quinta-feira, 4 de junho de 2009

A loucura e a tristeza num simples penalty


Como em qualquer um dos filmes de James Bond, os momentos que antecedem a marcação de uma grande penalidade são de uma enorme adrenalina. Diria mais, são angustiantes. É em ambos os lados, não discrimina: para o guarda-redes e para o jogador que vai tentar marcar o golo. Existem onze metros entre eles, olham-se nos olhos mas apenas um deles poderá festejar. Um sente-se perdido numa imensidão de espaço, o outro sabe que tem a glória nos pés. A marcação de um penalty, além do talento necessário, tem uma enorme carga psicológica.

O apito do árbitro é como o sinal de arranque de uma montanha russa. O guarda-redes continua na baliza, em cima da linha. Por vezes saltita fazendo de tudo para desconcentrar e até provocar o seu adversário, algo a que o público da sua equipa também ajuda. Quem vai marcar tem de estar vacinado contra isso. Não pode sentir a pressão, apenas confiar em si. E que a bola vai mesmo entrar. Precisa de sorte também. Concentra-se, arranca, escolhe um lado e atira. Com ou sem paradinha, não interessa.

Não haverá, hoje em dia, um adepto de futebol que nunca tenha ouvido do penalty à Panenka. Vamos pegar naquilo que foi dito acima e transferir para um caso real, o de Antonín Panenka, um jogador checo que entrou directamente para a História do futebol. Jogava-se a final do Europeu de 1976, entre Alemanha e República Checa. A partida terminou empatada e teve de ser decidida através da marcação de grandes penalidades. Foi no quinto penalty que tudo se decidiu. Depois de um falhanço de Honess, os checos podiam ganhar caso marcassem. Ou melhor, caso Panenka marcasse. Pegou na bola, colocou-a na marca. Pela frente tinha um gigante alemão chamado Sepp Maier.

Este é um desses momentos em que a adrenalina está nos limites. Um momento que colocava o jogador entre a glória e o desespero. Antonín Panenka, nervos de aço, não se intimidou. Correu, foi cheio de confiança. No momento exacto de fazer o remate, aproveitou que o guarda-redes alemão já estava em queda e fez-lhe um chapéu subtil. A bola entrou ao meio da baliza, a poucos centímetros de Maier, perante o olhar atordido de todos os que acompanhavam aquele jogo de altíssima tensão. Seguiu-se uma euforia total nos checos. Sepp Maier, esse, ficou estendido no chão, impotente, tão próximo mas tão distante que esteve de defender.

A imagem do golo de Panenka é deliciosa. É de loucos o que aquele homem fez. Parece simples, assim na teoria. Mas era um golo decisivo, tinha uma carga psicológica atroz. Ele tornou tudo fácil, fácil de mais. Houve já diversas tentativas de imitação: umas saíram bem, como aquela de Hélder Postiga frente à Inglaterra no Euro 2004, outras nem por isso. É preciso coragem para fazê-lo. Não é à toa que Panenka foi apelidado de louco pela sua obra de arte. Um verdadeiro artista nos momentos mágicos do futebol.

VISTO DA BANCADA é um novo espaço de opinião semanal no FUTEBOLÊS

2 comentários:

afectado disse...

Assim de repente lembrei-me do penalty nos sub 21...

http://www.youtube.com/watch?v=RrdgiMBzwNE

Ricardo Costa disse...

afectado,

Esse dos sub-21, o chamado penalty à Cruyff, é bem mais difícil de executar do que o do Panenka.