isso resumido numa simples frase: este Benfica está empenhado em recuperar o estatuto de outrora. Os encarnados pretendem tornar-se novamente uma equipa temível e dominadora. Em Portugal, o Benfica é líder do campeonato, com o Sp.Braga como único concorrente na conquista do título de campeão nacional, já tendo os outros dois rivais demasiado longe, e tem uma ambição imensa de quebrar a hegemonia que o FC Porto conquistou nas últimas duas décadas. Esse é declaradamente o objectivo principal. Jorge Jesus foi bem explícito nas afirmações: se tiver de optar, escolherá ser campeão português. Será bom?

Por detrás disso há, contudo, outro propósito: a reabilitação no futebol europeu, recuperando o bom nome, intrometendo-se em batalhas que há muito haviam deixado de lhe pertencer. A recuperação na eliminatória com o Marselha, apagando um jogo em que foi manietado pelo adversário com uma exibição categórica, vencendo no difícil Vélodrome, é apenas o culminar de uma prestação convincente do Benfica na Liga Europa, prova recém-criada para substituir a Taça UEFA. As vitórias com o Everton, sobretudo no jogo da Luz, ganho por 5-0, naquela que terá sido a partida mais completa da equipa nesta temporada, são, também, destaques óbvios. No entanto, foi nos primeiros jogos das duas eliminatórias, com o Hertha de Berlim, na Alemanha, e com o Marselha, há duas semanas, que o Benfica ficou aquém do esperado.

Poderão, então, os benfiquistas ambicionar chegar longe nesta competição? Sim, sem dúvida. O sorteio, contudo, colocou o Liverpool como opositor nos quartos-de-final. Um adversário de peso, para sempre um gigante. Embora viva uma época intermitente, recheada de irregularidade e tenha sido enviado borda fora na fase de grupos da Liga dos Campeões. O reencontro com os reds traz boas memórias ao Benfica: em 2005-06, sob comando de Ronald Koeman, os encarnados ultrapassaram o então campeão europeu nos oitavos-de-final da liga milionária, com vitórias na Luz e, verdadeiramente épica, em Anfield Road. Foi esse o último grande momento do Benfica na Europa. Esta época, com Jorge Jesus, tem a oportunidade de recomeçar esse trilho. Sem o prestígio da Champions, mas no mesmo lugar onde ficou.

Apesar de estar na sua melhor temporada do século, o Benfica ainda nada de palpável conquistou. Os jogos que se seguem serão, por isso, absolutamente cruciais para o futuro da equipa. Um ciclo que começará já no próximo domingo. No Algarve, o Benfica defronta o FC Porto para procurar revalidar o único título conquistado no ano transacto: a Taça da Liga. Sendo um duelo desta envergadura, com tamanha rivalidade entre clubes, o jogo ganha uma maior relevância. Na semana seguinte, na Luz, jogará com o Sp.Braga uma partida importantíssima para a definição do campeonato. Virá, então, cinco dias depois, o primeiro embate do duelo com o Liverpool. O segundo estará no meio de uma deslocação à Figueira da Foz e de uma recepção ao... Sporting. Num curto espaço temporal, estará em jogo a época.

É fácil concluir, pois, que o Benfica irá jogar tudo em dois tabuleiros. A primazia é o campeonato. Porém, no subconsciente dos benfiquistas está o facto de terem uma oportunidade única para ultrapassar um grande clube europeu, um dos big four ingleses, e de, caso o venham a conseguir, ficarem com caminho aberto para a final de Hamburgo. Uma das vantagens do Benfica nesta temporada tem passado, indiscutivelmente, pelas alternativas existentes. Jorge Jesus tem a possibilidade de poupar jogadores com maior cansaço acumulado sem que isso afecte o rendimento da equipa. Para atacar o campeonato e a Liga Europa, alimentando a esperança num e mantendo-se vivo para um brilharete noutro, Jesus terá de fazer uma gestão perfeita do seu plantel. Apostar forte em ambas ou entender que a excessiva ambição poderá não dar bom resultado? Eis a questão!

Liga Europa: Fim de linha, leão!...

COMENTÁRIO

Jogando com dez durante uma hora, na casa do adversário, o nulo conseguido pelo Sporting, em Madrid, foi positivo. Permitia-lhe resolver a eliminatória em casa, onde se poderia tornar mais forte e discutir o jogo com as mesmas armas. Contudo, obviamente, não se trata, nem pouco mais ou menos, de um resultado confortável, pois, em contraste com as vantagens naturais de quem joga em casa, há o perigo de sofrer um golo que possa ser fatal na resolução final. O Atlético de Madrid não é nenhum papão, está em décimo no campeonato espanhol, mas é capaz do melhor e do pior num curto espaço, tanto consegue bater o Barcelona como logo de seguida escorrega frente ao Almería. O Sporting tinha motivos para acreditar, está no seu auge nesta temporada, a equipa respira confiança. Mas, atenção, eles têm um ataque invejável.

O Atlético de Madrid é uma equipa anárquica por natureza. Para além desse ataque poderoso, com Forlán, Simão e, sobretudo, Aguëro, os colchoneros têm uma defesa permeável, demasiadamente permeável para quem pretende ter sucesso. O Sporting, à última hora sem Marat Izmailov, um jogador fundamental na recuperação da equipa, teria de ser pressionante, incisivo no ataque para que fizesse tremer a zona defensiva do Atlético. Só assim, explorando até ao tutano o ponto fraco do rival, poderia ser bem sucedido. E assumir o jogo, sem receios, para mostrar que os espanhóis podem ser vencidos sem que isso seja algo sobrenatural. Porém, com uma defesa remendada: sem Tonel e Grimi, expulsos em Madrid, e com Daniel Carriço lesionado, jogaram Polga, Caneira e Pedro Silva. Segundas opções na ribalta para um jogo vital.

O ideal de o Sporting se assumir como empreendedor, assentando o seu jogo e tentando abrir brechas na defesa contrária, ficou pelo papel. Na prática, a equipa leonina foi obrigada a correr atrás do prejuízo, em jogo com dificuldades redobradas. Kun Aguëro, um craque com talento genuíno à solta em Alvalade, foi o responsável: marcou ao terceiro minuto, deixou os leões feridos e com a obrigação de ter de marcar dois golos para seguir em frente. Haveria pior início? Não, decerto. O Sporting demorou a reagir, precisou de explanar as suas capacidades, mas fê-lo com êxito. Saleiro encarou com Álvaro Domínguez e cruzou largo para o golo de Liedson. Uma sociedade perfeita, empate restabelecido. Era preciso mais, contudo. O Atlético estava bem, criando perigo, ameaçava com Aguëro, porém tremia na sua defesa. É um problema antigo.

Trinta e três minutos, exactamente meia-hora depois do primeiro golo, El Kun voltou a ser desmancha-prazeres: entrou na área leonina, finta para aqui e para ali, remate certeiro perante Rui Patrício. Nova desvantagem, de novo o Sporting necessitado de dois tentos, tarefa árdua, grande passo madrileno para a passagem. Mas ninguém pensou em desistir. Ainda havia tempo para tudo. Na última jogada antes do intervalo, Miguel Veloso cobrou um livre e, com um desvio subtil, Polga encostou para a baliza de De Gea. Empate alcançado. Outra vez. O Sporting regressou com força do descanso, viveu o seu melhor período, arriscou e teve oportunidades para ser feliz. Faltou-lhe aproveitamento, usou mais o coração do que a cabeça. O tempo passou, os leões sentiram uma quebra, as forças para ganhar foram diminuindo. O Atlético tivera um génio, agora tinha o relógio do seu lado...

quinta-feira, 18 de março de 2010

Liga Europa: A vingança do senhor Benfica!

COMENTÁRIO

Quem com ferros mata, com ferros morre. O Marselha lançou o veneno na Luz, impediu a festa do Benfica e, com um golo nos últimos instantes, deixou a eliminatória a seu favor. Merecera-o, sim, mas foi cruel para os encarnados. Custa sofrer um golo no final. Nada como responder na mesma moeda. No Vélodrome, num ambiente intimidante, o Benfica esteve a perder. A desvantagem durou pouco, contudo, conseguiu empatar de novo. Era, então, o tempo de servir a vingança aos franceses. Fria, tal como deve ser, destroçando qualquer tentativa de reacção, um golpe de misericórdia. Um golo no último minuto. E a passagem da eliminatória assegurada. Com sofrimento, com uma grande crença e com qualidade, o Benfica voltou a deixar o Marselha pelo caminho. Vinte anos depois. Com Alan Kardec no lugar de Vata.

Desvantagem na eliminatória, o grande inconveniente de ter sofrido um golo em casa, jogando fora, num estádio tradicionalmente complicado, a tarefa do Benfica não se afigurava nada fácil. Além disso, o Marselha provara no jogo da primeira mão ter muito valor, delineando uma estratégia capaz de suster o jogo encarnado e impor um ritmo que lhe permitiu servir os seus interesses. Pela primeira vez nesta temporada, o Benfica tremeu na Luz. Não quer isto dizer, porém, que estivesse algo perdido. Não, obviamente, até porque um golo que fosse servia para a equipa portuguesa seguir em frente. A primeira parte em Marselha foi prometedora, os encarnados tiveram oportunidades mas, estranhamente, revelaram-se perdulários. Mas estavam bem acima do que haviam feito na Luz. Era essa a filosofia que importava.

O tempo foi passando, o Benfica mantinha-se mais perigoso, já com um remate de Cardozo travado pelo poste e uma grande penalidade que passou em claro a Damir Skomina - tal como outra na segunda parte -, o relógio estava do lado do Marselha. Aos franceses bastava manter o jogo em banho-maria, ritmo baixo, longe da baliza de Mandanda, perigo bem afastado. Ao Benfica era imperial marcar para seguir em frente. Tentou, ameaçou, mas foi o Marselha a concretizar. Minuto setenta: bola na área encarnada, descoordenação defensiva, encosto de Niang para uma baliza carecida de Júlio César. Um novo obstáculo no caminho do Benfica, uma equipa talhada para dominar e pouco dada a reviravoltas. Nada de pânico, porém: um golo dava prolongamento, os encarnados estavam bem, tinham que aumentar a eficácia.

Passaram cinco minutos do golo de Niang, o centésimo dos marselheses nesta época, Maxi Pereira empatou. Tal como na Luz, foi o lateral, um extremo de origem, a aproveitar as oportunidades que os atacantes não tinham concretizado. Jorge Jesus, atento, percebeu que era necessário apostar: lançou Aimar, o mago, seguindo-se Alan Kardec. Foi decisivo. O jovem brasileiro entrou aos oitenta e seis minutos. Pablito Aimar cobrou um livre, a bola não foi devidamente afastada, carambola atrás de carambola, remate de Kardec para o fundo da baliza de Mandanda. Uma enorme festa em tons de vermelho, o finalizar de uma reviravolta épica, silenciamento total no Vélodrome, uma imagem perfeita de que não há estatísticas que não se abatam. É assim o jogo. Viram-se os feitiços, os pagamentos não se demoram.


quarta-feira, 17 de março de 2010

A fórmula de uma vitória brava do Inter

Organização defensiva intransponível, olhos bem fixos nos mais perigosos jogadores adversários, sentido de entreajuda, saídas rápidas para o ataque, com vários jogadores, servindo-se de uma brutal exibição de Wesley Sneijder. Assim, simples, jogando de acordo com as suas conveniências, se explica a fórmula do sucesso do Internazionale em Stamford Bridge, derrotando o Chelsea. Os italianos souberam jogar com a vantagem ganha na primeira mão. Não jogaram à italiana, contudo: os jogadores do Inter não se remeteram à defesa do resultado, curto e ao alcance de apenas um golo, Mourinho apostou no ataque, criou um tridente ofensivo com Pandev, Eto'o e Milito, o xadrez foi perfeito, surpreendeu Carlo Ancelotti, tirou a bola ao Chelsea. O Inter ganhou. Sofreu, a vitória ainda sabe melhor. Saiu ao som de olés, numa lição de Mourinho.

José Mourinho é um mestre na arte de lidar com a mente dos outros. Aproveitou-o contra o Chelsea, percebeu que era o adversário quem necessitava de procurar o golo para passar para a frente da eliminatória, era aos ingleses que interessava dominar o jogo e fazer uso de todo o dinamismo seu futebol. O Inter, apesar dos problemas recentes no campeonato, agora somente um ponto a mais do que Milan, tropeções internos improváveis, é uma equipa madura. Mourinho preparou o jogo ao mais pequeno pormenor, não deixou que nada lhe escapasse. A vitória começou aí, claro. Prolongando o nulo, sem que fosse criado grande perigo, os jogadores do Chelsea começariam a demonstrar ansiedade, vontade de querer resolver tudo depressa. Geralmente não resulta. Era o objectivo. Mourinho conhece-os como ninguém.

Thiago Motta é um daqueles jogadores que, por vezes, podem ser considerados irritantes. É o tipo de jogador que nenhum adversário quer ver pela frente, pela agressividade que coloca nos lances, disputando-os no limite. Ora, colocar alguém com essas características perante uma equipa que precisa de ganhar, sente dificuldades para ter a bola no pé e lançar-se com perigo para o ataque é o mesmo que juntar algum combustível a dinamite pronta a explodir. O nervosismo apoderou-se dos blues, Terry e Drogba - que acabaria expulso após pisar... Thiago Motta, lá está! - mais do que tudo, também Wolfgang Stark deixou duas grandes penalidades por assinalar. Há essas queixas, é um facto. Contudo, apenas por duas vezes o Chelsea conseguiu realmente ser perigoso: Júlio César pôs cobro a ambas. A Anelka e Malouda.

E o espectáculo contínuo de Sneijder, um farol criativo no Inter, autor de passes teleguiados, bolas de golo para os colegas? O holandês fez metade, faltou o resto: Milito, Eto'o e Pandev não souberam aproveitar. Sneijder desesperava por ninguém concretizar a fantasia que espalhava, a alma que dava a um futebol italiano habitualmente ligado a um jogo pouco atractivo. E Mourinho desesperava no banco. Aquele jogo de passa e repassa do Inter justificava um golo. Minuto setenta e oito: bola no meio-campo, de Sneijder para Milito, de novo para o holandês, passe fantástico para Eto'o, remate certeiro, juntinho ao poste, para o fundo da baliza. Faltava um golo ao camaronês, sempre abnegado mas estranhamente afastado da eficácia. Mou respirou de alívio. Agora, sim, tinha a eliminatória na mão. E Itália ganha nova força na Europa.

terça-feira, 16 de março de 2010

Carlos Carvalhal: um treinador com prazo de validade

Olhando à frieza dos números, o trajecto de Carlos Carvalhal no Sporting não é totalmente positivo. No campeonato, uma tarefa já transformada em utopia, a distância para a liderança foi aumentada: após a saída de Paulo Bento e um jogo de transição realizado por Leonel Pontes, ante o Rio Ave, Carlos Carvalhal estreou-se frente ao Benfica, na décima primeira jornada, sendo a distância de treze pontos pontos, e, actualmente, finda a vigésima terceira ronda, os leões têm uma vintena de pontos em atraso para o primeiro lugar, antes do Sp.Braga e agora do Benfica. Para além disso, num mês de Fevereiro que se revelou verdadeiramente funesto para as aspirações leoninas, foi eliminado da Taça de Portugal, no Dragão, e da Taça da Liga, frente ao Benfica. Dois rivais, duas goleadas. A equipa entrou num período de sete jogos sem vencer.

Por outro lado, quando Carvalhal assumiu o comando da equipa, o Sporting havia sido deixado, devido ao empate em Vila do Conde, na oitava posição. Tinha catorze pontos em trinta possíveis. Hoje, treze jogos a mais, está em quarto, num lugar europeu, com trinta e oito pontos. Há, portanto, uma subida substancial. No entanto, para além do rigor dado pelos números, há o plano exibicional da equipa. Com Paulo Bento, excepção feita aos encontros com a Fiorentina, no play-off de acesso à Liga dos Campeões, primeiro objectivo falhado nesta época, nunca os leões se apresentaram em bom nível. Com Carvalhal viveram diferentes metamorfoses: após o período de adaptação do novo treinador somaram sete triunfos seguidos, terminando 2009 na mó de cima, quebrados por sete jogos sem vencer. Um ciclo onde tudo lhe fugiu por entre os dedos.

Com probabilidades reduzidas de ainda conseguir algo de positivo, o Sporting deu, contudo, uma prova cabal de força: eliminou o Everton, mantendo-se na Liga Europa, foi esse o jogo da mudança. A equipa entrou no seu melhor período, somou, para o campeonato, vitórias com o FC Porto, Belenenses e Vitória de Guimarães. Nos três com excelentes exibições colectivas, mostrando grande coesão, transmitindo alegria ao seu futebol e juntando uma grande eficácia que é notória em onze golos marcados e somente um sofrido. Frente ao Vitória mostrou uma força verdadeiramente impressionante, sufocante para o adversário, autêntica raça de leão. O Sporting renasceu das cinzas. Porém, para além do campeonato, tem apenas a disputa da Liga Europa. E um grande obstáculo, o Atlético, para ultrapassar na quinta-feira, após o nulo em Madrid.

O jogo com o Everton foi a 25 de Fevereiro. A partir daí nada foi igual. Os leões conseguiram estabilizar o seu futebol, apresentam grande disponibilidade, assumiram que, afinal, há qualidade no plantel: Pedro Mendes veio dar a consistência que faltava, Saleiro tem sido um parceiro à altura para Liedson, Yannick um diabo à solta nas defensivas contrárias e Rui Patrício reaquiriu confiança. Carlos Carvalhal tem grande mérito nesta subida de rendimento da equipa. É incontornável que se reconheça trabalho do treinador, enfim com a sua filosofia implementada, conseguindo ter boas apostas que se revelam importantes no decorrer dos jogos. Carvalhal teve ainda o mérito de devolver o apoio dos adeptos à equipa e esse era, indiscutivelmente, um dos objectivos a que se tinha proposto. Por isso puxou dos galões e disse esperar uma recompensa.

Quando as portas do Sporting se abriram, mesmo não sendo primeira escolha para o cargo de treinador principal, Carlos Carvalhal teve uma oportunidade de ouro. Estava no desemprego, recebeu o chamamento de um grande, o expoente máximo de qualquer técnico nacional, era irrecusável. Agarrou-se com unhas e dentes, fazendo o melhor que pode. Começou por ter dificuldades, mas conseguiu, cim espaço, fazer com que o seu trabalho produza frutos. Com ele, no plano exibicional, o Sporting melhorou a olhos vistos. Mas mantém-se um treinador com prazo de validade limitado: a 31 de Maio de 2010, quando terminar a época desportiva, findará o seu contrato com o Sporting. Os dirigentes leoninos já terão feito a sua escolha, independentemente dos resultados, com um novo projecto. Correcta? Precipitada? Só o futuro poderá responder.

Liga Sagres: O duelo da liderança, um tira-teimas ansiado

ANÁLISE

Duelo pelo título, contagem descrecente para o momento das decisões, armas preparadas para o golpe fatal no adversário. Proibição de falhar, sob pena de toda a temporada ficar sem efeito, de pouco valendo o que foi feito, exigência maior do que nunca obriga a jogar nos limites. Benfica e Sp.Braga souberam ultrapassar os difíceis obstáculos colocados no trilho, sobretudo dos benfiquistas, acenderam ainda mais a chama para um jogo que já faz suspirar os adeptos, que poderá ajudar a decidir muito ou apenas aumentar a rivalidade criada. Dia 27, na Luz, Benfica e Sp.Braga têm o seu tira-teimas. Longe dessas lutas, o FC Porto mostrou estar desperto, superou o teste de Coimbra. E o Sporting, bem, continua a surpreender: que entrada de leão sobre o V.Guimarães!...


Alerta vermelho para o Benfica: deslocação complicada, logo após um desgastante jogo com o Marselha, na sequência de uma vitória do Sp.Braga que (re)inverteu a ordem no topo. Jogar com o Nacional é, por norma, complicado para os grandes. Na Choupana, um dos terrenos onde as exigências são maiores, dobram-se essas dificuldades. Os madeirenses, porém, ficaram órfãos de Rúben Micael, o jogador que lhes servia de suporte criativo, têm feito uma época irregular. Mas cedo se percebeu que só a custo, vestindo a roupa de serviço, o Benfica poderia ambicionar vencer. Não fez um jogo de deslumbrar, mas foi consistente e venceu com mérito. Cardozo, vilão numa grande penalidade desperdiçada (mal assinalada), herói no minuto seguinte, deu a vitória aos encarnados. Um jogo de sofrimento, com um triunfo importantíssimo.

O Rio Ave não é, por certo, um adversário que traga boas recordações ao Sp.Braga. Foi a equipa de Carlos Brito a primeira, sete vitórias depois, a tirar pontos aos bracarenses e, mais recentemente, quem eliminou, em pleno AXA, o Sp.Braga dos quartos-de-final da Taça de Portugal. É uma equipa com objectivos modestos, não pensa além da manutenção, mas revelou-se na primeira metade da época e joga olhos nos olhos com os adversários. Também agora criou complicações ao Sp.Braga, deu o primeiro sinal de atrevimento, Tarantini acertou na barra. A resposta dos bracarenses foi forte, triunfante: Andrés Madrid, em jejum desde Outubro de 2005, marcou. Foi um golo feliz. E vital. O Sp.Braga tomou as rédeas do jogo, guardou a vantagem e não deu azo à reacção vila-condense. Nova missão cumprida.

Jogando sob brasas, na ressaca da humilhação europeia, o FC Porto teria que mostrar estar vivo. E mostrou, de facto. Não fez uma exibição de encher o olho, certo, mas teve atitude e capacidade para dar a volta às adversidades. A Académica melhorou imenso com André Villas Boas - sim, não deu um salto substancial na classificação - e joga um bom futebol, não seria o opositor ideal. Além disso adiantou-se, marcando por Sougou. A desvantagem, contudo, foi dizimida com celeridade pelo FC Porto: Bruno Alves redimiu-se com um golo do penalty cometido (lance duvidoso). O empate prolongou-se, o FC Porto tentou, nunca virou a cara à luta. Há esse mérito nos portistas. A quatro minutos do final, Rodríguez cerrou os dentes e encheu o pé, potência na libertação da raiva pelo período conturbado, garantiu três pontos ao campeão.

O Vitória de Guimarães pretendia tomar de assalto o quarto lugar, mas... coitado, nem tempo teve para respirar. Começou em falso, pagou caro, sem perceber muito bem o que lhe acontecia sofreu três golos em vinte minutos impressionantes, magníficos e categóricos do Sporting, uma supresa constante a cada jogo que passa pelas demonstrações de futebol que vai dando: marcou por Grimi, por Liedson e por Saleiro, aos vinte minutos tinha aberto três buracos no castelo - mais outro marcou, porém o assistente de Bruno Paixão, compensando o erro do primeiro golo, anulou. O remate do Levezinho, então, é uma obra-prima. Vantagem confortável, vitória na mão, condições para travar o ímpeto e pensar no jogo com o Atlético. O Vitória cresceu, deu um ar da sua graça, mostrou um valor que o Sporting esmagara e conseguiu reduzir. Justo.

Vinte jornadas, quase sete meses, até um ano civil foi substituído por outro, muitas mudanças existiram. É este o espaço temporal que separa as duas únicas vitórias alcançadas pelo Belenenses: a primeira foi a 24 de Agosto de 2009, no Restelo, sobre a Naval (2-0); a outra conseguida nesta jornada, em Olhão, por 3-1, sobre um adversário directo na fuga à despromoção. Se ainda haverá tempo para recuperar, só o futuro poderá responder. A missão, contudo, não ficou facilitada, uma vez que o Vitória de Setúbal, primeira equipa acima dos lugares de descida, venceu o Leixões, por 1-2, e pode ter dado um passo fundamental para o seu objectivo - os leixonenses estão com uma árdua tarefa em mãos. Cinco pontos separam a equipa de Fernando Castro Santos dos sadinos e do Olhanense (ambos com vinte).

Com pequenos passos, em pézinhos de lã, sem que se dê pela sua acção, a Naval tem protagonizado um campeonato sempre em crescendo. Não tem o objectivo de se intrometer na disputa por um lugar europeu, mas conseguiu vencer a União de Leiria, por 1-0, e ultrapassar o Nacional, o Rio Ave e o Marítimo - as equipas insulares, declaradamente apostadas em chegar à Europa, voltaram a comprometer o seu futuro, pois ambas perderam: o Nacional com o Benfica e o Marítimo em Paços de Ferreira (1-0). Os pacenses, sob o comando de Ulisses Morais, estão, à imagem da Naval, a realizar uma época acima do que era expectável (ocupam o sétimo lugar). Rio Ave e Académica, derrotados, respectivamente, por Sp.Braga e FC Porto, deverão assegurar a permanência no principal campeonato dentro de poucas jornadas.