Mas mesmo assim nesta prova maratoniana, tem pedalada suficiente para aguentar os sprints nervosos dos rivais. O SL Benfica arrancou demasiado cedo. Embalado pelo projecto do menino de ouro feito director técnico, os encarnados sonharam que era desta. Não foi. Em Dezembro acabou a gasolina e depois foi a desorganização absoluta numa armada bem montada na secretaria mas pessimamente gerida em campo por um técnico espanhol que nunca percebeu que estava a jogar a Portugal. Já o Sporting arrancou tarde para a liga. Depois de se ter concentrado na Champions, onde logrou um histórico (e mais tarde anedótico) apuramento para os oitavos-de-final, os leões de Paulo Bento lembraram-se de que o campeonato termina à jornada 30 e sonharam com voltar a um título que lhes escapa há oito anos. Nada a fazer. Equipa demasiado curta, balneário demasiado problemático, técnico excessivamente conservador, mistura de risco para qualquer clube que quer ser algo mais que um eterno segundo. E lá vão quatro anos a servir de escudeiro ao campeão.
Fora do espectro dos três grandes – cada vez menos real face ás gritantes distâncias entre FC Porto e perseguidores – a prova foi também do Leixões, Braga e Nacional. Os primeiros arrancaram como Usain Bolt e lograram liderar um campeonato pela primeira vez. Um onze pequeno e sem ambições que perdeu goleador e perdeu o faro de golo arrastando-se na segunda volta até terminar num digno sexto posto. Muito para quem pedia tão pouco. No espectro inverso o Braga. Excelente na UEFA, desanimador na Liga, os bracarenses ambicionavam intrometer-se na luta pelo titulo e chegaram a sonhar, não fossem os árbitros e algum erro de palmatória de Jesus, esse profeta que a Luz espera com fervor. Um onze bem montado e ofensivo valeu-lhe alguns problemas em jogos fora de casa e apesar de ter feito a prova de trás para a frente, nos últimos metros os vermelho e brancos deitaram a toalha. E abriram passo ao Nacional, sempre regular, sempre eficaz. Com dois craques de sotaque brasileiro (Maicon e Nené, duas das figuras da prova) e uma jovem armada de talentos pescados em águas nacionais, na Choupana o ano foi tranquilo e o prémio meritório. Volta à Europa e para o ano espera-se mais de um clube que já é o número um da Madeira.
Numa prova sem grandes figuras individuais – o campeonato português vive uma sangria constante que, de ano para ano, faz com que perca postos no ranking das principais ligas europeias – o futebol português começa a habituar-se à necessidade que a imprensa tem de criar novos heróis. Só assim se explica o ênfase dado a nomes como Hulk, Cissokho ou Di Maria, elementos com destaque nas suas equipas habituais mas que mesmo assim estão uns furos abaixo da qualidade necessária para ser estrelas de renome como a nossa prova já produziu e acolheu. Pela regularidade, a prova foi essencialmente de um trio de azuis e brancos liderados pelo capitão Bruno Alves, sempre escudado por Fernando e Raul Meireles no meio-campo. Lisandro Lopez esteve muito apagado e Lucho foi sombra de si próprio nesta equipa com sotaque argentino. O Nacional teve direito às duas revelações do ano, o promissor central Maicon e o melhor marcador Nené, ambos “restos” do Cruzeiro. A prova revelou também jovens nacionais com grande futuro (Yazalde, Fábio Coentrão, Nuno Coelho, Rúben Micael, Daniel Carriço) e reencontrou em Liedson, o suspeito do costume. Decepcionantes acabaram por ser as sonantes contratações do SL Benfica (o argentino Aimar e o espanhol Reyes) e as jovens promessas leoninas (Moutinho, Veloso, Djaló). Pouca coisa para os grandes da segunda Circular que já vivem o seu particular Verão quente para atacar o orgulho Dragão que caminha a passo largo para lograr o histórico segundo penta.
MIGUEL LOURENÇO PEREIRA (jornalista e blogger do em jogo)
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