sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O Sporting de 2009-10 ou uma equipa sem sossego

O futebol é um jogo ingrato. Pode criar um herói e desfazê-lo logo a seguir. É um jogo de sorte, também: não há nenhuma equipa que consiga chegar ao sucesso sem uma pontinha de felicidade. Contudo, se há quem tenha uma permanente estrelinha que anula qualquer deslize, a outras tudo corre mal. O Sporting vive um dos mais complicados períodos do seu percurso, exemplifica na perfeição como o erro e o azar estão de braço dado. Nenhum problema nasce do nada, todos têm a sua origem. O do Sporting vem da pré-época: pouco investimento, reduzida actividade no mercado e até ambições reduzidas para um grande que se compromete a vencer as provas internas e a ser bem sucedido na Europa, enfim, nada que esteja de acordo com a condições que os leões têm. Depois, tudo se desenrolou partindo daí.

Os resultados dos jogos de pré-temporada, com apenas uma vitória frente ao modesto Atlético do Cacém, foram um mau prenúncio. Completamente confirmado. A equipa nunca se encontrou verdadeiramente, somou tropeções no campeonato que os rivais directos aproveitaram para se fixarem no topo, viu-se afastada de forma inglória da presença na fase de grupos da Liga dos Campeões. Sem ter meios para melhorar, com uma equipa apática e sem reacção perante os problemas, precisando urgentemente de um choque que a tornasse reactiva, o espaço de Paulo Bento reduziu-se. Não que fosse o maior responsável, mas o ciclo expirara. A saída de Bento foi apenas o princípio da ruptura: com o treinador demitiram-se também os dirigentes responsáveis pelo futebol leonino, Pedro Barbosa e Miguel Ribeiro Telles.

Carlos Carvalhal foi o escolhido por José Eduardo Bettencourt. Ao novo treinador já nenhum adepto pedia o título, apenas que alcançasse uma prestação honrosa para o Sporting e conseguisse sucesso nas outras provas - vitória, pelo menos, numa taça interna e confirmação da presença nos dezasseis-avos-de-final da Liga Europa. Quer isto dizer que a principal função do novo treinador estava, portanto, em recuperar animicamente a equipa, melhorar os índices de rendimento e, claro, obter vitórias. O Sporting é, afinal, um clube com grande historial no futebol português. Os adeptos fizeram tréguas na contestação, os jogadores readquiriram a tranquilidade necessária para trabalhar. Mesmo estando longe de ser unânime, Carvalhal fora o escolhido de Bettencourt e, por isso, deveria ser-lhe dado crédito.

Ao comando de Carvalhal, o Sporting conseguiu um futebol bem mais dinâmico, consistente, ligando melhor os sectores, deixando de ser uma equipa tão receosa. Sete vitórias consecutivas, terminar 2009 a vencer e um registo imaculado de quatro jogos em 2010, foi um bálsamo para os adeptos. Aliado à melhoria exibicional, vieram os resultados. Para uma equipa que tão mal se encontrava, é significativo. Não se pretende dizer, contudo, que os leões passaram do oito ao oitenta. Nada disso, ainda muito havia para melhorar, seria esse o percurso até ao fim da época que Carlos Carvalhal teria de conseguir. Foi assim até há duas semanas. De lá para cá, o Sporting averbou quatro derrotas (Braga, FC Porto, Académica e Benfica). Perdeu tudo: adeus definitivo ao campeonato, exclusão da Taça de Portugal e da Taça da Liga.

Não há quem resista a tão negro ciclo. Se a conquista do título de campeão nacional era já uma utopia, o Sporting poderia ter compensado esse fracasso com alguma das provas internas. Não o conseguiu, terminando, em ambas, vergado aos rivais de sempre: 5-2 no Dragão, 1-4 ante o Benfica. Num momento tão complicado, é imperativo que os líderes se destaquem. O líder da equipa e o líder do clube: Carlos Carvalhal e José Eduardo Bettencourt, portanto. Nem um nem outro, porém, o fizeram da melhor forma. Carvalhal, no final da partida com o Benfica, a quente, afirmou que começava a fartar-se de "Barbas, Gordos e Shreks que semanalmente colocam em causa o meu profissionalismo." É verdade que está longe de ser o responsável pelo estado do Sporting, mas são declarações inoportunas e nada benéficas ao clube.

É evidente, nesta altura, que o Sporting não possui uma estrutura forte que seja capaz de lidar da melhor forma com os (muitos) obstáculos que vão surgindo. Poderá ser mera coincidência, mas fica a ideia de que o desentendimento entre Sá Pinto e Liedson foi mais um factor que levou à perda do rumo que a equipa encontrara. Essa ruptura causada pelo então director-desportivo foi um abalo que afectou também Bettencourt, deixando-o novamente desapoiado na liderança. Onde já tem dado provas de ser mais emocional do que racional, agindo mais com o coração de adepto do que com a frieza de quem comanda. Numa fase tão complicada, como se explica que tenha recordado Paulo Bento?: "Se cá estivesse, faríamos uma boa dupla, porque seríamos os dois a dar o corpo às balas". Disse-o hoje. Incompreensivelmente.

1 comentário:

Jornal Só Desporto disse...

O Sporting esta época é para esquecer.