sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Vítor Balizas


A primeira aparição foi como que uma obra do acaso. A onze de Setembro de 1988, este de boa memória, o FC Porto jogava em Guimarães. Completam-se hoje vinte e um anos. Azar dos azares, os habituais guarda-redes não contavam: o malogrado Zé Beto estava castigado pelo clube e Mlynarczyk, o gigante polaco que havia estado nas conquistas europeias, lesionara-se. Quinito, o treinador, chamou um júnior que já fizera alguns treinos com a equipa principal. Tinha apenas dezanove anos mas esteve na baliza com uma postura sóbria. Como se fizesse aquilo há imenso tempo. Era apenas a sua estreia. Chamava-se Vítor Baía.

O espanto foi geral. Como é que aquele rapaz tão novo mostrou aquela segurança?, perguntaram-se os adeptos portistas. Até Quinito ficara surpreendido: um jovem precocemente velho, disse depois o treinador. Logo ali, após aquele jogo frente ao Vitória que terminou empatado com um golo, projectaram grande futuro ao jovem Baía. No entanto, não se assumiu nesse momento. Mlynarczyk recuperou e regressou à titularidade da baliza portista. Porém, a lesão voltou a importuná-lo e não mais o deixou continuar. Entretanto, chegou Artur Jorge, o tipo do bigode farfalhudo e ideias fortes. Não havia volta a dar: aquele jovem estava destinado a ser o número um dos portistas.

Cimentada a titularidade no FC Porto, veio a Selecção. Na Maia, no início da década de noventa. Num ápice, sem discussão, Vítor Baía assumira-se como o melhor guarda-redes português. Já ninguém se lembrava do jovem daquela bela tarde de Setembro. Estava crescido, cheio de confiança. Em 1992 entrou para a História: conseguiu superar o record de imbatibilidade, pertença do mítico Manuel Bento, depois de estar 1192 minutos sem sofrer golos. Mil-cento-e-noventa-e-dois. É aqui que o Vitória de Guimarães volta a entrar em cena porque foi Paulo Bento, esse mesmo que agora treina o Sporting, ao serviço dos vitorianos a quebrar a série de minutos. De penalty. Ironias do destino.

Barcelona chegou em 1996, era impossível ao FC Porto mantê-lo. Logo após o Europeu de Inglaterra, o tal da chapelada de Poborsky, Vítor Baía rumou à Catalunha. Foi recebido em extâse, numa total euforia, como se fosse Axl Rose ou Bon Jovi. Tudo correu às mil maravilhas na primeira época. Depois, bem, depois veio um verdadeiro inferno com a chegada de Van Gaal para substituir sir Bobby Robson. Os conflitos sucederam-se e, para piorar o que já por si era mau, as lesões vieram dar uma ajudinha. Baía perdeu a titularidade, o apoio dos adeptos, enfim, tudo aquilo que tinha conquistado. Regressou ao FC Porto em 1999. Com a camisola noventa e nove.

Seguiram-se anos bem complicados, um calvário. Os joelhos traíram vezes sem contas. Era legítimo que se pensasse que, o ponto final de uma carreira brilhante, estava cada vez mais iminente. Seria o fim do guarda-redes da Geração de Ouro. Não foi, felizmente. Vítor Baía transformou-se, as fraquezas passaram a forças. Voltou. Melhor do que nunca. Reassumiu a baliza do FC Porto em 2002. Esteve nos anos de glória com José Mourinho. Chegou ao céu em 2004, ao ser consagrado como o melhor da Europa. Agora sim, estava no máximo. No entanto, numa tremenda injustiça, continuava de fora da Selecção. Por simples opção de Scolari. É algo que nunca ninguém irá compreender.

Independentemente disso, no FC Porto, tudo continuava como sempre. A comparação com o vinho do Porto era inevitável. Co Adriaanse chegou em 2006 e não foi nessas conversas. Começou por dar a baliza a Vítor Baía mas, após um tremendo erro na Amadora, não foi de modas e entregou-a a Helton. Foi um erro que custou caro. A partir desse momento, o guarda-redes brasileiro não mais largou o lugar. Porra, sempre os holandeses. Foi o fim mas Baía soube admitir que deixara de ser titular. Deixou as luvas, tornou-se uma referência do balneário. Em Maio de 2007, com uma ovação estrondosa, despediu-se dos relvados. Um dos melhores de sempre. O guarda-redes que até a dar frangos é elegante, disse Valdano.

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