terça-feira, 5 de agosto de 2008

Apito Dourado: a infeliz visita de Augusto Duarte

O que raio vai fazer um árbitro a casa de um dirigente? Ainda por cima de um dirigente de um clube que irá arbitrar dois dias depois? Uma visita ocasional, dizem uns. Corrupção desportiva, dizem outros. Um mau dia para tomar café e falar do tempo, digo eu.

JOGO: Beira-Mar – FC Porto (0-0)

ÁRBITROS: Augusto Duarte, António Perdigão, Domingos Vilaça e Jorge Sousa (4º árbitro)

CASO: Visita de Augusto Duarte a casa de Pinto da Costa que lhe terá oferecido 2500€, de modo a que o árbitro favorecesse o FC Porto em Aveiro.

ARGUIDOS: Augusto Duarte, Pinto da Costa e António Araújo. Embora ao princípio, todos os elementos da equipa de arbitragem tenham sido constituídos arguidos.

INCIDÊNCIAS:

DOIS DIAS ANTES DO JOGO

  • Augusto Duarte, após algumas insistências de António Araújo (“tenho aqui uma obra para ser vista, amiguinho”), aceita deslocar-se de Braga, cidade onde reside, ao Porto. Estaciona o carro perto da Igreja das Antas e vai à boleia de Araújo para a Madalena, onde mora Pinto da Costa.
  • Ás 22.18h, Araújo telefona a Pinto da Costa e pede-lhe indicações sobre a sua casa; após algumas hesitações, o empresário acompanhado de Augusto Duarte chega a casa do presidente do FC Porto.
  • O encontro entre Pinto da Costa, Augusto Duarte e António Araújo durou cerca de uma hora. Passavam dois minutos da meia-noite quando o árbitro saiu em direcção a Braga.

O JOGO

  • Os 3 peritos que a PJ convocou para analisar o jogo detectaram erros a favorecer o FC Porto na primeira parte, nomeadamente um cartão vermelho que Augusto Duarte perdoou a um jogador portista.

DEPOIS DO JOGO

  • No final da partida, a equipa de arbitragem janta na Marisqueira de Matosinhos com Pinto de Sousa, presidente do Conselho de Arbitragem da FPF. O auxiliar António Perdigão confirmou que, durante o jantar, Pinto de Sousa recebeu alguns telefonemas de Pinto da Costa. Numa dessas conversas, o presidente do FC Porto disse que “o Augusto não esteve nada bem, é verdade que não esteve mal, mas não deu cheirinho nenhum. Só deixou passar uns livres e há um penalty sobre o McCarthy que o gajo não vê.”

REACÇÕES:

  • Segundo o testemunho de Carolina Salgado, na época companheira de Pinto da Costa, Araújo e Duarte estiveram na sala de estar. Carolina afirma ainda ter visto Pinto da Costa entregar um envelope branco com dinheiro ao árbitro. 2500€ mais precisamente, porque mais tarde perguntou a PC qual o montante da oferta. Mas houve contradições. Carolina afirmou depois ter visto o dinheiro.
  • Augusto Duarte confirma que esteve em casa de Pinto da Costa, mas garante que foi uma conversa de ocasião e que nada teve a ver com futebol.
  • Pinto da Costa nega ter entregue qualquer envelope com dinheiro ao árbitro e afirma que Carolina não ouviu conversa nenhuma porque estava acamada

RESULTADO:

  • O Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) do Porto decidiu arquivar o caso por falta de indícios suficientes de que tivessem sido oferecidas vantagens patrimoniais ou não patrimoniais como contrapartida à falsificação da verdade desportiva.
  • Menos de um ano depois do arquivamento do caso pelo DIAP, Maria José Morgado decidiu reabrir o inquérito com base no testemunho de Carolina Salgado. Um testemunho cheio de contradições, mas que mesmo assim deu para continuar a investigação. Desta vez, apenas Pinto da Costa, Duarte e Araújo foram constituídos arguidos.

SENTENÇA: No plano desportivo o caso já está resolvido. O Conselho Disciplinar da Liga suspendeu Pinto da Costa das funções de presidente do FC Porto por dois anos e Augusto Duarte foi suspenso de todas as actividades ligadas à arbitragem durante seis anos ("Apito Final"). Quanto ao plano judicial, o caso ainda corre nos tribunais civis.

(Baseado no livro "Apito Dourado - Toda a história", do jornalista Eugénio Queirós)

Sem comentários: