sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Menos azul do dragão

É uma evidência incontornável: este FC Porto está mais fraco do que no passado. A equipa não tem a mesma eficácia nem a coesão que tantas alegrias lhe valeu. O FC Porto de Jesualdo Ferreira não foi nunca uma equipa que impressionasse pelo futebol apresentado mas fazia uma gestão perfeita do jogo e sabia ser decisivo nos momentos cruciais. Esta época, porém, tem sido diferente: os portistas apresentam um futebol demasiado trapalhão, pouco pressionante e já perderam pontos importantes - dois empates, com Paços de Ferreira e Belenenses, juntam-se a duas derrotas, em Braga e nos Barreiros. No campeonato nacional, à décima jornada, são cinco os pontos de atraso para o primeiro lugar.

Poder-se-á argumentar que, na mesma altura da época anterior, o Leixões liderava com três pontos de vantagem. Também que o Benfica era líder na pausa natalícia e chegou a contar com mais cinco pontos, tantos quantos dispõe actualmente. Tudo isso faz sentido, corresponde à realidade. No entanto, é necessário compreender cada especificidade: uma delas, talvez a maior, é que os encarnados, os rivais mais director, estão mais fortes, e também o Sp.Braga tem demonstrado que se poderá intrometer entre os grandes. Qualquer escorregão poderá, então, para os portistas, ter mais importância do que nas épocas anteriores devido ao aumento da qualidade da concorrência.

Em termos internos, uma das explicações para a pouca consistência do futebol do FC Porto é o desgaste do sistema táctico. Jesualdo, desde que chegou ao Dragão, preferiu sempre o 4x3x3. Época após época viu sair jogadores importantes, mudou as peças mas manteve o desenho do xadrez exactamente da mesma forma. A ideia que fica, actualmente, é que este sistema conta pouco dinamismo e os jogadores estão demasiado presos às suas funções, sem se conseguirem soltar para criar lances de perigo para as balizas contrárias. O 4x3x3 está gasto? Sim, de certo modo, pois torna-se até previsível para os adversários. Frente a equipas com superioridade no meio-campo, o FC Porto sente dificuldades de progressão.

Quando uma equipa não consegue fazer valer o seu jogo colectivo, ter boa ligação entre os sectores médio e ofensivos e colocar todos os maquinismos defensivos em funcionamento, costuma socorrer-se das individualidades. Porém, é extremamente perigoso que uma equipa espere por um golpe de génio que lhe dê a vitória. Este FC Porto, a princípio, valeu-se do talento de Falcao e Belluschi, do instinto de Farías. São jogadores que têm aparecido, no entanto, com alguma intermitência. Os novos ainda não estão totalmente sincronizados, El Tecla já mostrou que é uma boa arma-secreta mas não obtém o mesmo rendimento quando joga de início. Teriam obrigação de decidir quando o colectivo não funciona?

Depois, há Hulk. No início da temporada, após as perdas de Lucho e Lisando, os adeptos centraram as suas esperanças no Incrível. O brasileiro é um jogador de qualidade, indiscutivelmente. Mostrou na primeira temporada em Portugal uma capacidade excepcional de aliar a velocidade à boa técnica que possui. Este afigurou-se como o ano da sua afirmação. Contudo, até este momento, Hulk não tem sido um jogador fundamental como se esperaria. As suas jogadas não fazem tremer as defesas contrárias, em 2009-10 ainda não teve um momento de verdadeiro inspiração. A equipa ressente-se disso, da mesma forma que se ressente do facto de Raul Meireles estar bem menos interventivo do que em temporadas anteriores. Ante o Chelsea, o médio português esteve bem acima do que tem feito. Será, talvez, um sinal de mudança.

2 comentários:

Jornal Só Desporto disse...

O Meio campo do Porto não funciona a equipa ainda não foi capaz de colmatar a saída de Lucho González estou certo ou errado?

Ricardo Costa disse...

Vítor,

Lucho era um jogador perfeito em termos tácticos, cumpria as funções que lhe eram destinadas como ninguém no 4x3x3 de Jesualdo. Agora, com a sua falta, a equipa sente mais dificuldades para dinamizar o seu futebol.