quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Hora de confirmar a teoria (antevisão)

O jogo, longe de decidir o que quer que seja, tem uma elevada importância quer para o FC Porto quer para o Atlético de Madrid, no que toca à passagem aos oitavos-de-final da Liga dos Campeões. Ambas as equipas possuem aspirações legítimas em seguir em frente mas vêm de resultados negativos, isto é, os portistas foram derrotados pelo Chelsea enquanto os colchoneros, mesmo não tendo perdido, cederam um empate ante o APOEL Nicósia. O nome do Atlético traz boas recordações aos portugueses porque, na época transacta, foi o adversário que o FC Porto ultrapassou nos oitavos. Mesmo não ganhando nenhum jogo, é bem verdade, mas com toda a justiça do planeta. Desta vez, os portistas voltam a ser favoritos. Mas não esperem facilidades...

Para o FC Porto, a partida vem numa boa altura: venceram o Sporting, contornando uma série de duas derrotas, e encontram uma equipa com falta de vitórias. No entanto, Jesualdo Ferreira terá um sério problema pela frente porque o médio Fernando, titularíssimo e fundamental nesta formação portista, não poderá fazer parte da equipa que defrontará o Atlético de Madrid. Quem o substituirá é a questão que mais importa fazer nesta altura. Há, à primeira vista, mais do que uma hipótese mas a mais provável deverá passar por nova titularidade de Freddy Guarín, agora na posição seis, que nem lhe é estranha, com Raul Meireles e Belluschi mais adiantados. No entanto, não é de descartar um possível recuo de Meireles, abrindo uma vaga que poderá ser ocupada por Tomás Costa ou Guarín.


O Atlético está, como já foi referido, algo fragilizado. Atravessa mesmo uma crise no campeonato espanhol: somou apenas três pontos em quinze possíveis, fruto de três empates - o último deles, na passada jornada, frente ao Valencia. Abel Resino é, por isso, um treinador cada vez mais contestado e poderá também ele ter a sua continuidade em jogo no Dragão. Ora, a Liga dos Campeões é uma excelente escapatória para desanuviar esse cenário e, tal como afirmou Jesualdo Ferreira, os espanhóis nem por isso deixarão de ser um opositor forte. Diego Forlán e Kun Agüero são, independentemente do estado do clube onde também sobressai Simão Sabrosa, jogadores de grandíssima qualidade que merecerão todos os cuidados.

O ópio do povo


Golos. É atrás deles que os jogadores correm, lutam e dão tudo o que têm. O golo é a essência do futebol, é por ele que multidões são arrastadas a um estádio ou ficam coladas à televisão. Por muito bom que um jogo possa ser, perde o sentido se não tiver golos. Quase como ir ao cinema, gostar do filme mas não compreender como acaba a trama. Num jogo de futebol acontece o mesmo. Sem golos, perde dimensão. Perde a magia que só um Ronaldo, um Messi ou um Ibrahimovic podem dar quando fuzilam os guarda-redes. Quem gosta dos jogos tácticos, sem espectáculo e sem golos? Serão poucos, com certeza. Apenas os fanáticos pelas tácticas. Se o futebol é um verdadeiro ópio, o golo é o seu expoente máximo.

Marca-se um golo, segue-se uma euforia total. Principalmente quando se trata de um golo decisivo, capaz de colocar um jogador ou uma equipa a tocar o céu. Uns correm desenfreados tentando fugir de todos aqueles que os tentam agarrar, outros ficam quase imóveis e agradecem ao divino pela ajuda. Há ainda aqueles que gostam de tirar a camisola, talvez num sinal de raiva, e acabam por ser castigados. Não tem nexo que os principais artistas do espectáculo não possam extravazar os seus sentimentos nos melhores momentos das suas carreiras. No entanto, os senhores que mandam futebol não querem saber disso para nada.

Já lá vão cinco anos mas não há como esquecer aquele sprint louco de José Mourinho em Old Trafford. O FC Porto tinha um jogo decisivo ou, como diria Scolari, um verdadeiro mata-mata. Aos portistas bastava um empate para juntar à vitória sensacional da primeira mão. Paul Scholes fez questão de ser desmancha-prazeres e colocou o Manchester United em vantagem na eliminatória. Foi assim que o jogo chegou ao minuto 89. Apareceu uma bendita falta à entrada da área, descaído para o lado esquerdo. Era o agora ou nunca para o FC Porto. Os adeptos ingleses puseram as mãos na cabeça, alguns nem quiseram ver, como que antecipando um possível empate.

O sul-africano Benni McCarthy encarregou-se da marcação do livre: tomou balanço, esperou pelo apito de Valentin Ivanov e rematou em jeito. Tim Howard, o guarda-redes do United, foi melhor e conseguiu defender. Defendeu para a frente, porém. Surgiu Costinha, no sítio certo à hora certa, chutando para dentro da baliza do Manchester. Nenhum português ficou parado naquele momento, ninguém aguentou naquele estádio. José Mourinho lá estava no banco. Viu o golo, saiu disparado, correu ao longo da linha lateral. Saltou até chegar onde estavam os jogadores portistas. Alguém conseguiu ficar indiferente? Claro que não!

Esse lance é uma boa amostra de como um golo pode ser festejado. Com a adrenalina nos píncaros, quase como um Axl Rose quando sobe ao palco, com toda a energia que tem dentro de si. Para terminar, tem que se falar também de quem relata um golo em directo. Não existe forma de conter a alegria, não há como despir a camisola. Impossível ficar indiferente quando um relator de rádio grita a plenos pulmões um goooolo!, impossível. Arrepiante mesmo. Futebol, espectáculo e golos têm de andar sempre de mãos dadas, sem nunca se largarem por coisa alguma. Um golo tem a capacidade de colocar um país parado e um país emocionado, não é Jorge Perestrelo?

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Dois pesos, duas medidas

Ponto prévio: como consequência do clássico de sábado, Paulo Bento foi suspenso por doze dias ao passo que Duarte Gomes voltou a merecer a confiança de Vítor Pereira. Resulta daqui uma conclusão clara: não há medidas iguais para os intervenientes no espectáculo. Esta é, aliás, uma tese defendida por uma larga franja de adeptos. Facilmente se reconhece que quer o treinador do Sporting quer o árbitro estiveram mal no Dragão. Paulo Bento extrapolou nos protestos, foi bem expulso e, evidentemente, castigado. Duarte Gomes também cometeu erros, e seguindo essa lógica deveria ser penalizado por isso. Pelo contrário, vai voltar a poder exercer a sua parte no jogo como se nada tivesse acontecido.

O objectivo do que foi escrito acima não é, de forma alguma, colocar em causa as capacidades do árbitro Duarte Gomes. Nem muito menos desculpabilizar Paulo Bento pela atitude que teve nos minutos finais do clássico - e que, reitero, foi bem sancionada pois levou a sua insatisfação longe de mais. Porém, penso que é claro que não há uma medida igual para ambas as partes. Deixando de lado este caso, frequentes vezes assistimos a arbitragens completamente tendenciosas que levam a que, na primeira reacção, os jogadores ou responsáveis de uma determinada equipa mostrem o seu desagrado para com essa situação. Veja-se, por exemplo, o Chelsea-Barcelona, das meias-finais da Liga dos Campeões da época passada, em que o norueguês Tom Henning claramente prejudicou os londrinos. Bosingwa, lateral português, no final da partida disse que a sua equipa tinha sido roubada. Foi castigado. É justo?


Talento à solta ou escondido

Anderson Polga e Raul Meireles são dois jogadores que qualquer adepto de futebol se habituou, em temporadas anteriores, a ver como referências das suas equipas. Dois pêndulos, tal como se convencionou chamar, absolutamente cruciais para os seus treinadores. Agora, o panorama é diferente. O brasileiro, campeão mundial pelo seu país, na Ásia, não tem velocidade, falha no jogo aéreo e perdeu capacidade de antecipação. Transfigurou-se. O mesmo acontece com Meireles: não possuiu a capacidade para abrir espaços nas defesas contrárias ou para fazer as transições rápidas como outrora, e parece algo desgastado - estamos ainda no início da época. Não perderam talento, obviamente. Mas é estranho, não é?

Pablo Aimar e Óscar Cardozo vivem na perfeita antítese dos dois casos de cima: estão ene vezes melhores do que na temporada transacta. Aqui, também, Quique Flores deve ser chamado à razão porque não colocava El Mago a jogar na sua posição e preferiu sempre a mobilidade de David Suazo aos golos de Tacuara. Jorge Jesus resolveu o problema. Não estranha, por isso, que este Benfica seja Aimar e mais dez, sendo ele o centro do jogo atacante, e que Cardozo, apesar de paradão, mostre os seus dotes de goleador. O talento que ambos têm já todos nós conhecíamos. Não estava era bem potencializado.

Daniel Carriço e Rui Patrício têm apenas vinte e um anos de idade mas são actualmente, tal como Liedson, as figuras maiores do Sporting. Chegaram da formação do clube leonino e tiveram ascensões diferentes. Pior o guarda-redes que ficou, sem que nada tenha feito para isso, no meio de uma guerra entre Paulo Bento e Stojkovic. Devo dizer, leitor, que fui dos que muitos desconfiei da sua qualidade. Evidente que ainda precisa de evoluir bastante, no entanto é inegável que está cada vez mais completo e melhor. Carriço chegou na temporada transacta: aproveitou uma ausência de Tonel para se juntar a Polga no centro da defesa. Somou exibições de grande nível, conquistou a titularidade e agora é um verdadeiro líder da equipa. Inquestionável mesmo. Lá está: é preciso tempo para o talento se ir aprimorando.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Teimosia

Paulo Bento é, já se sabia, teimoso. Em termos técnicos e tácticos, claro: não se trata de um treinador facilmente flexível, insiste nas suas ideias até ao final e não troca a sua filosofia por nada. Não raras vezes ouvimos comentários críticos ao seu losango, o esquema preferido e habitual desde que assumiu o comando do Sporting, há quatro anos, acusado de estar demasiado gasto e rotinado. Outro exemplo dessa forma de ser, também totalmente frontal e sem rodeios, foi a aposta em Rui Patrício. Na altura, todos torceram o nariz à titularidade do jovem guarda-redes em detrimento de Stojkovic. Aos poucos, Bento foi ganhando a aposta. A exibição de Patrício, no Dragão, mostra bem a forma como o jogador cresceu.

Continuam a haver, porém, opções bem difíceis de entender. A titularidade de Polga é, porventura, a maior de todas elas. É certo que o central brasileiro foi um dos principais esteios da defensiva leonina e fulcral em muitas ocasiões mas também não é menos verdade que atravessa, desde meados da temporada transacta, uma fase negativa. Está diferente, não parece sequer o mesmo jogador que se assumia como um verdadeiro líder - esse, agora, é Daniel Carriço, outro jovem da formação que se transformou num senhor jogador. Não se entende a razão por que não tem Tonel uma oportunidade para mostrar o seu valor. Agora, com a ausência de Polga devido à expulsão no clássico, irá tê-la. Paulo Bento também.

Liga Sagres: O que vale este Sp.Braga?

COMENTÁRIO

Respondendo, desde já, à pergunta: muito! Em jornada de clássico, ganho justamente pelo FC Porto, o outro Sporting, o de Braga, alcançou um feito que está, grosso modo, apenas destinado aos grandes: venceu pela sexta vez consecutiva, somando assim por vitórias todos os jogos realizados. Mantém-se, por isso, na liderança. Com todo o mérito, aliás. Na perseguição mais directa está o Benfica que, mais uma vez, voltou a marcar muitos golos (cinco) num triunfo confortável. Realce, também, para as primeiras vitórias de Naval e Paços de Ferreira. Pela negativa, a série de três derrotas do Marítimo e a falta de vitórias em Coimbra.

Entrada fulgurante, progressiva desaceleração, alguns sustos e vitória. Assim, de forma sintética, se pode resumir a vitória do FC Porto no primeiro clássico da época. Para o Sporting foi precisamente o contrário porque começou mal e ficou sufocado pelo quarto de hora frenético que os portistas tiveram. Sofreram um golo, a frio. Depois, contudo, houve oportunidades para um empate que bem poderia ter acontecido. Na segunda etapa, quando era preciso dar o tudo por tudo em busca do golo, o início voltou a ser fatal. Oito minutos depois do descanso, a equipa ficou reduzida a dez e as esperanças de ainda conseguir a vitória caíram no vazio - Clique para aceder à crónica do FC Porto-Sporting

Sexta vitória consecutiva, única equipa que ainda não cedeu qualquer ponto nas seis jornadas iniciais, e consequente liderança. Assim se resume a prestação do Sp.Braga até este momento. Uma equipa absolutamente notável na forma como é coesa, unida e consegue ultrapassar as dificuldades que o destino lhe coloca no caminho. Depois de vencer o FC Porto, sem qualquer tipo de contestação, os bracarenses alcançaram uma vitória complicada, embora justa, frente ao Olhanense. Pode-se dizer, recorrendo a um lugar comum, que foi mesmo arrancada a ferros. Alan, o mesmo que havia dado o triunfo com os portistas, teve esperança e arte para contribuir ainda mais para euforia que os adeptos minhotos vivem... com um golo aos noventa e quatro minutos, é bem verdade.

Foram oito, depois quatro, agora cinco. O Benfica continua com um brutal poder de fogo, letal na hora de acertar nas balizas contrárias. Não precisa, para isso, de ser sempre exuberante mas é inquestionável que o ataque é o sector mais bem apetrechado desta equipa encarnada. Frente a um Leixões mais preocupado em não deixar jogar do que em alcançar a baliza de Quim e demasiado cedo reduzidos a dez jogadores, a vitória do Benfica surgiu de forma natural. O jogo ficou sentenciado dez minutos depois do intervalo: Cardozo marcou o segundo golo na sequência de uma grande penalidade que terminou na expulsão de Nuno Silva, ou seja, deixou a equipa de José Mota com apenas nove elementos. A partir daí, o resultado engordou, até à mão cheia, tal como era de prever. Tão diferente que está este Leixões, também.

Sem estar terminada a jornada - faltam ainda jogar, hoje, o Vitória de Guimarães-União de Leiria e, apenas no próximo dia doze, o Belenenses-Nacional -, destaque para a primeira vitória da Naval (frente ao Marítimo, na Madeira, resultando em contestação para Carlos Carvalhal) e do Paços de Ferreira que saiu vitorioso de Setúbal. No outro jogo, Rio Ave, que está agora à frente do Sporting na tabela classificativa, e Académica empataram sem golos. Contrariamente ao que acontece com os vila-condenseses, imbatíveis, os estudantes ainda não venceram qualquer partida deste campeonato.

domingo, 27 de setembro de 2009

O rastilho de Pereira, a bomba de Bento

Estava escrito, assim que foi conhecido o nome do árbitro nomeado, que o clássico de ontem traria polémica. Não poderia ser de outra forma, aliás. Por isso mesmo, por ser uma situação com probabilidades enormes de acontecer, Vítor Pereira errou ao escolher um árbitro, Duarte Gomes, que tem conflitos com o Sporting, um dos clubes em causa na partida. Não poderiam ficar eternamente sem se cruzarem mas, convenhamos... regressar num jogo tão importante quanto este nunca poderia ser bem aceite por nenhum dos intervenientes. Pode parecer algo paradoxal que o presidente do Conselho de Arbitragem, por norma uma figura pacificadora e que espera sempre o melhor dos seus elementos, tenha sido o primeiro a condicionar o jogo.

Paulo Bento manteve-se fiel ao seu estilo e não teceu qualquer comentário, em vésperas do clássico, sobre um árbitro que, dias antes, afirmara não poder passar impune devido ao incidente com Ricardo Peres, seu adjunto. Era, no entanto, e todos o sabiam, uma bomba prestes a explodir logo que Duarte Gomes errasse. É verdade que não foi uma arbitragem de topo mas também não me parece que tenha sido a equipa de arbitragem a impedir uma possível vitória do Sporting. Duarte Gomes esteve intranquilo e a verdade é que cometeu dois erros com prejuízo dos leões que fizeram Bento explodir: mostrou mal um primeiro cartão amarelo a Miguel Veloso - simulação de Hulk, junto à linha lateral -, e mostrou falta de um critério uniforme, exemplificativo quando não admoestou Meireles (seria a sua expulsão, por acumulação de amarelos).

Há muito que deixou de ser novidade este clima hostil que o treinador sportinguista tem para com os árbitros. Chega, por vezes, a estar isolado no meio de tanta confusão mas leva as suas ideias até ao fim. Faz parte, também, da forma como se comporta enquanto treinador e nos é bem conhecida. Após o jogo de ontem, voltou, tal como tinha feito num Sporting-FC Porto, da Taça de Portugal da época passada, a dizer que o Sporting é demasiado benevolente para com os árbitros - Vamos ganhar o Prémio Nobel da Paz, afirmou. Contudo, mesmo tendo deixado críticas a Duarte Gomes, focou-se principalmente em Vítor Pereira aquele que é, também na minha opinião, o maior culpado do clima de nervosismo com que o árbitro lisboeta iniciou a partida. Mesmo que a atitude de protestos, mesmo em cima do apito final, lhe tenha ficado mal, na reacção ao jogo, foi coerente.

sábado, 26 de setembro de 2009

FC Porto-Sporting, 1-0 (crónica)

O DRAGÃO SOUBE VIVER DE UM GOLO MADRUGADOR

Entrada fulgurante, progressiva desaceleração, alguns sustos e vitória. Assim, de forma sintética, se pode resumir a vitória do FC Porto no primeiro clássico da época. Para o Sporting foi precisamente o contrário porque começou mal e ficou sufocado pelo quarto de hora frenético que os portistas tiveram. Sofreram um golo, a frio. Depois, contudo, houve oportunidades para um empate que bem poderia ter acontecido. Na segunda etapa, quando era preciso dar o tudo por tudo em busca do golo, o início voltou a ser fatal. Oito minutos depois do descanso, a equipa ficou reduzida a dez e as esperanças de ainda conseguir a vitória caíram no vazio.

Dois quebra-cabeças, em forma de lesões, que tanto Jesualdo Ferreira como Paulo Bento bem dispensariam, vieram à última hora. Nos portistas, faltou Cristian Rodríguez que seria titular em função da ausência de Varela e traria qualidade e rapidez à frente de ataque. A dupla má notícia, reabriu as portas da titularidade a Mariano González que assim assumiu um lugar nos titulares. Também Belluschi, após um pequeno interregno de dois jogos, se juntou a Fernando e Meireles no meio-campo com vista a dar maior criatividade e magia ao jogo dos dragões. Do lado oposto, Marco Caneira, mais do que provável lateral esquerdo até face à ausência de André Marques, lesionou-se e abriu uma via para o regresso de Grimi, sete meses depois de ter estado pela última vez em campo. De resto, nada de novo.

Chegar o mais rapidamente possível ao golo para depois se tranquilizar. Foi desta forma, com este pensamento, que os jogadores do FC Porto entraram para o relvado do Dragão. Com grande sucesso. Apenas se tinham jogado dois minutos quando os portistas chegaram ao golo. Anderson Polga deixou Falcao voar, livre, para um cabeceamento perfeito que apenas foi travado pelas redes da baliza de Rui Patrício. Não haveria, por certo, início melhor para os portistas se esquecerem das duas últimas derrotas. A equipa galvanizou-se e partiu para quinze minutos de grande categoria. Poderia ter aumentado a vantagem nesse período em que o Sporting ficou verdadeiramente encostado à parede. O xeque-mate esteve a um palmo.

Hulk, agora incrível, à solta no relvado do Dragão

Para isso, muito contribuiu a prestação de Hulk, carregada de grande talento e capacidade de explosão que ele tão bem consegue aliar. Criticado em jogos anteriores por ter sido pouco mais do que inofensivo, o brasileiro resolveu deixar o seu génio à solta. Há, aqui, também mérito de Jesualdo Ferreira por o ter colocado na direita, frente-a-frente com um Grimi que não está, nem pouco mais ou menos, na sua melhor forma física e apenas agora regressou de um período de sete meses fora de competição. Passaram, então, esses quinze minutos de sufoco e o Sporting alcançou, por fim, a baliza de Helton. Vukcevic deixou um aviso e, aos vinte minutos, Matías Fernandéz, após um pormenor soberbo, teve nos pés o golo de empate.

Foi precisamente a partir dessa fase que a partida ficou mais equilibrada. O FC Porto continuou mais perigoso, é certo, mas não o fez de forma tão intensa como no início e os leões ganharam poder de resposta. Por três vezes, o Sporting poderia ter chegado ao golo. A trave devolveu um cabeceamento de Hélder Postiga, naquela que terá sido a situação mais perigosa dos sportinguistas, Helton teve uma defesa in extremis e Vukcevic acertou nas malhas laterais. Pelo meio, para colocar tudo em sentido, Bruno Alves obrigou Rui Patrício, cada vez mais uma figura de proa, a uma extraordinária defesa. O intervalo chegou no melhor momento do Sporting na partida. No descanso, Paulo Bento necessitava de alterar algo para ainda ambicionar chegar à vitória.

Quando Polga deitou tudo a perder...

Retirou, por isso, Leandro Grimi que, passe a expressão, estava a ser verbo de encher e lançou Pereirinha, recuando Veloso para a lateral e Moutinho para o vértice recuado do losango. Como que copiando o que acontecera na primeira parte, o Sporting voltou a entrar mal: Polga cometeu falta sobre Hulk dentro da área, viu o segundo amarelo, e deu a Falcao a oportunidade de aumentar a vantagem portista. Rui Patrício, um gigante entre os postes, foi melhor do que o colombiano e impediu que o jogo acabasse ali. É verdade que o resultado continuava a ser tangencial mas os argumentos dos leões ficaram desfeitos. Restava, porém, a esperança. Paulo Bento, de modo a reequilibrar a equipa, colocou Tonel em detrimento de Matías Fernandéz. Tinha que colmatar a cratera que se abrira no centro da defesa mas perdeu a imaginação do médio chileno.

O FC Porto, estranhamente não sabendo tirar partido do facto de estar com um jogador a mais, não conseguiu fazer a gestão que tão bem o caracterizava na época passada e as entradas de Tomás Costa e Valeri, para os lugares de Mariano e Raul Meireles, não produziram os resultados esperados. Não se livrou o Dragão, portanto, de ter de estar até ao final em clima de suspense. O Sporting tem sido feliz nas pontas finais dos seus jogos mas desta vez não conseguiu chegar ao tão desejado golo. Após a expulsão de Polga, apenas restaram dois remates de Vukcevic para criar perigo a Helton. Sobrou alma mas faltaram ferramentas. Ainda antes do apito final, Miguel Veloso viu o segundo amarelo - mal o árbitro no primeiro - e também Paulo Bento acabou expulso, por protestos com Duarte Gomes. Apesar de toda a polémica que se gerou, mesmo sendo verdade que houve dualidade de critérios, não foi pelo árbitro que o jogo terminou assim.

Guerreiros de luxo

O Sp.Braga está a conseguir, até este momento, uma prestação extraordinária. Voltou a ganhar, ontem, em Olhão, e alcançou a sexta vitória consecutiva. É líder, com toda a justiça, e a única equipa que ainda não cedeu qualquer ponto. Caso para dizer que é algo habitualmente destinado aos grandes. Essa série de triunfos fica ainda mais abrilhantada depois de sair vitorioso dos Barreiros e de Alvalade e de ter dominado, em casa, o tetracampeão FC Porto. Domingos, depois de um mau arranque europeu que redundou em duas derrotas com os suecos do Elfsborg, teve a paciência e a arte necessária para construir uma equipa guerreira. Um trocadilho fácil com todo o sentido.

Pode-se esmiuçar esta equipa do Sp.Braga em vários sectores, porém a verdade é que o sentido colectivo dos arsenalistas tem feito toda a diferença: a raça, a atitude de querer sempre mais e nunca baixar os braços perante as dificuldades. A vitória frente ao Olhanense, com um golo aos noventa e quatro minutos, é um exemplo perfeito. Eduardo mostra-se cada vez mais seguro; Moisés, Leone e Vandinho dão coesão que resiste a quase tudo; Hugo Viana é o cérebro da equipa e Alan representa a magia e os golos que têm feito a diferença, tal como Meyong - com o Sporting, FC Porto e Olhanense foi o ex-portista a servir como grande obreiro. Os minhotos estão em estado de graça, vê-se ao longe. Jogo a jogo, a cada passinho, a esperança de um brilharete aumenta. Até onde irão eles?

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

FC Porto-Sporting (antevisão)

Um clássico do futebol português com quase todos os condimentos que lhe são característicos. As equipas, FC Porto e Sporting, defrontam-se num momento em que estão empatados na tabela classificativa. Para os portistas, é fundamental vencer para não alastrar a série de duas derrotas oficiais - ante o Chelsea e com o Sp.Braga - e o Sporting é um adversário com boas recordações pois, na última temporada, os dragões ganharam, em Alvalade, depois de terem sido goleados pelo Arsenal. Anos antes, já haviam cobrado uma factura de José Mourinho. Na outra margem, o Sporting, sem ser nunca espectacular ou encantador, tem recuperado bem de um mau arranque. Esta partida, para os leões, poderá ser um mudança definitiva e um renascer de uma equipa que estava, à partida, mais frágil do que os rivais. Motivos de interesse não faltarão.

Surgiram, à última hora, duas dores de cabeça para os treinadores. Jesualdo Ferreira, já conhecedor da ausência de Silvestre Varela, viu-se privado de Cristian Rodríguez. O extremo uruguaio, em teoria habitual no onze-base mas ainda com poucos minutos neste campeonato devido a não possuir o melhor ritmo depois de regressar de lesão, deveria ocupar o lugar que tem sido de Varela, no entanto, voltou a lesionar-se e é uma carta fora do baralho portista. Mariano González deverá ser o escolhido por Jesualdo para se juntar a Hulk e Falcao no tridente ofensivo. No Sporting, Paulo Bento perdeu, primeiro, Pedro Silva e, em vésperas do clássico, Marco Caneira. São, portanto, dois laterais que não contam embora apenas Caneira devesse ser titular no lado esquerdo. Como se substituiu? Com outro lateral, disse o treinador leonino. Que poderá perfeitamente ser Grimi, apesar de regressar de uma longuíssima lesão. Miguel Veloso poderá, também, recuar do meio-campo para a defesa e abrir uma vaga para Pereirinha.

À primeira vista, no papel, o FC Porto possuirá algum ascendente. Joga em casa e tem-se mostrado mais consistente, mesmo que a derrota em Braga tenha deixado a nu alguns problemas na construção de lances de futebol ofensivo. Também por isso, desta feita, Jesualdo Ferreira deverá colocar em campo Belluschi em detrimento de Guarín, ou seja, um homem mais criativo contra outro mais talhado para a contenção e para oferecer maior coesão defensiva. No Sporting, moralizado pela vitória frente ao Heerenveen e pela reviravolta contra o Olhanense, não deverá haver grandes surpresas até porque Matías Fernandéz parece cada vez mais integrado numa equipa que espera sempre golos de Liedson. Já que se fala dele: o Levezinho nunca marcou na casa do FC Porto, contando para o campeonato.

EQUIPAS PROVÁVEIS

FC PORTO: Helton; Fucile, Bruno Alves, Rolando e Álvaro Pereira; Fernando, Belluschi e Raul Meireles; Mariano, Falcao e Hulk.

SPORTING: Rui Patrício; Abel, Daniel Carriço, Polga e Grimi; Miguel Veloso, João Moutinho, Vukcevic e Matías Fernandéz; Yannick e Liedson.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Higuita, expoente máximo da loucura de um guarda-redes


Defender uma baliza não está ao alcance de todos. Um bom guarda-redes, para além do dom natural, tem que saber manter a concentração total durante os noventa minutos, sem um segundinho que seja para admirar o ambiente que o rodeia. É imperativo que possua uma coragem do tamanho dos Himalaias, sem temer mazelas ou arranhões. Há mesmo quem diga que todos os guarda-redes precisam de um bocadinho de loucura. René Higuita é um nome que figurará para sempre nos melhores momentos do futebol mundial. Não que tenha sido um jogador de grande dimensão. Mas porque teve um momento delicioso, de pura loucura.

Com um visual ao jeito de um Demis Roussos, com cabelo e barba longos, se bem que não tão efusivo como o mítico Carlos Valderrama, Higuita não representava a forma mais sensata e formal de defender uma baliza: era por demais arrojado, jogava fora da sua área, tentava fintar os adversários. Colocava os adeptos da sua equipa com o coração nas mãos, em jogadas de cortar a respiração. Ganhou a alcunha de El Loco e é fácil perceber porquê. Foi em Setembro de 1995 que espantou o mundo do futebol num jogo amigável entre a sua Colômbia e a Inglaterra. Aí nasceu a defesa de escorpião, digna de qualquer compêndio.

Esse lance, passado no estádio de Wembley, foi qualquer coisa de extraordinário. Ninguém sabe o que se terá passado pela cabeça do guarda-redes colombiano, sem calhar nem ele próprio. A bola rematada pelo médio Jamie Redknapp, no seu jogo de estreia pelos ingleses, foi mais ou menos para o meio da baliza. Higuita estava bem colocado, no caminho da bola, o lance não geraria grande perigo. Seria uma defesa fácil, portanto. Para Higuita não, ele não era assim tão simples. Gostava de arriscar, jogar nos limites. Qualquer um teria levantado os braços e defendido.

Higuita não era qualquer um. Lá do alto da sua loucura e ousadia, deixou a bola passar-lhe por cima. Foi totalmente inesperado. Quando estava mesmo em cima da linha de golo, lançou o corpo para a frente, defendendo-a com os dois pés num salto fantástico. Num salto de escorpião, como lhe convencionaram chamar. O seu corpo ficou quase como uma ponte invertida. Os adeptos levantaram-se e aplaudiram aquele instante mágico que um colombiano desconhecido tinha alcançado. Higuita agradeceu, sereno, como se fosse algo que fizesse todos os dias.

O salto de escorpião será para sempre recordado como a mais espectacular defesa alguma vez feita por um guarda-redes. Foi irreverente e inesperada, à semelhança de Higuita. Se calhar foi por essa razão que não se tornou num jogador de categoria mundial, por ser um verdadeiro louco na forma como se comportava em campo. Só um louco, um homem sem medo de ultrapassar todos os limites seria capaz de nos proporcionar momentos assim. Obrigado por essa tua loucura, René!

Um verdadeiro sarilho

Faltam dois dias para se jogar aquele que será, muito provavelmente, o clássico mais emotivo dos últimos tempos. Devido, sobretudo, à igualdade pontual de FC Porto e Sporting mas também porque há o risco de Sp.Braga e Benfica aumentarem a sua vantagem. De súbito, assim que foi conhecido o nome do árbitro nomeado, o jogo de bastidores ganhou relevo. Como tantas outras vezes acontece, o futebol jogado dentro do campo ficou de lado e gerou-se uma enorme controvérsia em torno de Duarte Gomes, o escolhido para dirigir a partida do Dragão. Não se pense, porém, que se trata de uma manobra engendrada por alguém que pretende colocar pressão sobre o árbitro. Pelo contrário, a própria nomeação é que é um verdadeiro sarilho.

Temos, necessariamente, de recuar um pouco até chegar ao Sporting-Vitória de Setúbal, a 9 de Maio deste ano, inserido na penúltima jornada do campeonato da época anterior. Ainda antes do início do encontro, durante a fase de aquecimento, Duarte Gomes e Ricardo Peres, treinador de guarda-redes dos leões, envolveram-se numa acesa discussão que teve até empurrões e intervenção de stewards. O resultado foi a expulsão de Peres. O Sporting apresentou, após o final da partida, uma queixa devido àquilo a que chamam de atitude intimidatória por parte de Duarte Gomes. Contudo, o caso foi arquivado pela Liga - continua ainda em aberto no Conselho de Justiça da FPF - e, na primeira reacção, Paulo Bento afirmou que o árbitro lisboeta não poderia passar impune.

A crispação entre o Sporting e Duarte Gomes é, desde aí, por demais evidente. Essa é a grande razão que retira qualquer sentido à sua nomeação para dirigir um jogo com uma carga emotiva tão grande quanto este. Ok, as possibilidades não eram assim tantas como isso e Duarte Gomes é reconhecidamente um dos melhores árbitros a nível nacional mas isso não pode servir de escudo para uma escolha errada de Vítor Pereira que apenas contribuiu para aumentar a intranquilidade vivida. Longe de ser o culpado desta situação, Duarte Gomes terá, no sábado, um verdadeiro exame às suas capacidades. O jogo, esse, já está condicionado - para os sportinguistas, claro, mas também para os portistas devido ao ruído de fundo provocado. Não é óbvio que haveria forma de evitar toda esta polémica, leitor?...

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Três treinadores, três estilos

Grita, gesticula, salta, corre e volta a gritar. Jorge Jesus sempre foi assim. Mas agora que tem todas as câmaras e microfones apontados a si, é mais notório. Não que fosse um desconhecido, isso seria impossível porque já se assumira como um dos melhores a nível táctico (o mestre, dizem!), mas saltou para a ribalta. Cumpriu um sonho ao entrar no Benfica. Qualquer treinador português deseja, um dia, chegar ao comando de um dos grandes. Jesus conseguiu-o por mérito próprio, já com muitos anos de carreira, num momento em que os encarnados perceberam que precisam de alguém assim para voltar às vitórias. As indicações têm sido boas, os adeptos voltaram a sonhar que este será o ano do Benfica. Será mesmo?

Jesualdo Ferreira é bem diferente. Tipo sóbrio, pouco exuberante, sem muitos sorrisos. Subiu a pulso na carreira. Esteve pela primeira vez num grande, enquanto treinador principal, no ano de 2002. Foi no Benfica onde não teve grande sucesso, é bom dizê-lo. Voltou a encontrar o caminho certo em Braga: conseguiu transformar a equipa, intrometendo-se nos primeiros lugares. O seu trabalho foi notável e fez por merecer um desafio maior. Completaram-se já três anos que entrou para o FC Porto, depois de ter feito a pré-epoca no Boavista, sucedendo a Co Adriaanse acabadinho de bater com a porta durante o estágio. Foi campeão nessa época. E nas seguintes. A princípio não convenceu os adeptos, foi acusado de apenas pôr em prática as ideias do holandês. Porém, sobretudo em 2009, foram-lhe reconhecidos todos os méritos. No Dragão, ganhou nova vida, os primeiros títulos e um sorriso. Largo.

Depois, há Paulo Bento. E o seu inevitável risco ao meio, uma imagem de marca que todos lhe atribuem. Chegou ao comando técnico do Sporting de forma surpreendente, em 2005, num período conturbado logo após a demissões de José Peseiro e Dias da Cunha, treinador e presidente. Bento apenas havia terminado a sua carreira de jogador profissional há uma época mas tinha, como técnico, uma época nos juniores que culminou com o título nacional. Essa conquista no ano de estreia foi, por certo, um factor importante. Mostrou-se um homem de ideias fortes, longe de ser politicamente correcto, defendendo o clube com toda a força. De lá para cá, venceu duas Taças de Portugal e outras duas Supertaças. Falhou o título, sempre: há quatro anos que é segundo. Agora, Paulo Bento sabe que, mesmo tendo feito um bom trabalho, precisa de ser campeão.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Acreditem: temos campeonato!

Chegados à quinta jornada, o Sp. Braga é o líder surpreendente do campeonato, a cinco ponto do tetracampeão FC Porto e do Sporting, dois candidatos que os minhotos venceram no Axa e em Alvalade, respectivamente, e a dois do Benfica. Sabe-se como o campeonato começou, mas pouco saberão como vai acabar. Talvez a história não mude e um dos três grandes seja campeão. Olhando ao histórico da Liga portuguesa, há noventa e cinco por cento de hipóteses de isso acontecer, portanto, o voo ascendente do Sp. Braga até ao topo está isento da turbulência e dos poços de ares que fustigam diariamente os três grandes.

Deste campeonato já se disse quase tudo, com muita contradição à mistura: que o FC Porto partia fragilizado com as saídas de Lucho e Lisandro, que o forte investimento dos encarnados podia não dar retorno desportivo imediato, que o Sporting se arriscava a ser ultrapassado por equipas de estatuto menor por causa do progressivo esvaziamento do seu projecto. Será provavelmente preciso esperar mais cinco jogos para o quadro da Liga lusa ganhar contornos que convidem a uma leitura menos errada. Uma leitura que será sempre limitada no tempo, provavelmente até Dezembro/Janeiro, porque com a reabertura do mercado dá-se a recontagem de espingardas. Se tudo se mantiver equilibrado na frente, assistiremos quase seguramente a uma corrida pelo craque que faça a diferença.

Especula-se que o campeonato está menos competitivo: outra ideia capaz de ser desmentida com o tempo. Há de facto equipas sem estrutura e condições financeiras para continuar numa Liga profissional, o que não significa que isso resulte em prejuízo desportivo. O caso do Estrela da Amadora é paradigmático. Os ditos pequenos continuarão a ser importantes para definir a batalha das equipas que andam à frente. O Leiria ameaçou seriamente o Benfica, equipa que, recorde-se, perdeu dois pontos com o Marítimo; o P. Ferreira já "empatou" o FC Porto, o Sporting perdeu pontos com o Nacional e o Sp. Braga - e este, por sua vez, subtraiu pontos a toda a gente. Temos campeonato, acreditem. E é preciso dizê-lo e escrevê-lo sem hesitações.

PASCOAL SOUSA (Jornalista do jornal A BOLA e blogger do dornomenisco)

Liga Sagres: Abram-lhes alas!

ANÁLISE

Abram alas para o líder. A frase foi erguida, numa enorme tarja, pelos adeptos do Sp.Braga e serviu como incentivo para os noventa minutos que se aproximavam. Tratou-se, ao mesmo tempo, o relembrar desse estatuto de líder, totalmente vitorioso, perante o tetracampeão FC Porto, imbatível para o campeonato há mais de dez meses. O objectivo foi alcançado e os arsenalistas completaram um pleno de cinco partidas a ganhar. Daí aproveitaram, da melhor maneira, Benfica e Sporting: os encarnados isolaram-se no segundo lugar, ao passo que os leões se colaram ao FC Porto. O clássico da próxima jornada, no Dragão, com as equipas em igualdade pontual, terá ainda maior importância.

Já depois de ter saído vitorioso em Alvalade e no Funchal, o líder Sp.Braga tinha pela frente aquilo a que se convencionou chamar um verdadeiro teste de fogo. A visita do FC Porto, tetracampeão nacional, colocava os dois extremos lado-a-lado: uma vitória possibilitaria o continuar de uma série histórica, coroada com a liderança do campeonato, enquanto uma derrota, longe de ser motivo para corar pelo poderio do adversário, terminava com um período ganhador. Guerreiros, tal como gostam de ser apelidados, os jogadores do Sp.Braga elevaram-se perante uns portistas nervosos e erráticos que nunca se encontraram. Venceram, por isso, com toda a justiça através de um golo, é certo que algo estranho, de Alan. Chapeau para a equipa de Domingos Paciência. Lembra-se, leitor, de como começaram mal a época?

No jogo de Braga viu o Benfica uma chance soberana para se distanciar do FC Porto - até aí eram verdadeiras almas gémeas. Em Leiria, não houve o mesmo jogo ofensivo, por vezes até sufocante, nem a espectacularidade de outrora, mas os três pontos foram alcançados. Desta vez, a base de sucesso do Benfica esteve, como afirmou Jorge Jesus, na crença e vontade evidenciada pelos jogadores.
Voltou, tal como fizera no Restelo na passada jornada, a marcar cedo (aos quatro minutos, de novo por Saviola) e isso poderia ser meio caminho andado para uma vitória confortável. O Leiria empatou, contudo, à passagem dos vinte minutos. A vitória do Benfica, essa, ficou confirmada a onze minutos do final, num golo de Cardozo - a sua segunda grande penalidade convertida, em quatro tentativas.

Ninguém o esperaria, por certo, mas o facto é que se jogou em Alvalade aquele que terá sido o melhor jogo que o campeonato português teve até agora. O Olhanense, espantando tudo e todos, em vinte minutos marcou dois golos. Por Rabiola e Castro - monumental! -, dois jogadores emprestados pelo FC Porto e que fizeram de tudo para impedir que o clube a que pertencem fosse igualado pelos leões. Com um resultado assim, com tão pouco de jogo, era necessário que o Sporting reagisse o mais rapidamente possível. Fê-lo: em sete minutos, aos 35' e 42', chegou à igualdade - este último golo na conversão de um penalty mal assinalado por Rui Costa mas, verdade seja dita, ainda com 0-2, ficara outro por marcar. A quatro minutos do final, Vukcevic consumou a reviravolta e apimentou o clássico que se aproxima. Sempre em busca da vitória, Jorge Costa deve ter ficado orgulhoso da sua equipa.

Na tabela classificativa, ao Sp.Braga e aos grandes, segue-se um surpreendente Rio Ave que, até ao momento, ainda não sofreu qualquer derrota - tal como acontece com arsenalistas e benfiquistas - e defrontou um Paços de Ferreira que vive a situação inversa, isto é, ainda não venceu nenhum dos seus cinco embates. Outro jogo grande da jornada foi o derby madeirense, onde o Nacional, mesmo jogando toda a segunda parte reduzido a dez, por expulsão de Luiz Alberto, venceu graças a dois golos de Edgar Silva. A primeira vitória da equipa de Manuel Machado no campeonato que, assim, igualou o rival insular (cinco pontos).

Também o Leixões bateu o Vitória de Guimarães, por 3-1, num confronto de clubes históricos que arrancaram a meio-gás. O Vitória de Setúbal, após a saída de Carlos Azenha do comando técnico, ganhou, na Figueira da Foz, o seu primeiro jogo oficial - uma partida que marcou, além disso, a estreia de ambos os técnicos: Joaquim Serafim, popular Quim, nos sadinos e Augusto Inácio nos figueirenses. Bem perto, em Coimbra, Rogério Gonçalves está cada vez mais na corda bamba, após o empate frente ao Belenenses e também por não ter ainda alcançado qualquer vitória (tem dois pontos somados, um a mais do que a vizinha Naval).

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A importância da atitude

Jorge Jesus enalteceu, após a vitória de ontem frente à União de Leiria, a atitude que os seus jogadores demonstraram. Atitude de campeões, referiu o treinador. Mas o que se entende, afinal, por isso? Simples: a vontade de ganhar e a forma como os jogadores dão tudo para alcançar esse objectivo. É, no fundo, a componente psicológica a funcionar. Portanto, facilmente se comprova que a atitude é meio caminho andando para se ser bem sucedido. Numa prova como o campeonato, interessa, acima de tudo, ser regular. Não chega ser mais encantador do que todos os outros ou marcar imensos golos. Parafreseando Carlos Queiroz, trata-se de uma maratona e não de uma corrida ao sprint.

Nenhuma equipa deste planeta é capaz de transformar todos os jogos em algo perfeito. Pelo contrário, todas mostram altos e baixos ao longo de uma época e não conseguem manter o mesmo nível exibicional em todas as partidas. Precisamente neste campo, de maiores dificuldades, entra a atitude mostrada pelos jogadores - uma equipa que pretenda um determinado objectivo não pode, de forma alguma, encarar um jogo como uma barreira fácil de ultrapassar. Sem querer tirar mérito aos adversários, se observarmos com atenção, as derrotas de uma grande equipa ante outra teoricamente mais fraca são, na maior parte das vezes, provocadas por uma descontracção excessiva dos primeiros.

Existem, por isso, aquelas partidas em que é necessária uma grande capacidade de sofrimento. Ou, como é habitual dizer-se, despirem o vestuário de gala e passarem a outro mais apropriado para o trabalho. Ontem, em Leiria, o Benfica foi obrigado a fazê-lo (o
União de Leiria contribuiu para que tal acontecesse, honra lhes seja feita). Os encarnados estiveram bem longe da espectacularidade apresentada durante a pré-temporada. Nunca deixaram, contudo, de procurar a vitória e trabalharam para isso até ao final. Este é, também, um mérito de Jorge Jesus e uma grande diferença para com a temporada anterior. À semelhança do que acontecera em Guimarães, logo na segunda ronda, o Benfica não esteve inspirado, porém, ganhou em ambos já nos minutos finais. Foi essa atitude que tanto agradou ao treinador e aos adeptos.

domingo, 20 de setembro de 2009

O derrotado e o vencedor

Desde que foi vencido na Figueira da Foz, em Novembro último, o FC Porto somou vinte e sete jogos sem sofrer qualquer derrota no campeonato português. É um registo extraordinário, enaltecido por onze vitórias consecutivas fora de casa. Ou melhor, foi: até ontem, em Braga. Passaram-se, então, dez meses entre ambas as partidas terminadas com derrotas. Há, para além do resultado final, mais algumas parecenças. Em qualquer uma deles, os golos resultaram de lances algo estranhos: na Figueira, Daniel Cruz marcou da linha de fundo, ou seja, um ângulo quase impossível para haver sucesso; ontem, Alan fez um golaço, é certo, mas com uma grande dose de sorte à mistura. Foram tentativas falhadas de cruzar que resultaram em golo. Mas trata-se, acima de tudo, de uma derrota do FC Porto ou de vitórias de outros? Olhemos, então, para ambos.

Há em futebol aqueles jogos em que nada parece correr bem. Enfim, nada tem efeito. Ontem, ao FC Porto, aconteceu precisamente isso. Tratou-se de uma derrota colectiva, isto é, não há um jogador que a assuma sozinho. Neste tipo de casos, visa-se o treinador. A verdade é que Jesualdo Ferreira errou, desde logo, na construção da equipa titular. Se a presença de Freddy Guarín se justificou em Londres, frente ao Chelsea, pois era necessária uma maior contenção, em Braga não teve o mesmo sentido. À partida, para uma grande equipa teoricamente mais forte, não interessa fazer um jogo de contenção mas sim superiorizar-se ao adversário. Com o colombiano Guarín, a equipa ganha força física mas perde imaginação. Não que Belluschi tenha estado em grande destaque até aqui mas é bem mais criativo. Também Hulk esteve estranhamente afastado do jogo e os piques de Rodríguez não resultaram como esperado.

Não se pretende com isto dizer que o FC Porto atravessa um mau momento. Todas as equipas têm jogos menos conseguidos e foi, quanto a mim, exactamente isso que sucedeu, até porque a exibição com o Leixões e mesmo a segunda metade com o Chelsea deixaram excelentes indicações. Resta, claro está, aos jogadores mostrar que não passou de um percalço. Repare, leitor, que olhamos para este jogo como uma derrota do FC Porto - pode parecer paradoxal mas, convenhamos... é um grande que vence na maior parte das vezes. Só depois vemos a sensacional vitória do Sp.Braga. Tudo lhes correu às mil maravilhas. Os arsenalistas fizeram um jogo de mão cheia, sempre muito consistentes e concentrados, e têm um enorme mérito por isso. Demérito de quem perdeu, claro que sim, mas para isso muito contribuiu a prestação do adversário. Domingos, com a paciência necessária, está a construir uma equipa com vistas largas para o futuro. Candidato ao título? Calma, um passo de cada vez!...

Guerreiros que enfrentaram o dragão

O resultado primeiro que tudo: o Sp.Braga venceu, graças a um golo de Alan, o FC Porto. E fê-lo com toda a justiça, completando assim uma série extraordinária de cinco vitórias noutros tantos jogos. Foi a única equipa a consegui-lo, aliás, e defrontou já dois crónicos candidatos ao título - antes do campeão, havia ganho em Alvalade, ao Sporting. A proeza é, contudo, ainda maior porque os portistas não perdiam, para o campeonato, desde o primeiro dia de Novembro do ano anterior. O mote já tinha sido dado, pelos adeptos minhotos, alguns minutos antes do início da partida. Abram alas para o líder era a mensagem que se podia ler numa enorme tarja bem erguida.

Os jogadores, feitos em reais guerreiros que não viram a cara à luta, fizeram uma ligação perfeita com os adeptos e partiram em busca da História. O Sp.Braga, curiosamente desde os tempos de Jesualdo Ferreira, que pretende fixar-se como o quarto grande clube nacional, intrometendo-se entre os candidatos ao título. O início desta temporada, com a precoce eliminação europeia, não correspondeu com o que era expectável pelos arsenalistas. Chegou, inclusive, a ser questionado o trabalho de Domingos Paciência. A essa queda seguiu-se, porém, uma série de cinco jogos sempre a vencer no campeonato. Sem receios e cheio de vontade de ganhar, é assim que se apresenta este Sp.Braga.
Alan e Eduardo, os dois aniversariantes do dia, foram os grandes protagonistas: um marcou, o outro guardou o triunfo.

Se de um lado estiveram onze guerreiros, do outro esteve uma equipa irreconhecível. Um FC Porto esquisito, trepidante e demasiado errático. Enfim, foi uma antítese perfeita do adversário. Em apenas cinco dias, os tetracampeões nacionais sofreram duas derrotas: ambas pela margem mínima, primeiro frente ao Chelsea, e agora em Braga. Em relação a esse jogo de Londres, Jesualdo Ferreira trocou Mariano e Rodríguez por Varela e Falcao, habitualmente titulares, mas nem por isso o FC Porto conseguiu criar muitos lances de golo eminente. Faltou, tal como na terça-feira, criatividade. O treinador, devido a essas mudanças em Stamford Brigde, havia recebido algumas críticas.

No meio-campo dos portistas, no entanto, voltou a estar Guarín, depois de surpreendentemente titular na jornada europeia. Se esteve bem nessa partida, a verdade é que o colombiano é muito mais talhado para tarefas defensivas do que propriamente para construir futebol ofensivo. O FC Porto, sem Belluschi e com Guarín, perde essa tal imaginação de que se fala. Em Braga, ainda com o jogo empatado, Jesualdo Ferreira colocou Rodríguez e Farías, em detrimento de Meireles e Falcao, para se juntarem a Hulk e Varela na frente de ataque. A equipa ficou anárquica, com Fernando e Guarín no meio, sem capacidade de levar a bola até aos homens da frente. Não estranhou, portanto, que Bruno Alves tenha terminado a ponta-de-lança...

Não pense, leitor, que o FC Porto perdeu apenas por acção de um ou outro jogador. Perdeu porque nunca se encontrou como equipa e, mais importante do que isso, enfrentou um Sp.Braga concentradíssimo e perfeito a nível táctico - Domingos levou, de novo, a melhor sobre Jesualdo, repetindo o resultado de 2007, quando treinava o União de Leiria. Nem individualmente, sequer, os jogadores portistas conseguiram fazer a diferença. Ficamos com alguma vergonha, afirmou o técnico portista na sala de imprensa - como é o futebol... ainda na passada semana, o FC Porto fizera uma partida muito bem conseguida frente ao Leixões que lhe valeu elogios. Mais de dez meses depois, uma derrota do campeão voltou a ser notícia.

sábado, 19 de setembro de 2009

O insaciável Mourinho

O segredo é ser insaciável. A frase pertence a José Mourinho e é uma representação perfeita daquilo que o move e o leva a querer sempre chegar mais além. Amanhã, frente ao Cagliari, Mourinho alcançará o seu jogo quatrocentos como treinador principal. A estreia foi há já nove anos, no Bessa, num jogo pelo Benfica terminado como uma derrota. Na altura, não foi um bom prenúncio para um jovem técnico de trinta e sete anos que o então presidente Vale e Azevedo tinha escolhido, de forma arriscada, para comandar os encarnados. Teve o seu momento alto, em Dezembro, ao vencer o Sporting por 3-0. Esse foi, contudo, o seu último jogo na Luz pois viria a ser substituído por Toni, após a entrada de Manuel Vilarinho para a presidência do clube benfiquista.

Feitas as contas, foi apenas uma passagem fugaz pelo lugar principal de um banco de suplentes. José Mourinho, para Vilarinho, era apenas um treinador a prazo e não houve continuidade na aposta que Vale e Azevedo tão bem fizera - independentemente da sua gestão caótica, tem o mérito de ter sido o primeiro a descobrir Mourinho. Ao Benfica, seguiu-se o União de Leiria. Foi um passo atrás na carreira para, logo após, serem dados dois em frente. Gigantes. A extraordinária temporada alcançada nos leirienses, foi motivo mais do que suficiente para despertar a cobiça dos grandes portugueses. O FC Porto estava num período de grande crise de resultados, Pinto da Costa despedira Octávio Machado e o setubalense voltou à ribalta.

Foi na chegada às Antas que José Mourinho assumiu, de vez, a sua personalidade. Forte, ambicioso e desconcertante: na próxima época, tenho a certeza de que seremos campeões. Convenhamos que para um treinador que nada havia ganho, esta afirmação representou um risco brutal. Mas foi, principalmente, o início da marca Mourinho no futebol português. O FC Porto bebeu do treinador a confiança e a vontade de ganhar. Após a conquista da Liga dos Campeões, em 2004, Portugal ficou demasiado curto para tanta ambição. A tal ambição insaciável que Mourinho confessa, hoje, em entrevista ao jornal A BOLA.

Seguiu-se o Chelsea. Mais um degrau na carreira e no ego de José Mourinho porque, cinquenta anos depois, os londrinos voltaram a ser campeões ingleses. Por duas épocas consecutivas. Não passa de um provocador para os rivais, ficará para sempre como um ídolo para os adeptos blues. Tudo ganho, o projecto em Inglaterra estava cumprido. Era a vez de experimentar um outro campeonato, o italiano, talvez o mais aliciante a nível táctico. Chegou, viu os rivais, provocou-os até não mais poder e, acima de tudo, venceu mais dois troféus - Serie A e Supertaça. A partir daqui, esquece-se o passado e encara-se o futuro porque quatrocentos jogos e catorze títulos não chegam para o saciar.

O sentido das claques no futebol

Existiram, desde sempre, duas formas de olhar para as claques de futebol. Há quem ache que são importantes no apoio à equipa e, por isso, têm de ser incentivadas mas outros tantos pensam exactamente o contrário, isto é, que apenas servem para criar ambientes de conflito e violência que nada interessam num jogo de futebol. Não raras vezes assistimos a situações de confrontos entre as claques e, acima de tudo, uma enorme cobrança feita à equipa. Confesso, no entanto, que entendo que estes grupos organizados de adeptos possuem um papel fundamental no apoio que dispensam aos jogadores. Trata-se do tal décimo segundo jogador.

Pergunto-lhe, leitor, se acha que o ambiente de espectáculo e de cânticos que marca presença nos estádios seria possível sem a presença das claques? Respondo, recorrendo a uma frase tão em voga ultimamente: sim, mas não era a mesma coisa. Claro que os estádios não se compõem apenas com elementos das claques, mas poucos são os que pagam o seu bilhete para, em cada um dos noventa minutos, ajudarem incansavelmente a sua equipa a chegar à vitória. Mesmo que para isso tenham de chegar ao final completamente afónicos, interessa é empurrar os jogadores e mostrar-lhes que há ligação entre a bancada e o relvado. Isso é o que fazem as claques, por isso, um factor de motivação importante.

Essa é, inquestionavelmente, a enorme vantagem que as claques oferecem. Infelizmente, existe o outro lado da moeda. Muitos delas, a grande maioria, não estão sequer legalizadas como grupos de adeptos organizados. Ligados a elas, de forma intrínseca, estão climas hostis e violentos que chegam até aos próprios jogadores e treinadores da sua equipa. Evidentemente que uma grande parte de adeptos que entra no estádio para assistir a um bom espectáculo de futebol e da sua equipa, não pretende que se instale um clima de medo e de confronto entre apoiantes de clubes rivais. Deverá existir rivalidade, claro que sim, mas dentro da racionalidade e do desportivismo. Afinal, são adversários mas apenas em termos futebolísticos. As claques precisariam de evoluir neste aspecto.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Porquê sempre o doping?

A notícia, triste, caiu como uma verdadeira bomba: Nuno Ribeiro, ciclista da Liberty Seguros e vencedor da Volta a Portugal deste ano, deu positivo num controlo antidoping. A análise foi feita ainda antes do início da prova maior do ciclismo nacional e, além do vencedor, também os seus colegas Hector Guerra e Isidro Nozal acusaram a presença de EPO/CERA, ou seja, uma substância dopante de última geração. Ok, o doping há muito que deixou de ser novidade no ciclismo mas... sem dúvida que se trata de um abalo brutal no pelotão velocipédico. E, acima de tudo, mais um rombo numa Volta a Portugal cada vez mais frágil.

Se ainda bem recentemente, em 2006, tivemos a desclassificação do vencedor do Tour de France, Floyd Landis, por ter acusado níveis elevados de testosterona, o facto é que tal também não é inédito em Portugal pois Joaquim Agostinho, Fernando Mendes e Marco Chagas foram outrora desclassificados pelo mesmo motivo. Têm sido, infelizmente, incontáveis os casos semelhantes em qualquer das grandes corridas internacionais - muitas vezes sem o próprio conhecimento de quem o ingere, é verdade, e Nuno Ribeiro afirma não o ter feito em consciência. Esta é mais uma machadada na credibilidade e principalmente no esforço dos ciclistas. Afinal, quem não irá agora olhar para os corredores de forma desconfiada? Quem acreditará que conseguirão subir as montanhas mais íngremes somente devido ao seu suor e sem ajudas médicas?

A imagem da consagração de Nuno Ribeiro, em Viseu, a meados de Agosto, ficou marcada na memória de todos. Foi a recompensa pelo esforço, pela garra e pela vontade de triunfar que lhe deu a camisola amarela na Senhora da Graça e uma espectacular vitória na Serra da Estrela. Nesse último dia de prova, no contra-relógio, o ciclista da Liberty, longe de ser um especialista, cerrou os dentes e conseguiu carimbar a sua segunda vitória na Volta. Quebrou, também, o interregno de seis anos sem que nenhum português tenha conseguido triunfar, exactamente após a sua primeira glória. Transformou as forças em fraquezas e ganhou com justiça, no fundo.

Até hoje, poucos seriam os que não pensavam desta forma. Tudo mudou, num ápice. A vitória que Nuno Ribeiro havia alcançado com tanto sacrifício e vontade não passa, porém, de um resultado ilegal. Havia substâncias dopantes no organismo do ciclista, acusadas numa análise realizada antes do início da septuagésima edição da Volta a Portugal. Olhando e conhecendo o percurso de Nuno Ribeiro, sempre disponível e trabalhador em prol da equipa, causa estranheza que também ele tenha sido apanhado na teia do doping. A verdade é pura e dura, contudo: a Liberty Seguros, dirigida por Américo Silva, talvez a formação mais completa do pelotão nacional foi imediatamente extinta, ao passo que Nuno Ribeiro ficará sem a vitória e com um carimbo para sempre. Infelizmente. Tantos casos e nenhum serviu de lição?

Comentário: Sortes esperadas na Liga Europa

Disputou-se ontem a primeira jornada da nova Liga Europa e, tal como era expectável, houve sortes diferentes para as equipas portuguesas em prova. Benfica e Sporting, teoricamente as formações com maior potencial dos seus respectivos agrupamentos, venceram, enquanto o Nacional da Madeira, embora se tenha batido bem, foi derrotado pelo poderoso Werder Bremen. Os encarnados partilham a liderança do Grupo I com o Everton (4-0 ao AEK), os leões são líderes do Grupo D - fruto do empate entre Hertha e Ventspils - ao passo que, no Grupo L, onde está o Nacional, o Bilbao (vitória sobre o Áustria de Viena por 3-0) e o Bremen lideram.

O Sporting foi a primeira formação nacional a entrar em campo. Regressou à Holanda, onde havia defrontado o Twente, na eliminatória de acesso ao playoff da Liga dos Campeões, para jogar frente ao Heerenveen - equipa que, apesar do mau arranque desta temporada, terminou a anterior na quinta posição tendo, por isso, lugar na segunda competição europeia de clubes. Assumidamente favoritos, os leões não se livraram, porém, de alguns sustos. Venceram, é certo, tiveram sempre maior ascendente sobre a baliza contrária e coleccionaram oportunidades de golo mas foi preciso um Liedson repleto de inspiração e golos para fazer um hat-trick e resolver um jogo que não precisava de tanto sofrimento - o Herenveen adiantou-se aos 12', por Sibon, e empatou, num livre directo de Dingsdang, aos 77'.

Na Luz, o Benfica recebeu o BATE Borisov que, mesmo sendo campeão e demonstrando algum poderio na Bielorrússia, se trata de uma equipa frágil. Por isso mesmo, Jorge Jesus decidiu fazer algumas mudanças e entregar a titularidade da baliza a Júlio César (Quim ficou fora dos convocados), dar uma chance a Nuno Gomes (Saviola foi suplente) e promover a estreia do jovem brasileiro Filipe Menezes, o último reforço a chegar a Lisboa, no lugar de Aimar. Sem ter alcançado o caudal ofensivo de jogos recentes nem a espectacularidade exibicional, o Benfica conseguiu construir uma vitória confortável. Marcaram Nuno Gomes e Cardozo, a dupla atacante inicial. Um jogo que serviu, ainda, para Jesus fazer a tal gestão do plantel pois a formação bielorussa apenas nos últimos dez/quinze criou algum perigo para a baliza de Júlio César.

À mesma hora, o Nacional - e importa reforçar que a equipa de Manuel Machado já conseguiu uma grande proe
za ao afastar o Zenit, algo que lhe permitiu chegar a esta fase - foi derrotado, em casa, pelo Werder Bremen. A maior capacidade dos alemães deu-lhes uma vitória justa mas nem por isso fácil. Acaba, também, por ficar um sabor ainda mais amargo para os madeirenses porque conseguiram, graças a tentos de Felipe Lopes e Halliche, anular a vantagem de dois golos que o Bremen possuía. O mais difícil estava feito, então. No entanto, já dentro dos últimos cinco minutos, Claudio Pizarro marcou o golo da vitória da sua equipa e gelou os portugueses. Nota positiva para o Nacional, de qualquer das formas.

NOTA: Devido a problemas informáticos, o comentário à primeira jornada da Liga Europa apenas pôde ser colocado hoje.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O Ronaldo e o Cristiano

É quase uma opinião unânime entre os adeptos portugueses: Cristiano Ronaldo não tem na Selecção, o mesmo rendimento que evidencia nos seus clubes. Primeiro e principalmente, no Manchester. Aí, víamos o jogador português a correr, jogar, encantar e marcar. De cabeça, com o pé esquerdo, com o direito, enfim, de todas as formas possíveis e mais algumas. Na Selecção, não: as fintas não têm efeito, os livres também não, Ronaldo gesticula e protesta qualquer decisão dos árbitros. Agora, aos poucos, também no Real Madrid está a adquirir a forma que o tornou no melhor do Mundo. Já leva dois golos na Liga espanhola e, ontem, para a Liga dos Campeões, fez mais dois frente ao Zurique.

Não pretendo com isto fazer qualquer crítica à atitude de Cristiano Ronaldo quando joga por Portugal. No entanto, pessoalmente, parece-me algo estranho que, na Selecção, as coisas lhe corram tão mal quanto é possível ver. Há enormes diferenças entre ver o Ronaldo de Manchester ou Madrid e o capitão da equipa nacional. Não tem a mesma alegria nem magia no seu jogo, fica bem mais empobrecido. Acusa em demasia o facto de ser o melhor jogador do Mundo, no fundo. Há mesmo quem diga que, nos seus clubes, tal não acontece pois está rodeado de outras estrelas e não tem a necessidade de resolver um jogo sozinho.

Contudo, para além disso, também existe uma cobrança muito grande por parte dos adeptos. É perfeitamente normal, leitor, porque esperamos sempre que os grandes jogadores nos surpreendam. Quantas vezes não pedimos para que resolvam jogos sozinhos? Inúmeras. Esquecemos, até, os seus colegas. Ronaldo, tal como todos os outros jogadores de topo, obviamente que não pode manter sempre o mesmo nível exibicional. Porém, terá de saber que a ele se pede o céu a Lua porque é um jogador extraordinário. Aos outros, não se pedirá tanto. Ronaldo precisa de recuperar a alegria e a confiança quando joga por Portugal.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Comentário: Ainda não foi desta, dragão...

A tradição, ou melhor a maldição, manteve-se porque ainda não foi desta tentativa que o FC Porto conseguiu vencer em Inglaterra. Um golo de Anelka, apenas três minutos depois do regresso dos balneários, deu a vitória ao Chelsea, em Stamford Bridge. Teve, depois disso, boas oportunidades para chegar a um segundo golo, é verdade. Nos últimos vinte minutos, porém, os portistas aproximaram-se mais da baliza de Petr Cech e, contando com um pouquinho de sorte, poderiam mesmo ter chegado ao empate. Não seria nada de anormal, aliás. Vitória do Chelsea, a equipa mais dominadora, frente a um FC Porto que se mostrou bem duro de roer.

Quase que seguindo uma linha muito própria de encarar este tipo de jogos, Jesualdo Ferreira apresentou novidades no onze titular. Era esperado que assim fosse - o técnico portista já o havia adiantado na antevisão da partida - mas, seja como for, houve surpresas de última hora. Cristian Rodríguez e Mariano González foram os escolhidos para se juntarem a Hulk, na frente de ataque, em detrimento de Falcao e Varela ao passo que Guarín, médio que apenas jogou um par de minutos na Supertaça Cândido de Oliveira, substituiu Belluschi no trio do meio-campo. Mesmo tendo a equipa realizado uma primeira parte de bom nível, embora sempre com maior domínio e controlo do Chelsea, as alterações não resultaram como Jesualdo Ferreira esperaria.

Após o bom golo de Nicolas Anelka, de ângulo apertado, o Chelsea dispôs de mais um punhado de boas ocasiões (Helton foi, nesta altura, importantíssimo com defesas de qualidade) e, portanto, era necessário que o FC Porto partisse em busca do resultado. Contudo, à equipa que iniciou o jogo faltava capacidade de criação e poder de fogo. Rodríguez e Mariano estiveram pouco em jogo, nunca conseguindo arrancadas que levassem perigo à área londrina, Hulk não tem, de todo, o mesmo rendimento a jogar no centro do ataque e Guarín não é um médio criativo. Jesualdo viria a emendar as opções iniciais, lançando Falcao (53', por Mariano) e Varela (64', por Rodríguez).

Depois dessa fase de sufoco aplicada pela equipa inglesa, o FC Porto pôde enfim acercar-se da baliza de Cech. Fê-lo com personalidade, com atitude e com garra. Sem nunca virar a cara à luta, procurando o empate até ao último apito de Konrad Plautz. Varela e Guarín tiveram boas chances mas o guarda-redes checo opôs-se com categoria, tal como Ricardo Carvalho que representou um verdadeiro problema para as pretensões dos atacantes do FC Porto. Esteve perto mas nunca conseguiu marcar. Não quebrou a malapata e, acima de tudo, perdeu no arranque da Liga dos Campeões. O Chelsea, mesmo sem Drogba e Bosingwa, confirmou o seu favoritismo. Na partida e na qualificação à fase seguinte. Uma boa notícia para os portistas chegou de Madrid, onde o Atlético, o próximo adversário e o maior inimigo nas contas do agrupamento, não foi além de um empate frente ao APOEL.

Jogo de regressos e reencontros (antevisão)

O FC Porto regressa hoje, na sua estreia na edição da Liga dos Campeões desta época, ao local onde foi eliminado da prova em 2007: Stamford Bridge. Completaram-se dois anos, em Março, que os portistas, já treinados por Jesualdo Ferreira, foram afastados dos quartos-de-final pelo Chelsea, então comandado por José Mourinho embora na fase mais descendente da passagem do special one por Inglaterra. Além disso, também em 2004-05, na temporada seguinte à conquista do título europeu, os portistas defrontaram os londrinos na fase de grupos da liga milionária. Tal como agora. São outros tempos, é certo, mas as dificuldades não mudam.

Depois de ter caído no ano transacto, nos quartos, aos pés do campeão europeu Manchester United ficou, por entre os adeptos e dirigentes portistas, um sentimento de alguma frustração. Como diria Sérgio Godinho, soube-lhes a pouco. Não deve ser, para nenhuma equipa, vergonha alguma ser eliminado por um clube de topo mundial como o United mas a verdade é que, sobretudo no jogo do Old Trafford, ficou bem vincada a capacidade que a equipa portuguesa possuía. E, acima de tudo, que não era impossível bater-lhes o pé. Aliás, é essa partida - terminada empatada a dois, numa exibição de grande classe do FC Porto - que está mais presente na memória de cada um de nós.

Dessa equipa que jogou em Manchester, saíram três dos titulares: Lucho, Lisandro e Cissokho. São, como é sabido, baixas importantes mas que têm sido bem colmatadas. O FC Porto tem estado até mais criativo do que antes. Belluschi, Falcao e Álvaro Pereira, com especial destaque para os últimos dois, são as alternativas encontradas por Jesualdo Ferreira para manter a equipa nacional em força. Também Cristian Rodríguez, titularíssimo em 2008-09, ainda não se encontra com o ritmo necessário e, por isso, Silvestre Varela (outro destaque muito positivo) deverá formar, juntamente com Hulk e com Falcao, o trio ofensivo apontado à baliza do Chelsea. Para Helton será um regresso ao local do crime: nesse tal jogo de 2007, a eliminar, o brasileiro ficou ligado ao golo que deu, na altura, o empate à formação londrina - viria a vencer por 2-1.

Já no ano anterior, na fase de grupos, a equipa do FC Porto jogou em Londres: no Emirates Stadium, com o Arsenal, de onde saiu vergado a uma pesada derrota por quatro golos. O Chelsea é, em teoria, a equipa mais forte do grupo que, além do FC Porto e dos londrinos, incluiu também o Atlético de Madrid e o APOEL Nicósia e, convenhamos, é fortíssima a jogar em casa, onde já não é derrotada desde 2006. Além disso, a equipa agora comandanda pelo italiano Carlo Ancelotti, tem estado implacável no campeonato inglês, com contribuições de Anelka, Malouda e Drogba - o marfinense está, tal como Bosingwa, castigado e falhará a partida. Para terminar, outra curiosidade. Sobre o árbitro: Konrad Plautz, o austríaco que esteve no referido jogo de Manchester. Só reencontros e regressos, portanto.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A inevitável saída de Azenha

Despedir um treinador nas primeiras jornadas do campeonato é, quanto a mim, um enorme erro. Afinal, foi esse treinador quem programou a época, quem esteve envolvido na contratação dos jogadores e formou a equipa segundo as suas ideias. Há, no entanto, sempre duas perspectivas diferentes: se os resultados forem maus e os jogadores não assimilarem a filosofia de quem os dirige, fará sentido que haja a tal chicotada psicológica no início da temporada pois, assim, resta tempo suficiente para o novo treinador trabalhar. Seja como for, atente-se a referência à psicologia. Quando um treinador abandona o comando técnico de uma equipa, pretende-se que haja uma mudança de mentalidade. Que sentido faria contratar alguém com ideias iguais?

Deixo-lhe, acima, o parágrafo introdutório de um texto aqui publicado no passado sábado. Centrou-se, sobretudo, na falta de paciência bem característica dos dirigentes portugueses que demitem o treinador à primeira tentativa falhada por parte da equipa. Por coerência, mantenho a opinião de que é errado fazê-lo no início da época e somente devido a maus resultados (sublinhe-se esta parte). No entanto, naturalmente, existem situações em que mudar o comandante técnico é mesmo a melhor opção pois os jogadores não assimilam o que é pretendido e o próprio treinador desgasta-se em demasiada. Aí, aceito que os dirigentes o façam. Que existam as tais chicotadas psicológicas. Com tempo para o novo técnico trabalhar.

Neste momento, cumprida que está a quarta jornada, Carlos Azenha, no Vitória de Setúbal, foi a segunda vítima de despedimento nesta edição do campeonato português. O Vitória, clube histórico mas a viver imensos problemas principalmente a nível financeiro, sentiu dificuldades logo na pré-época. O plantel foi remodelado, poucos jogadores se mantiveram e começou a preparação mais tarde do que os outros devido a todas as experiências que Azenha foi obrigado a fazer. Teve, assim, um início de temporada absolutamente desastroso. Perdeu - e ficará na História por isso - por 8-1 frente ao Benfica, num resultado muitíssimo invulgar nos dias que correm. O treinador, apesar de contestado, continuou no comando da equipa. Foi um voto de confiança.

Após uma derrota tão expressiva, restava uma única alternativa aos sadinos: vencer e limpar a má imagem deixada na ronda anterior. Defrontou, ontem, o União de Leiria, ou seja, uma equipa que será, à partida, um rival na luta pela manutenção. Se o jogo com o Benfica poderia ter sido um acidente frente a uma equipa grande que, de longe, conta com outros recursos (humanos e económicos), os leirienses são uma equipa semelhante ao Vitória. São equipas do mesmo campeonato, como é habitual dizer-se. O resultado foi uma derrota, em casa, por 4-0. Para os adeptos sadinos, sofrer duas derrotas seguidas foi demasiado penoso. No entanto, mesmo parecendo paradoxal, deverá ter custado ainda mais a partida com o União de Leiria por aquilo que já foi escrito. Carlos Azenha, obviamente, ficou sem margem de manobra. O clube e, sobretudo, os jogadores precisam de uma mudança de mentalidade. Precisam, lá está, do efeito psicológico da saída do técnico.

domingo, 13 de setembro de 2009

Liga Sagres: À volta do quatro

ANÁLISE

Quatro. São as vitórias do Sp.Braga noutros tantos jogos, o que lhe dá a liderança isolada da Liga Sagres pois foi a única equipa a conseguir ganhar em todas as partidas. Quatro foram também os golos marcados por FC Porto, Benfica e União de Leiria. Venceram e convenceram, todos eles. Os portistas bateram o Leixões, a única equipa que, na temporada transacta, havia ganho no Dragão; no Restelo, os encarnados voltaram a demonstrar um caudal ofensivo muito grande; o recém-promovido Leiria agravou a crise do Vitória de Setúbal, com uma vitória concludente no Bonfim. E, claro, o número cem: são estes os golos alcançada por Liedson no campeonato português.


Estava ainda bem presente na memória dos adeptos portistas a vitória do Leixões, alcançada em pleno Dragão, na época anterior. Foi a última vez que a equipa de Jesualdo Ferreira perdeu em casa, para o campeonato, num jogo que marcou a fase mais complicada e conturbada de 2008-09. Desta vez foi, porém, bem diferente assim como já o havia sido na Figueira da Foz - o local da última derrota na Liga Sagres. A vantagem de quatro golos ao intervalo (golos de Varela, Hulk, Rolando e Falcao), culminando uma primeira parte de luxo, a melhor exibição da época, permitiu a Jesualdo Ferreira fazer a gestão do resultado e também do esforço dos jogadores, pensando no jogo com o Chelsea, na terça-feira, para a Liga dos Campeões. Destaque para a belíssima prestação de Álvaro Pereira, presente nos três primeiros golos.

Após a estrondosa goleada, à antiga, de 8-1, sobre o Vitória de Setúbal, o Benfica tinha pela frente uma, tradicionalmente, deslocação ao Restelo. Sabemos que a melhor forma de contornar as dificuldades que possam surgir é marcar nos primeiros minutos. Foi isso que os encarnados fizeram. Sexto minuto: Saviola, à Maradona, marcou um excelente golo após uma jogada individual. Do lado do adversário, sofrer um golo quase a frio pode significar um desmoronamento da equipa. Não foi, contudo, o que aconteceu ao Belenenses mas, verdade seja dita, o Benfica também não manteve a intensidade de que resultaram os oito golos ante o Vitória. Na segunda parte, Cardozo marcou e esse foi o momento que fez com que a equipa de João Carlos Pereira caísse como um baralho de cartas. Ainda marcaram Javi García e Ramires. 4-0, doze golos em dois jogos.

O Sporting entrou em campo, em Alvalade, frente ao Paços de Ferreira sabendo que os dois rivais tinham vencido e tendo, portanto, com obrigação de vencer. O objectivo foi alcançado, com uma cabeçada de Liedson (o seu centésimo golo no campeonato nacional, em duzentos e cinquenta jogos realizados), já bem perto dos noventa e numa altura em que o resultado estava cada vez mais difícil de desbloquear. Há que dar mérito também ao Paços pela forma como travou os leões. Tratou-se, no entanto, de um jogo com pouca velocidade, demasiadamente interrompido, e sem grande espectáculo proporcionado. Uma vitória importante da equipa do Sporting que se mostrou sempre mais interessada em ganhar e criou mais oportunidades de perigo junto à baliza de Cássio. Segunda vitória consecutiva que mantém a distância de três pontos para Benfica e FC Porto.

O Sp.Braga mantém, então, a liderança isolada da Liga Sagres após ter vencido, de forma complicada é certo, o Marítimo. Além disso, destaque pela positiva para o excelente início do Rio Ave que, cumpridas quatro jornadas, ainda não averbou nenhuma derrota. Defrontou, nesta jornada, o Nacional que, em sentido contrário, não conseguiu vencer nenhum dos seus jogos - soma dois pontos, alcançado com Sporting e Olhanense. Tal como os vila-condenses, também os recém-promovidos Olhanense e União de Leiria ainda não somaram qualquer derrota. Nesta jornada, os algarvios venceram a Académica - ainda à procura da primeira vitória -, ao passo que a equipa de Manuel Fernandes bateu o Vitória de Setúbal, acentuando a crise dos sadinos que contam com um ponto apenas. Na Naval, a saída de Ulisses Morais não produziu efeitos e a equipa figueirense foi derrotada pelo Vitória de Guimarães que, assim, somou a sua primeira vitória.

Águias e dragões como almas gémeas

Como almas gémeas. Até agora, cumpridas quatro jornadas, FC Porto e Benfica têm sido iguais nos seus registos. Contam ambas com dez pontos, fruto de um empate, na ronda inaugural, a que se seguiram três vitórias. Esta é aliás uma ideia que já tinha sido deixada na pré-época, ou seja, portistas e benfiquistas equivalem-se no poderio evidenciado. Naturalmente que ainda não estão, nem é isso que se pretende dizer, em ponto de rebuçado mas demonstram, já nesta fase, excelente jogo e golos. Vários golos. São as melhores equipas deste campeonato.

O ataque do Benfica tem mostrado um tremendo poder de fogo. É aquilo a que se pode chamar um verdadeiro rolo compressor. A equipa encarnada tem, até agora, o melhor ataque da prova com catorze golos marcados - muito contribuíram, claro, os oito ante o Vitória de Setúbal. Além disso, e mais importante, demonstra uma facilidade muito grande em chegar às áreas adversárias e em criar lances de golo iminente. A partida em Guimarães, na segunda jornada, foi a menos conseguida por parte da equipa. Saviola, Cardozo, Di María e Fábio Coentrão têm sido as setas quase sempre apontadas ao alvo. Sem qualquer ponta de exagero, este Benfica tem sido o melhor e mais empolgante da última década.

Havia, antes do ínicio da temporada, uma enorme expectativa para saber como se daria o FC Porto sem jogadores da importância e qualidade de Lucho González e Lisandro López. É verdade que o empate inicial, em Paços de Ferreira, deixou nos adeptos portistas uma certa desconfiança em relação ao futuro e ainda devido a uma tal Hulk-dependência. Seguiram-se, no entanto, três vitórias expressivas: Nacional (3-0), Naval (3-1) e Leixões (4-1), sendo que os últimos serviram para afastar fantasmas do passado. Falcao, Varela e Álvaro Pereira têm mostrado boas credenciais. A exibição, na primeira parte, frente ao Leixões roçou quase a perfeição. Pode parecer arriscado mas... este FC Porto está mais encantador do que o anterior.

sábado, 12 de setembro de 2009

Chicotadas com pouco de psicológico

Despedir um treinador nas primeiras jornadas do campeonato é, quanto a mim, um enorme erro. Afinal, foi esse treinador quem programou a época, quem esteve envolvido na contratação dos jogadores e formou a equipa segundo as suas ideias. Há, no entanto, sempre duas perspectivas diferentes: se os resultados forem maus e os jogadores não assimilarem a filosofia de quem os dirige, fará sentido que haja a tal chicotada psicológica no início da temporada pois, assim, resta tempo suficiente para o novo treinador trabalhar. Seja como for, atente-se a referência à psicologia. Quando um treinador abandona o comando técnico de uma equipa, pretende-se que haja uma mudança de mentalidade. Que sentido faria contratar alguém com ideias iguais?

Com tudo isto, pretendo chegar aos despedimentos precoces. Temos a saída de Ulisses Morais da Naval, durante esta semana. Desconheço, por completo, as razões que levaram o presidente Aprígio Santos a prescindir do treinador mas, se ficou a dever-se aos resultados, parece-me um bom exemplo do que foi dito acima - caso houvesse desmotivação ou outro factor psicológico, entenderia-se. Em três partidas, os figueirenses contavam com um ponto e já tinham defrontado o FC Porto, uma equipa claramente superior. Não me parece que seja razão de alarme, leitor. Não se trata, porém, de uma situação inédita no presidente da Naval pois, em 2006-07, despedira Francisco Chaló ao fim de três jogos realizados (um deles com um grande, também, no caso o Benfica).

O FC Porto viveu, em 2004-05, duas situações que não são, de todo, habituais com Pinto da Costa. Chegou, primeiro, Del Neri mas foi despedido ainda antes do início da temporada. O caso mais grave e que, provavelmente, marcou a má campanha dos portistas nessa temporada foi o despedimento de Victor Fernandéz, o sucessor do italiano, após uma derrota caseira frente ao Sp.Braga numa altura... em que era líder do campeonato. Luís Filipe Vieira foi outro presidente que não resistiu em olhar somente para os resultados e dispensar o comandante ao primeiro passo em falso: aconteceu há duas temporadas, na primeira jornada, quando Fernando Santos foi despedido após empatar com o Leixões. É, sem dúvida, exemplificativo de um erro grosseiro. Há, ainda, o despedimento de Bobby Robson do Sporting, também em primeiro no campeonato, que acabou campeão nas Antas. Uma conclusão: o resultado da chicotada é, na maioria das vezes, nulo. Valerá a pena os dirigentes serem impacientes?

As contas da Selecção

A Selecção nacional portuguesa tem, por esta altura, um problema bicudo pela frente: a presença no Mundial 2010, na África do Sul. Falhar uma competição de Selecção representa algo a que nós, portugueses, não estávamos já habituados pois desde o falhanço para o França'98 que não acontecia algo do género. No entanto, a exclusão do Mundial do próximo ano terá de ser encarada como um cenário bem provável de acontecer. Há, contudo, ainda esperança em como Portugal, beneficiando de uma ajuda de terceiros, consiga chegar ao playoff. Será uma espécie de estrada secundária para a África do Sul.

Surge, neste período delicado, uma questão importante: seria este um grupo assim tão forte para que Portugal não alcançasse a primeira posição, ou seja, a única que garante o acesso directo ao Mundial? Não, na minha opinião e independentemente dos resultados que foram surgindo, a Selecção portuguesa é a mais forte do seu agrupamento. À partida, Dinamarca - primeira classificada e, em princípio, a que conseguirá carimbar o bilhete para África do Sul - e Suécia tratam-se dos adversários mais fortes mas não são, de forma alguma, equipas de topo mundial. A Hungria poderá ser colocada imediatamente atrás (embora mais frágil do que as escandinavas, tal como ficou provado no jogo de quarta-feira com Portugal) mas com bem mais qualidade do que Malta e Albânia, as mais fracas do grupo.

Não foi, nem de perto nem de longe, devido a esta dupla jornada na Dinamarca e na Hungria que Portugal fracassou. Aliás, a primeira parte alcançada em Copenhaga foi, muito provavelmente, o que melhor se viu desta Selecção embora não tenha acertado com a pontaria. Antes, apenas ganhara em Malta e na Albânia. Em casa, o saldo não é agradável: derrota (dramática) com a Dinamarca e nulos com a Albânia - este sim, um resultado verdadeiramente inaceitável - e com a Suécia, um resultado que se repetiu em terras suecas. São, ao todo, onze pontos desperdiçados.

Quase tantos como os somados que são treze, isto é, menos cinco do que os dinamarqueses e menos dois do que os suecos. Com duas partidas pela frente, resta aos portugueses acreditar no segundo lugar, aquele que dará acesso a um playoff de acesso ao Mundial. Para que tal aconteça, será necessário vencer, em casa, a Hungria e Malta e esperar ainda que a Suécia perca pontos. Na próxima jornada deste grupo, em Outubro, os dois primeiros classificados defrontar-se-ão e poderá ser aqui que Portugal tenha mais benefícios.

Os homens do apito

Na maioria das vezes, eles estão no centro da fúria dos adeptos e levam com todas as culpas dos maus resultados. No entanto, esquecem-se as dificuldades a que estão sujeitos. Até agora. Les Arbitres é o nome original deste filme que pretende mostrar os bastidores da arbitragem, os momentos que antecedem o início de uma partida e também o relacionamento dentro do relvado. Os depoimentos e as imagens de alguns dos mais conceituados árbitros internacionais foram recolhidos durante o último Europeu, realizado na Áustria e na Suíça. Massimo Busacca, Mejuto Gonzalez, Peter Fröjdfeldt e Howard Webb são alguns dos protagonistas deste documentário que, segundo os realizadores, pretende dar uma visão humanista dos homens do apito.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Vítor Balizas


A primeira aparição foi como que uma obra do acaso. A onze de Setembro de 1988, este de boa memória, o FC Porto jogava em Guimarães. Completam-se hoje vinte e um anos. Azar dos azares, os habituais guarda-redes não contavam: o malogrado Zé Beto estava castigado pelo clube e Mlynarczyk, o gigante polaco que havia estado nas conquistas europeias, lesionara-se. Quinito, o treinador, chamou um júnior que já fizera alguns treinos com a equipa principal. Tinha apenas dezanove anos mas esteve na baliza com uma postura sóbria. Como se fizesse aquilo há imenso tempo. Era apenas a sua estreia. Chamava-se Vítor Baía.

O espanto foi geral. Como é que aquele rapaz tão novo mostrou aquela segurança?, perguntaram-se os adeptos portistas. Até Quinito ficara surpreendido: um jovem precocemente velho, disse depois o treinador. Logo ali, após aquele jogo frente ao Vitória que terminou empatado com um golo, projectaram grande futuro ao jovem Baía. No entanto, não se assumiu nesse momento. Mlynarczyk recuperou e regressou à titularidade da baliza portista. Porém, a lesão voltou a importuná-lo e não mais o deixou continuar. Entretanto, chegou Artur Jorge, o tipo do bigode farfalhudo e ideias fortes. Não havia volta a dar: aquele jovem estava destinado a ser o número um dos portistas.

Cimentada a titularidade no FC Porto, veio a Selecção. Na Maia, no início da década de noventa. Num ápice, sem discussão, Vítor Baía assumira-se como o melhor guarda-redes português. Já ninguém se lembrava do jovem daquela bela tarde de Setembro. Estava crescido, cheio de confiança. Em 1992 entrou para a História: conseguiu superar o record de imbatibilidade, pertença do mítico Manuel Bento, depois de estar 1192 minutos sem sofrer golos. Mil-cento-e-noventa-e-dois. É aqui que o Vitória de Guimarães volta a entrar em cena porque foi Paulo Bento, esse mesmo que agora treina o Sporting, ao serviço dos vitorianos a quebrar a série de minutos. De penalty. Ironias do destino.

Barcelona chegou em 1996, era impossível ao FC Porto mantê-lo. Logo após o Europeu de Inglaterra, o tal da chapelada de Poborsky, Vítor Baía rumou à Catalunha. Foi recebido em extâse, numa total euforia, como se fosse Axl Rose ou Bon Jovi. Tudo correu às mil maravilhas na primeira época. Depois, bem, depois veio um verdadeiro inferno com a chegada de Van Gaal para substituir sir Bobby Robson. Os conflitos sucederam-se e, para piorar o que já por si era mau, as lesões vieram dar uma ajudinha. Baía perdeu a titularidade, o apoio dos adeptos, enfim, tudo aquilo que tinha conquistado. Regressou ao FC Porto em 1999. Com a camisola noventa e nove.

Seguiram-se anos bem complicados, um calvário. Os joelhos traíram vezes sem contas. Era legítimo que se pensasse que, o ponto final de uma carreira brilhante, estava cada vez mais iminente. Seria o fim do guarda-redes da Geração de Ouro. Não foi, felizmente. Vítor Baía transformou-se, as fraquezas passaram a forças. Voltou. Melhor do que nunca. Reassumiu a baliza do FC Porto em 2002. Esteve nos anos de glória com José Mourinho. Chegou ao céu em 2004, ao ser consagrado como o melhor da Europa. Agora sim, estava no máximo. No entanto, numa tremenda injustiça, continuava de fora da Selecção. Por simples opção de Scolari. É algo que nunca ninguém irá compreender.

Independentemente disso, no FC Porto, tudo continuava como sempre. A comparação com o vinho do Porto era inevitável. Co Adriaanse chegou em 2006 e não foi nessas conversas. Começou por dar a baliza a Vítor Baía mas, após um tremendo erro na Amadora, não foi de modas e entregou-a a Helton. Foi um erro que custou caro. A partir desse momento, o guarda-redes brasileiro não mais largou o lugar. Porra, sempre os holandeses. Foi o fim mas Baía soube admitir que deixara de ser titular. Deixou as luvas, tornou-se uma referência do balneário. Em Maio de 2007, com uma ovação estrondosa, despediu-se dos relvados. Um dos melhores de sempre. O guarda-redes que até a dar frangos é elegante, disse Valdano.

Eficácia, acima de tudo o resto

No futebol, pouco importa o número de remates e de ataques que determinada equipa consegue fazer num jogo. São valores que contam, acima de tudo, para engordar a estatística. Mais do que fazê-lo em quantidade, interessa fazê-lo em qualidade. É aqui que entra a eficácia, isso sim verdadeiramente importante para uma equipa ter sucesso. Temos dois exemplos recentes que comprovam esta ideia na perfeição. Os dois recentes jogos da Selecção portuguesa. Na Dinamarca, Portugal rematou imensas vezes (cerca de trinta e cinco) enquanto na Hungria fez apenas um terço disso. O resultado, porém, foi um golo em cada um deles.

Hoje em dia, no futebol actual, é cada vez menos frequente vermos uma equipa que alcança um largo número de golos marcados. Aliás, sempre que isso sucede diz-se que é à moda antiga, o que, por si só, mostra bem como agora raramente aparecem resultados muito desnivelados. De nada vale que se remate muitas vezes à baliza contrária, se nenhumas dessas oportunidades se concretiza. O mesmo se aplica ao tipo de futebol apresentado ou, como diria Manuel Machado, à componente estética. Muitas vezes, jogar bem, fazer boa circulação de bola e deixar o adversário entalado no seu meio-campo não é sinónimo de vitória.

Obviamente que o adepto quer ópera em todos os jogos. Por que razão vai ao estádio? Para ver a sua equipa jogar e, sobretudo, vencer mas também para assistir a um bom espectáculo recheado de golos. Na Selecção nacional, todos os portugueses desejariam que assim tivesse sido na Dinamarca e na Hungria. No primeiro, ninguém se pode queixar da exibição mas apenas do injusto empate que deixou sabor a derrota. Em Budapeste, na quarta-feira, a história foi bem diferente: má exibição, merecedora de críticas, mas uma vitória, ou seja, foi alcançado o mais importante e que ainda nos permite estar na luta por um lugar no Mundial. Um jogo eficaz e pragmático, sem brilhantismos. Para nós, bem melhor do que o de Copenhaga...