quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O ópio do povo


Golos. É atrás deles que os jogadores correm, lutam e dão tudo o que têm. O golo é a essência do futebol, é por ele que multidões são arrastadas a um estádio ou ficam coladas à televisão. Por muito bom que um jogo possa ser, perde o sentido se não tiver golos. Quase como ir ao cinema, gostar do filme mas não compreender como acaba a trama. Num jogo de futebol acontece o mesmo. Sem golos, perde dimensão. Perde a magia que só um Ronaldo, um Messi ou um Ibrahimovic podem dar quando fuzilam os guarda-redes. Quem gosta dos jogos tácticos, sem espectáculo e sem golos? Serão poucos, com certeza. Apenas os fanáticos pelas tácticas. Se o futebol é um verdadeiro ópio, o golo é o seu expoente máximo.

Marca-se um golo, segue-se uma euforia total. Principalmente quando se trata de um golo decisivo, capaz de colocar um jogador ou uma equipa a tocar o céu. Uns correm desenfreados tentando fugir de todos aqueles que os tentam agarrar, outros ficam quase imóveis e agradecem ao divino pela ajuda. Há ainda aqueles que gostam de tirar a camisola, talvez num sinal de raiva, e acabam por ser castigados. Não tem nexo que os principais artistas do espectáculo não possam extravazar os seus sentimentos nos melhores momentos das suas carreiras. No entanto, os senhores que mandam futebol não querem saber disso para nada.

Já lá vão cinco anos mas não há como esquecer aquele sprint louco de José Mourinho em Old Trafford. O FC Porto tinha um jogo decisivo ou, como diria Scolari, um verdadeiro mata-mata. Aos portistas bastava um empate para juntar à vitória sensacional da primeira mão. Paul Scholes fez questão de ser desmancha-prazeres e colocou o Manchester United em vantagem na eliminatória. Foi assim que o jogo chegou ao minuto 89. Apareceu uma bendita falta à entrada da área, descaído para o lado esquerdo. Era o agora ou nunca para o FC Porto. Os adeptos ingleses puseram as mãos na cabeça, alguns nem quiseram ver, como que antecipando um possível empate.

O sul-africano Benni McCarthy encarregou-se da marcação do livre: tomou balanço, esperou pelo apito de Valentin Ivanov e rematou em jeito. Tim Howard, o guarda-redes do United, foi melhor e conseguiu defender. Defendeu para a frente, porém. Surgiu Costinha, no sítio certo à hora certa, chutando para dentro da baliza do Manchester. Nenhum português ficou parado naquele momento, ninguém aguentou naquele estádio. José Mourinho lá estava no banco. Viu o golo, saiu disparado, correu ao longo da linha lateral. Saltou até chegar onde estavam os jogadores portistas. Alguém conseguiu ficar indiferente? Claro que não!

Esse lance é uma boa amostra de como um golo pode ser festejado. Com a adrenalina nos píncaros, quase como um Axl Rose quando sobe ao palco, com toda a energia que tem dentro de si. Para terminar, tem que se falar também de quem relata um golo em directo. Não existe forma de conter a alegria, não há como despir a camisola. Impossível ficar indiferente quando um relator de rádio grita a plenos pulmões um goooolo!, impossível. Arrepiante mesmo. Futebol, espectáculo e golos têm de andar sempre de mãos dadas, sem nunca se largarem por coisa alguma. Um golo tem a capacidade de colocar um país parado e um país emocionado, não é Jorge Perestrelo?

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