terça-feira, 1 de setembro de 2009

Um Diós na pele de génio


Jogavam-se os quartos-de-final do Mundial 86, no México. Quase cento e quinze mil pessoas no estádio Azteca para ver o Argentina-Inglaterra. O jogo que reunia todas as atenções. Na selecção argentina estava um tal de Diego Armando Maradona, já depois de ter saído de Barcelona, mas ainda sem atingir o seu apogeu. Estava marcado para esse dia, 22 de Junho, na capital mexicana. Pela frente uma Inglaterra comandada por Bobby Robson, um velho conhecido nosso, que tinha em Gary Lineker a grande figura. A partida começou bem e foi entretido até ao intervalo. Desgraça, não havia golos. Faltava inspiração para descomplicar a coisa.

Nem é tarde nem é cedo, isso resolve-se.
O jogo tinha recomeçado há seis minutos, precisamente. Maradona levou a bola colada ao seu pé esquerdo, sempre no seu estilo, entregou-a para Jorge Valdano e correu para o centro da área inglesa. A bola sofreu um ressalto num adversário e subiu: Diego Armando Maradona, do alto do seu metro e sessenta e cinco, elevou-se e atirou para dentro da baliza. Como era possível ele ter chegado com a cabeça onde Peter Shilton, o guarda-redes britânico, não chegou com as mãos? Não era, de facto. Só desviando a bola com a mão. Foi o que aconteceu. Fue la mano de Diós, disse ele.

O árbitro tunisino Ali Bennaceur apontou para o centro do terreno, a Argentina colocava-se em vantagem.
Os ingleses protestaram mas de nada lhes valeu. A simulação tinha sido bem feita. Ok, foi batota. Claro que não é bom para o futebol, mas ficou gravado na memória de todos os adeptos. Porém, o melhor ainda estava para chegar. Jogaram-se apenas mais quatro minutos. Maradona, outra vez. Pegou na bola ainda no meio-campo da celeste, livrou-se de dois ingleses com uma finta genial, correu, correu e correu até entrar na área da Inglaterra. Foi deixando os adversários pelo caminho, impotentes, deitados no relvado como uma onde que arrasta tudo.

Já dentro da área, Maradona estava a um palmo da glória. Apenas tinhas Terry Fenwick, o mais resistente dos defesas britânicos, na pressão e Peter Shilton. Nova finta, guarda-redes fora da jogada, golo. O melhor golo alguma vez visto. De la hostia! exclaramaram os argentinos. Esse momento, essa jogada, esses sucessivos dribles catapultaram Maradona para um estatuto sobrenatural. Os adeptos fizeram uma longa vénia, bem merecida, àquele que ainda hoje é considerado um Deus do futebol. A partir dessa tarde de Junho, no México, nada voltaria a ser igual. Os ingleses nunca lhe perdoarão. A batota pura do primeiro golo apagou-se perante tamanha obra de arte.

Actualmente, há quem faça um paralelo com Lionel Messi e até se diz que é discípulo de Maradona. Certo que têm mesmo algumas semelhanças, não só no aspecto físico. A estrela do Barcelona já provou, nalguns momentos, ser capaz de imitar do ídolo. E esses dois golos que El Pibe fez frente a Inglaterra foram reeditados por Messi, ambos em 2007-08. Contra o Getafe, para a Taça do Rei, fintou uma série de jogadores e marcou um golo de antologia. Mais tarde, num derby entre Barcelona e Espanhol, fez um golo com a mão. Tal como o de 1986, este também valeu. Foram dois momentos de génio, de imitação perfeita de Diós. Diego Armando Maradona, muchas gracias.

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