domingo, 31 de janeiro de 2010

Haja futebol!

Frio na temperatura, cinzento e sem sinais de meteorologia agradável. Fevereiro é assim, aborrecido e triste. Quente como nunca, decisivo, seja para o bem ou para o mal. No futebol português, este Fevereiro será assim. Túneis e polémicas para trás, jogo de bastidores em segundo plano, role a bola. Nos grandes, o tudo ou nada. Nove jogos para Sporting, oito para Benfica e FC Porto, menos para Sp.Braga. Os leões, quinze pontos atrasados em relação ao primeiro lugar, têm o campeonato como uma miragem. Verdadeiramente utópico que a equipa de Carlos Carvalhal ainda consiga recuperar de tão grande desvantagem - tem jogos com Académica (C), Paços de Ferreira e Olhanense (F), terminando com a recepção ao FC Porto. Será, então, quem mais terá em jogo durante este próximo mês.

Campeonato para trás, na procura de salvar a temporada e de ainda conseguir algo de positivo, resta que o Sporting conquiste alguma das provas internas em que está inserido. Terça-feira defronta, no Dragão, o FC Porto para a Taça de Portugal; dia 9 joga em Alvalade a presença na final da Taça da Liga, ante o Benfica. Um clássico e um derby. Pelo meio há a eliminatória com o Everton, adversário da Liga Europa (17 e 24 de Fevereiro, começando em Liverpool). Uma época em jogo, portanto. Benfiquistas e portistas, ambos com os olhos bem postos no campeonato, terão somente menos um jogo do que os leões neste frenético mês: o Benfica por ter sido afastado da Taça de Portugal, o FC Porto por jogar a primeira mão dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões já em Março.

Para os encarnados, Fevereiro começará na próxima quarta com a partida antecipada frente ao União de Leiria, prosseguirá com a ida a Setúbal, recepção ao Belenenses e findará com deslocação a Matosinhos. Pelo meio, para a Taça da Liga, há a referida eliminatória com o Sporting. Na Liga Europa, o Benfica terá de defrontar, a 18 e 25, os alemães do Hertha de Berlim. Do lado dos dragões, inseridos em todas as provas propostas, há também um mês de altas rotações. Depois de começar por receber o Sporting, para a Taça de Portugal, no campeonato, onde mantém um atraso de seis pontos para o topo, o FC Porto jogará com Naval (C), Leixões (F), Sp.Braga (C) e Sporting (F). Pelo meio defronta a Académica, no Dragão, para a Taça da Liga. Testes decisivos à valia da força portista.

Por fim, o Sp.Braga tem apenas o campeonato e a Taça de Portugal com que se preocupar, pois foi precocemente afastado da Europa e não conseguiu ir além da terceira fase da Carlsberg Cup. Poderá, indiscutivelmente, centrar-se num objectivo e daí retirar vantagem. Líder da Liga, correndo atrás do sonho de se sagrar campeão nacional, os bracarenses ultrapassaram o teste com o Sporting, e terão agora um quadro de jogos bem mais leve do que o dos concorrentes directos: joga fora com Belenenses e FC Porto, recebendo Marítimo e Olhanense. Para a Taça de Portugal, no primeiro jogo do mês de Fevereiro, encontrará o Rio Ave (em Braga). É esta a altura de se apresentarem os candidatos, de se perceber quem realmente possui condições para ganhar.

Um mês que poderá ser meio caminho andado para o sucesso, um mês que poderá deitar uma época por terra. Haja futebol!

sábado, 30 de janeiro de 2010

Um diabo imaturo

Há algo em Carlos Martins que o impede de ser um jogador acima da média. Falta-lhe maturidade. No futebol, o talento é apenas uma parte, a mais importante, a que é imperativo juntar uma grande capacidade mental, imune à pressão e que não inflame com elogios. Carlos Martins é daqueles jogadores capazes do melhor e do pior, satisfaz os adeptos agora, desilude-os logo de seguida. Viu-se no triunfo sobre o Vitória de Guimarães: marcou dois excelentes golos, desbloqueou um empate que os vimaranenses já haviam ameaçado, deixou o Benfica com a vitória na mão. Pouco depois, infantilmente, colocou a mão na bola, viu o segundo cartão amarelo e fez com que a equipa jogasse vinte minutos em inferioridade. Um verdadeiro diabo.

Ainda antes disso, de tocar no céu com os golos e descer ao inferno com a expulsão, Carlos Martins já havia sido protagonista. Na área, Cardozo recebeu a bola, demorou a fazer a rotação, perdeu espaço e tempo para fazer o remate à baliza do Vitória. Carlos Martins, isolado à entrada da área, desesperava. Queria a bola, queria o golo, estava em boa posição para o fazer. Disse-o ao colega, trocaram palavras, Luisão, elevando o seu estatuto de capitão, sanou os conflitos. Os remates certeiros que surgiriam na segunda parte tinham lá toda a raiva, a vontade de Martins em mostrar serviço. Fora chamado devido à ausência de Ramires, pretendia justificá-la na plenitude. Conseguiu-o. Foi o homem do jogo. Pena ter manchado um belo quadro.

Esta partida mostra, portanto, na perfeição como é Carlos Martins. Para sempre irreverente. É isso que o prejudica e impede de chegar mais alto na carreira, quiçá a ser presença na selecção nacional. Saiu de forma algo letigiosa do Sporting, de costas voltadas com Paulo Bento, criticado pelo então treinador pela referida falta de maturidade. Vingar-se-ia, na época passada, na final da Taça da Liga: marcou a grande penalidade decisiva, deu um título ao Benfica perante o clube de onde saíra antes de ingressar no Huelva, teve uma vitória muito particular sobre quem o dispensara. Foi esse, talvez, o seu ponto mais alto desde que, no Verão de 2008, ingressou nos encarnados. Falta-lhe amadurecer para chegar mais além.

Gladiadores do Minho

Onze guerreiros em força, onze leões procurando reerguer-se após terem batido no tapete. A vitória como objectivo comum. Há, porém, muito mais do que três pontos em jogo: os guerreiros querem provar sem espaço a dúvidas que têm capacidade para lutar com qualquer adversário, os leões necessitam de recuperar o estatuto superior que deixava os outros com poucas hipóteses de sobrevivência. Um coliseu, a casa dos lutadores, composto por aqueles que anseiam saber com quem realmente podem contar e desejosos de assistir ao golpe de misericórdia nas aspirações do felino, eliminando-o do confronto e reduzindo o número de adversários. É assim, com um passo de cada vez, nenhum em falso, que as surpresas poderão acontecer. Não é fácil contrariar a lógica que favorece os mais fortes.

Em casa, mandam os que lá estão. Se os residentes liderarem o campeonato, ainda mais força ganha essa ideia. Sem complexos, os bracarenses chamaram a si o favoritismo, depois do pleno de triunfos grandes na primeira volta, cada vez mais solidificados no topo. Carlos Carvalhal, todavia, alertou para as qualidades dos seus: sete vitórias consecutivas, registo puramente triunfador após a paragem, clara subida de rendimento e, portanto, uma palavra a dizer. O início do jogo deu-lhe razão: o Sporting entrou com vontade de leão, pressionante, encurtando espaço ao Sp.Braga, remetendo-o ao seu meio-campo, jogando mais junto da área adversária. A estratégia baralhou os minhotos, inabituados a serem empurrados na sua própria fortaleza. Aos poucos, a pressão alta do Sporting foi diminuindo.

O Sp.Braga soube esperar, conseguiu soltar-se do ímpeto inicial e aliar alguma posse de bola para procurar explorar as transições rápidas que tanta mossa fazem. Chegou ao golo, batida a meia-hora de jogo. Na primeira real ocasião de que dispôs para o fazer, antes havia sido o outro Sporting mais incisivo, embora, de igual forma, também não criando problemas de maior para Eduardo. O Sp.Braga foi feliz. Paulo César passou sobre Miguel Veloso, iludiu João Pereira, contou com um desvio em Tonel, enganou Rui Patrício. Em vantagem, tudo seria diferente. A equipa estabilizou, assentou o seu jogo, entregou-se à magia de Mossoró, explorou as faixas laterais do terreno na velocidade. É aí que eles são temíveis. O golo podia ser um knock-out no Sporting, toalha no chão, entregando o controlo absoluto ao Sp.Braga.

As verdadeiras lutas, contudo, não são assim tão fáceis de resolver. Nem esta foi. O leão rugiu, obrigado a correr atrás do prejuízo, nunca poderia virar a cara à luta. Houve mais espaço, claras melhorias, com o marcador a favor, de uns bracarenses que não tinham começado bem. Os guerreiros, fiéis à sua máxima de nunca se desunirem, não deram chances para que a reacção leonina tivesse efeitos práticos. Protegeram bem o seu forte, é sua imagem de marca. Houve necessidade de endurecer a disputa, maior agressividade nos confrontos, atitudes de grande garra de qualquer um deles. Um final emocionante: uns nunca perdendo a esperança de como era possível algo mais, outros com enorme coesão para segurarem o que já haviam conquistado. Luta de gladiadores, vitória dos guerreiros de Braga. Mais uma.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Fluxos dos grandes

A possibilidade de contratar novos jogadores, devido à produtividade obtida até então pelos grandes, faria mais sentido para o Sporting. Por isso mesmo, os leões, depois de terem gasto pouco no Verão, fizeram um esforço financeiro para dar maior qualidade à equipa. Chegaram João Pereira e Sinama Pongolle: o primeiro já está mais do que integrado na equipa, havendo mesmo quem o aponte como um dos maiores responsável melhoria do Sporting; o avançado pouco se mostrou ainda, atormentado desde logo por uma lesão. Agora é a vez de chegar Pedro Mendes - o Glasgow Rangers já confirmou o acordo com o Sporting. Em sentido contrário, Caicedo abandonou o clube, tal como Angulo há muito havia feito - ainda André Marques, cedido aos gregos do Iraklis. Está fácil de perceber quão falhadas foram as contratações de Agosto.

A primeira metade da temporada serviu, também, para deixar a nu algumas fragilidades da equipa do FC Porto. Essencialmente na construção de jogo. Não houve quem assumisse o futebol portista, quem o comandasse. Faltou um substituto para Lucho González, algo que Belluschi não conseguiu de forma convincente.
O mercado, embora Pinto da Costa sempre afirmasse que o plantel dava todas as garantias de sucesso, tornou-se imprescindível. Acertada a contratação de Rúben Micael, será no jovem médio madeirense que estará a batuta da equipa. Para além do médio, chega também um novo avançado: Kléber, ex-Cruzeiro, namoro antigo, em troca com Ernesto Farías - um jogador que viveu na sombra, sem espaço no onze-tipo, mas autor de golos decisivos. Sebastian Prediger, erro de casting, saiu para o Boca Juniors.

Com um rendimento bem superior a outras épocas, colocado acima dos rivais directos, perdendo apenas para o Sp.Braga no topo, o Benfica pretendeu também reforçar o plantel. Não que exista algum desiquílbrio, quantitativo ou qualitativo, mas é necessário precaver qualquer indisponibilidade e, por outro lado, aumentar a competitividade interna. Alan Kardec, Éder Luís e Airton, três brasileiros, entraram no plantel encarnado. Sem espaço de manobra, com perspectivas irreais de serem chamados, tal como acontecera com Urretaviscaya de saída para o Peñarol, Jorge Ribeiro ficou com Guimarães no destino, Shaffer foi colocado no Banfield (Argentina) e Balboa, experiência verdadeiramente fracassada, rumou ao Cartagena (segunda divisão espanhola). Franco Jara, avançado argentino, é ainda uma hipótese para chegar à Luz.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Um futebol que caminha para o abismo

O futebol português vive uma das piores fases do seu passado recente. Se é facto que, até ao momento e comparativamente com a temporada anterior, não apareceram casos de irregularidades no pagamento de salários em nenhuma equipa, ressurgiram, de súbito, inúmeras suspeições envolvendo a face oculta do futebol. Esquecendo a parte do espectáculo, essencial, capaz de arrastar multidões em massa por uma única paixão: o jogo. Olhamos para a Europa, os jogadores são os protagonistas, há magia, encanto de ir ao estádio ver duas equipas cordialmente na busca da vitória. Com garra, com querer. E em Portugal? Quem são os protagonistas do futebol português, leitor? Tentativa de resposta: não os jogadores.

A discussão e a polémica fazem parte da essência do jogo. Existem erros, falhanços, oportunidades perdidas de tocar o céu, por vezes uma vida inteira de desgraças. Outros, pelo contrário, alcançam a glória com facilidade, tudo lhes corre bem, são bem sucedidos no que fazem. É a lei do futebol: uns ficarão felizes, outros frustrados por não terem alcançado o objectivo. O espectador, desligado de clubismos, quer ver os seus ídolos em campo, ter um tempo bem passado, noventa minutos que passam como se fossem cinco, um espectáculo que lhe agrade. Actualmente, não é necessário sair de casa. Basta colocar a televisão no canal certo. Vê os melhores jogadores, o encanto dos outros futebóis. Outros, pois.

O futebol português, para os verdadeiros amantes do desporto no seu estado mais simples, fica relegado para outro plano. Porquê? É simples: em Portugal, os jogadores não são os protagonistas, até o próprio futebol fica atrás das rivalidades que extravazam a esfera desportiva. Não há competição, há guerras. Não há adversários, há inimigos. Não há espectáculo, há a ânsia de ganhar para mostrar ao rival que se é superior. Por isso, os túneis ganham destaque, iniciam-se lutas verbais para hostilizar tudo e todos, a suspeição instala-se, o fantasma da corrupção regressa bem forte, os clubes esquecem o jogo dentro do relvado.
O futebol português, a cada dia, torna-se menos interessante. Deixa de ser futebol. Para onde caminhamos?

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A decisão que não sai e um enorme ruído de fundo

Túneis, suspensões, atrasos nas decisões, escutas, apedrejamentos, parada e resposta sem fim. Em duas palavras: interminável polémica. Com efeito bola de neve, surgindo novas revelações a cada dia, mas no final tudo se mantém na mesma. E o futebol, leitor, onde está? Em segundo plano, apenas surgido depois de se debaterem todas as questões de bastidores, fora das quatro linhas, chegando até à esfera judicial. É assim desde o dia 20 de Dezembro de 2009, dia do clássico entre Benfica e FC Porto. No relvado, os encarnados ganharam bem. Ponto final. O assunto encerrou aí, com o apito final de Lucílio Baptista, certo? Pelo contrário: esse foi apenas o início de todo o clima de conflitualidade que se instalou a partir de então.

No meio de todas as questões que têm surgido, nada mais do que um novo capítulo na saga entre portistas e benfiquistas, arrufos conhecidos, inimigos para a vida, importa olhar ao que mais mossa tem feito. Hulk e Sapunaru, profissionais do FC Porto, estão suspensos preventivamente. Desde a data da partida, passaram-se sete jogos. A pena a ser aplicada tarda em ser conhecida, os jogadores continuam num impasse, sem saber se poderão ainda jogar nesta temporada ou qual o castigo a que estarão sujeitos. Neste tipo de situações, a decisão tem necessariamente de ser célere. Se existirem provas em como as agressões acontecerem, e após ser apurada a gravidade do acto, os protagonistas de ser castigados conforme a lei. Simples.

Sabe-se, agora, que as imagens captadas pelas câmaras de vigilância não poderão funcionar como meio para comprovar a existência de conflitos. Só em termos penais serão aplicadas, nunca com interferência na justiça desportiva. Assim, tudo aquilo que acontecer no túneis, não sendo presenciado por um elemento da equipa de arbitragem ou pelos delegados da Liga - o que aconteceu neste caso -, é absolutamente nulo nas questões desportivas. As imagens podem provar que existiram agressões, não têm utilidade. Não faz qualquer sentido que assim seja, obviamente. No entanto, esquecendo todo o burburinho criado, é importante que se faça uma reflexão. Para encontrar o rumo do futebol português, enquanto não é demasiado tarde.

Duas entrevistas exclusivas a Pedro Sousa



Pedro Sousa é um nome incontornável da rádio e considerado por muitos como o melhor relatador português. Em Agosto de 1986 fez o primeiro relato, Torrense-Académica, durante o período das chamadas rádios piratas. Dois anos depois, estreou-se na Rádio Renascença num Benfica-Vitória de Guimarães. Começou como colaborador mas logo passou a fazer parte da equipa desportiva liderada por Ribeiro Cristóvão. Tem uma forma única de relatar e o já está!, claro. Além disso, colabora com a Sport TV na narração de jogos de futebol internacional. Uma entrevista FUTEBOLÊS em jeito de uma conversa informal - Clique aqui para ler esta entrevista (Maio de 2008)

Quando o assunto é o jornalismo desportivo, particularmente em termos radiofónicos, Pedro Sousa é um dos nomes que mais facilmente associamos: sobretudo pelos seus relatos na Rádio Renascença, onde também edita o programa Bola Branca. Além disso, também pelas narrações de partidas de futebol internacional na Sport TV e ainda por ser a voz dos comentários do novo Pro Evolution Soccer, um dos mais famosos simuladores de futebol. Nove leitores do FUTEBOLÊS aproveitaram a oportunidade para entrevistar um dos mais conceituados jornalistas português - Clique aqui para ler a entrevista aberta a Pedro Sousa (Fevereiro de 2010)

Opinião: Um escorpião imortal

Defender uma baliza não está ao alcance de todos. Um bom guarda-redes, para além do dom natural, tem que saber manter a concentração total durante os noventa minutos, sem um segundinho que seja para admirar o ambiente que o rodeia. É imperativo que possua uma coragem do tamanho dos Himalaias, sem temer mazelas ou arranhões. Há mesmo quem diga que todos os guarda-redes precisam de um bocadinho de loucura. René Higuita é um nome que figurará para sempre nos melhores momentos do futebol mundial. Não que tenha sido um jogador de grande dimensão. Mas porque teve um momento delicioso, de pura loucura.

Com um visual ao jeito de um Demis Roussos, com cabelo e barba longos, se bem que não tão efusivo como o mítico Carlos Valderrama, Higuita não representava a forma mais sensata e formal de defender uma baliza: era por demais arrojado, jogava fora da sua área, tentava fintar os adversários. Colocava os adeptos da sua equipa com o coração nas mãos, em jogadas de cortar a respiração. Ganhou a alcunha de El Loco e é fácil perceber porquê. Foi em Setembro de 1995 que espantou o mundo do futebol num jogo amigável entre a sua Colômbia e a Inglaterra. Aí nasceu a defesa de escorpião, digna de qualquer compêndio.

Esse lance, passado no estádio de Wembley, foi qualquer coisa de extraordinário. Ninguém sabe o que se terá passado pela cabeça do guarda-redes colombiano, se calhar nem ele próprio. A bola rematada pelo médio Jamie Redknapp, no seu jogo de estreia pelos ingleses, foi mais ou menos para o meio da baliza. Higuita estava bem colocado, no caminho da bola, o lance não geraria grande perigo. Seria uma defesa fácil, portanto. Para Higuita não, ele não era assim tão simples. Gostava de arriscar, jogar nos limites. Qualquer um teria levantado os braços e defendido.

Higuita não era qualquer um. Lá do alto da sua loucura e ousadia, deixou a bola passar-lhe por cima. Foi totalmente inesperado. Quando estava mesmo em cima da linha de golo, lançou o corpo para a frente, defendendo-a com os dois pés num salto fantástico. Num salto de escorpião, como lhe convencionaram chamar. O seu corpo ficou quase como uma ponte invertida. Os adeptos levantaram-se e aplaudiram aquele instante mágico que um colombiano desconhecido tinha alcançado. Higuita agradeceu, sereno, como se fosse algo que fizesse todos os dias.

O salto de escorpião será para sempre recordado como a mais espectacular defesa alguma vez feita por um guarda-redes. Foi irreverente e inesperada, à semelhança de Higuita. Se calhar foi por essa razão que não se tornou num jogador de categoria mundial, por ser um verdadeiro louco na forma como se comportava em campo. Só um louco, um homem sem medo de ultrapassar todos os limites seria capaz de nos proporcionar momentos assim. Hoje, com quarenta anos, despede-se da competição. Obrigado por essa tua loucura, René!

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Taça da Liga: A lógica de ganhar o mais forte

Jogo de confirmação, acima de tudo, e de estreias. Confirmação: o FC Porto, declaradamente apostando pouco na competição, está nas meias-finais da Taça da Liga, após vencer o Estoril. Estreias: de Rúben Micael, contratação recente, chamado à primeira oportunidade por Jesualdo Ferreira, e de Orlando Sá a marcar com a camisola portista em jogos oficiais. De resto, pouco mais a registar - além, ainda, do brilhante golo de Belluschi. Vitória do FC Porto, a equipa mais forte. Numa exibição que não foi inspirada, nem pouco mais ou menos, antes suficiente para vincar as diferenças entre as equipas. Do grupo A, sai também outro apurado: a Académica venceu o Leixões, conseguiu ser o melhor segundo classificado e assumiu a última vaga.

Rio Ave e Benfica, empatados na pontuação, com vantagem para os vila-condenses, tinham o tira-teimas na última jornada. Aos encarnados, não olhando aos resultados alheios para a definição do segundo melhor classificado, a vitória era o único caminho. O Rio Ave complicou a tarefa, mas o objectivo foi cumprido. Sobressaiu Cardozo. Não a marcar, o seu atributo, a assistir: Carlos Martins, primeiro, Dí María na confirmação da vitória. A equipa de Carlos Brito, como é seu apanágio, não deu o jogo por perdido e tentou de tudo para garantir o empate (que, diga-se, lhe dava a passagem). Em vão, contudo. Alain Kardec, reforço do Benfica, poderia ter-se estreado a marcar, mas acertou, por duas vezes, no poste.

Passados os problemas internos, esquecido o conflito com Sá Pinto, Liedson manteve a titularidade. Poderia ter algum castigo, mas a administração leonina não o quis: o Levezinho é um jogador fundamental, imprescindível até. Decidiu, na Trofa, com um golo oportuno, uma cabeçada que projectou o Sporting para a próxima fase da Taça da Liga e desfez as aspirações do Trofense. Ninguém duvida, então, da sua importância. Sétima vitória consecutiva dos leões, um ciclo importante, alcançada numa partida controlada e gerida pelo Sporting, perante um adversário que procurou incomodar Rui Patrício, mas não dispôs dos mesmos argumentos. Numa luta com armas desiguais, venceu quem é melhor. Naturalmente.

domingo, 24 de janeiro de 2010

O filme do nosso futebol

Há coisas que nunca mudam. Como a mais prolongada das novelas, onde tudo acontece de extraordinário e, afinal, já todos vimos aquela cena em algum lado. O temperamento de Sá Pinto é uma dessas coisas. Jogador impetuoso, viril até, jogando no limiar das regras, mas idolatrado pelos adeptos do Sporting. Representa a garra, o querer, a vontade de triunfar, o antes quebrar do que torcer, dar tudo na defesa do clube. Os adeptos sportinguistas queriam ver isso reflectido na equipa. Numa equipa que estava apática, sem capacidade de reacção, impotente no momento e sem horizontes futuros de sucesso. Sá Pinto entrou, representado uma nova era, um corte com o passado. Não foi uma escolha consensual, porém José Eduardo Bettencourt assim quis. Agora, cerca de setenta dias volvidos, sai pela porta pequena, após se ter envolvido em agressões com Liedson. Como é possível um director-desportivo se envolver em agressões com um jogador? Como é possível um jogador não acatar as ordens do director-desportivo? Sylvester Stallone tinha aqui um bom argumento para continuar a saga.

Outra das coisas que nunca há-de mudar é a polémica que envolve o futebol português. Ou melhor: nunca há-de acabar. Na mesma semana, falou-se das escutas do Apito Dourado (o YouTube com uma afluência tremenda!), passaram mais dias sem se saber qual será o castigo de Hulk e Sapunaru, apareceu um vídeo de conflitos no túnel da Luz (Benfica-FC Porto, época 2008-09) e, depois de tudo isso, soube-se que as imagens, afinal, não têm validade alguma. Nem para o sucedido nesta temporada, nem para o do ano transacto, nem para algo que possa vir a acontecer futuramente. Existem, provam a existência de escaramuças, mas não têm qualquer utilidade. Tal como as escutas. Há quem entenda? O futebol é jogado dentro de campo. Mas os bastidores insistem em ser protagonistas. E, assim, serão cada vez mais.

É natural, por isso, que o futebol seja relegado para segundo plano. Na prática, discute-se tudo e mais alguma coisa sobre futebol mas nada sobre a bola jogada dentro das quatro linhas. No meio de todo esse filme que é o futebol português, jogou-se a Taça de Portugal. Provou-se que não há vencedores antecipados, diga o que disser a teoria. No Restelo, o Belenenses-FC Porto prolongou-se por três horas e foi necessário recorrer a trinta grandes penalidades para se determinar o vencedor. Foram os portistas. O realizador da longa-metragem poderia ter sido, sem qualquer problema, o nosso Manoel de Oliveira. Em Alvalade, o Sporting jogou bem abaixo do que tem feito, conseguiu contudo chegar a uma goleada (4-1) e, de súbito, deixou-se adormecer. Venceu, à justa, por 4-3. O adversário era o Mafra, equipa do terceiro escalão do futebol nacional, nada o fazia prever. Nessa ponta final emergiu Zhang, um chinês autor de um hat-trick, Sá Pinto e Liedson, como já se disse, desentenderam-se por causa do segundo golo. Terminar bem ao jeito de Quentin Tarantino.

NOTA: Artigo feito para o blogue Negócios do Futebol, onde há pouco iniciei uma colaboração semanal

sábado, 23 de janeiro de 2010

Opinião: O motor deixa que se quebre a monotonia?



Vamos ver, jogo a jogo, procurando sempre a vitória, não querendo sair do conforto do primeiro lugar. A mensagem, mudando uma palavra aqui, abrindo os horizontes depois, nunca colocando a fasquia demasiado alta sob risco de o estrondo da queda ser maior, é passada pelo Sp.Braga. Nas mentes bracarenses, nos jogadores, em Domingos, em Salvador, nos adeptos, não há quem não pense: podemos ser campeões!. Ninguém o quer assumir, já se disse porquê. Por um lado, fazem bem: o carro minhoto é bom, regular, mas desconhece-se se terá motor que aguente o ritmo até final. Contudo, já que se fala em carros, quem se lembraria que Jenson Button poderia ser campeão mundial de Fórmula Um? Se o próprio piloto tivesse uma auto-estima insuperável, havia um crente.

Em qualquer competição, é saudável que apareçam novos protagonistas capazes de lutar pelos objectivos mais ambiciosos. Não devem ser sempre os mesmos a sorrir, é preciso que se apresentem candidatos sem receio de serem felizes. Ninguém lhes pede que mudem o planeta, apenas que contribuam para aumentar o interesse que algo desperta em nós. Há dominadores em tudo, senhores quase indestrutíveis, que não dão hipóteses a quem quiser fazer-lhes frente. Por isso, por parecerem intocáveis, os adversários desmoralizam. Há alguns anos, quem mais esperaríamos ver sorrir no final de um Tour de France, senão Lance Armstrong? Ou quem punha em causa o reinado de Michael Schumacher?

Deixando o aparte e voltando ao futebol português. Aqui, leitor, vive-se uma situação semelhante: os grandes dominam, têm os melhores jogadores, as atenções, as vitórias e os títulos. É bom que, por vezes, haja quem afaste a monotonia. Por mais que gostemos dos nossos clubes, queremos uma competição saudável e onde os clubes com menos recursos sejam capazes de jogar olhos nos olhos com os mais fortes, procurando a vitória, sem ter medo de arriscar, deixando na bagagem a obrigação de recorrer a estratégias defensivas. O futebol só tem a ganhar. O Sp.Braga merece, portanto, todos os elogios: é líder, pratica um futebol agradável e consistente, está cada vez mais acomodado ao lugar.

Pormenor deveras importante: não se pode justificar este primeiro lugar dos bracarenses com os percursos alheios. Nem se poderá argumentar com frases-feitas e sem sentido: o Sp.Braga é líder porque os adversários estão fracos. Nada disso, totalmente errado. Há quanto tempo não se via um Benfica ainda tão candidato nesta altura da temporada? Para responder, leitor, é necessário recuar uma boa série de anos. E o FC Porto está mal? Está, não há dúvidas, o futebol apresentado não deslumbra ninguém, a equipa abalou após o jogo na Luz, perdeu a capacidade de ser letal. Mas só tem menos um ponto do que no ano passado, liderava nessa altura. O argumento está destroçado, pois.

Pode até nem ganhar nada, é bem verdade que sim, até porque foi precocemente afastado da Liga Europa e da Taça da Liga, mas o Sp.Braga desta temporada merece ser levado em conta. Ainda não o é verdadeiramente, há-de ser. Ainda não está no grupo dos melhores, cá não temos big four, são apenas três. Ainda há o medo de assumir uma candidatura ao título. Já se disse que será necessário perceber, nesta segunda metade da temporada, a resistência da equipa. No entanto, o verdadeiro porquê da recusa dos bracarenses em falarem de ganhar o campeonato está na História: a tendência dominadora dos grandes, será assim facilmente posta em causa? A ousadia poderá custar caro.

Nas setenta e duas edições do campeonato português, só por duas vezes houve excepções a esta regra de que os grandes dominam: Belenenses e Boavista foram os autores da proeza. Para Braga, não só clube, esse é um aliciante, mas também um risco de viver um acontecimento isolado. Os bracarenses querem o campeonato. Mas há sempre o risco de morrer na praia, de quebrar. Ninguém quererá isso. Importa, sim, dar passos seguros para o futuro, para que esteja tudo preparado para o Sp.Braga chegar a um novo estatuto que já faz por o merecer há algumas temporadas. Mais importante do que tocar o céu e descer ao inferno, é conseguir escalar cada degrau. O Braguinha, esse, já ficou lá atrás.

Voltemos à metáfora inicial. Lembra-se, leitor? Falamos de carros, da resistência. Na memória ficou-me há muito marcada uma imagem. Ia Mika Häkkinen, o maior rival para a hegemonia de Schumacher, ao volante do seu McLaren-Mercedes na recta da meta quase em pré-festejo, quando, de súbito, o motor cede. O carro parou, simplesmente, impotente para fazer o que quer que fosse. Faltavam algumas centenas de metros, nada mais. O campeão alemão seguia atrás, venceu facilmente a corrida. Na campanha do Sp.Braga existe esse risco: ser ultrapassado em cima da meta. É a exigência para o sucesso. Preciso crença, muita vontade de triunfar e... esperar que o carro dê garantias.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Golpe na recuperação do Sporting?

A tranquilidade e o optimismo em relação ao futuro, por força das últimas partidas, bem jogadas e ganhas pela equipa, pareciam estar plenamente de regresso ao clube leonino. Cinco jogos sempre a vencer, um ambiente bem melhor comparativamente com o passado recente, reaparecimento da alma do Sporting. Tudo isto faz parte da recuperação que a equipa tem conseguido, algo indiscutível até ontem. A série de triunfos foi aumentada, depois de os leões terem eliminado o Mafra, equipa do terceiro escalão nacional, da Taça de Portugal, mas a prestação do Sporting, em relação com as partidas mais recentes, deixou muito a desejar - desconcetração incrível nos dez minutos finais. Por momentos, deu a ideia de que havia sido feito um retrocesso.

No entanto, tudo isso faz parte do jogo. O futebol tem altos e baixos. O Sporting está a recuperar, certo, mas ainda não totalmente bem e, por isso, mostra algumas debilidades que Carlos Carvalhal ainda não conseguiu combater. Paulatinamente, sem pressão e com total apoio dos adeptos, é esse o caminho a seguir. Quando tudo parecia indicar um futuro mais risonho e sereno, eis que o Sporting entra em verdadeiro estado de sítio: Sá Pinto e Liedson envolveram-se numa troca de palavras que culminou em agressões! As cenas lamentáveis, ocorridas logo após o término da partida de ontem, ditaram a demissão, por sua iniciativa, do director do futebol leonino. Liedson, no momento, está sob alçada disciplinar interna, suspenso e não deixará de ser multado.

Minuto oitenta e dois do Sporting-Mafra. A equipa leonina vencia por 4-1, vantagem mais do que confortável sobre um adversário claramente inferior. Rui Patrício recebe a bola, procura afastá-la para longe da área. O relvado trai o guarda-redes, o pontapé sai defeituoso, a bola vai ao encontro de Zhang, avançado chinês autor de um hat-trick, que cabeceia para o segundo golo do Mafra. De imediato, o público de Alvalade se uniu nos protestos, assobiando Patrício. Em defesa do colega, mostrando desagrado pelo que ouvia, Liedson manifestou-se insatisfeito com a reacção - o guarda-redes tem sido, refira-se, um importante suporte para a equipa. Sá Pinto não gostou da atitude do Levezinho, houve uma troca de palavras azeda. No balneário, chegaram a vias de facto.

Não há memória, no futebol profissional, de algo semelhante. São actos que irão, por certo, afectar o estado do grupo e poderão ter influência no rendimento da equipa - deve-se recordar, pois, que o Sporting está em plena recuperação de uma primeira metade de temporada decepcionante. O temperamento de Ricardo Sá Pinto é, porém, bem conhecido por todos. Mesmo não sendo consensual no cargo de director-desportivo, após a saída de Pedro Barbosa, o ex-jogador é um dos símbolos da garra e do querer que os sportinguistas pretendem ver na equipa. Na altura da debandada dos então responsáveis pelo futebol, José Eduardo Bettencourt, perante a apatia mostrada pela equipa, terá pretendido exactamente isso com a inclusão de Sá Pinto.

Idolatrado pelos adeptos, enquanto jogador, Sá Pinto sempre se caracterizou como sendo impetuoso e de nervos à flor da pele. A sua carreira de profissional ficará manchada pela agressão ao seleccionador nacional Artur Jorge, em 1997. Agora, a sua primeira experiência como dirigente termina de forma abrupta, mais uma vez negra, pouco condizente com as responsabilidades que o cargo lhe exigia. Para a equipa do Sporting, a estabilidade do grupo terá de ser bem salvaguardada, blindada - algo que só se perceberá com o passar do tempo, com o aparecimento de mais jogos. Para José Eduardo Bettencourt, um novo rombo: Sá Pinto foi uma aposta sua, visava marcar uma nova era após as demissões que se seguiram à saída de Paulo Bento.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Taça de Portugal: Emoções fortes

QUINTA ELIMINATÓRIA

Um estranho hábito de apenas despertar perante as adversidades. Este FC Porto tem sido assim, só empurra e domina o adversário depois de se sentir ameaçado. Após doze minutos enrolados, o Belenenses chegou ao golo - excelente visão de Lima - mas, somente um minuto volvido, Falcao fez com que tudo regressasse à fórmula inicial. Passados os golos, abanões na monotonia, tudo se manteve como até então. Apenas com duas mudanças, além de Tomás Costa na vaga de Fernando, com Beto e Valeri nos lugares de Helton e Belluschi, o futebol portista foi pouco incisivo junto à baliza contrária. Melhorou na segunda parte, certo, mas este dragão não está bem. Coloca-se demasiado à mercê dos rivais. Em cima do final, super-Lima voltou a deixar os portistas em sobressalto, contudo Rodríguez ainda teve tempo para empatar e levar o jogo para um tempo extra. E grandes penalidades, depois. Uma longa-metragem de quinze penaltis para cada lado, dois heróis nas balizas, Beto superior a Bruno Vale, vitória do FC Porto. A melhor parte do jogo, claro.

Almas gémeas, o início de jogo em Alvalade podia ser uma verdadeira fotocópia do que acontecera no Restelo. Doze minutos pouco clarividentes, golo do Sporting, num penalty de Matías Fernández, no décimo terceiro. A equipa mais forte em vantagem, nada de estranho. Mais dois minutos, empate do Mafra - golo de Zhang, euforia na equipa de Filipe Moreira. Semelhanças evidentes entre os dois jogos. Após o empate, mesmo não sendo muito pressionante, bem longe das exibições agradáveis das últimas partidas - embora apenas Polga, Matías e Vukcevic tenham entrado para os lugares de Tonel, Moutinho e Izmailov -, o Sporting, como equipa mais forte, conseguiu chegar aos golos. De forma natural, aproveitando fragilidades da equipa do Mafra, alcançou o 4-1 e Carvalhal aproveitou para ensaiar novas soluções. O final foi verdadeiramente inesperado: Zhang voltou a marcar por duas vezes, um com uma falha tremenda de Rui Patrício, o Sporting descontraiu em demasia.

Líder incontestável do campeonato, afastado da Taça da Liga, com esperanças legítimas de chegar longe na Taça de Portugal. Essa é, aliás, uma candidatura que nada custará a assumir aos responsáveis bracarenses: a ambição de estar no Jamor foi reforçada no início de temporada e, obviamente, não tem o mesmo peso nem a mesma pressão do campeonato. Em Freamunde, perante uma equipa do segundo escalão, sabedor das dificuldades que poderia ter pela frente, o Sp.Braga tremeu mas, no fim, acabou por imperar a lei do mais forte - vitória por 1-3. Tal como com a Naval, que, a custo, conseguiu ultrapassar o Aliados de Lordelo (0-1), equipa secundária que havia vencido, na ronda anterior, o Leixões.

Num duelo de primodivisionários, tal como nos quartos-de-final da temporada anterior, o Paços de Ferreira voltou a ser mais forte e alcançou a passagem ao eliminar, na Madeira, o Nacional (1-2). Na outra partida entre equipas do primeiro escalão do futebol profissional, Rio Ave e Vitória de Guimarães mantiveram a emoção até à decisão por grandes penalidades: na lotaria, os vila-condenses foram mais eficazes, sustentados por duas defesas de Mora, e confirmaram a presença nos quartos-de-final. Resta referir ainda que também o Pinhalnovense, após derrotar o Camacha, por 1-0, está na próxima fase da Taça de Portugal. Chaves e Beira-Mar jogarão ainda, no próximo domingo, a última partida da quinta eliminatória.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Entrevista aberta a Pedro Sousa - em breve as respostas



Quando o assunto é o jornalismo desportivo, particularmente em termos radiofónicos, Pedro Sousa é um dos nomes que mais facilmente associamos: sobretudo pelos seus relatos na Rádio Renascença, onde também edita o programa Bola Branca. Além disso, também pelas narrações de partidas de futebol internacional na Sport TV e ainda por ser a voz dos comentários do novo Pro Evolution Soccer, um dos mais famosos simuladores de futebol. Nove leitores do FUTEBOLÊS aproveitaram a oportunidade para entrevistar um dos mais conceituados jornalistas português. Muito brevemente, pode ler as respostas de Pedro Sousa. Fique atento!

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O atraso no salto de Rúben Micael

Pinto da Costa garantira que a reabertura do mercado nada traria de novo ao FC Porto. O plantel, segundo o presidente, dava todas as garantias de sucesso. No entanto, apesar da afirmação, ficaou bem patentes a existência de lacunas, sobretudo na construção de lances ofensivos, que necessitavam de ser corrigidas. Percebeu-se que seria apenas uma questão de tempo até os dragões investirem. Com a manutenção desses mesmos problemas, com as dificuldades que a equipa continua a demonstrar no recomeço após a paragem, tornou-se imperativo recorrer ao mercado: Rúben Micael, jogador revelação do campeonato anterior, há muito deixado de ser surpresa, agora garantia de qualidade, chega ao Dragão.

Por tudo aquilo que fez na temporada passada, a elevada importância que teve na caminhada da equipa madeirense, Rúben Micael tornou-se um alvo apetecível, não só para os grandes portugueses como para clubes estrangeiros. A sua transferência poderia ter ocorrido no Verão, chega agora com seis meses de atraso. Mas cada vez mais justificada. Para o jogador é um salto enorme na sua carreira e na valorização pessoal, para o FC Porto a entrada de um médio criativo e com a visão de jogo que a equipa tem precisado - essa é, de facto, a maior debilidade que os portistas vão demonstrando. A equipa sente demasiado a falta de quem assuma o futebol atacante. Até porque Belluschi é, acima de tudo, irregular.

Dois milhões de euros abaixo do pretendido por Rui Alves, presidente do Nacional, que não tencionava deixar sair o médio madeirense por menos de cinco milhões, Rúben Micael chega ao FC Porto por quatro temporadas e tem uma cláusula de trinta milhões de euros (o mesmo valor que, por exemplo, protege Bruno Alves). Percebe-se, por isso, que, para além procurar colmatar uma lacuna importante e conferir mais opções a Jesualdo Ferreira no actual momento, esta é uma aposta para o futuro. Em teoria, a contratação do médio português faz, portanto, todo o sentido. Daqui para a frente, restará perceber como será a adaptação de Rúben Micael e, sobretudo, os resultados que poderão advir do negócio.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Liga Sagres: Estabilidade, crescimento e o tropeção azul

ANÁLISE

Início da segunda volta, começo da fase decisiva do campeonato. Proibição de qualquer erro. De quem está no topo, primeiramente, mas também de quem pretende escalar até lá chegar. O FC Porto, no entanto, tropeçou: em casa, ante o Paços de Ferreira, a equipa portista apenas reagiu quando se viu em desvantagem. Está, por isso, numa espécie de ilha: seis pontos separam os dragões do primeiro lugar, seis pontos separam o Sporting (quarto classificado) do FC Porto. O Sp.Braga passou com distinção em Coimbra, o Benfica goleou a bel-prazer nos Barreiros (duas expulsões, um autogolo e vários equívocos numa noite de pesadelo dos madeirenses). Mantêm-se lado a lado. Atrás, em crescendo, o Sporting superou o Nacional.


Um líder que não vacila. Cada jogo, para o Sp.Braga, é um teste à resistência. Só assim se poderá perceber até onde irá a equipa minhota. Para já, na jornada inicial da segunda volta, nada foi diferente: os bracarenses ganharam, em Coimbra, frente a uma Académica imaculada em casa desde que André Villas Boas assumiu o comando da equipa. Num jogo equilibrado, disputado, o Sp.Braga foi eficaz. Colocou-se em vantagem, numa grande penalidade de Meyong, e soube estruturar-se para responder da melhor forma à natural reacção da Académica. No final, o golpe de misericórdia. Já com Licá na baliza, um avançado transformado em guarda-redes pela expulsão de Nereu, um livre de Matheus aprimorou o resultado.

Uma verdadeira degola dos inocentes, aplicada pelo Benfica ao Marítimo. Se há jogos em que nada parece correr bem, para a equipa de Van der Gaag este foi um deles. Os madeirenses começaram por cima, com um remate ao poste, criando lances de ataque. As dificuldades iniciais que o Benfica sentiu ficaram, contudo, desfeitas quando, aos 29 minutos, Saviola marcou. Depois, num ápice, Olberdam viu o cartão vermelho, os encarnados aumentaram. O jogo terminou aí, precocemente: que argumentos poderia ter um Marítimo reduzido a dez e com dois golos de desvantagem? Ainda antes do intervalo, Robson cometeu penalty, foi expulso, três-zero por Cardozo. O Benfica baixou o ritmo, contudo ainda chegou aos cinco.


Um escorregão inesperado. Não sendo líder, ocupar o terceiro lugar e ter quatro pontos de atraso para o topo dá ao FC Porto a obrigação de não ceder, para que possa apertar o cerco aos rivais. No primeiro jogo da segunda volta, na recepção ao Paços de Ferreira, o FC Porto não fez mais do que... marcar passo. É certo que foi superior, mas o alarme dos dragões apenas despertou quando a equipa pacence se colocou em vantagem (83', por Maykon). Empataria, três minutos passados, por Falcao (com a mão?). No pouco tempo que restava, então, o FC Porto fez pela vida, criou diversas oportunidades para conseguir um golo vitorioso mas, para além de algum desacerto, esbarrou numa extraordinária exibição de Cássio.


Um Sporting confiante, fortalecido e com a resolução infalível de Liedson. Em Alvalade, frente ao Nacional, um bom opositor, os leões concluíram uma série de cinco triunfos e um registo cem por cento vitorioso em 2010. Foi, todavia, o Nacional, embora não tenha feito muito para tal, que marcou primeiro (24'). A resposta do Sporting não se deixou esperar, Miguel Veloso anulou, no minuto seguinte, o golo de Ruben Micael. O empate manteve-se, então, até à hora de jogo. Até aparecer Liedson: dois minutos em campo, um golo. E marcaria ainda outro. Para a tranquilidade. Aparente, apenas, pois o Nacional ainda reduziu e trouxe emoção à ponta final. Inesperadamente, os madeirenses cresceram, o Sporting tremeu. Mas guardou a vitória.

Destaque, nesta jornada, para a vitória do Olhanense, a segunda no campeonato, sobre a Naval (1-0), que permite aos algarvios ascenderem a uma posição mais desafogada na classificação. Também o Leixões conseguiu, por força de uma vitória clara sobre o Belenenses (1-3), agora último classificado, sair dos lugares de descida. Em sentido inverso, o Vitória de Setúbal, mesmo tendo pontuado em Guimarães num empate a dois, caiu para o penúltimo lugar. Voltando aos lugares cimeiros, o União de Leiria ascendeu ao sexto lugar após ter vencido o Rio Ave (0-2) e está somente a um ponto do Nacional. A equipa leiriense, que garantiu a subida na temporada passada, tem sido um dos destaques mais positivos.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Sporting mudado para melhor

É uma evidência: o actual Sporting está muitíssimo acima do que se apresentou na primeira parte da época. A então equipa de Paulo Bento mostrava-se demasiado presa a rotinas antigas, era previsível, incapaz de assumir a superioridade no jogo e frágil perante as adversidades. Para além dos problemas evidentes de resultados e exibições, escasseavam as soluções para mudar o futuro. Paulo Bento ficou sem espaço, sem recursos para fazer melhor, o seu ciclo esgotou-se. Dali, estava visto, nada de bom sairia. Chegou Carlos Carvalhal: os adeptos leoninos foram unânimes em torcer o nariz à contratação. Agora, todavia, a equipa de Carvalhal mostra um futebol agradável, com passe curto, dinâmico e, mais importante do que isso, vencedor.

O Sporting leva cinco vitórias consecutivas - frente a Sp.Braga e União de Leiria, para a Taça da Liga, que se juntam aos triunfos sobre Naval, Leixões e Nacional -, algo inédito desde 2006-07, com uma série imaculada de quatro jogos neste novo ano civil. Facilmente se depreende que os jogadores recuperaram a confiança necessária. E isso é, simultaneamente, uma causa e uma consequência desta recuperação que a equipa leonina tem feito. Nesse ciclo ascendente, como o próprio gosta de descrever, Carlos Carvalhal tem o seu mérito. Afinal, está a cumprir aquilo a que se propôs, isto é, foi capaz de devolver a alma e o estatuto ao Sporting. Entrado numa fase tão complicada para o clube, era exactamente o que pedia ao novo treinador.

Depois de algumas tentativas falhadas, próprias de quem tem uma tarefa complicada em mãos, o 4x1x3x2 de Carvalhal está cada vez mais estabilizado. E resulta, sobretudo. Com Tonel no lugar de Polga, com Adrien como pivô defensivo e com um trio de apoio ao duo atacante, o Sporting ganha coesão e ligação - é de estranhar, contudo, que Matías Fernández tenha perdido espaço na equipa. Nesta nova fase dos leões, há a destacar ainda a subida de rendimento de Miguel Veloso e a contratação acertada de João Pereira, importante defensiva e ofensivamente. Não se pretende dizer, no entanto, que tudo esteja bem neste Sporting. Ainda existem falhas que precisam de ser corrigidas. Mas este Sporting melhora a olhos vistos.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Um dragão intermitente

Chegou o FC Porto ao fim da primeira volta com um saldo de dez vitórias, dois empates e três derrotas. Trinta e dois pontos somados no total. Um a mais do que em igual período da temporada transacta, portanto. Porém, se em 2009 os dragões lideravam, agora estão em terceiro e com menos quatro pontos do que o líder. Esse é, obviamente, um sinal claro de como os adversários estão mais bem preparados. No entanto, para além da frieza dos números favorável aos dragões, é necessário olhar à forma como a equipa se apresenta. Aí, o FC Porto de 2009-10 é inferior ao de 2008-09. A esta equipa falta magia, por vezes capacidade de descompensar as defesas contrárias, parece menos talhada para ser dominadora. E consistente, acima de tudo.

Nas equipas de Jesualdo Ferreira é habitual que exista uma evolução positiva ao longo da temporada e, por isso, sejam alcançandos aos objectivos propostos. Poderá ser essa uma imagem de marca do treinador, algo que também está bem patente no FC Porto. Voltando à comparação com a última época: os portistas tiveram dificuldades no começo, conseguiram suplantá-las, ascender paulatinamente na classificação e, então, chegar a um título incontestável. A partir de 1 de Novembro de 2008, data da derrota na Figueira da Foz, já depois de ter caído perante o Leixões, o FC Porto não mais vacilou. Eram visíveis, a cada jogo, melhorias na equipa.
No presente, os portistas também arrancaram de forma intermitente. Recuperaram. Não totalmente, contudo. Os problemas regressaram.

A melhor fase da temporada do FC Porto surgiu após uma derrota frente ao Marítimo. Tal como em 2008-09. Entre Novembro e Dezembro, os portistas somaram três vitórias consecutivas para o campeonato - com boas exibições ante Rio Ave, Vitória de Guimarães e Vitória de Setúbal - e uma prova categórica em Madrid, com o Atlético. Parecia ser a pedra de toque para a ascenção portista. Todavia, o clássico com o Benfica, a fechar o ano, trouxe talvez o pior FC Porto da época. Depois da retoma, quando se esperava que fosse absoluta, uma recaída. Para fechar a primeira volta, de novo uma vitória: ante a União de Leiria, inteiramente justa, embora com grande dose de sofrimento à mistura. Importava, por isso, partir para a segunda metade do campeonato da melhor forma.

Era o objectivo dos portistas, jogando em casa, frente ao Paços de Ferreira. Que culminou em empate e distância para o topo em risco de poder ser aumentada (os rivais jogam amanhã). Os males do FC Porto são antigos, bem conhecidos, prendem-se essencialmente com a deficiência que a equipa demonstra em construir jogo, em se sobrepor ao adversário no momento de decidir, em ter rasgos de talento. Frente ao Paços, foi preciso um golo contrário para a equipa acordar verdadeiramente. Em desvantagem, com doze minutos pela frente, contabilizando os descontos, os portistas fizeram mais do que em todo o tempo jogado. Deu um golo, foi tarde. A Lei de Murphy ganhou destaque: grande exibição de Cássio, perdidas incríveis, um golo mal anulado. Tudo junto explica o resultado.


Um dos habiuais ou uma surpresa no final da maratona?

Carlos Queiroz repetiu inúmeras vezes, na fase em que a selecção portuguesa se encontrava com pé e meio fora da África do Sul, que o apuramento era como uma maratona, uma tarefa difícil e longa, nunca uma corrida ao sprint. Não importava ser mais rápido do que todos na partida, o objectivo era terminar à frente dos rivais, consagrado como o mais regular e mais consistente. Num campeonato, a situação é igual: o campeão não é necessariamente a equipa mais brilhante, a que mais convence, mas antes a que consegue manter um rendimento rectilíneo e uniforme, sem grandes oscilações, com mais pontos conquistados do que a concorrência. Em Portugal, o FC Porto tem feito valer essas armas para se impor. Nesta fase, exactamente a meio da maratona, importa olhar aos participantes. Quem será consagrado com o ouro?

Tradicionalmente, os candidatos a vencer o título de campeão português são FC Porto, Sporting e Benfica. Por esta ordem no passado recente, pois os portistas têm demonstrado uma hegemonia quase inquebrável que leva cerca de duas décadas e meia, apenas posta em causa no início do novo milénio. No entanto, desde sempre que é aos grandes que está destinado o trono, a glória e a altivez de campeão nacional: são as equipas que contam com orçamentos mais elevados, o que lhes concede maiores recursos e os coloca na linha da frente para serem bem sucedidos internamente e, por via disso, os principais representantes do país na Europa. Num total de setenta e duas edições, apenas em duas temporadas o título escapou aos grandes: em 1946 ficou com o Belenenses, em 2001 no Boavistão de Jaime Pacheco.

Chegados a esta fase do campeonato, temos três equipas com condições de lutar pelo título. O FC Porto e o Benfica estão lá: um na defesa do estatuto de tetracampeão e com os olhos num horizonte de voltar a chegar ao pentacampeonato, o outro melhor do que no ano do último título (2005) e com esperanças perfeitamente legítimas de demonstrar o seu valor. Falta o Sporting para completar o lote de grandes. De grandes, sim, mas não de candidatos: os leões tiveram uma primeira metade de época negra, para esquecer, estão em recuperação contínua, mas demasiado longe do objectivo-título (doze pontos separam os leões da liderança). O outro candidato é o Sp.Braga. O líder, a confirmação de um crescimento sustentado. Os bracarenses terminam no topo, dobram o ano em primeiro. Por isso, evidentemente, estão no grupo de possíveis campeões.

Seria, aliás, justo reconhecer o Sp.Braga como o mais sério candidato ao título. É também arriscado, no entanto. Desconhece-se a resistência que esta equipa minhota terá. Regularidade é, já se sabe, a palavra-chave. Porém, para não elevar em demasia a fasquia, em Braga ninguém assume a luta pelo título - jogo a jogo se verá. Logo atrás, em igualdade pontual, está um Benfica desejoso de voltar ao sucesso de outrora, posicionado na linha da frente, com esperanças reais e nada de utopias. Segue-se-lhe, numa posição estranha por não ser primeiro (desde 2003 que assim não era), o FC Porto. Em terceiro, com quatro pontos de atraso, perante dois concorrentes de valor - embora exista claramente uma marcação entre benfiquistas e portistas, com o Sp.Braga como outsider. O melhor elogio aos rivais: os dragões até têm mais um ponto do que em 2008-09.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Taça da Liga: jornada dois

O FC Porto, é bem sabido, pouco aposta na Taça da Liga. Por isso, mas também para promover a gestão do plantel tendo em vista as competições prioritárias, Jesualdo Ferreira promoveu uma verdadeira revolução, um pouco à imagem do que já havia acontecido frente ao Leixões: dos habituais titulares, só Fucile, trocando a direita pela esquerda da defesa portista, se manteve na equipa principal. Nada de emoção, pouca qualidade, enfim, quase nenhum foco de interesse. Em Coimbra, foi assim. Em caso de vitória, qualquer das equipas ficava automaticamente apurada para a fase seguinte da competição, porém nem isso foi verdadeiramente aliciante. A Académica mostrou maior andamento, o FC Porto melhorou na ponta final. O nulo serve-lhes como uma luva. As decisões ficam para a última jornada - com Estoril e Leixões também incluídos.

Para o campeonato, logo à segunda jornada, o Benfica levou a melhor em Guimarães; o Vitória vingou-se, em Novembro, na Luz, quando eliminou os encarnados da Taça de Portugal. Este era, então, um tira-teimas. De um lado e do outro, tanto Jorge Jesus como Paulo Sérgio, aproveitaram a partida para lançarem jogadores com menos minutos - destaque, nos encarnados, para a estreia de Éder Luís. Debaixo de um verdadeiro dilúvio, com um relvado quase impraticável, seria utópico pedir um bom espectáculo. O jogo, apesar das adversidades, teve um bom ritmo. O Vitória foi quem melhor se adaptou às condições do terreno, conseguiu criar lances de perigo e, sobretudo, alcançou a vantagem num golo de Douglas, oportuno após um erro de Maxi Pereira. Com um futebol menos técnico e bem mais prático, o Benfica fez por chegar à igualdade - marcou Coentrão. Um jogo de lotaria.

Carlos Carvalhal prometera colocar em campo os melhores jogadores frente à União de Leiria (uma equipa que, para o campeonato, derrotou pela primeira vez o novo técnico leonino). Nem seria benéfico, para uma equipa que está em franca recuperação do tempo perdido, largar a estrutura habitual. O Leiria-Sporting, apesar das poucas condições do relvado, foi um bom jogo: lances de futebol ofensivo, oportunidades para marcar, guarda-redes em acção. Por João Pereira, na sua segunda partida pelos leões, e por Miguel Veloso, de novo em bom plano. O União de Leiria respondeu, obrigou Rui Patrício a intervir e conseguiu reduzir o resultado - o Sporting, diga-se, sentiu alguns calafrios. O Sporting leva três vitórias noutros tantos jogos no novo ano: está bem melhor, não resta dúvida.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Uma estrutura necessária aos árbitros

Primeira escolha de Hermínio Loureiro para liderar a Comissão de Arbitragem da Liga, Vítor Pereira está longe de ser uma figura consensual entre os responsáveis dos clubes nacionais. Poder-se-á dizer que Pereira teve tanto de categorizado árbitro, como tem agora de controverso dirigente. O seu percurso, desde 2007, vem sendo marcado por inúmeras polémicas. Paulo Bento, enquanto treinador do Sporting, foi talvez o maior responsável pelas críticas que, num passado mais recente, a arbitragem portuguesa e, como seu líder, Vítor Pereira sofreram - os leões abandonaram, inclusivamente, a direcção da Liga. No entanto, a presidência do ex-árbitro internacional não se fica pelo exterior: Vítor Pereira tem motivado críticas internas.

Num desporto tão discutido e, sobretudo, tão sujeito ao erro quanto é o futebol, os árbitros tornam-se num foco de interesse. Em Portugal, já se sabe, desde sempre que é assim. Importa, então, que a arbitragem esteja sustentada por uma estrutura forte, um escudo, uma protecção que coloque os árbitros acima das críticas. Tal como acontece num clube, onde é ao treinador ou, em casos mais graves, aos dirigentes que cabe o papel de assumir as culpas por um eventual mau momento. Só assim, sendo isolados das pressões externas, os árbitros poderiam ter todas as condições para fazerem o seu trabalho de forma mais positiva. Esse é, leitor, um dos principais factores da instabilidade da nossa arbitragem: faltam os alicerces.

Sem que se tenha chegado ainda à profissionalização, é à Comissão de Arbitragem que cabe essa função de dar o peito às balas. Contudo, não é isso que acontece. Vítor Pereira tem, para além de algumas nomeações algo desaconselháveis, estado mal neste campo. O líder de uma equipa não pode, em momento algum, ao invés de fortalecer, contribuir para melindrar o seu grupo. Nos árbitros, o impacto é bem maior do que em qualquer clube. As críticas aos árbitros fazem sentido? Sim. Vítor Pereira assume-o, precisa de encontrar soluções. É impensável, porém, que deixe suspeitas sobre quem dirige: "houve desempenhos que não cumpriram com a missão de garantir imparcialidade no jogo". O mal começa aí: internamente.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Liga Sagres: Sp.Braga, Benfica e FC Porto na rota do título

ANÁLISE

O Sp.Braga continua na liderança. Entrou no jogo e no ano a ganhar. Os rivais perseguem, bem cientes da qualidade dos bracarenses, sabendo que um deslize ser-lhes-á fatal nesta fase. Tiveram que sofrer, porém, para vencer: o Benfica perante uma teia bem montada pelo Rio Ave, o FC Porto devido à acção da União de Leiria mas mais por incapacidade de dar o golpe final, o Sporting cria oportunidades mas desperdiça inúmeras e foi obrigado a pressionar até final. A dupla da frente, Sp.Braga e Benfica, mantém-se intacta. No Dragão, está um FC Porto que continua atrás do trono perdido. O Sporting recupera a olhos vistos.

O jogo frente ao Nacional, adversário bem cotado para as posições europeias, era complicado, sem dúvida, mas perfeito para demonstrar que em Braga pode morar, afinal, uma equipa empenhada em levar a candidatura do título até final. Não que alguém o assuma. Pelo contrário, o objectivo dos bracarenses passa por vencer cada jogo, sem ter medo de defraudar os adeptos após ter elevado demasiado a fasquia, pés bem assentes na terra na procura do sonho, amealhando todos pontos. As jornadas acumulam-se, o Sp.Braga continua líder, há muito sem ser supresa, cada vez mais levado a sério. A segunda etapa do campeonato será, por isso, um teste à resistência minhota.

Começou por ser demolidor e sufocante para os adversários, espectacular e um regalo para a vista dos espectadores. O Benfica começou a temporada em alta, com a confiança no título mais forte do que nunca nos últimos cinco anos, empolgando todos à sua volta. À medida que o campeonato se foi desenrolando, naturalmente se percebeu que a onda de goleadas e brilhantismo não poderia ser uma constante. A equipa encarnada, agora, está diferente: mais madura, mais pragmática, bem ao colocar o jogo conforme as suas pretensões, mortífera quando assim tem que ser. Este Benfica sabe sofrer, também. E tem Saviola. El Conejo voltou a letal em Vila do Conde.

Inusual aos portistas chegaram a esta fase no terceiro posto e com um atraso de quatro pontos para o primeiro lugar. O FC Porto teve, durante os catorze jogos disputados até à interrupção do campeonato, um percurso intermitente, ainda à procura da melhor forma. Importava, então, começar o novo ano na mó de cima. Este é, contudo, um FC Porto instável: por vezes mostra um nível alto, joga bem, logo a seguir treme e coloca-se à mercê do adversário. Foi a imagem do jogo com a União de Leiria. Chegou ao três-dois, após ter permitido dois empates. Minuto 93, penalty para os leirienses. Helton, vilão no primeiro golo, transformou-se em herói. É preciso ser masoquista?

Para o Sporting, o ideal era que o campeonato apenas agora se iniciasse. Fosse esquecido o que se jogou até aqui, a primeira metade de temporada verdadeiramente decepcionante, todos os problemas que a equipa viveu. E continua a viver, é verdade, mas está bem melhor do que há algum tempo atrás. A cada jogo, o Sporting elimina o pessimismo que se abateu sobre a equipa, apresenta-se melhor, mais dinâmico e confiante. Continua, no entanto, demasiado perdulário, pois, embora tenha esbarrado num super-Diego na baliza contrária, houve um desacerto enorme na finalização. Teve, por isso, que sofrer até final. Até Tonel elevar-se, garantir a vitória e o quarto lugar. Justamente.

Nos jogo entre candidatos a ocupar lugares de acesso à Europa, o Vitória de Guimarães confirmou o bom período que atravessa e derrotou o Marítimo, que, ao comando de Van der Gaag, somou a sua terceira derrota consecutiva. A Académica venceu a Naval, no derby do Centro, e tem todas as condições para conseguir um campeonato tranquilo na segunda volta - depois de um início bem complicado. Nos lugares mais baixos da classificação, Olhanense empatou com o Paços de Ferreira, conseguindo sair das posições de descida, enquanto Belenenses (no jogo de estreia de António Conceição) também empatou ante o Vitória de Setúbal.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O jogo acaba no último apito, não é?

É somente quando se escuta o apito final que um jogo deve ser dado por terminado. Até aí, as equipas terão de manter a concentração e o ritmo. Só depois, quando o tempo estiver esgotado, a missão está cumprida. Estará, por esta altura, o leitor a pensar que se trata de um princípio básico. Quantas são, porém, as equipas que enrolam a bandeira e, mesmo ainda dispondo de tempo para o fazer, não acreditam ser possível mudar o rumo dos acontecimentos? A teoria vale para quem está em desvantagem, mas também para quem está por cima e pensa ter a vitória consumada. Em futebol, para um resultado ser invertido, é preciso pouco. Basta um golpe de sorte, um azar do adversário, um erro do árbitro. O jogo acaba com o apito final, nunca com o resultado.

Começou, ontem, a Taça das Nações Africanas. Manchada pelo ataque à comitiva de Togo, em vésperas de se iniciar a competição, é nos relvados angolanos que deverão estar centradas as atenções, procurando ver o que há para oferecer. Angola e Mali disputaram o jogo de abertura. E, pelo prenúncio, pode-se esperar algo de bem positivo. A selecção anfitriã, comandada pelo português Manuel José, chegou ao minuto 78 com quatro golos de vantagem. Partida resolvida, portanto. Se o leitor assim pensa, é porque se insere no lote que não espera pelo apito final. No tempo que restava, o Mali reduziu, atenuou a derrota, ameaçou os angolanos, empatou. Incrível, louco, verdadeiramente épico. Manuel José, claro, disparou contra os seus jogadores. Relaxar em alta competição é proibido.

Ainda se jogava a abertura da CAN, enquanto, no Dragão, FC Porto e União de Leiria recomeçavam o campeonato para encerrar a primeira volta. Já o Mali havia espantado meio mundo, estava o FC Porto pela terceira vez em vantagem. Justificada mas tremida: por duas vezes havia marcado, com chances para engordar o resultado, em ambas vira os leirienses chegarem ao empate. Agora, o cronómetro já alcançara os noventa minutos, os portistas esperavam pelo final, gerindo um golo de avanço perante um adversário com menos um elemento. Três minutos depois da hora, Fernando comete falta dentro da área. O Dragão fica em suspenso, quedo, mudo. Helton agiganta-se, impede Ronny de marcar. O Dragão respira, por fim. A vitória ficou garantida com o último apito. Nunca antes.

Um primeiro classificado que defronte em casa o último, à partida, tem todas as condições para um jogo tranquilo. Certo? Nem sempre. Inter de Milão e Siena, extremos da classificação do campeonato italiano, frente a frente no Giuseppe Meazza. O último marca no casa do primeiro, Maccarone bate Júlio César. Responde o Inter, vira o resultado. O Siena, sem nada a perder, volta a colocar o jogo a seu favor. Papéis trocados, então, a teoria fica de fora. Ao minuto 89, Sneijder empata. Mourinho deixa os festejos, quer mais, quer a vitória, ainda há tempo. Walter Samuel, limite do fora-de-jogo, bola no pé esquerdo, golo. Tudo virado outra vez, o primeiro superior ao último. Tão curto espaço temporal, tamanha diferença no jogo. Agora sim, Mourinho festejou. Como se ganhasse o campeonato.

domingo, 10 de janeiro de 2010

A estrela que acompanha Mourinho

No futebol, como em tudo, há quem viva num mar de rosas e quem tenha uma carreira recheada de azar. Há treinadores com sorte, há outros que parece que tudo de mau lhes acontece - olhe-se para José Peseiro para personificar este último grupo. Depois há José Mourinho. É um caso à parte. Mourinho tem o talento e a mestria de ser um dos melhores do planeta. Isso, por vezes, pode não chegar para ganhar. Mourinho tem também a felicidade que falta a tantos, tudo junto num só, uma verdadeira estrela de campeão que o acompanha para onde quer que vá e que só pareceu abandoná-lo quando o Chelsea, na sua última época em Inglaterra, foi devastado por lesões. Só aí lhe faltou. No mais, o treinador sai por cima.

Dar um título de campeão a um clube cinquenta anos depois é um motivo de grande força para ficar na História. Foi isso que José Mourinho fez no Chelsea, além de que devolveu a grandeza europeia aos blues, deixando-os bem cotados na Europa. Por isso, os adeptos lhe estarão eternamente agradecidos. Em Itália, porém, é sabido que tem sido diferente - Mourinho foi contratado, declaradamente, para vencer a Liga dos Campeões. Algo que pessoalmente alcançou "apenas" no FC Porto, em 2004, e que o Inter há muito ambiciona (venceu a então Taça dos Campeões Europeus, em 1964 e 1965) e Mancini, apesar de tricampeão, não fora capaz. Mourinho ganhou o tetra, o Inter não teve recursos para a Champions.

Este Inter parece ter mais probabilidades de perder do que acontecia com o Chelsea ou com o FC Porto, equipas quase invencíveis nos seus campeonatos. É justo dizer que não convence. Por isso se critica. Mas é assim que se joga em Itália, Il Speciale teve de se adaptar ao estilo, joga também nos bastidores e dispara contra todos. Mourinho continua a levar a melhor, invarivelmente. Pensa em ganhar: com talento, crença, garra e estrelinha. A estrela de campeão. Ontem, frente ao Siena, último classificado, a derrota esteve a um palmo. O Inter perdia, a três minutos dos noventa. Venceu por 4-3. Mourinho festejou como se ganhasse o campeonato. Deve ter percebido: esta estrelinha suporta tudo.

Mais um teste resolvido pela mestria de Saviola

O Benfica recomeçou o campeonato da mesma forma que o tinha interrompido. Fechou o ano com uma vitória categórica sobre o FC Porto, encerrou agora a primeira volta depois de levar de vencida o Rio Ave. Em ambos o triunfos, também com a partida frente ao Nacional, para a Taça da Liga, pelo meio, o factor decisivo esteve no mesmo sítio: na classe de Saviola, um talento que vale pontos ao Benfica, que está sempre no sítio certo, oportuno e matreiro, pronto para elevar a crença dos adeptos benfiquistas no título. El Conejo chegou como suplente do Real Madrid, com a desconfiança legítima sobre a sua actual forma. Contabilizando todas as competições, são dezasseis golos marcados, seis jogos seguidos a marcar, três vitórias tangenciais com a sua assinatura. Que mais se lhe pode pedir?

Em Vila do Conde, naquela que Jorge Jesus considerou como sendo a deslocação mais complicada para o Benfica, a primeira parte não correu bem aos encarnados. A equipa não teve ideias nem encontrou espaços para descompensar um Rio Ave extremamente bem organizado, jogando de igual para igual, procurando fazer jus à extraordinária campanha que tem conseguido. É justo reconhecer, por isso, que o apagão encarnado no primeiro tempo se ficou a dever à excelente acção dos vila condenses, sempre certos nas marcações, sempre em rédea curta. Este Benfica não está demolidor e deslumbrante como outrora, mas sabe encarar os adversários, é inteligente a gerir os esforços e letal nos momentos cruciais. O jogo com o Rio Ave comprovou-o.

Entrar forte, marcar cedo. Para uma equipa que não estivera bem no primeiro tempo, que não encontrava forma de desmontar a estratégia contrária, importava marcar o quanto antes, impedindo que o nulo se prolongasse. Foi esse o espírito encarado pelo Benfica, embutido por Jorge Jesus, a equipa entrou literalmente a ganhar. Com um golo, o tal que viria a ser decisivo, de Saviola. Estavam jogados dois minutos, o rumo mudou, o Rio Ave foi obrigado a abrir mão da teia montada e o Benfica, forte quando está em vantagem no resultado, superiorizou-se e partiu para uma exibição controladora. Enfim, justificou plenamente a vitória. Uma vitória fundamental, difícil mas consistente, para manter a equipa no topo.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Sp.Braga: ano velho, a mesma tendência

Depois da derrota, a meio da semana, em Alvalade, para a Taça da Liga, importava perceber como se comportaria a equipa do Sp.Braga no recomeço do campeonato. Não que perder com o Sporting, um grande que corre em busca da recuperação, seja motivo para alarme, nada disso, mas os bracarenses começaram o novo ano em falso. No entanto, é após a pausa natalícia que o campeonato entrará na sua segunda metade, a face das decisões, onde é necessário que o Sp.Braga confirme que quer mesmo alcançar um brilharete no final da temporada. Um campeão tem que ser, acima de tudo, regular. Até aqui os bracarenses são um exemplo - por vezes brilhante, outras com sofrimento, é certo. Agora, após ter dobrado o ano na liderança, há que desvendar a incógnita: o Sp.Braga levará a liderança até ao fim ou irá quebrar o seu rendimento?

A resposta à questão todos querem saber mas ninguém pode ainda arriscar qualquer palpite. Só o tempo a poderá desvendar, dependendo também daquilo que farão os rivais. Para já, porém, no que toca ao Sp.Braga está tudo como antes. Frente ao Nacional, difícil adversário, responderam os bracarenses fazendo jus ao estatuto que já conquistaram por mérito próprio: excelente exibição, três pontos assegurados. A base da vitória, clara e categórica, esteve em marcar cedo: minuto dois, cruzamento de Mossoró e desvio de Vandinho. Dois símbolos, um mágico e o capitão que personifica a imagem guerreira. André Leone, outro dos exemplos da coesão deste Sp.Braga, aumentou após uma boa jogada de Filipe Oliveira (bom plano do substituto de João Pereira). Ano novo, duas estreias a marcar. O líder está bem e recomenda-se.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

O regresso ao blackout

O FC Porto emitiu, no decorrer da semana, um comunicado onde alerta que nenhum elemento do plantel prestará declarações na presença de jornalistas do diário desportivo A BOLA. A decisão radical tem ainda a sua origem no clássico frente ao Benfica: na sua edição de terceira-feira, A BOLA escreveu, na sua manchete, que, para além de Hulk e Sapunaru, jogadores suspensos preventivamente até que seja apurado o que realmente aconteceu no túnel da Luz, também Helton, Rodríguez e Fucile poderiam ficar em situação delicada após o visionamento dos vídeos das câmaras de vigilância. O jornal escreveu a notícia, os jogadores sentiram-se atacados. O FC Porto volta, assim, a recorrer a um blackout.

Os adeptos portistas, por certo quase na sua totalidade, apoiam a decisão que o plantel tomou - aliás, até dirão que foi tardia. As relações entre o jornal, sempre conotado com o Benfica, e o FC Porto não são, desde há vários anos, as mais pacíficas e, por isso, o impedimento aos jornalistas d'A BOLA não causa surpresa. Hoje, na conferência de antevisão ao jogo com a União de Leiria, Jesualdo Ferreira mostrou-se "solidário" com os jogadores e, como estava presente uma equipa de reportagem do jornal, apenas esteve trinta e oito segundos na sala, sem dar espaço para qualquer questão. O blackout do FC Porto é, por isso, extensível a toda a comunicação social, pois não é crível que A BOLA abdique do seu trabalho.

O silêncio dos portistas não tem duração prevista e daqui em diante, sempre que algum membro d'A BOLA esteja presente, nada se escutará, tanto dos jogadores como de Jesualdo Ferreira. Os jornalistas que diariamente acompanham os trabalhos do FC Porto ficarão, pois, sem nada para transmitir aos seus leitores ou ouvintes.
Fechar as portas do clube aos jornalistas não é algo sem precendentes no futebol português, bem longe disso. Também não é caso único do FC Porto, evidentemente. Há, por vezes, a sensação de que os clubes não aceitam o trabalho dos jornalistas, vêem-no sempre como sendo prejudicial. Trata-se, afinal, de um problema de cultura. Um futebol de guerrilhas e sem comunicação com o exterior beneficia alguém?

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Taça da Liga: Linha vitoriosa dos grandes

Benfica, Nacional, Vitória de Guimarães e Rio Ave. Este é, em teoria, o grupo mais forte da Taça da Liga. Ou, pelo menos, é o que terá maior competitividade, em função de contar com quatro equipas fortes do principal campeonato português. Haverá, no entanto, apenas uma vaga directa para aceder à próxima fase da competição. Benfica e Rio Ave venceram e levam, por isso, vantagem. Os encarnados derrotaram o Nacional, na Luz, num jogo pouco brilhante, novamente decidido por Saviola - e também manchado por uma arbitragem horrível de Olegário Benquerença. Em Guimarães, apesar da desvantagem ao intervalo, o Rio Ave chegou à vitória, exibindo os créditos que lhe têm valido um excelente início de época.

Sporting, Sp.Braga, União de Leiria e Trofense. Será entre leões e arsenalistas que, à partida, se discutirá o primeiro lugar, o único que permite a passagem automática - será ainda apurado o melhor segundo classificado de todos os grupos. A primeira jornada colocou, então, ambos frente a frente, o líder do campeonato e um grande à procura da reabilitação. O jogo foi equilibrado, porém o Sporting conseguiu levar a melhor através de um golo fabuloso de Miguel Veloso que se aliou a um tento de Grimi contra outro de Alan. Tratou-se de uma vitória importante para a equipa leonina, apostada em recuperar o seu estatuto. No outro jogo do grupo, o Trofense, equipa da Liga Vitalis, conseguiu um empate em Leiria.

FC Porto, Leixões, Académica e Estoril. À semelhança do Sporting, os portistas têm também dois primodivisionários e uma equipa do segundo escalão como adversários. Um FC Porto de segunda linha venceu um Leixões que, mesmo utilizando jogadores com pouca rodagem, à imagem do que fizeram os dragões, vendeu bem cara a derrota. Varela marcou um golo oportuno em cima do intervalo, fazendo pender a balança para o lado do FC Porto numa partida em que o equilíbrio foi a nota dominante. O jogo esteve, aliás, bem longe de ser atractivo ou sequer bem jogado. No outro encontro, a Académica fez valer a sua superioridade para derrotar o Estoril. Está, então, ao lado do FC Porto no topo do grupo.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Que sentido para a Taça da Liga?

Superada pela importância do campeonato e pelo prestígio da Taça de Portugal, a Taça da Liga é uma competição que vive ainda numa fase embrionária. É somente a terceira época em que a prova se realiza e, também por isso, ainda não assumiu um papel verdadeiramente importante no futebol português. Criada por Hermínio Loureiro para combater as prolongadas paragens e visando aumentar o ritmo competitivo, a Taça da Liga tem também ficado marcada por imensa polémica, tanto a nível dos regulamentos como com questões ligadas à arbitragem - a edição da época passada, 2008-09, será intrinsecamente marcada por uma má decisão de Lucílio Baptista. Uma competição que, afinal, tem ou não importância para os clubes?

Pelo feedback existente até ao momento, a Taça da Liga seria perfeitamente dispensável. Ninguém parece apostar verdadeiramente em ganhá-la, apenas voltam baterias quando a época está no limiar do fracasso e pouco têm a perder. Nos grandes, sobretudo, verifica-se essa tendência: ganhar a Taça da Liga não é garantia de uma época bem sucedida, pelo contrário, e surge somente como uma compensação. Poderia ser, então, uma boa fonte de receitas para as equipas com menores recursos. No entanto, mesmo os clubes pequenos se queixam da sobrecarga de jogos - existência de três competições que obriga a alguma ginástica num plantel curto - e essa falta de interesse generaliza-se aos adeptos. Naturalmente, sem adeptos não há lucro.

Vistas as causas mais importantes que levam a que a Taça da Liga seja relegada para terceiro plano, importa procurar soluções. Será possível conseguir que os clubes mudem a sua atitude em relação à prova? Claro que sim, esse é o objectivo que terá que ser procurado. Para isso, será necessária uma reforma nos regulamentos, na promoção e, sobretudo, nas vantagens que os clubes poderão ter ao disputar a Taça da Liga. Neste momento, a ideia que fica é que esta competição pouco tem ainda para oferecer às equipas que nela participam, quer desportivamente - ao contrário da Taça de Portugal, vencer ou até apenas chegar à final não garante presença nas competições internacionais -, quer nas contrapartidas financeiras que também não funcionam como atractivo.

sábado, 2 de janeiro de 2010

A nova política do Sporting

A filosofia desportiva do Sporting é bem clara: construir um plantel que possibilite discutir as provas internas, alcançado feitos internacionais, com poucos custos e assente em jogadores vindos da formação do clube. É assim há várias temporadas, foi com Filipe Soares Franco que se cimentou e Paulo Bento teve, enquanto treinador com percurso pelos juniores, um papel importante no crescimento de jovens valores. João Moutinho, Rui Patrício e Miguel Veloso exemplificam-no, actualmente são indiscutíveis na equipa do Sporting e, acima disso, contam com presenças na selecção portuguesa. No entanto, nas épocas anteriores ficou bem patente que o plantel contava com qualidade mas faltava-lhe algum traquejo na hora das grandes decisões.

Ainda antes de ser eleito presidente, José Eduardo Bettencourt assumiu que não iria fazer qualquer ruptura com a política até aí implementada, mas procuraria juntar jogadores experientes àqueles que o clube formasse e conseguisse elevar à equipa principal. Um pouco à semelhança do que acontecera, em anos passados de boa memória para os sportinguistas, com as contratações de Peter Schmeichel, Mário Jardel, João Vieira Pinto ou André Cruz. No Verão, a chegada de Angulo, sem espaço no Valencia e já com a veterania de trinta e dois anos de idade, pretenderia juntar alguma experiência a uma equipa jovem. Demasiado jovem para concorrer internacionalmente com os mais fortes, tal como se viu no passado, é um facto.

A chegada do espanhol acabou, contudo, por se revelar um verdadeiro fracasso e um erro até já corrigido. Agora, devido à actividade que o Sporting tem mostrado na reabertura do mercado para preencher lacunas bem evidentes no seu plantel, Carlos Carvalhal voltou a tocar no mesmo ponto, absolutamente essencial: a equipa não pode ser somente composta por valores da Academia do clube. Como facilmente se comprova, a formação do Sporting é uma mina de ouro que o clube tem à disposição, conseguindo a cada temporada lançar novos valores e, sobretudo, fazer com que assumam papéis importantes na equipa. No entanto, juntando a isso, são necessários jogadores de valor internacional. O rumo do Sporting está, por isso, a mudar.